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sábado, 28 de outubro de 2017

Gopashtami - oitavo dia de Giri Govardhana


Gopashtami - oitavo dia de Giri Govardhana

Textos e comentários de

Swami Krsnapriyananda Saraswati
Dr. Olavo DeSimon

Gita Ashrama
2017



Krsna protege as vacas de Vraja


Gopashtami
Esta comemoração ocorre no Ashtami tithi (oitavo dia da lua crescente), durante o mês de Kartik Shujla Paksha (lua quarto crescente). É um festival muito famoso em Mathura, Vrindavana, e em outras áreas de Vraja, na Índia.

Conforme o calendário mitológico hindu, o Senhor Krishna ergueu a montanha de Govardhana com o seu kanishtha (dedinho mínimo) da mão esquerda, no dia que ficou conhecido como Govardhana Puja, salvando a população de Vraja da fúria de Indra, o qual enviara um demônio que soprou uma imensa tempestade, e fez chover sem parar por 7 dias e noites. Por fim, após este período, vendo que Krishna se mantinha firme, Indra aceitou a derrota, sendo este dia conhecido como Gopashtami (oitavo dia).

O Senhor Krishna sugerira que a população de Vraja parassem com o festival anual de Indra. E isso, então, enfurecera o semineus das chuvas, o qual decidira inundar Vraja. Indra falhou na sua tentativa de afogar a todos, inclusive as vacas. Todos se protegeram embaixo da montanha erguida por Krishna.

No dia de Gopashtami as pessoas decoram as vacas e bois, que são adorados por sua bondade em servir alimentos e dar vida a todos. Krishna recebeu o nome de Gopala (protetor das vacas) nesta ocasião, tendo sido dado por Srimati Bhumi Devi em pessoa, em homenagem ao seu gesto de protegê-las embaixo da montanha.

Jay Sri Krishna Gopala; jay Gopashtami!

Questionário
Indra, montado no seu elefante.
- o que significa Gopashtami?
R. é o oitavo dia de Giri Govardhana (montanha das vacas), quando Indra se rendeu a Krsna, e pediu o perdão a ele, por ter provocado chuvas e tempestades. Contudo, Krsna disse não poder perdoá-lo, uma vez que Indra tinha ofendido às vacas, bem como a montanha que dava alimentos e remédios para todos, e que as vacas são nossas segundas mães. Indra, então, ofereceu enviar um filho, poderoso arqueiro e invencível, mesmo contra Karna, filho do deus Sol – Surya Deva -, o maior e mais poderoso arqueiro do universo, para auxiliar Krsna na guerra de Kurukshetra. Mesmo assim, Krsna disse não poder perdoar, desde que a ofensa fora contra os devotos e não contra ele em si. Indra invocou com devoção a interferência de Laksmi Devi. Vendo isso, Laksmi, a personificação da compaixão, na forma de Bhumi Devi, aproximou-se de Krsna e pediu perdão em nome de Indra, uma vez que reconhecia a ignorância de Indra, e que o filho enviado por Indra seria muito importante para poder vencer a guerra. Krsna sempre atende os pedidos de Ma Devi, então, o devoto que comete alguma ofensa, deve pedir para Devi para que peça perdão para Krsna em seu nome.

Arjuna, o guerreio filho de Indra.
- O que aconteceu com o nome de Krsna?
R. Vendo a intercedência pessoal de Devi, Krsna, então, aceitou perdoar Indra, mas esse deveria proteger, de ali para diante o povo de Vraja, bem como fazer reverências a Giri Govardhana. Krsna aceitou o fato de Indra enviar um filho para ajudar na guerra do Mahabharata (o qual foi feito com o poder místico que Kunti Devi recebera), o qual receberia o nome de Arjuna (brilhante como a prata; daí o nome “argentum”, prata em Latim). Devi concedeu o nome de Govinda para Krsna, o que significa “querido das vacas”, ou “protetor das vacas – e ou gopis”.

- qual o significado de Krsna erguer a montanha com o dedo “kanishtha”?

Krishna ergue a montanha de Govardhana
R. a palavra “kanishtha” significa “pequeno, menor, secundário, iniciante...”, tendo o sentido de que tudo o que ocorre no mundo material é inferior ao Supremo. Indra estava cheio de orgulho, inveja, presunção, prepotência, os quais são aspectos típicos do egoísmo e da identificação objetiva: eu sou o corpo e suas relações. Quando Krsna mostrou que o poder de Indra era inferior ao dedo mínimo de Sua mão, ele também mostrou que nada é maior do que o Absoluto, e nada supera o amor dos devotos.

Para saber mais: Giri govardhana





Gopuja


sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Chhath Puja - Festival do deus do Sol

Chhath Puja
Festival do deus do Sol
Tradução, comentários por

Swami Krishnapriyananda Saraswati
(Dr. Olavo DeSimon)
Sociedade Internacional Gita do Brasil
Gita Ashrama
2017


Sri Rama, realiza Chhath puja para Surya Deva, o deus do Sol


    Chhath Puja ou Dala Chhath, é uma oferenda realizada ao Senhor Surya Deva o “deus do sol ou deus sol”. É um importante festival, especialmente celebrado em Bihar, Uttar Pradesh, Índia, que ocorre no período da lua quarto crescente, entre outubro e novembro. Além de Bihar, é observado em algumas partes da Bengala ocidental, Jharkhand, Orissa, Assam e Terai, no Nepal. Este festival é, também, celebrado nas Índias Ocidentais - Trinidad e Tobago, bem como na Jamaica, Guiana, Fii, Suriname, Ilhas Maurício (principalmente entre as comunidades de fala Bhojpuri e Maithali. Na Índia, sem dúvida Bihar é o lugar com maior celebração deste festival. Esta tradição é de tempos imemoriais, sendo celebrado com fervorosa fé no deus do Sol, o qual é dito que cumpre todos os desejos se “arghya”, é oferecido com dedicação e decoção. Junto ao deus do Sol, Chhathi Maiya ou Usha (alvorecer), a consorte de Surya deva, é, também, adorada neste dia auspicioso.

