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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Baal Zaeb


Baal Zaeb

Swami Kṛṣṇaprīyānanda Saraswatī
prof. Olavo DeSimon

SOCIEDADE INTERNACIONAL GITA DO BRASIL
GITA ASHRAMA
Porto Alegre, RS - Brasil
 1997-2012


Autorrelevo de Baal


1. Introdução
A Adoração ao "deus dos deuses" ou Ba´al já existia muito anteriormente ao XIV século antes da nossa era, sendo realizada, principalmente, por entre os chamados "semitas", considerados os descendentes de Shem, o filho mais velho de Noé. Mas hoje sabemos que o culto a Ba´al se alastrou por entre os egípcios, recebendo o nome de Bel ou Belos, e entre os gregos ficou conhecido como Zeus. Nos dias de hoje, a expressão "semita" refere-se mais a uma classificação lingüística do que uma etnia propriamente dita. O povo da época adorava Ba´al de muitas formas. A palavra "ba´al" pode ser traduzida como "mestre", "dono" ou "proprietário". Mas nas antigas religiões, "ba´al" diz respeito ao “deus sol”, “senhor”, e mesmo Deus. Ba´al era o nome comum das deidades da Síria e da Pérsia. Ba´al é o principal deus Canaãnita da fertilidade. O Grande Ba´al estava em Canaã. Ele era o filho de EL, o Supremo em Canaã, contudo, às vezes aparece como sendo filho de Dagon ou Dagnu. O culto a Ba´al era comemorado anualmente, bem como a sua morte e ressurreição, como parte dos rituais de fertilidade Canaãnita, e grandes festas eram feitas para Ele nas mudanças de estações, principalmente na lua cheia, que quase sempre coincide com sete dias da entrada da nova estação.. Estas idéias passaram para as culturas posteriores, e muitos dos aspectos da mitologia de Ba´al estão até mesmo no Novo Testamento. Aquelas cerimônias anuais de Ba´al, em algumas culturas, muitas vezes, incluíam sacrifícios humanos e a prostituição nos templos. O que se sabe do culto a Ba´al está em alguns fragmentos cuneiformes, bem como no Torah ou Bíblia. Estudos arqueológicos têm, por bem da verdade, trazido o conteúdo mítico das crenças dos antigos povos que viveram na região conhecida como Mesopotâmia, e aos poucos se vão clareando os aspectos obscuros e confusos, e assim compreendemos melhor Ba´al e a sua adoração.

2. Ba´al - etimologia e relações
Baal com ramo de Líbano

A palavra "ba´al", literalmente, na língua Semita significa "senhor", e ela era aplicada a qualquer situação. Assim como chamamos: "Senhor da Alegria", "Senhor do Amor", "Senhor das Trevas", etc., a palavra "ba´al" antecedia toda a referência ao "senhor" ou ser supremo de alguma coisa ou fenômeno, fosse boa ou não. Desta forma, temos como exemplo as seguintes referências para Ba´al:

Ba`al Lebanon, Senhor do Cedro ou Madeira (o ramo que está nas mãos da figura ao lado).
Ba`al Tsaphon, Senhor dos Distritos do Norte ou Nordeste
Ba`al Adir, Senhor da Ajuda
Ba`al Kaneph, Senhor Alado
Ba`al Moganim, Senhor dos Escudos
Ba`al Marpah´a, Senhor da Cura
Ba`al Shamim, Senhor dos Céus
Ba´Ili, Senhor ou Emissário de EL

Estudos atuais dizem que "ba´al" era o deus principal na Babilônia. A palavra "ba´al", trata-se de uma contração de "Ba´Ili", onde "IL" ou "EL" era o nome de Deus entre os Babilônios e Sumérios. A consorte de Ba´al nesta época tinha o nome de Ba´ilat. Estes nomes deram origem ao nome Allah e Allat, tanto no norte como no sul da Arábia, e mais tarde, no Islã.

