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sexta-feira, 7 de outubro de 2016

O que é hinduísmo



O que é Hinduísmo

SATGURU SIVAYA SUBRAMUNIYASWAMI

SOCIEDADE INTERNACIONAL GITA DO BRASIL
GITA ASHRAMA

Tradução, adaptação e comentários por 

SWAMI KRISHNAPRIYANANDA SARASWATI
Prof. Olavo DeSimon



"... as três crenças centrais para todos os hindus são o Karma, a Reencarnação, e a crença numa divindade todo-interpenetrante, formando o essencial da religião quotidiana, explicando nossa existência passada, guiando nossa vida presente, e determinando nossa futura união com Deus".

1. O que é o Hinduismo?
O hinduísmo é a religião mais antiga ainda existente, e o sistema cultural da Índia, seguida hoje por cerca de 2,5 bilhões de pessoas, principalmente na Índia, ainda que com grandes populações em outros países. Também chamada de Sanatana Dharma, a religião dos Vedas, o Hinduísmo açambarca um amplo espectro de filosofias que variam desde o pluralismo teísta até o monismo absoluto. Há uma família de miríades de fés, com quatro denominações principais: Saivismo, Vaishnavismo, Sahaktismo e Smartismo. Cada um destes quatro possuem crenças divergentes, o que faz cada um possuir uma religião completa e independente. Ainda assim, compartem uma vasta herança de cultura e crenças: o karma, o dharma, a reencarnação, a divindade onimpregnante, a adoração no templo, os sacramentos, a pluralidade de deidades, os muitos yogas, a tradição Guru-siksha, e uma dependência dos Vedas como autoridades escriturais. Do rico solo da Índia, faz muito tempo, brotaram outras tradições. Entre estas estão o Jainismo, o Budismo, e o Sikhismo, que rechaçaram os Vedas, e, portanto, emergiram como religiões completamente distintas, dissociadas do hinduísmo, ainda que compartilhem muitas intuições filosóficas e valores culturais com sua fé mãe. Não distinto das demais religiões do mundo, o Hinduísmo não possui uma chefatura central. Com exceção do Catolicismo, muitos Cristãos, judeus, muçulmanos, nem os budistas, a possuem também. Há muitos representantes e são secretários de várias denominações. O hinduísmo, neste sentido, não é diferente no mundo de hoje. Ele teve muitos fundadores no passado, e o terá no futuro de suas seitas, de sua linhagem de ensinamentos, cada um encabeçado por um "pontífice". Pois se admite que há alguns seres espirituais (Acharyas) ao redor dos quais todos se congregam para iluminação e consolo, e que hão renunciado ao sectarismo, linhagem e formalidades, pelo Ser e toda a sua grandeza que contém. Os críticos costumam chamar o hinduísmo de uma religião não organizada. De certo modo, eles têm razão.

2. - Hinduísmo é legítimo
O cristianismo e o Islamismo governaram a Índia, a pátria central do hinduísmo, por 1.200 anos, desgastando enormemente Sua perpetuação. Mesmo assim sobreviveu. No mundo de hoje, pode-se dizer que o Hinduísmo é uma religião desorganizada, mas está melhorando diariamente. Há templos e organizações ativas ao redor do mundo. Qualquer que sejam as suas falhas, se mantêm vivos os fogos do Sadhana e da renúncia, de uma vida espiritual. Nenhuma outra fé há feito isto com tal amplitude. O hinduísmo possui cerca de um milhão de Swamis, Gurus, e Sadhus, que trabalham de modo incansável, dentro e sobre si mesmos, e então, quando estão prontos, servem aos outros conduzindo-os da obscuridade à luz; da morte para a imortalidade.