   
Usha devi, a deusa do alvorecer.

É dito que os casais que não têm filhos, neste dia podem ser abençoados rapidamente com crianças, sendo a graça concedida por Usha devi.

Em textos clássicos e antigos como o Rig-veda, o mais antigo dos Vedas, Surya possui a maior reverência:

 लोहितं रथमारूढं सर्वलोकपितामहम् ।

महापापहरं देवं तं सूर्यं प्रणमाम्यहम् ॥


“Saudações a Sri Suryadeva, cuja a cor é avermelhada, e está por sobre uma carruagem. Sois avô de todas as pessoas, tendo Adideva, o primeiro deus. Sois o deva que remove grandes pecados de nossas mentes, por Sua iluminação. Nós o saudamos, Suryadeva!”

   A lenda ou origem de Chhat Puja ou Dala Chhat, também chamada de Surya Sashti (rapidez), está profundamente associada aos grandes épicos, Ramayana e Mahabharata:

1. Está dito que Chhat Puja foi iniciado por Sri Rama, o qual nasceu no clã de Suryavansh, em Tretayuga. O Senhor Rama e Mata Sita, mantinham a tradição do Puja ao Senhor Sol, no mês de Kartik (outubro-novembro, na lua quarto crescente), em Shukla Paksh, durante a coroação, depois de terem retornado do exílio após 14 anos;

2. O rei Karna (filho de Kunti), costumava realizar Chhat Puja, oferecendo obediência ao se pai, Surya deva. Karna era o renomado guerreiro, o único que poderia derrotar Arjuna, sendo aquele conhecido por sua natureza caridosa. Karna se tornou um poderoso rei, popular e poderoso, pelo simples fato de realizar o puja ao deus do Sol. Os hindus adoram Karna por suas qualidades exemplares, bem como por sua fama, coragem, riqueza e prosperidade;

Draupadi é salva por Krsna, impedindo de ser despida.
3. Draupadi (esposa dos Pandavas), costumava adorar o deus do Sol com grande devoção, tendo recebido o dom de curar quaisquer doenças que alguém possuísse. Conta o épico Mahabharata, que um dia, enquanto os Pandavas estavam no exílio, visitaram oitenta e oito mil eremitas errantes. De acordo com o costume hindu, “atithi devo bhavah”, os hóspedes são tratados com grande calor e respeito. Como os Pandavas mal tinham o suficiente para eles, então, eles não tinham condições de cumprir fielmente com as obrigações e oferecer refeições suntuosas e adequadas para as almas piedosas. Então, Draupadi pediu ajuda ao santo e sábio Dhaymya que, por sua vez, abençoou-a devido a sua sincera devoção ao Senhor Surya. Posteriormente, Draupadi não só conseguiu resolver o problema imediato, mas a sua sincera devoção ao deus do Sol, ajudou os Pandavas a recuperarem o reino. Também, certa feita,  Krsna, fora tratado por ela, uma vez que este ferira-se seriamente na luta com um demônio poderoso, disfarçado de Vishnu. Draupadi retirou um pedaço do seu sari e fez um curativo em Krsna, o qual sarou a ferida. Nisso, Krsna ofereceu ajuda a Draupadi quando ela precisasse, bastando chamar por ele. De fato, quando os Kurus queriam despir Draupadi dentro do palácio, Krsna fez surgir sempre, mais e mais sari, de modo que ficou impossível remover a roupa dela. Este episódio ficou conhecido como Raksha-bandham, e é celebrado entre os irmãos na Índia;

4. A importância internacional do Chhath Puja. A tradição de adorar ao deus do sol, o sustentador da vida na Terra, também foi seguida pelas civilizações sumério-babilônica e egípcia.


Arghya no rio Ganges

Data do festival
   Nas festividades indianas as datas seguem o calendário lunar, então mudam de ano para ano. Em geral, o festival inicia numa sexta-feira, durante o período quarto crescente da lua, entre os meses de outubro e novembro, sendo seguindo por quatro dias: 

a) primeiro dia: na sexta-feira, os devotos tomam banho no Ganges, no início da manhã, levando água para suas casas, para preparar as oferendas. A casa e aos arredores, devem ser limpos neste dia. É observada uma única refeição neste dia, conhecida como “kaddu-bhat”, sendo cozida em utensílios de bronze, por sobre fogo de madeira de manga, e feito no solo;

b) segundo dia: no sábado, é feito jejum, encerrando no pôr-do-sol. O jejum é encerrado, sendo feitas oferendas de rasiao-kheer, puris, e frutas. Depois de reazerem a refeição, eles fazem jejum de água por um dia e meio;

Rasiao-kheer, oferendas ao deus Sol
c) terceiro dia: no domingo, dia do Sol, é o dia do Chhath,  onde são feitas oferendas Sanjhiya Arghya, no ghat que fica na margem do Ganges ou do rio sagrado da região. Depois do Arghyam as mulheres usam um sari de cor açafrão, os homens também vestem esta cor. Na noite de Chhath, é celebrado um momento de luzes, chamado Kosi, onde são acesas várias lâmpadas (dipas) de óleo, feitas com barro, as quais ficam por sobre cinco palitos de cana-de-açúcar. Estes cinco pedaços de cana-de-açúcar, indicam o Panchatattva (terra, água, fogo, ar e espaço), que o corpo humano possui, e

d) quarto dia: na segunda-feira, os devotos se reúnem com a sua família e amigos, oferecendo Bihaniya Aragh, no ghat na margem do rio Ganges. Nesta ocasião, o jejum é quebrado definitivamente com a Prashada do Chhath (o que foi oferecido a Surya deva).