Sabemos que na antiga cidade de Ekron, havia a figura de Ba´al Zebûb, que aparece como um deus adorado pelos Philisteus (Palestina). A ele se atribuía a fertilidade, e o fato de ter levado água e vida para as regiões desérticas, por isso, vemos algumas de suas representações tendo um galho ou ramo de árvore em sua mão, o que representa a fertilidade, bem como o ato de arar e irrigar a terra, e o desvio de rios para regiões secas e desérticas, aspectos muito comuns da necessidade de água para plantar na região da Palestina, situação que não mudou muito nos dias de hoje.

Os Hebreus costumavam chamar "Ba´al Zebûb" com o significado de "Senhor de Zebûb", ou então como "Bêt-zebûl", que significava: "casa elevada ou sublime", referindo-se ao "quarto céu", uma região celeste. Mas a palavra "zebûb", também, era o coletivo para "moscas", podendo ser uma corrupção da palavra "zebul", então "ba´al zebul" tem o significado de "Senhor do Elevado Lugar", ou das moscas. Mas devido a proximidade de palavras, ele também era conhecido como "Beelzebul", uma vez que ficou relacionado aos animais vacunos ou zebus e o seu esterco, ou "zebel" em aramáico. Por isso, ele era considerado o senhor da sujeira e do estrume, apesar de não ter a conotação negativa que hoje estas palavras possuem. O estrume de gado sempre foi considerado puro, porque promove a fertilização do solo fraco, dando vitalidade às plantas.

Há passagens bíblicas que fazem referências a Ba´al-zebûbe, o que pode ter sido a origem posterior de considerar Ba´al como um "ser do mal". Na Antigüidade, os povos das primitivas tribos nômades, possuíam o hábito de adorar os seus ancestrais ou "patriarcas", que lhes passavam as posses dos bens e da terra. Então havia o "deus" desta ou daquela localidade, e deste ou daquele patriarca. Apesar disso, existia e necessidade de relacionar com uma força suprema que ficava em templos. Um acontecimento bíblico, que envolve o rei Ahaziah (Acazias), mostra uma conotação negativa com o nome de Ba´al, vejamos: "2 Ora, Acazias caiu pela grade do seu quarto alto em Samária, e adoeceu; e enviou mensageiros, dizendo-lhes: Ide, e perguntai a Baal-Zebube, deus de Ecrom, se sararei desta doença. 3 O anjo do Senhor, porém, disse a Elias, o tisbita: Levanta-te, sobe para te encontrares com os mensageiros do rei de Samária, e dize-lhes: Porventura não há Deus em Israel, para irdes consultar a Baal-Zebube, deus de Ecrom? 4 Agora, pois, assim diz o Senhor: Da cama a que subiste não descerás, mas certamente morrerás. E Elias se foi. 5 Os mensageiros voltaram para Acazias, que lhes perguntou: Que há, que voltastes? 6 Responderam-lhe eles: Um homem subiu ao nosso encontro, e nos disse: Ide, voltai para o rei que vos mandou, e dizei-lhe: Assim diz o Senhor: Porventura não há Deus em Israel, para que mandes consultar a Baal-Zebube, deus de Ecrom? Portanto, da cama a que subiste não descerás, mas certamente morrerás" (II Reis, 1).

Como vimos na passagem bíblica acima, fica-nos, de certa forma, claro o ethos da Antigüidade, que considerava o "deus" de um lugar mais importante que o de outro, que se forma por razões econômicas, sociais, culturais, etc. De fato, havia uma conotação de: povo, poder, e o seu "deus". É por isso que vemos expressões como "deus de Israel", "deus de Abraão", etc., porque não conseguiam ver Deus como uma unidade, ou como sendo igual para todos. Era um deus de poder e força. A percepção do sagrado, nos povos primitivos, tinha uma conotação panteísta, onde quem vencia quem, possuía o "deus" mais poderoso. Eis que na passagem bíblica que vimos anteriormente, o "profeta Elias", que se vestia de forma muito rude, amaldiçoa o rei de Israel pelo fato de ele ter ido buscar conforto em Ba´al, que a esta altura conflitava com a idéia de "povo escolhido de deus".