3. O que faz alguém um hindu?
Durga-devi
Em nossa discussão sobre a conversão hindu surge claramente a questão de como o hinduísmo tem visto isto historicamente. Segundo, o que é, e exatamente, o que faz uma pessoa hindu? Nos aproximaremos primeiro desta última questão. Para aquele que nasceu hindu, a questão de entrar no hinduísmo pode lhe parecer desnecessária, porém, por definição, o hinduísmo é um caminho de vida, uma cultura, tanto religiosa como secular. O hindu não costuma pensar que a sua religião é um sistema claramente definido, distinto e diferente dos outros sistemas, por isso, se ocupa na sua vida de modo natural. Sua religião açambarca tudo na vida. Em parte, esta visão, pura e simplesmente, prove o relativo afastamento que as comunidades hindus desfrutaram por séculos, com pequenas interações de fés estrangeiras, para iluminar a unicidade do hinduísmo. Algo mais que isto, se há feito com a qualidade todo abrasadora do hinduísmo que aceita as muitas variações de crenças e práticas dentro de si mesma. Porém, esta visão ignora as verdadeiras distinções entre estes caminhos de vida e aqueles caminhos de outras grandes religiões do mundo. Isto não nega que o hinduísmo é, ademais, uma religião mundial distinta. Aqueles que seguem este caminho de vida são hindus. Isto é similar à história do Mahabharata, onde o grande rei Yudhistira foi interrogado: “- O que é que faz alguém um brahmin, nascimento, instrução ou a conduta?”, o qual respondeu, “- É a conduta que faz alguém um brahmin”. Similarmente, o hindu moderno pode bem declarar a sua conduta baseada nas crenças no Dharma, Karma, e reencarnação, as quais une os hindus. Além do mais, poderíamos refletir: não será um grande devoto aquele que está cheio de amor e fé no seu coração pelo seu Ishta-devata, e que vive o Dharma hindu melhor que seu agnóstico vizinho hindu, ainda que o primeiro tenha nascido na Indonésia ou na América do Norte, e o segundo em Andra Pradesh? Sri K. Navaratnam de Sri Lanka, devoto de Paramaguru Siva Yogaswami, por mais de 40 anos, em seu livro Estudos no Hinduísmo, cita o livro de Introdução ao Estudo das Escrituras Hindus: “Os hindus são aqueles que aderem a tradição hindu, de tal modo que eles estão devidamente qualificados para tal realidade efetivamente, e não simplesmente numa forma ilusória e exterior; os não hindus, pelo contrário, são aqueles que por razão for, não participam da tradição em questão”. Sri Krishna Navaratnam enumera uma série de crenças básicas sustentadas pelos hindus:

4. Crenças Hindus

  • 1. Uma crença na existência de Deus;
  • 2. Uma crença numa alma separada do corpo;
  • 3. Um crença no princípio finito, conhecido como Avidya ou Maya;
  • 4. Uma crença no princípio da matéria - Prakriti ou Maya;
  • 5. Uma crença na teoria do Karma e a reencarnação;
  • 6. Uma crença na guia indispensável de um guru para guiar o aspirante espiritual até a direção da realização de Deus;
  • 7. Uma crença em Moksha, a liberação como meta da existência humana.
  • 8. Uma crença na indispensável necessidade de adoração no templo, na vida religiosa;
  • 9. Uma crença em formas graduadas de práticas religiosas, tanto internas como externas, até que se realize Deus;
  • 10. Uma crença no Ahimsa, como o mais precioso Dharma ou virtude;
  • 11. Uma crença na pureza mental e física, como fatores indispensáveis para o progresso.

Sri Sri Sri Jayendra Sarasvati, 69º Shankaracarya de Kamakoti Pitam, define num de seus escritos as características básicas do Hinduísmo, tal como segue:

5. Sinais da fé

  • 1. O conceito da adoração do ídolo, e da adoração de Deus tanto em sua forma Nirguna como Saguna (com ou sem forma, respectivamente);
  • 2. O uso de marcas sagradas na testa;
  • 3. A crença na teoria dos nascimentos passados e futuros, de acordo com a teoria do Karma;
  • 4. A cremação do homem comum e o enterro do Grande Homem.

6. Fé Hindu
Menina indiana é vestida como o Senhor Krishna quando criança.
Um artigo no Hindu Vishva (Janeiro/Fevereiro, 1986), cita-se várias definições comuns, incluindo a que segue: “Aquele que possui um fé perfeita na lei do Karma, a lei da reencarnação, o Avatara, a adoração ancestral, o Varnashramadharma, os Vedas e a existência de Deus, que pratica as instruções dadas nos Vedas com fé e sinceridade, que executa Snana, Sraddha, Pritri-tarpana, e o Pancha Mahayajñas, que segue o Varnashram-dharmas, que adora os Avataras e estuda os Vedas, é um hindu”. A definição oficial de hindu, do Vishva Hindu Parishad, presente no Memorandum da Associação, regras e regulamentos (1996) é: “Hindu significa uma pessoa que crê, segue ou respeita os eternos valores da vida, éticos e espirituais, que hão surgido em Bharat Índia -, e inclui qualquer pessoa que se chama a si mesma de hindu”. Nas definições dadas acima, e em outras, as três crenças centrais para todos os hindus são o Karma, a Reencarnação, e a crença numa divindade todo-interpenetrante, formando o essencial da religião quotidiana, explicando nossa existência passada, guiando nossa vida presente, e determinando nossa futura união com Deus. Isto está manifesto em que, pela difusão de tais crenças hoje, um grande número de não hindus, previamente qualificados, se declaram a si mesmos hindus, porque muitos creem no Karma, Dharma, e Reencarnação, e se esforçam para ver Deus em todos os lados, possuem algum conceito de Maya, reconhecem a alguém como seu guru, respeitam a adoração do templo, e creem na evolução da alma. Muitas destas crenças são heréticas na maioria das outras religiões, especialmente para as religiões cristãs e judias, e aqueles que creem no Karma e a reencarnação, e na união com a Divindade desenvolveram-se mais além dos limites da religião ocidental.


