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segunda-feira, 20 de junho de 2016

Não Há Tarot Védico

Não há Tarot Védico
Olavo DeSimon (Krsnapriyanananda Swami)


Eventualmente, perguntam-me sobre a possível existência de um “tarot védico”, quando, na realidade, não existe tal “dispositivo” adivinhatório na cultura védica. É certo que as pessoas tendem a interpretar as coisas pelo viés gravitacional da cultura que estão mergulhadas, mas para o bem da sabedoria, “védico” diz respeito aos Vedas: um conjunto de textos sobre hinos de louvor, sacrifício e cânticos rituais do antigo Irã (Arian), levados até a Índia por volta de 1.500 antes da era atual. Ainda que possam ter existido civilizações anteriores no norte da Índia, a hipótese da influência ariana é forte, principalmente quando lemos os textos de ambas as culturas e os comparamos, com a devida exegese. No mais, Vedas são textos destinados aos membros envolvidos na cultura do Sanatana Dharma, conforme o sistema de varnashrama, posição de atividade social como os Brahmanas, Kshátryas, e Vaishyas. Alguns aspectos são específicos aos Brahmanas, como rituais de sacrifício, outros aos Kshatryas, como a guerra e administração, e, também, aos Vaishyas, estes dedicados ao comércio. Fora disso, temos os chamados “escritos seculares”, que são textos advindos do folclore cultural indiano que, como sabemos, é um cadinho de múltiplas culturas e tradições diversas, como da Mongólia, da Arábia, da  Persa, bem como da cultura Ocidental, e assim por diante.

Na Índia, o que mais se aproxima do que conhecemos como “tarot”, uma prática divinatória surgida na Europa por volta dos séculos XV e XVI, apesar de não se utilizar de cartas, mas de dados (como o pachisi) , tem distintos nomes como:  Maha Lilah, Gyan Chapaud, Shaap Shree, Mohska-Patamu, entre outros, conforme a região do continente, e que, na verdade, são jogos de divertimento ou passatempos (lilah) que não seguem rituais védicos. Em resumo, no mais das vezes, há um tabuleiro com oito níveis de avanço no jogo, constituindo-se em média de 72 (setenta e duas) casas, denominadas “lokas” (mundos); entre essas casas, em alguns dos jogos, há escadas, também serpentes interferindo a caminhada do jogador; as casas dos devas (deuses), como Brahma, Vishnu e Shiva, são ditas que se encontram em um nível intermediário ao do guru. A meta final é alcançar a casa do Guru, ou mestre, conhecida como “garana”. Portanto, se há algum “tarot védico”, esse, sem dúvida, será uma adaptação do jogo de cartas europeu do final da Idade Média, e sem origem nos Vedas.

Contudo, o aspecto peculiar dos jogos de tabuleiro anteriormente mencionados, é a forma lúdica de ensinar os fundamentos da cultura do Sanatana Dharma, como Dharma (dever), Karma (trabalho: ação e reação), Kama (laser) e Moksha (liberação). Estes aspectos estão presentes e elucidados nos Upanishads, que são comentários dos Vedas, desde que estes textos estão numa linguagem mais simbólica do que real. Há muitas formas e variantes daqueles jogos, mas o pano de fundo é a moral e a ética contida na tradição indo-europeia.

Referências biblográficas
ELIADE, Mircea. O conhecimento sagrado de todas as eras. São Paulo, Mercuryo, 2004.
ELIADE, Mircea; COULIANO, Loan P. Dicionário das Religiões. São Paulo, Martins Fontes, 2003.
ZIMMER, Heirinch. Filosofias da Índia. São Paulo, Palas Athena, 2000.
___ Mitos e Símbolos na arte e civilização da Índia. 2ª reimp. São Paulo, Palas Athena, 1998