Na manhã deste último dia de festival, a jornada em direção ao Ganges começa antes do nascer do Sol, o qual é saldado com mãos em prece. Entre as ofertas para o Sol incluei-se, sândalo, açafrão, arroz, frutas, e muitas outras. É oferecido arghya (banho ritual), e são cantados mantras do Rig-Veda.

Dipa para Suryadeva.

Aspectos conclusivos
   Chhtah Puja é o festival da verdade, da não-agressão, do perdão e da compaixão. Chhtah Puja é um festival de reverência à deidade solar. Diferente do festival de Holi, ou do Diwali, Chhtah Puja é um festival de oração e apaziguamento, observado com introspecção, de realização interna. Por isso, esse festival possui uma elevada estima e respeito pelos sábios.

   Chhatah é considerado um momento único em que o sol está em oposição ao seu nascimento (encontra-se no equinócio), por isso é celebrado a sua glória, já que o ciclo de nascimento se inicia com a morte. Após o pôr do Sol, os devotos retornam para casa, onde a celebração é continuada com cantar de hinos, por fim, quebrando o jejum destes dias. Com a quebra do jejum, é distribuído Prashada, e de acordo com a crença, o que tiver sido implorado para Surya, os desejos auspiciosos, se tornam realidade.

Hari om tat sat

Glossário

Arghyam: oferenda de água
Bihaniya Aragh: oferenda matinal.
Ghat: local de banho cerimonial.
Prashada: lit. misericórdia; alimento oferecido à deidade.
Puris: massa frita.
Rasiao-kheer: prato com oferendas para o deus Sol.





 Saiba mais: Chhat Puja 2017







terça-feira, 24 de outubro de 2017

SKANDA


SKANDA

SWAMI SIVANANDA

Tradução, comentários e adaptação de
Swami Krsnapriyananda Saraswati
Olavo DeSimon

SOCIEDADE INTERNACIONAL GITA DO BRASIL
SANATANA DHARMA BRASIL
GITA-ASHRAMA

Porto Alegre, RS
1997-2017


Skanda, o filho de Shiva

1.Skanda
Conta a mitologia, que o  grande demônio, Tarakasura, estava oprimindo os seres celestes. Ele fora até eles no céu. Todos os deuses, então, foram até o Senhor Brahma para pedir ajuda.

Brahma disse para os deuses: “Ó Devas, Eu não posso destruir Taraka, uma vez que ele obteve uma Graça de Mim, por ter feito rigorosa penitência. Mas deixe-me dar-lhes uma sugestão. Peçam ajuda ao Cupido, o semideus do amor. Induzam-no a seduzir o Senhor Siva, que está absorto em Seu Yoga Samadhi. Deixe o Senhor Siva unir-se com Parvati. Um poderoso filho, o Senhor Subramanya, irá nascer deles. Este filho irá destruir o demônio que molesta vocês”.

Indra, o chefe dos Devas, por causa disto pediu para o Cupido ir com sua esposa, Rati, e com a companhia de Vasanta (a estação da primavera), para o monte Kailas, a morada de Siva. Kamadeva, o cupido, cumpriu as instruções imediatamente, porque já era primavera. Mantendo-se por detrás de uma árvore, Kamadeva atirou sua flecha de paixão em direção a Siva, enquanto Parvati estava na floresta com algumas flores em Suas mãos. No momento em que Eles se encontraram, Siva experimentou um sentimento confuso. Ele queria saber o que estava perturbando Seu Yoga. Ele olhou ao redor e viu o Cupido encolhendo-se atrás da árvore. O Senhor abriu o Seu terceiro olho, o olho interior da intuição, e o cupido foi queimado à cinzas pelo fogo que emanou dele. Isto é o porque do semideus do amor ou Kamadeva é também chamado de Ananga, o qual significa “sem corpo”.

Shiva queima Kamadeva (o cupido), com o 3o. olho
Após ter queimado o Cupido, o Senhor Siva averiguou através do Seu poder de visão Yóguico que o nascimento do Senhor Subramanya era absolutamente necessário para destruir o poderoso Taraka. O sêmen de Siva foi jogado dentro do fogo, o qual, incapaz de retê-lo, jogou-se dentro do rio Ganges, o qual, por sua vez, foi jogado para dentro da floresta de cana. Foi assim que o Senhor Subramanya nasceu; por conseguinte, Ele é chamado de Saravanabhava, “nascido da floresta de cana”. Ele tornou-Se o líder das hostes celestes, e o destruidor de Taraka, como o Senhor Brahma havia dito.

O Senhor Subramanya é uma encarnação do Senhor Siva. Todas as encarnações são manifestações do Senhor Uno. O Senhor Subramanya e o Senhor Krishna são Unos. O Senhor Krishna diz no Bhagavad-gita: “Entre os generais do exército, Eu Sou Skanda”. O Senhor manifesta-se pessoalmente de tempos em tempos, em vários nomes e formas, com o objetivo de estabelecer a retidão, e subjugar a maldade.