Om tat sat

No que creem a maioria dos hindus



SATGURU SIVAYA SUBRAMUNIYASWAMI

SOCIEDADE INTERNACIONAL GITA DO BRASIL
GITA ASHRAMA

Tradução, adaptação e comentários por 

SWAMI KRISHNAPRIYANANDA SARASWATI

Prof. Olavo DeSimon





As nove crenças do Hinduísmo


  • 1. Os Hindus creem na divindade dos Vedas, as mais antigas Escrituras do mundo, e veneram aos Ágamas, como igualmente livros desvelados. Estes hinos primordiais são a palavra de Deus, e o fundamento do Sanatana-dharma, a religião eterna, que não possui princípio e nem fim;
  • 2. Os Hindus creem num único, onipenetrante, Ser Supremo, que é tanto transcendente como imanente; criador e Realidade Imanifestada;
  • 3. Os Hindus creem que o universo passa por ciclos sem fim, de criação, preservação e dissolução;
  • 4. Os Hindus creem no Karma, na lei de causa e efeito, pela qual cada indivíduo cria o seu próprio destino, segundo seus pensamentos, palavras e ações;
  • 5. Os Hindus creem que a alma reencarna, evolucionando através de muitos nascimentos, até que todos os Karmas tenham sido resolvidos; e em Moksha, conhecimento espiritual e liberação do ciclo de nascimentos e mortes, que é alcançada na liberação do Karma. Nenhuma alma será eternamente privada deste ciclo;
  • 6. Os Hindus creem na existência de seres divinos em mundo invisíveis aos olhos comuns, e que a adoração no templo, rituais, e sacramentos, assim como a devoção pessoal, cria uma união com estes Devas ou “deuses”;
  • 7. O Hindus creem que um Mestre espiritual, ou Satguru, é essencial para conhecer o Absoluto Transcendente, tanto como o é a disciplina pessoal, a boa conduta, a purificação, a peregrinação, a indagação do Ser Supremo, e a meditação;
  • 8. Os Hindus creem que toda a vida é sagrada, e deve ser amada e reverenciada, e por isso praticam o Ahimsa ou não violência, sendo vegetarianos, no mais das vezes, e,
  • 9. Os Hindus creem no que não há uma religião em particular que ensine o único caminho de salvação a custa de todos os outros, senão que todos os caminhos religiosos genuínos são facetas do Amor Puro, e Luz de Deus, merecendo todas a tolerância e compreensão. 

As cinco obrigações de todos os Hindus






  • 1. Adoração – Upasana: aos jovens hindus é ensinado a adoração diária na família: rituais, disciplinas, cantos, Yoga e estudos religiosos. Eles aprendem a ficar a salva do mundo moderno (consumista), através da devoção na própria casa e no templo, a usar as vestes tradicionais e devocionais, dando a luz do amor pela Deidade, e preparando a mente em serena meditação;
  • 2. Dias sagrados – Utsava: aos jovens hindus se ensina a participar de festivais hindus nos dias sagrados, tanto na casa como no templo. Eles aprendem a ficar felizes através da doce comunhão com Deus em tais celebrações auspiciosas. Utsava inclui o jejum, atender o templo, nas segundas ou nas sextas-feiras, e em outros dias sagrados;
  • 3. Vida Virtuosa – Dharma: aos jovens hindus é ensinado a viver uma vida de dever e boa conduta. Eles aprendem a ser não-egoístas, e a pensarem nos outros em primeiro; ser respeitosos com os pais, os mais velhos, para com os Swamis, seguindo a lei divina, especialmente respeitando o Ahimsa; não causando danos a nenhum ser, seja mental, emocional ou fisicamente. Assim eles resolvem o problema dos seus Karmas;
  • 4. Peregrinação – Tirthayatra: os jovens são ensinados do valor da peregrinação, e são levados pelo menos uma vez por ano ao Darshana de pessoas santas, templos e lugares, próximos e longe de suas casas. Eles aprendem a ser desprendidos dos assuntos mundanos, e fazer de Deus, os semideuses, e os Gurus, foco de vida singular durante esta jornada;
  • 5. Ritos de passagem – Samskaras: os jovens são ensinados a observar os sacramentos que marcam e santificam as passagens através a vida. Eles aprendem a ser tradicionalistas, e a celebrar os ritos de nascimento, entrega de nomes, raspagem da cabeça, primeira alimentação, perfuração das orelhas, primeira aprendizagem, chegada da idade, matrimônio e morte.


