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sábado, 16 de outubro de 2010

Perguntas sobre Sanatana Dharma :: 2::


Perguntas sobre Sanatana Dharma :: 2::

"Aspectos sobre Sannyasa no Ocidente"


Swami Dayananda Maharaj

 2. O que é ser Sannyasi, no Ocidente e no Brasil?
A palavra “sannyasa” significa “renúncia das coisas materiais”, ou “sem apegos materiais"; a renúncia é uma bênção, concedida pelo Supremo. Por isso, não basta alguém introduzir-se na ordem de “Sannyasa” para ser considerado um Sannyasi propriamente dito. No sentido original, ser Sannyasi significa “renunciar a vida material”, e viver de esmolas, bem como ser um pregador itinerante e viver unicamente da misericórdia das pessoas. Mas ser um Sannyasi na Índia é uma coisa bem diferente do que no Ocidente. São mundos distintos, e seus paradigmas são outros, senão díspares e até inconciliáveis. Um é estranho moral para outro. Não foi impropriamente que se comparou a Índia com um coxo, e o Ocidente com um cego. Desta forma, a miséria material da Índia é um sério problema, como a cegueira espiritual do Ocidente é outro. Um terá que ensinar o outro para que todos vejam e caminhem de forma adequada. Este é o paradigma: “compreender e ajudar-se uns aos outros, nas suas diferenças e limitações, fatores em que todos somos iguais”.

Há a tola e falsa compreensão de que um sannyasi deve viver em total miséria, e assim abrir mãos de coisas em geral. Mas sannyasa significa renunciar ao apego das coisas, e transformar tudo para o benefício do Dharma. Portanto, um sannyasi ter um computador, um telefone, um automóvel, e mesmo um lugar para morar não se trata de nada contraditório dentro da Filosofia. Ele está usando tudo para divulgar e enaltecer o Ser ou Supremo, diferente de alguém que utiliza os mesmos equipamentos para enaltecer a mundaneidade. Também, o sannyasa não renunciou à vida, no sentido que irá desprezá-la, isso seria contraditório ao  princípio fundamental do Sanatana Dharma, o ahimsa ou "não agressão", e por isso precisa comer, usar roupas, ter um lugar para poder terminar o seu prarabdha karma, ou o karma que lhe deu o corpo material para poder estar neste mundo material.Tudo deve ser adequado ao tempo, ao lugar e às circunstâncias em que o monge está envolvido.


O Sannyasi tem, por isso, o dever de levar e de instruir segundo a sua Sampradaya ou escola filosófica, sem se afastar da realidade do mundo vivido. Deve dedicar-se às Escrituras Sagradas, e aprender com Elas a servir o Guru e os seus alunos ou Chelas. Ser Sannyasi, acima de tudo, significa assumir a responsabilidade de estar numa plataforma de desapego, por isso deve ser um exemplo para os outros, e agir conforme prega e fala. Nos dias de hoje, nos advertem as Escrituras – por estarmos na Kali-yuga, ou era das “trevas” – os Sannyasis tornaram-se Bhogeswaras ou desfrutadores. Acumulam riquezas, e, não raro, se envolvem com escândalos. Perderam-se as origens e as responsabilidades. Isso é lastimável, mas o fato é que a vida de hoje está diferente e exige uma postura diferente. Mas o objetivo principal do Sannyasi é a renúncia das coisas materiais, e convivência com elas,  sem apegar-se a elas, e viver para pregar e difundir a Consciência do Supremo em todos, independentemente de religião, seita, credo, país, cor, etc., e isso é possível vivendo uma “vida divina”, servindo ao Senhor em todos os momentos, sem fanatismos, sem fantasias.
Samarta parampara

3. Na sua opinião, o que não se pode fazer como Sannyasi?
Segundo a tradição do Varna e Ashrama, um Sannyasi deve afastar-se de quaisquer atividades ilícitas; nem deve se envolver com negócios ou empresas que vivam em função do dinheiro ou do lucro pessoal. Apesar de não existir um impedimento de um Sannyasi trabalhar, porque ele precisa, de algum modo, sustentar as despesas do Ashrama que vive ou mantém, bem como a si mesmo, etc., a atividade não deve ter em vista o lucro. Deve existir um bom-senso, coisa que nem sempre se observa. No mais das vezes, um Sannyasi não deve se envolver com jogatinas, beberagens, uso de drogas, negócios ilícitos, associações ilícitas, e nem deve se envolver com qualquer tipo de política, apesar da militância do Sannyasi ser um tipo de “política”, no seu sentido verdadeiro, ou seja, de tornar as pessoas em seres humanos propriamente ditos, ou possíveis de viver na cidade, ou “polis” (em grego), respeitando as regras, ou Dharma.