O Senhor Subramanya é uma raio nascido da Consciência Divina do Senhor Siva. Valli e Deivayanai são suas duas esposas. Elas representam o poder de ação e o poder do conhecimento respectivamente. Ele é uma Divindade facilmente acessível nesta era de escuridão da ignorância e falta de fé. Nisto Ele não é diferente de Hanuman. Ele dá prosperidade material e espiritual e sucesso em cada tarefa dos Seus devotos, mesmo se eles mostrarem uma pequena devoção para Ele. Ele é adorado com grande devoção no Sul da Índia. O Senhor Subramanya tem outros nomes como Kumaresa, Kartikeya, Shanmukha, Guha, Muruga e Velayudhan.

Na sua representação, o Senhor Subramanya segura uma lança na mão, assim como o Senhor Siva segura um tridente. Esse é um emblema de poder, indicando que ele é o governador do universo. Seu veículo celeste é um pavão, no qual cavalga. Isto significa que ele conquistou o orgulho, o egoísmo e a vaidade. Há uma cobra sob seus pés, a qual indica que ele é absolutamente destemido, imortal e sábio. Vali está num dos Seus lados, e Deivayanai no outro. Algumas vezes, ele aparece só, com sua lança. Nesta pose, ele é conhecido como Velayudhan; este é o seu aspecto Nirguna, o qual é livre do poder ilusório de Maya.

As Suas seis cabeças representam os seis raios ou atributos chamados: sabedoria, ausência de paixão, força, fama, riqueza, e poderes divinos. Eles indicam que Ele é a origem dos quatro Vedas, os Vedanga, e as seis escolas de filosofia. Elas também indicam o Seu controle sobre os cinco órgãos do conhecimento, bem como da mente. Elas simbolizam que Ele é o Ser Supremo, com milhares de cabeças e mãos. Suas cabeças viradas para todas as direções significam que Ele é todo penetrante; indicando que Ele pode multiplicar-Se e assumir a forma que desejar.

Os templos do Senhor Subramanya podem ser vistos em Udipi, em Tiruchendur, nas montanhas Palani, no Ceilão, e em Tiruparankundrum. O Senhor Subramanya passou Seus dias de infância em Tiruchendur, e alcançou o Mahasamadhi em Kathirgamam. Se você for para Kathirgamam com fé, devoção e piedade, e ficar no templo por dois ou três dias, o Senhor irá conceder a você a sua visão. Você irá alcançar uma rica experiência espiritual. Um grande festival tem lugar no templo todos os anos no Skanda Sashti. Milhares de pessoas visitam o lugar. Grande quantidade de cânfora é queimada nesta ocasião. O Skanda Sashti acontece em Novembro. Ele é o dia no qual o Senhor Subramanya derrotou o demônio Taraka. Neste dia é organizado um festival com grande pompa e esplendor. Os devotos organizam programas de Bhajans e Kirtans em grande escala. Milhares são alimentados de forma suntuosa. Muitas doenças incuráveis são curadas se visitas forem feitas a Palani e adorações ao Senhor Subramanya. No Sul da Índia, os Lilas do Senhor são dramatizados num palco.

Adicional ao Skanda Sashti, os devotos do Senhor Subramanya observam semanal e mensalmente oferendas em sua honra. Cada sexta-feira, ou dia Kartigai Nakshatram, ou no sexto dia da lua cheia, são dias sagrados para os Seus devotos de Skanda. O sexto dia do mês de Tulam (Outubro-Novembro) é o mais auspicioso dia de todos eles. É o dia do Skanda Sashti.

2.Kavadi
Quiçá, o mais potente rito conciliatório que um devoto de Shanmukha se responsabiliza em realizar é o que é conhecido como Kavadi. Os benefícios que os devotos ganham em oferecer um Kavadi para o Senhor são milhões de vez maiores do que qualquer dor que alguém inflija sobre si mesmo.

Geralmente, a pessoa faz uma promessa de oferecer um Kavadi ao Senhor por segurança para superar uma grande calamidade. Apesar disto, talvez, ao que parece, dá a impressão de um pouco mercenário, a reflexão de um momento irá desvelar que o ato contém a semente do supremo amor por Deus. Os objetos mundanos são alcançados, não há dúvida, e os devotos seguram o Kavadi; mas após a cerimônia ele alcança uma embriaguês em Deus, que é o ser espiritual interior que é desperto. Este é, também, um método que no final das contas conduz para o estado supremo da devoção. O Kavadi possui várias formas e tamanhos, de uma simples forma de um armazém de mascate (uma vara de madeira com duas cestas em cada ponta, colocada por sobre os ombros), a estrutura de um caro palanquim, abundantemente decorado com flores, e com penas de pavão entrelaçadas. Em todos os casos o Kavadi possui um bom número de adornos e que uma pessoa o está puxando. Como o portador do Kavadi observa com freqüência o silêncio, os sinos são os únicos sinais da posse do Kavadi.

Devoto da Malasia, carrega um kavadi
As duas cestas em cada ponta da vara do Kavadi, contêm arroz, leite e outros artigos que o devoto prometeu oferecer para o Senhor. Os mais devotados entre eles, e especialmente aqueles que fazem isso como Sadhana, coletam estes artigos esmolando. Eles viajam a pé, de vilarejo em vilarejo, e pedem de porta em porta. As pessoas do vilarejo oferecem seus artigos, colocando diretamente dentro da cesta do Kavadi. O portador do Kavadi continua pedindo até que as cestas fiquem cheias ou quando se declare que a quantidade foi alcançada, então eles oferecem o Kavadi ao Senhor. Alguns devotos entusiasmados empreendem a caminhada descalços, desde as suas casas, até um santuário de Subramanya, sustentando o Kavadi durante todo o caminho, e coletando os materiais para oferecimento. Eles costumam caminhar milhares de quilômetros algumas vezes. A pessoa que coloca os artigos na cesta também recebe as bênçãos do Senhor.

