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quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Hinduísmo é Dharma,

Hinduísmo é Dharma,
Diferentemente de uma fé ou religião estagnadas

Tradução, comentários e significados por
Swami Krishnapriyananda Saraswati
Prof. Olavo DeSimon
Sociedade Internacional Gita do Brasil
Gita Ashrama

Primavera 2017

Sábio instruindo sobre as Escrituras Védicas

Prólogo
Ao contrário de outras religiões, o Dharma hindu (equivocadamente chamado de “hinduísmo”), tem muitas especialidades, as quais não são conhecidas como “religião”. O correto é denominar o conjunto destas “especialidades” de Sanathana-Dharma (ordem eterna). Conforme as escrituras (como o que vemos no Bhagavad-gita), o dharma eterno não pode ser destruído pelo fogo, água, ar, ou armas, e está presente em todo o ser, seja vivo ou não-vivo. Entre outros tantos sentidos e significados, “dharma” remete-nos a “caminho de vida”, o qual está exemplificado em todos os Acharas, ou seja, costumes e rituais védicos conforme o dharma.

Se podemos falar numa “espiritualidade científica”, eis aí o Sanathana-dharma. Através de toda a literatura clássica da Índia Hindu, podemos ver que a ciência e a espiritualidade estão integradas, sendo mesmo inseparáveis uma da outra. Por exemplo, no Yajurveda, no Upanishad conhecido como “Ishavasya”, são dados exemplos de conhecimento científico (empírico formal), para resolver os problemas em nossa vida, e é feito uso do conhecimento espiritual, tendo em vista liberar do ciclo material, assim, alcançando a imortalidade, por meio das perspectivas filosóficas.
  
Do conceito “sanathana-dharma”
Jagannatha (no centro), Baaladeva (em cima), e Subhadra - trimurti védica.
Sanathana-dharma não é algo que possa ser definido facilmente, não pertencendo ou tampouco estando numa determinada doutrina dogmática estagnada, e sequer num livro ou escritura única em particular. Compreenda que, diversidade e diferença de opiniões ou expressões, são os exatos ornamentos refulgentes do Sanathana-dharma. Por conseguinte, podemos encontrar diferentes tipos de doutrinas no seu cerne, conforme alguns aspectos que comentamos abaixo:

a)       Advaita Vedanta: neste conceito, há total unidade entre tudo e todos. Qualquer entidade que é finita, temporal ou, então, que possa ser definida usando atributos (saguna), é tratada como irreal (maya), e o espírito (atma), é o pressuposto da única entidade real. O atma é o menos atributo, sendo infinito, por definição. De outra forma, tudo que é irreal, finito, temporário e ilusório, é maya;
b)      Dvaita Vedanta: nesta visão, a realidade é classificada sob três aspectos ou partes, cada uma sendo diferente da outra: entidades sensíveis; entidades insensíveis e deus, ou entidade suprema. Cada um destes aspectos é considerado real, enquanto que alguns podem ser temporários e outros eternos, mas mesmo assim, são reais, na visão dvaita;
c)       Vishishtadvaita Vedanta: a expressão que melhor caracteriza esta visão filosófica é dita: “Deus é o habitante do meu coração; eu adoro Saguna-Brahman (deus com atributos), que permeia a tudo como espirito. Brahman, embora independente e absoluto, é o todo (criação inclusive). Eu sou espirito/alma, cuja existência é dependente do espírito universal”.

Escolas conforme o humor da triguna da prakriti e antagonismos com a visão ocidental
Podemos enumerar três escolas fundamentais que seguem um ou outro modo filosófico apontado acima. Conforme as três divisões da natureza temos, Shivaismo, Shaktismo e Vaishnavismo. Há outros, mas aqui reduzimos para facilitar o estudo. Salientamos, contudo, que todos estes estão ligados uns aos outros, mas cada um tem uma filosofia independente e distinta.

Na ciência da atualidade, vemos uma estrutura semelhante. Qualquer um que tenha estudado ciências na escola compreende a comparação entre mecânica newtoniana, lagrangiana, hamiltoniana e quântica.
De modo semelhante, podemos ver as “camadas estruturais” semelhantes da percepção na cosmologia do Universo Brahmananda (universo de óvulos cósmicos); Universo Aristotélico, Universo Heliocêntrico de Copérnico, Universo Abramático, Universo Newtoniano, Universo Einsteiniano, Modelo Big Bang do Universo, Universo Oscilante, Universo Estadual Permanente, Universo Inflacionário (ou inflando, em expansão) Multiuniverso, e assim por diante.