Características inalienáveis de um Hindu 






O Hinduísmo é uma religião de características iniciáticas. Portanto, para que alguém ingresse formalmente nele deverá ser iniciado por um Guru ou mestre espiritual. Não existe uma outra maneira. Todo aquele que pretende ingressar no Hinduísmo deverá submeter-se aos processos de iniciação em cerimônias realizadas por Brahmanas qualificados. De outro modo, não terá nenhuma validade e não será considerado Hindu.


  • 1. TODO o Hindu praticante deverá ter um nome espiritual, recebido numa cerimônia védica chamada Namakarana-Samskara (e não se trata de uma translineação do nome de registro civil para os caracteres em sânscrito, ou tradução para o sânscrito; bem como autointitulado pela própria pessoa);
  • 2. TODO o Hindu deverá estar engajado numa corrente de pensamento, ordem, seita, etc., segundo, os princípios Sivaístas, Vaishnavas, Shaktistas, Deviístas, etc.
  • 3. TODO o Hindu deverá ter um mestre espiritual ou Guru ou preceptor ao qual é fiel e fidedigno servidor;
  • 4. TODO o Hindu deverá seguir os princípios do Ahimsa, o não-violência, bem como do Satya ou veracidade, além do Yama e Niyama, de modo que NUNCA irá se apropriar do que não lhe é devido (isso inclui o nome espiritual, bem como os bens materiais e de direito - como direitos autorais, etc.).
  • 5. TODO o Hindu está vinculado a uma Deidade; deve freqüentar o templo, e levar o Dakshina para Ela, e assim manter o templo funcionando. Deverá prestar serviço ao templo, a Deidade e ao Guru, e se reunir com os devotos para trocar experiências, congregacionar o canto dos Santos Nomes em Satsang;
  • 6. TODO o Hindu respeita as seitas e religiões dos outros, e não tem vergonha de dizer que está vinculado a um templo e Deidade, e que serve seu Guru com amor e devoção. Portanto, ele deverá ter um Guru vivo ou Swami Ritvik, ainda que Siksha, para lhe dar as devidas instruções e iniciações dentro do Parampara.
  • 7. NINGUÉM PODE SER HINDU, apenas por ler livros sobre este assunto; ter afinidade e gosto pessoal pela filosofia, sem ter se convertido através da rendição ao mestre espiritual, e ter realizado Agni Homa ou cerimônia de fogo para a consagração. Para tanto, deverá usar a marca auspiciosa do mestre espiritual, cantar o Mantra que Ele indicar, e agir em conformidade com os deveres prescritos segundo a ordem do mestre espiritual.

Como vimos acima, ninguém pode se autointitular hindu pelo simples fato de ter nascido na Índia ou num país que tenha uma grande população de Hindus. Mais do que isto, para que alguém possa ser um Hindu deverá seguir os princípios reguladores, segundo a ordem que se filiou no momento do Namakarana. SEMPRE um Hindu deverá ajudar o templo e a seu Guru. Ele SEMPRE terá um nome devocional que designa a sua família espiritual em que está engajado. Não há como ser Hindu por livros, leituras e invenções pessoais. Tem que existir irrestrito respeito aos Vedas e as injunções védicas, de forma incondicional. Quem disser que é possível ser Hindu apenas por adotar esta filosofia, porque gostou, estará mentindo, portanto, desrespeitando um dos grandes princípios do Sanatana-dharma que são basicamente Ahimsa e Satya, ou veracidade acima de tudo, sem agressão.



Recebendo um chamado






Pode ser que alguém, não nascido na fé, se aproxime da filosofia do Sanatana-dharma por intermédio de leituras, ou de algum outro meio, e, assim, sentir uma vocação para seguir o caminho e ingressar no rebanho dos Hindus. Contudo, no mais das vezes, a fantasia é prevalecente na mente de quem não tem uma vivência prática de algo. O mesmo acontece com a prática do Hinduísmo. Portanto, o pretendente deverá ter um período de provação da sua nova vocação, ou continuidade da mesma. Este período pode levar 2 ou 5 anos, de acordo com a indicação do Swami ou Guru da missão. Após o período de provação, então a pessoa poderá ou não ser iniciada, tendo o apoio do corpo dos devotos e o sacerdote Brahmana da missão. A pessoa que deseja ingressar na fé Hindu deverá seguir os princípios apontados pelo Guru Diksha ou Siksha, e não desviar um só dia. Deverá, também, prestar serviços ao templo e ao Guru, quando este pedir. Sempre há muitas atividades para ser feitas num Ashrama, de modo que basta aproximar-se da pessoa encarregada de secretariar as atividades do mesmo e logo engajar-se no Seva. Este serviço, realizado de forma abnegada e gratuita, tem por finalidade desenvolver as qualidades do modo da bondade ou Sattva, e colocar o devoto no caminho da perfeição espiritual.


om tat sat