O carregador do Kavadi deve observar várias regras entre o tempo em que ergue o Kavadi, e o dia em que ele realiza a oferenda. Ele deve realizar uma cerimônia elaborada na ocasião de assumir o Kavadi, e na época de oferecer ao Senhor. Ele também coloca a vestimenta de um Pandaram, um mendicante Sivaista, que consiste numa roupa de cor açafrão, um boné vermelho cônico, e uma bengala coberta de prata em ambas as pontas. O Senhor Siva, o Supremo Pandaram em Pessoa, gosta de vestir esta roupa. O Pandaram vive apenas de esmolas. O pescoço desnudo do carregador do Kavadi está coberto com muitos Malas de Rudraksha.

O carregador de Kavadi observa estrito celibato. Apenas alimentos puros e Sattwicos são comidos; ele se abstém de todo o tipo de bebidas e drogas intoxicantes. Ele fica pensando em Deus o tempo todo. Muitos dos carregadores do Kavadi, especialmente aquele que fazem disto o seu Sadhana espiritual, impõem-se várias formas de auto-tortura. Alguns colocam pequenas lanças através das suas línguas, que ficam aparentes fora da boca. Outros passam estas pequenas lanças nas suas bochechas. Este tipo de perfurações são feitas em outras partes do corpo também. O carregador não se barbeia; ele cultiva uma barba. Ele como apenas uma vez ao dia. Ele perfura a sua língua ou face, lembrando-se constantemente de Deus. Isso também o previne de falar. Isso dá a ela grande poder de paciência. O carregador de Kavadi goza um elevado estado de fervor religioso. Ele dança em êxtase. Sua verdadeira aparência é imponente; há uma irradiação divina em sua face. Os devotos com freqüência experimentam um estado de sentimento de união com o Senhor. Algumas Deidades entram neles e os possuem por algum tempo.

Devoto com kavali
Ore do fundo do seu coração: “Ó meu Senhor Subramanya, ó Senhor todo misericordioso, eu não tenho fé nem devoção. Eu não sei como fazer adoração a Ti de maneira adequada, ou meditar em Ti. Eu sou o Teu filho perdido no caminho, esquecido da meta e do Teu Nome. Não é tua obrigação, Ó pai misericordioso, trazer-me de volta? Ó Mãe Valli, não desejas apresentar-me para o Teu Senhor? Teu amor por Teus filhos é profundo e verdadeiro do que qualquer coisa mais no mundo. Apesar de eu ter-me tornado para Ti sem valor e um filho sem fé, Ó amada Mãe Valli, perdoai-me! Faça-me obediente e pleno de fé. Eu sou Teu neste exato momento, sempre Teu. Tudo é Teu. É correta obrigação da Mãe, educar e moldar sem obstáculos o Seu filho quando vagueia desinteressado no caminho errado. Remova o abismo do véu da ilusão que me separa de Ti. Abençoe-me. Pegue-me de volta para Teus sagrados pés. Nada mais tenho a dizer. Esta é minha calorosa oração para Ti e Teu Senhor, meus amados e ancestrais pais”.

Que o Senhor Subramanya derrame Suas Graças por sobre você! Que Suas bênçãos concedam-lhe paz, bem-aventurança e prosperidade.


Hari Om Tat Sat


Festival de Kavadi no templo de Viravar, Índia


Conheça mais sobre Skanda: O nascimento de Shanmukha
Link externo : A História de Skanda (inglês)

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Giri-Govardhana: Por que Sri Krishna é chamado de “Govinda”?

Giri-Govardhana
Por que Sri Krishna é chamado de “Govinda”?

por
Swami Krishnapriyananda Saraswati
Olavo DeSimon

Sociedade Internacional Gita do Brasil
Gita Ashrama
primavera 2017



Narayna-Deva - Sri Krsna

Narayana Deva recebeu muitos títulos ou nomes ao longo de sua vida, devido as suas extraordinárias atividades e feitos. O nome “Govinda”, do Prakrita, quer dizer, “bem-querido das vacas”; “vaqueiro”; refere-se a atitude de Narayana Deva com relação a um importante passatempo ou Lila que ocorreu, e o qual iremos descrever a seguir.

Na Índia havia uma antiga tradição, principalmente em todas as áreas rurais, de se fazer a adoração a Indra-Deva, o semideus dos céus. A adoração aos semideuses sempre fez parte do culto na Índia. Isso porque a tradição religiosa da Índia é agrária, estando ligada ao campo. Quer dizer que as plantações, colheitas, armazenamentos, seguem um ciclo natural conforme as estações. Indra é o controlador celeste das chuvas. E, desde cedo, as pessoas que lidam no campo sabem que se não houver chuvas suficientes não haverá abundância na plantação. Para que houvesse o suficiente provimento de chuvas, então as pessoas faziam uma adoração anual para Indra. Veja-se a importância desta tradição rural na Índia. No Bhagavad-gita, verso. 3.14, o Senhor Krishna diz para Arjuna, “annad bhavanti bhutani parjanuyad anna-sambhavaj/ yajñad bhavati parjanyyo yajñah karma-samudbhavah”; “As entidades vivas se mantêm de alimentos, e estes provêm das chuvas. As chuvas são possíveis pela execução de yajñ€s, e estes (sacrifícios) nascem da atividade (karma)”. Veja-se neste verso a importância dos “sacrifícios” para ter a “recompensa” dos semideuses. Isso está tão impregnado na tradição cultural do indiano, que parar com um sacrifício daquele tipo poderia ser considerado uma grave desobediência a ordem celeste.