3. Influência Asiática
Na Índia, no idioma sânscrito – “língua” que provavelmente influenciou todas as outras que conhecemos, mesmo o aramaico - existe a palavra "baal", contendo uma grande quantidade de significados como: "ferir", "respirar", "juntar grãos", "acumular riquezas", "agonia", bem como o projetil de uma arma "baala". Mas a palavra é usada, no mais das vezes, para referir-se às crianças e seu estado de pureza. Esta palavra possui seu derivado "bolo", que quer dizer "força", "vitalidade", também se referindo a uma preparação alimentar naquele formato, servida como um "concentrador de energias". Sem dúvida, o grande representante da fertilidade, e da irrigação dos rios, na mitologia indiana é Baalaraama (uma junção de "baal", "criança ou fertilidade", e "raama", "prazer ou gozo", e ou o protagonista principal do Ramayana). Balarama é considerado, também, o irmão de Krishna, sendo, por isso, considerado séquito do oitavo Avatara de Vishnu. Muitas vezes, ele é representando com um arado nas mãos ou "hala", uma das palavras em sânscrito que, também, podem ter influenciado na palavra "ba´al", mesmo porque "fertilidade", "terra", "rios", "irrigação", ' os instrumentos de trabalho vinculados a atividade na terra, são termos muito próximos da cultura agropastoril, como a dos antigos povos do meio-oriente e do oriente. Todos sabemos que a civilização humana tem um forte vínculo com a terra nas suas origens, e que aos poucos foi se organizando em cidades, afastando-se, com isso, do significado dos mitos, e os sentidos originais que eles possuíam.
Visnu e Baali

4. Baal e Vishnu
Existe, também, uma variação da palavra "baal" em sânscrito para "baali". Esta palavra possui muitos significados. Entre estes significados encontramos "tributo", "oferenda", "presente", "oblação", "taxa", "imposto", etc. As oblações e oferendas dizem respeito aos seres semi-divinos, às divindades da casa, e até mesmo objetos sem vida. Esta oferenda, chamada "baali" é feita diante da comida que será comida, em arranjos na forma circular, ou então levadas para o lado de fora da casa. Também, para os adoradores de Kali ou Durga, quando eram feitas oferendas de animais, incluía-se a carne búfalo. A mitologia indiana fala de um rei Daitya, do reino de Kishindha, chamado Baali. Ele era filho de Virocana, que tinha orgulho do seu império que "se espalhava sobre os três mundos". Este rei chamava-se Bali, que foi humilhado por Vishnu, que apareceu diante do rei como um anão, Vamana, que era filho de Kashyapa e Aditi, e irmão mais jovem de Indra. Vamana fez Bali prometer três porções de terra, uma para cada passo que desse. Sem saber que o anão era o Senhor Vishnu, acabou vendo seu orgulho diminuir, a cada passo que Vishnu dava. Vamana alcançou a distância entre o céu e a Terra em dois passos, então Baali pediu para que Vamana colocasse o pé sobre sua cabeça. Depois disso, Vishnu confiou a Bali o reino de Patalla, uma região inferior, um chamado "inferno".*


Balarama com o arado
Posteriormente, a imaginação das pessoas através dos tempos, devido a fatores de "urbanização" da vida humana, deu diversas interpretações para Ba´al Zebûb, sendo, então, personificado como o senhor do mal e suas múltiplas manifestações (sofrimento, miséria, etc.). No mais das vezes, o mito de Belzebu nos dias de hoje possui uma relação próxima com o "gado Zebu", ainda que desconhecida e inconsciente, então Ba´al é representado com chifres, cascos de boi, e assim por diante. O que se trata de um mito evidentemente urbano, devido ao medo inconsciente que a vida na "floresta", e o desconhecimento da vida rural promovem nas pessoas das cidades.