Por isso, é possível afirmar que o que chamamos de “hinduísmo” não se trata de uma única fé. Trata-se de um conjunto universal de conhecimentos racionais e intuitivos, os quais não podem ser definidos singularmente, devendo ser vividos e experimentados. Eis que fica compreensível que os chamados, “mal” e o “erro”, não são definidos em termos maniqueístas, portanto, não há inferno, pois, afirmar este, significaria afirmar um local onde o Absoluto ou deus não é (portanto, O nega), bem como que há pecados superiores ao amor.

Escrituras sagradas
Veda-Vyasa, compilando os textos Acharas
Entre os nomes das principais escrituras do Sanathana-Dharma, destacam-se, os Vedas, Upanishads (textos comentados daqueles), Brahmanas, Puranas, Gitas, Bhagwats, Sutras, Shastras, os quais, em conjunto, elevam o vasto conceito, assim como pilares do conhecimento, onde cada um têm sua própria importância em seus setores. Alguns textos, falam sobre a ciência da criação, a biodiversidade; alguns dizem sobre filosofia de vida, outros, sobre arquitetura, engenharia, medicina, incluindo artes como cirurgia, yoga, meditação, ética, astronomia, astrologia, percepções futuras, psicologia, dança, música, artes, economia, história, e muitos outros assuntos. Esse conjunto de textos, escrituras, e assuntos, é chamado Sanathana-dharma, sendo que “dharma” tem um sentido direto de “virtude”, Ética e Moralidade, as quais apontam para Propriedades, Regulação, Devoção, Sigilo, Princípios Gerais de Justiça, Honestidade, Dever, Atribuições, Piedade, Sacralidade, mas mesmo assim, não se trata de religião.

Aspectos conclusivos
Devemos lembrar que em cada Achara (costume e ritual considerado védico), haverá um componente de espiritualidade nele. Sem espiritualidade, nada existe no Sanathana-dharma. Via de regra, é costume dar uma interpretação equivocada que este espiritualidade é religião. Salienta-se que a espiritualidade é diferente no Dharma védico, chamado “hindu”. Neste, a questão da religião não existe, uma vez que o Dharma não foi criado por um indivíduo, um profeta ou qualquer que seja encarnação. Eis que, a espiritualidade é uma parte de todo o costume hindu na vida normal de um hindu.
Acharas (os costumes védicos e rituais), dever ser seguidos com base nos méritos disponíveis, a partir da auto-experiência. Portanto, ao contrário das chamadas religiões organizadas, tendo estes um fundador, não é necessário seguir cegamente a um instrutor ou alguém que lhe imponha conselhos ou ideias sem reflexão e raciocínio. Aliás, este aspecto de alienação do indivíduo é típico de religiões, não cabendo no Sanathana-dharma. Todos os Acharas são indicados para a prosperidade dos seres humanos, devendo ser este o principal foro na sua prática, afastando-se rituais que buscam apenas alcançar felicidade puramente material, porque o conceito de liberação ou mukti está acima de qualquer coisa.


“Acharyah padam adatthe padam
Sishya swamedhaya padam a
Bramacharibhya sesham kala kramena ca”

Este verso contém o conselho dos smritis (textos comentados por um mestre), no qual está dito que uma pessoa só pode obter ¼ do conhecimento de um Acharya (mestre), outro ¼ analisando a si mesmo; outro ¼ discutindo um conceito com outros, e, por fim, o ¼ restante, deverá ser alcançado durante o processo da vida, por adição, eliminação, correção e modificação de um achara conhecido, e por novos acharas que são experimentados.

“Acharath labhathe ovayu
acharatah dhanamakshayam acharatah labhathe supraja
Acharo ahanthya lakshanam”

“Acharas são seguidos para a saúde fisiológica, psicológica e longa vida; Acharas são seguidas para a prosperidade e riqueza; Acharas são seguidas para uma família e sociedade fortes; seguir os Acharas alcança-se uma fina personalidade, visão dharmica (reta visão)”, assim diz o Dharmashastra.

Na Índia dos hindus, os Acharas (costumes védicos) são seguidos tendo em vista benefícios psicológicos, físicos, familiares, sociais, bem como benefícios baseados na integração Nacional, conforme mencionados acima.

Portanto, é dever de um Vaidhika-Dharmi (seguidores do Sanathana-dharma), compreender cientificamente, racionalmente e logicamente o significado de cada Achara, seguindo-o de forma sistemática, aprimorando a cada tempo, evoluindo para a liberação do ciclo do Samsara.

Hari om tat sat


Achara comunitário na Índia: Ganga-puja