Indra-deva, o senhor das águas celestes.
Certa feita Sri Krishna percebeu que toda a cidade estava ocupada nos preparativos de adoração a Indra (geralmente festividade feita no outono, no hemisfério norte). Ele, então, perguntou por que estavam fazendo aquilo, uma vez que é tradição na Índia adorar-se os “deuses” locais em vez de semideuses. As pessoas disseram que deveriam fazer a adoração a Indra, senão iriam ter problemas com as chuvas. Sri Krishna disse que, quem dava para eles abrigo, grama, ervas e tudo o que precisavam, era a Giri Govardhana (g­iri= montanha; govardhana= montanha das vacas), e não Indra. Ele estava certo, porque Govardhana, na época, era uma colina verdejante, e que trazia as chamadas chuvas orográficas. Isso é natural de montanhas e morros. Então, dizia Krishna, eles deveriam adorar Giri Govardhana, e não Indra, até mesmo porque teria sido Govardhana colocada ali por Sri Hanuman, para os passatempos de Sri Ramachandra, quando retornasse ao planeta. Os argumentos de Khana-deva foram suficientes para mostrar que as pessoas estavam desobrigadas de adorar Indra, e então fizeram um grande sacrifício para Giri Govardhana, a tal ponto que a Deidade manifestou-se diante deles, e pessoalmente aceitou todas as oferendas. Todos ficaram muito assustados pelo fato de Giri Govardhana vir pessoalmente e honrar a cerimônia. Na ocasião, depois de terem escutados os argumentos de Khana, Nanda Maharaj (pai adotivo de Krishna) e os vaqueiros, convocaram os Brahmanas e iniciaram a adoração de Govardhana. Desta forma, eles cantaram os hinos védicos e ofereceram os alimentos para a montanha. Todos se vestiram com as suas melhores roupas, decoraram as vacas, e os carros de bois, e glorificaram Govardhana. Todos puderam ver na Deidade manifesta de Govardhana a imagem de Krishna em Si mesmo.

Quando Indra Deva ficou sabendo que os habitantes de Mathura haviam feito um sacrifício para Govardhana e não para ele, ficou furioso, e então chamou um demônio para fazer chover torrencialmente sobre os habitantes. Sri Krishna, com cerca de 7 anos de idade, com o seu dedo mínimo da mão esquerda, ergueu a montanha e abrigou a todos, durante sete dias e sete noites, salvando-os das chuvas.

Krishna ergue a montanha de Govardhana
Indra vendo que Khana-Deva era a corporificarão de Krishna, então ficou muito reverente. Tendo perdido todo o seu poder diante de Krishna, ele foi até Krishna pedir perdão pelo que havia feito. Mas Krishna não quis perdoá-lo, devido ao fato de que Indra havia feito mal para as vacas e os habitantes de Vrindavana. Krishna perdoa aqueles que fazem ofensa contra Ele, mas não contra as vacas e Seus devotos. Então, Surabhi Devi, a mãe Terra, veio pessoalmente pedir pela misericórdia de Krishna, para que perdoasse Indra. Diante do pedido de Devi, a Mãe Divina, a quem Sri Krishna sempre atende, concordou em perdoar o semideus, não sem antes dar uma lição de moral para o arrogante Indra. Em virtude da Sua atitude de proteger as vacas de Vrindava, e a todos, então Surabhi Devi deu o nome de Govinda (protetor das vacas) para Krishna, e Indra pode retornar ao seu local no céu e cuidar das chuvas. Além de ter recebido o nome Govinda, Krishna também concordou com Indra o fato deste gerar mais tarde junto com Kunti (tia de Krishna), o arqueiro Arjuna, que iria auxiliar os Pandavas na guerra do Mahabharata.

Antecedentes de Govardhana
Alguns podem pensar que Sri Krishna induziu as pessoas a adorarem uma pedra no lugar de uma pessoa, desrespeitando uma tradição. ¦a realidade, Salagram Sila é uma forma muito milenar de adorar a Deus na Índia, e recomendada nas Escrituras. Giri Govardhana hoje é uma colina de pedras já bem diminuída, mas no passado era grande e pesada. Quando a olhamos de cima, Ela tem o formato de um pavão, sendo que os seus olhos são o Radha Kunda e Syama Kunda. O Dan Ghati é o seu longo pescoço. Também se diz que o Mukharavinda é a sua boca, e o Pucha é suas costas e o rabo de penas. Eis porque se diz que  Govardhana tem um formato de pavão.

Duas histórias
A tradição védica diz que na Satya Yuga, a era que antecedeu a Kali Yuga, era em que hoje vivemos – e onde Krishna realizou seus passatempos – o sábio Pulastya Muni amaldiçoou Govardhana e o reduziu ao tamanho de um grão de mostarda. Certa feita, Pulastya Muni aproximou-se de Dronachala, o rei das montanhas, e pediu que lhe desse seu filho Govardhana para que ele se instruísse nos ensinamentos superiores. Mas Dronachala estava deprimido, e disse que não seria capaz de separar-se do seu filho. Contudo, não impediu que Govardhana fosse com o sábio, mas com a promessa de que onde quer que o sábio o colocasse, deveria ali permanecer.