Aanath
5. Aspectos do Mito de Ba´al
No chamado "panteão Canaãnita", "ba´al" era o nome genérico para o deus da fertilidade. Também, Ba´al, no início, não tinha relação com as chuvas, mas nos tempos finais ele, passou a ter esta função. Alguns sacerdotes que o adoravam o. Embora não haja um equivalente Canaãnita para a estação seca do verão - como ocorre na Mesopotâmia - havia uma relação entre a fertilidade, e fecundidade com Ba´al.

A mitologia de Ba´al diz que, após ele ter derrotado o deus do mar, Yam, construído uma casa no Monte Saphon, e tendo tomado posse de numerosas cidades, Ba´al anunciou que não mais haveria a autoridade de Mot - deus da morte, da guerra e da infertilidade. Então, Ba´al privou Mot da sua hospitalidade e amizade, dizendo a ele que fosse visitar os desertos por sobre a Terra. Em resposta a este desafio, Mot convidou Ba´al para a sua morada, para experimentar a sua comida, o lodo. Ficando terrificado, e incapaz de evitar a terrível intimação para a terra da morte, Ba´al emparelhou-se com um bezerro, tendo em vista reforçar-se para a experiência difícil, e então ficou como morto. EL, e os outros deuses, vestiram-se com as roupas funerais, derramando cinzas por sobre as suas cabeças, escarificando seus corpos, enquanto Anath, com o auxílio da deusa do sol, Shapash, trouxe o cadáver para o funeral. EL, colocou Athtar, o deus da irrigação, no trono que havia ficado vazio de Ba´al, mas Anath ficou com muitas saudades do seu marido. Ela implorou para que Mot devolvesse a vida a Ba´al, mas seu pedido não foi atendido. Anath tentou chamar a atenção dos outros deuses para ajudá-la, mas eles, de forma cautelosa, ficarem indiferentes ao pedido. Deste modo, Anath atacou Mot, cortando-o em pedaços com uma afiada faca, queimando-o, triturando-o até virar pó num moinho, e então espalhando seus pedaços sobre os campos com uma peneira, soprada ao vento.

Neste meio tempo, EL (ELohim), o deus supremo, teve um sonho no qual a fertilidade retornara, o que sugeria que Ba´al não estava morto. Depois disso, ele instruiu Shapash para manter vigilância por ele, durante sua viajem diária. No devido curso do tempo, Ba´al voltou ao seu estado normal, e Athtar saiu do seu trono.

Mas Mot estava pronto para arranjar outro ataque, mas nesta ocasião, todos os deuses apoiaram Ba´al, mas nenhum dos combatentes venceu. Finalmente, EL interveio mandando Mot embora, deixando Ba´al na posse do campo.

Daagon
6. Paralelo ao mito de Ba´al
Arqueologistas encontraram os fragmentos que narram o que vimos acima. Eles se encontram nas tábuas de Ras Shamra. Também, nestas tabuletas de argila, são feitos relatos das alterações das estações. Ba´al aparece como o deus da chuva, do trovão, e da luminosidade. Diz um trecho: "No toque de sua (Ba´al) mão direita, até as cores definham". Yam, o proprietário da água salgada, cedeu espaço para Ba´al como o protetor da chuva e da vegetação, uma mudança que tornou Mot como sendo o único antagonista abaixo da magnitude de EL. O tórrido aquecimento, a esterilidade, o deserto árido, a morte, etc, estes pertenciam ao reino de Mot, até Anath ter triturado, peneirado, e ter colhido o milho, com suas lágrimas por Ba´al, trazendo fertilidade a terra. Do mesmo modo como EL ressuscitou Ba´al, deu continuidade ao ciclo anual das chuvas a partir das lágrima de Anath..

Um paralelo de ritos mágicos pode ser encontrado no Livro dos Salmos na Bíblia onde está: "126. 5 Os que semeiam em lágrimas, com cânticos de júbilo colherão. 6 Aquele que sai chorando, levando a semente para semear, voltará com cânticos de júbilo, trazendo consigo os seus molhos". Isso se trata de magia simpática, onde as lágrimas derramadas induzem a chuva.