4. O que se deve fazer como Sannyasi?
Um Sannyasi deve fazer o que pregam as Escrituras, ou seja, dedicar-se a divulgar e difundir a filosofia da Consciência do Supremo, em todos os lugares que for,  nos meios que dispuser, sem nenhum tipo de violência ou fanatismo. No mais das vezes, um Sannyasi deve seguir a ordem de vida renunciada, e procurar seguir os preceitos ditados, principalmente, pelo código de Manu, que vê no Sannyasi um importante membro da sociedade para fazer parte dos “julgamentos” ou das decisões "jurídicas" junto as pessoas encarregadas disso na sociedade. Por isso, um Sannyasi deve ser considerado e preparado para ser um intermediador ético, atuando como um filósofo e terapeuta, uma vez que traz a tona os problemas filosóficos, éticos e existenciais, nem sempre observados ou percebidos pelas pessoas que não têm esta vocação filosófica, no rigor da lei.

5. Com quem o senhor não se associaria?
Não nos associamos com grupos políticos ou religiosos de cunho sectário de qualquer natureza, principalmente os de envolvimento ideológico partidário, que tendem a ver as coisas pelo viés próprio pessoal e, não raro, materialista, e, portanto, veem as coisas somente segundo suas idiossincrasias e solipsismos puramente materiais. Também não nos associamos com grupos religiosos que têm em vista o lucro; a pregação que favorece apenas o progresso material, ou que prometem, de forma exclusiva,  "liberação" através da riqueza “aqui e a agora”, e que usam o nome de Deus em vão, ou que promovem qualquer tipo de intolerância, e que não estão abertos ao diálogo e interreligiosidade.

6. Quais as dificuldades de ser Sannyasi no Ocidente, e no Brasil?
Vasudevananda Swami
O ocidente tem por privilégio o “ter”, em detrimento do “ser”, e o Brasil também se encaixa neste “modelo” ou paradigma da atualidade. Isso quer dizer que as dificuldades não ficam apenas no lado pessoal, com respeito a isso, mas das expectativas e “almejamentos” escusos das pessoas. O ocidente não tem por hábito o respeito ao Sannyasi. Um dos fatos deve-se, acima de tudo, ao desconhecimento do que vem a ser um Sannyasi, o que ele faz e representa, etc. De resto, não há maiores dificuldades no Ocidente do que as que existem, também, no Oriente. As maiores dificuldades vêm de dentro, e não de fora. O Sannyasi de hoje deve engajar-se no aqui e agora da vida social.  Ele deve ser um karma-sannyasi. Não deve ficar coletando esmolas para viver. As pessoas não sentem atração por coisas deste tipo. No Ocidente não funciona. O Ocidente é “funcionalista” por excelência, de modo que a expressão “uma coisa é válida enquanto funciona”, se encaixa perfeitamente nestes casos. Não há necessidade de exagero de luxo e sustentação, mas é necessário um mínimo de conforto, e um acesso razoável as coisas como a Internet, computadores, e tudo o que diga respeito as comunicações da atualidade. Estamos na era da informação. O Sannyasi prima pela “formação”, portanto, a conjugação da ação formativa com a informativa é a mais perfeita que existe. Por conseguinte, o Sannyasi do Ocidente deverá saber equilibra-se nestes dois patamares da construção da pessoa, portanto, deverá saber que todos são potencialmente capazes de atingir a Consciência de Krishna no aqui e agora; nos seus afazeres diários, não necessitando internar-se em mosteiros, Ashramas, etc., para se tornar um devoto e viver a vida de uma pessoa propriamente dita. Portanto, vivemos um novo paradigma a cada dia. Não temos como sustentar uma afirmação, hoje em dia, no mundo de relação, por muito tempo. As coisas mudam depressa, a tal ponto de que as necessidades que teremos, daqui a cinco anos, ainda não foram inventadas. Tal é a dinâmica do mundo material de hoje. O Sannyasi deverá saber agir dentro desta crise de paradigmas, mostrando que amor a Deus, e não a religião, é que irá libertar as pessoas. Portanto, tudo está em constante movimento; mudando o tempo todo. Apesar desta mudança permanente (porque ela é ontológica – porque o Ser se faz fazendo...), o Ser permanece sendo a meta suprema. O Sannyasi de hoje deverá saber do básico em todas as religiões, a ponto de deixar uma pessoa mais firme na sua própria fé, independente de escola, filosofia ou religião. Assim, o Sannyasi deverá ter uma atividade de possa conjugar a sua pregação com a sua sobrevivência, podendo trabalhar como médico, engenheiro, etc., e dedicar-se a pregar a Consciência do Supremo

om hari hara om tat sat

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