Pulastya Muni foi em direção ao seu Ashrama com Govardhana. Durante o percurso, Muni teve que atender os “chamados da natureza”, e pediu que Govardhana aguardasse por ele. Quando retornou, não pode mais mover Govardhana (que atendera o que o seu pai pedira). Pulastya Muni ficou muito bravo, amaldiçoando Govardhana a ficar do tamanho de um grão de mostarda. Nos antigos tempos das Escrituras, se diz que Govardhana tinha 115 km de comprimento, 72 km de largura, e 29 km de altura. Hoje é um monte com apenas 24 metros de altura.

Hanuman carrega a montanha de Govardhana
Uma outra história de Govardhana remonta a Dwapara Yuga, os tempos do Ramayana, onde ocorreu a saga do Senhor Ramachandra. Neste Lila, se diz que Hanuman, o companheiro rei-macaco de Sri Rama, encarregou-se da tarefa de buscar distintas pedras, tendo em vista construir uma ponte para chegar a Lanka, onde Sita estava aprisionada no castelo do rei demônio Ravana. Hanuman estava trazendo Govardhana do Himalaia, tendo em vista atender a necessidade de salvar Lakshmana, o qual havia sido crivado por flechas envenenadas, e somente uma erva naquela montanha poderia curá-lo. Como Hahunam não conhecia a erva, trouxe logo toda a montanha. Diz-se que quando Hanuman passava por sobre Vraja (Vrindavana), Nala e Nila, pessoas encarregadas de construir uma ponte, disseram para Hanumam que a mesma já havia sido completada, e que não seria mais necessário levar Govardhana até lá, bem como trouxeram um conhecedor de ervas. Então Hanunam fora até Vraja Mandala e colocou Govardhana na região. Até hoje, Govardhana é adorada tanto pelos seguidores do Senhor Siva como do Senhor Rama (Vishnu). É dito que Rama, ao saber de Govardhana em Vraja, tendo sido deixada, lá por Hanuman, disse que no final de Dwapara Yuga Ele iria nascer como Sri Krishna, e então iria erguer Govardhana para proteger os habitantes e o gado, por sete dias e sete noites, como sabemos do Lila que comentamos acima.


Hari Om Tat Sat


quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Hinduísmo é Dharma,

Hinduísmo é Dharma,
Diferentemente de uma fé ou religião estagnadas

Tradução, comentários e significados por
Swami Krishnapriyananda Saraswati
Prof. Olavo DeSimon
Sociedade Internacional Gita do Brasil
Gita Ashrama

Primavera 2017

Sábio instruindo sobre as Escrituras Védicas

Prólogo
Ao contrário de outras religiões, o Dharma hindu (equivocadamente chamado de “hinduísmo”), tem muitas especialidades, as quais não são conhecidas como “religião”. O correto é denominar o conjunto destas “especialidades” de Sanathana-Dharma (ordem eterna). Conforme as escrituras (como o que vemos no Bhagavad-gita), o dharma eterno não pode ser destruído pelo fogo, água, ar, ou armas, e está presente em todo o ser, seja vivo ou não-vivo. Entre outros tantos sentidos e significados, “dharma” remete-nos a “caminho de vida”, o qual está exemplificado em todos os Acharas, ou seja, costumes e rituais védicos conforme o dharma.

Se podemos falar numa “espiritualidade científica”, eis aí o Sanathana-dharma. Através de toda a literatura clássica da Índia Hindu, podemos ver que a ciência e a espiritualidade estão integradas, sendo mesmo inseparáveis uma da outra. Por exemplo, no Yajurveda, no Upanishad conhecido como “Ishavasya”, são dados exemplos de conhecimento científico (empírico formal), para resolver os problemas em nossa vida, e é feito uso do conhecimento espiritual, tendo em vista liberar do ciclo material, assim, alcançando a imortalidade, por meio das perspectivas filosóficas.
  
Do conceito “sanathana-dharma”
Jagannatha (no centro), Baaladeva (em cima), e Subhadra - trimurti védica.
Sanathana-dharma não é algo que possa ser definido facilmente, não pertencendo ou tampouco estando numa determinada doutrina dogmática estagnada, e sequer num livro ou escritura única em particular. Compreenda que, diversidade e diferença de opiniões ou expressões, são os exatos ornamentos refulgentes do Sanathana-dharma. Por conseguinte, podemos encontrar diferentes tipos de doutrinas no seu cerne, conforme alguns aspectos que comentamos abaixo:

a)       Advaita Vedanta: neste conceito, há total unidade entre tudo e todos. Qualquer entidade que é finita, temporal ou, então, que possa ser definida usando atributos (saguna), é tratada como irreal (maya), e o espírito (atma), é o pressuposto da única entidade real. O atma é o menos atributo, sendo infinito, por definição. De outra forma, tudo que é irreal, finito, temporário e ilusório, é maya;
b)      Dvaita Vedanta: nesta visão, a realidade é classificada sob três aspectos ou partes, cada uma sendo diferente da outra: entidades sensíveis; entidades insensíveis e deus, ou entidade suprema. Cada um destes aspectos é considerado real, enquanto que alguns podem ser temporários e outros eternos, mas mesmo assim, são reais, na visão dvaita;
c)       Vishishtadvaita Vedanta: a expressão que melhor caracteriza esta visão filosófica é dita: “Deus é o habitante do meu coração; eu adoro Saguna-Brahman (deus com atributos), que permeia a tudo como espirito. Brahman, embora independente e absoluto, é o todo (criação inclusive). Eu sou espirito/alma, cuja existência é dependente do espírito universal”.