7. Ba´al na cultura
Ba´al era filho de EL ou Dagon, uma deidade obscura que liga Hebreus com Philistines (Filiseus), na cidade portuária de Ashod. Há uma ligação de Dagon com o mar, como se vê numa moeda encontrada nas vizinhanças retratando o deus tendo um peixe as costas. Embora Ba´al tenha sujeitado Yam pessoalmente, é incerto se lutou ou não com Lotan, o Leviatham do Antigo Testamento, mas é sabido deu Anath, "... esmagou a serpente retorcida, de alguém com sete cabeças". Outro eco do pensamento do padrão mesopotâmico abriga-se no fato de Ba´al ter a necessidade de uma "casa". Sua oferenda de alimentos também agradaria um deus que "cavalga entre as nuvens". Em locais distantes como Cartago e Palmyra, há templos dedicados a Ba´al-Hammon, "o senhor do altar do incenso", o qual os gregos identificaram como Chronos. Foi sob o Monte Carmelo onde o profeta Elijah (Elias), duvidou das crenças do Rei Acazias no poder de Ba´al, quando a seu pedido, o "fogo do Senhor destruiu e consumiu o sacrifício queimado", e a madeira, as pedras, o pó, jogando a água da oferenda numa vala. Depois deste incidente, Elias teve o povo que matou os profetas de Ba´al, assegurando por meio disso a adoraão de Yahweh em Israel.

Estudos têm apontado que a adoração de Ba´al extendia-se desde os Canaãnitas até os Fenícios, uma vez que eles eram povos que praticamente viviam da agricultura. Tanto Ba´al como sua consorte Ashtoreth, Anath ou Astarte, que possui a sua equivalência na mitologia grega como Aphodite, eram símbolos da fertilidade por entre aqueles povos. Também, Ba´al, como o deus do sol, era adorado de forma fervorosa para o bem da colheita e dos animais. Os sacerdotes "israelenses", posteriormente, colocaram para as pessoas que Ba´al era o responsável pela seca, pragas, e outras calamidas, o exatamente contrário ao seu mito original. Os sacerdotes e profetas tinham grande importância na influência do modo de ser das pessoas. Mas nesta época, os mesmos sacerdotes que espalharam a idéia de que Ba´al era responsável pelos malefícios da seca, realizavam sacrifícios humanos, principalmente de crianças, para o deus Moloch.

Astarte 
Costuma-se aceitar que a adoração a Ba´al se espalhou pelo Mediterrâneo devido aos Fenícios, uma vez que eram bons construtores de navios e navegadores experientes. Portanto, encontramos a adoração a Ba´al entre os Moabitas, bem como seus confederados Midinitas, na época de Moisés, sendo, então, apresentado para os "israelitas". O culto a Ba´al era amplamente praticado pelos antigos "judeus", e apesar dos tempos de ter sido desqualificado como um deidade de adoração, ele nunca foi totalmente apagado. As pessoas simples, que vivem da lida do campo, adoram o deus sol, também pela busca da prosperidade, uma vez que dependem dele para a colheita e para a criação dos animais.

As imagens de Ba´al, e de outros "deuses", costumavam ser esculpidas de muitas formas, tipos e materiais. Dentro do culto a Ba´al, na medida em que as cidades que configuravam como um local de morada mais permanente, surgiram várias classes de sacerdotes, e muitos tipos de devotos. Nas cerimônias, eles realizavam vários tipos de adoração, queimavam incenso, e usavam roupas adequadas. Gordura de animais era queimada, e por entre os "israelitas", fazia-se sacrifícios de seres humanos. Muitas vezes, os sacerdotes dançavam ao redor do altar, cantando hinos religiosos, e não raro se auto-flagelando, tendo em vista "inspirar a atenção e compaixão de Deus".

om tat sat

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Avatāra


Avatāra
Swami Krishnaprīyānanda Saraswatī
prof. Olavo DeSimon

SOCIEDADE INTERNACIONAL GITA DO BRASIL
GITA ASHRAMA
Porto Alegre, RS - Brasil
1997-2012

Dāsa Avatāras de Viṣṇu



A palavra Avatāra é de uso popular, mas o seu verdadeiro significado e origem são raramente conhecidos. O Dicionário Aurélio, descreve o seguinte: "AVATAR: Do sânscr. Avatāra, 'descida' (do Céu à Terra), pelo fr. avatar.] S. m. 1. Rel. Reencarnação de um deus, e, especialmente, no hinduísmo, reencarnação do deus Viṣṇu. 2. Transformação, transfiguração". De fato, o termo sânscrito “avatāra” significa "Deus que desce", ou simplesmente, "encarnação". 

