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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

O continente perdido de Kumari Kandam

O continente perdido de Kumari Kandam
“O lugar de onde quase todos viemos”

Krsnapriyananda Swami - Olavo DeSimon
Verão 2017



Vez ou outra aparecem notícias da descoberta de um continente perdido sob o Oceano. Recentemente, um grupo de pesquisadores australianos e neozelandeses trouxeram-nos a notícia de um continente submerso, um oitavo, conforme eles referem, denominando-o de Zelândia. Esse gigantesco continente ligaria a Austrália à Nova Zelândia, porém está todo embaixo do mar.
Por outro lado, a maioria das pessoas têm familiaridade com a história de Atlântida, a lendária cidade descrita pelo antigo filósofo grego, Platão. Apesar disso, nos dias de hoje, as opiniões se dividem se aquela história sobre o continente perdido deve ser entendida literalmente ou como meramente um conto moral. Mais ao Leste, no subcontinente da Índia, existe um conto semelhante, apesar de ser, provavelmente, menos conhecido em comparação ao de Atlântida. Este continente perdido na Índia conecta-se, frequentemente, com a lenda de Kumari Kandam, sendo contada na linguagem Tamil.
O termo “lemúria”, tem suas origens a partir da última parte do século XIX. O geólogo inglês, Philip Sclater, ficou intrigado com a presença de fósseis de lêmures em Madagascar e na Índia, mas não na África continental e nem no Oriente Médio. Desta forma, no seu artigo de 1864, intitulado “Os Mamíferos de Madagascar”, Sclater propôs que Madagascar e a Índia faziam parte de um continente maior, e chamando-a de Lemúria a essa terra que havia desaparecido. A teoria de Sclater foi aceita pela comunidade científica daquele período, com a explanação de que os lêmures poderiam ter emigrado de Madagascar à Índia ou vice-versa, em épocas antigas. Com o surgimento dos conceitos atuais de “deriva continental e tectônica de placas”, no entanto, a proposição de Sclater, de um continente submerso, não era mais sustentável. No entanto, a ideia de um continente perdido se recusou a morrer, e alguns ainda acreditam que Lemúria era um continente real que existia no passado.
Trecho em Sânscrito do Skanda Purana
Entre os que acreditam no antigo continente estão os residentes Tamil. O termo, “Kumari Kandam”, apareceu pela primeira vez no século XV, na versão Tamil do Skanda Purana, chamada “Kanda Purana”. Contudo, as histórias sobre uma terra antiga, de uma terra submersa pelo Oceano Índico, foram gravadas em muitas obras literárias anteriores em Tamil. De acordo com as histórias, havia uma porção de terra que fora governada pelos reis Pandiyan e foi engolida pelo mar. Quando as narrativas sobre a Lemúria chegaram na Índia colonial, o país estava passando por um período em que o folclore estava começando a permear o conhecimento histórico com os fatos. Como resultado, Lemuria foi rapidamente equiparada a Kumari Kandam.
Pelo povo Tamil, a lenda de Kumari Kandam não é considerada apenas uma história, mas parece estar carregada de sentimentos nacionalistas. Alegou-se que os reis Pandiyan, de Kumari Kandam, eram os governantes de todo o continente indiano, e que a civilização de Tamil é a civilização mais velha no mundo. Quando Kumari Kandam foi submerso, seu povo se espalhou pelo mundo e fundou várias civilizações, daí a alegação de que o continente perdido também foi o berço da civilização humana.
Então, quanta verdade há na história de Kumari Kandam? De acordo com pesquisadores do Instituto Nacional de Oceanografia da Índia, o nível do mar foi menor em 100 m há cerca de 14.500 anos, e em 60 m há cerca de 10 mil anos. Assim, é perfeitamente possível que existisse uma vez uma ponte terrestre que ligasse a ilha de Sri Lanka à Índia continental. Como a taxa de aquecimento global aumentou entre 12.000 e 10.000 anos atrás, o aumento do nível do mar resultou em inundações periódicas. Isso teria submergido assentamentos pré-históricos que estavam localizados em torno das áreas costeiras baixas da Índia e do Sri Lanka. Histórias desses eventos catastróficos podem ter sido transmitidas oralmente de uma geração para outra e, finalmente, escrito como a história de Kumari Kandam.
Ponte de Rama.
Uma das evidências usadas para sustentar a existência de Kumari Kandam é a Ponte de Rama (também chamada Ponte de Adão), uma cadeia de pedra calcária, composta de areia, limo e pequenos seixos, localizada no Estreito de Palk, estendendo-se 18 milhas da Índia continental até o Sri Lanka. Esta faixa de terra foi uma vez considerada uma formação natural, no entanto, outros argumentam que as imagens tiradas por um satélite da NASA retratam que esta formação de terra trata-se de uma longa ponte quebrada, agora abaixo da superfície do Oceano.
A existência de uma ponte nesta posição é suportada, igualmente, por uma outra legenda antiga. O Ramayana conta a história de Sita, a esposa de Rama, sendo mantida em cativeiro na ilha de Lanka. Rama encomendou um enorme projeto de construção para construir uma ponte para transportar seu exército de Vanara (homens macacos) através do oceano para Lanka.

Tal como acontece com a maioria dos chamados mitos, parece provável que exista, pelo menos, alguma verdade nas antigas lendas dos Tamil de Kumari Kandam, mas há ainda o quanto se está por determinar.

Fontes