Escolas conforme o humor da triguna da prakriti e antagonismos com a visão ocidental
Podemos enumerar três escolas fundamentais que seguem um ou outro modo filosófico apontado acima. Conforme as três divisões da natureza temos, Shivaismo, Shaktismo e Vaishnavismo. Há outros, mas aqui reduzimos para facilitar o estudo. Salientamos, contudo, que todos estes estão ligados uns aos outros, mas cada um tem uma filosofia independente e distinta.

Na ciência da atualidade, vemos uma estrutura semelhante. Qualquer um que tenha estudado ciências na escola compreende a comparação entre mecânica newtoniana, lagrangiana, hamiltoniana e quântica.
De modo semelhante, podemos ver as “camadas estruturais” semelhantes da percepção na cosmologia do Universo Brahmananda (universo de óvulos cósmicos); Universo Aristotélico, Universo Heliocêntrico de Copérnico, Universo Abramático, Universo Newtoniano, Universo Einsteiniano, Modelo Big Bang do Universo, Universo Oscilante, Universo Estadual Permanente, Universo Inflacionário (ou inflando, em expansão) Multiuniverso, e assim por diante.

Por isso, é possível afirmar que o que chamamos de “hinduísmo” não se trata de uma única fé. Trata-se de um conjunto universal de conhecimentos racionais e intuitivos, os quais não podem ser definidos singularmente, devendo ser vividos e experimentados. Eis que fica compreensível que os chamados, “mal” e o “erro”, não são definidos em termos maniqueístas, portanto, não há inferno, pois, afirmar este, significaria afirmar um local onde o Absoluto ou deus não é (portanto, O nega), bem como que há pecados superiores ao amor.

Escrituras sagradas
Veda-Vyasa, compilando os textos Acharas
Entre os nomes das principais escrituras do Sanathana-Dharma, destacam-se, os Vedas, Upanishads (textos comentados daqueles), Brahmanas, Puranas, Gitas, Bhagwats, Sutras, Shastras, os quais, em conjunto, elevam o vasto conceito, assim como pilares do conhecimento, onde cada um têm sua própria importância em seus setores. Alguns textos, falam sobre a ciência da criação, a biodiversidade; alguns dizem sobre filosofia de vida, outros, sobre arquitetura, engenharia, medicina, incluindo artes como cirurgia, yoga, meditação, ética, astronomia, astrologia, percepções futuras, psicologia, dança, música, artes, economia, história, e muitos outros assuntos. Esse conjunto de textos, escrituras, e assuntos, é chamado Sanathana-dharma, sendo que “dharma” tem um sentido direto de “virtude”, Ética e Moralidade, as quais apontam para Propriedades, Regulação, Devoção, Sigilo, Princípios Gerais de Justiça, Honestidade, Dever, Atribuições, Piedade, Sacralidade, mas mesmo assim, não se trata de religião.

Aspectos conclusivos
Devemos lembrar que em cada Achara (costume e ritual considerado védico), haverá um componente de espiritualidade nele. Sem espiritualidade, nada existe no Sanathana-dharma. Via de regra, é costume dar uma interpretação equivocada que este espiritualidade é religião. Salienta-se que a espiritualidade é diferente no Dharma védico, chamado “hindu”. Neste, a questão da religião não existe, uma vez que o Dharma não foi criado por um indivíduo, um profeta ou qualquer que seja encarnação. Eis que, a espiritualidade é uma parte de todo o costume hindu na vida normal de um hindu.
Acharas (os costumes védicos e rituais), dever ser seguidos com base nos méritos disponíveis, a partir da auto-experiência. Portanto, ao contrário das chamadas religiões organizadas, tendo estes um fundador, não é necessário seguir cegamente a um instrutor ou alguém que lhe imponha conselhos ou ideias sem reflexão e raciocínio. Aliás, este aspecto de alienação do indivíduo é típico de religiões, não cabendo no Sanathana-dharma. Todos os Acharas são indicados para a prosperidade dos seres humanos, devendo ser este o principal foro na sua prática, afastando-se rituais que buscam apenas alcançar felicidade puramente material, porque o conceito de liberação ou mukti está acima de qualquer coisa.


“Acharyah padam adatthe padam
Sishya swamedhaya padam a
Bramacharibhya sesham kala kramena ca”

Este verso contém o conselho dos smritis (textos comentados por um mestre), no qual está dito que uma pessoa só pode obter ¼ do conhecimento de um Acharya (mestre), outro ¼ analisando a si mesmo; outro ¼ discutindo um conceito com outros, e, por fim, o ¼ restante, deverá ser alcançado durante o processo da vida, por adição, eliminação, correção e modificação de um achara conhecido, e por novos acharas que são experimentados.

“Acharath labhathe ovayu
acharatah dhanamakshayam acharatah labhathe supraja
Acharo ahanthya lakshanam”

“Acharas são seguidos para a saúde fisiológica, psicológica e longa vida; Acharas são seguidas para a prosperidade e riqueza; Acharas são seguidas para uma família e sociedade fortes; seguir os Acharas alcança-se uma fina personalidade, visão dharmica (reta visão)”, assim diz o Dharmashastra.

Na Índia dos hindus, os Acharas (costumes védicos) são seguidos tendo em vista benefícios psicológicos, físicos, familiares, sociais, bem como benefícios baseados na integração Nacional, conforme mencionados acima.

Portanto, é dever de um Vaidhika-Dharmi (seguidores do Sanathana-dharma), compreender cientificamente, racionalmente e logicamente o significado de cada Achara, seguindo-o de forma sistemática, aprimorando a cada tempo, evoluindo para a liberação do ciclo do Samsara.

Hari om tat sat


Achara comunitário na Índia: Ganga-puja