Swami Śivānanda escreve que há uma "lei universal" que comanda ou governa o aparecimento de um Avatar. Ele diz, "A lei que governa a descida do Senhor por sobre a Terra é a mesma em todos os tempos, em toda a parte. Existe a descida de Deus para a ascensão do homem. A meta de todo o Avatāra é salvar o mundo dos grandes perigos, destruir os malvados e proteger os virtuosos. Disse o Senhor Krishna: 'Sempre que há a decadência da retidão, então Eu mesmo em pessoa saio e venho a Terra; para proteção do bem, destruição dos pecadores, pela segurança de firmemente estabelecer a justiça, Eu nasço de era em era'”.

De um modo amplo e genérico, um Avatāra é uma encarnação do Ser Supremo, numa de Suas inumeráveis formas, que possui uma atividade que se e somente se Ele pode articular e realizar. Portanto, quando uma forma pessoal do Supremo descende, seja como um homem ou uma mulher, no mundo material, fica conhecido como uma encarnação do Supremo ou Avatāra

O processo de descida de Deus, como uma "encarnação", pode, aparentemente, relacionar-se diretamente com o conceito de "entrada num corpo físico", feito de carne e ossos, uma vez que há uma relação com a palavra "encarnação" com o termo latino "carnis", que significa “carne”. Mas apesar disso, um Avatāra não se trata de uma alma ordinária, mas do Supremo em si mesmo, de modo que Seu corpo é feito de matéria transcendental.

Um Avatāra é conhecido pelos Seus feitos extraordinários. Todos os Avatāras  existem na eternidade, e estão livres das leis da matéria grosseira, bem como dos aspectos transitórios do mundo material como tempo, e espaço, etc. Apesar de nenhuma obrigação de ter contato com a energia material do mundo, os Avatāras descendem para proteger, dar instruções e resgatar. Apesar de Eles mostrarem atos que lembrem tristeza e ira, jamais podem ser comparados com sentimentos humanos comuns. Os seres humanos possuem atitudes que são de desejos terrestres, como medo, e ira. Um Avatāra, por Sua vez, age na Sua própria natureza, de modo divinamente bem-aventurado, realizando Līlās ou passatempos transcendentais, para agradar aos Seus devotos
.
O Absoluto é uno, e apesar disso Ele se manifesta em inumeráveis formas – rūpas - neste mundo. Viṣṇu, por exemplo, tem uma forma doce e meiga como Śrī Kṛṣṇa; Viṣṇu com Sua flauta; há, também, a forma aterradora de Viṣṇu como Homem-leão, que venceu um demônio considerado invencível; também temos a forma do Senhor Rāma, que nos dá um verdadeiro exemplo de verdade, força e persistência. Há, também a forma do Senhor Śiva, que veio como Śrī Śaṅkara, para recuperar os textos védicos e a filosofia védica que estava obscurecida pela mentalidade ateia e o budismo niilista.

Cada um Avatāra possui uma missão em particular, sendo, portanto, uma forma única do desvelamento da Verdade Absoluta. 

Um estudo das Escrituras védicas, sob a bênção da graça indispensável do Guru, irá desvelar que um Avatāra do Senhor é necessário para restabelecer a paz no mundo, bem como para resgatar a Verdade, que se perde devido o passar do tempo, e a tendência que as pessoas têm de se envolverem com as atividades materiais, esquecendo-se das espirituais.

Hari Hara OM Tat Sat