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sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Giri-Govardhana: Por que Sri Krishna é chamado de “Govinda”?

Giri-Govardhana
Por que Sri Krishna é chamado de “Govinda”?

por
Swami Krishnapriyananda Saraswati
Olavo DeSimon

Sociedade Internacional Gita do Brasil
Gita Ashrama
primavera 2017



Narayna-Deva - Sri Krsna

Narayana Deva recebeu muitos títulos ou nomes ao longo de sua vida, devido as suas extraordinárias atividades e feitos. O nome “Govinda”, do Prakrita, quer dizer, “bem-querido das vacas”; “vaqueiro”; refere-se a atitude de Narayana Deva com relação a um importante passatempo ou Lila que ocorreu, e o qual iremos descrever a seguir.

Na Índia havia uma antiga tradição, principalmente em todas as áreas rurais, de se fazer a adoração a Indra-Deva, o semideus dos céus. A adoração aos semideuses sempre fez parte do culto na Índia. Isso porque a tradição religiosa da Índia é agrária, estando ligada ao campo. Quer dizer que as plantações, colheitas, armazenamentos, seguem um ciclo natural conforme as estações. Indra é o controlador celeste das chuvas. E, desde cedo, as pessoas que lidam no campo sabem que se não houver chuvas suficientes não haverá abundância na plantação. Para que houvesse o suficiente provimento de chuvas, então as pessoas faziam uma adoração anual para Indra. Veja-se a importância desta tradição rural na Índia. No Bhagavad-gita, verso. 3.14, o Senhor Krishna diz para Arjuna, “annad bhavanti bhutani parjanuyad anna-sambhavaj/ yajñad bhavati parjanyyo yajñah karma-samudbhavah”; “As entidades vivas se mantêm de alimentos, e estes provêm das chuvas. As chuvas são possíveis pela execução de yajñ€s, e estes (sacrifícios) nascem da atividade (karma)”. Veja-se neste verso a importância dos “sacrifícios” para ter a “recompensa” dos semideuses. Isso está tão impregnado na tradição cultural do indiano, que parar com um sacrifício daquele tipo poderia ser considerado uma grave desobediência a ordem celeste.

Indra-deva, o senhor das águas celestes.
Certa feita Sri Krishna percebeu que toda a cidade estava ocupada nos preparativos de adoração a Indra (geralmente festividade feita no outono, no hemisfério norte). Ele, então, perguntou por que estavam fazendo aquilo, uma vez que é tradição na Índia adorar-se os “deuses” locais em vez de semideuses. As pessoas disseram que deveriam fazer a adoração a Indra, senão iriam ter problemas com as chuvas. Sri Krishna disse que, quem dava para eles abrigo, grama, ervas e tudo o que precisavam, era a Giri Govardhana (g­iri= montanha; govardhana= montanha das vacas), e não Indra. Ele estava certo, porque Govardhana, na época, era uma colina verdejante, e que trazia as chamadas chuvas orográficas. Isso é natural de montanhas e morros. Então, dizia Krishna, eles deveriam adorar Giri Govardhana, e não Indra, até mesmo porque teria sido Govardhana colocada ali por Sri Hanuman, para os passatempos de Sri Ramachandra, quando retornasse ao planeta. Os argumentos de Khana-deva foram suficientes para mostrar que as pessoas estavam desobrigadas de adorar Indra, e então fizeram um grande sacrifício para Giri Govardhana, a tal ponto que a Deidade manifestou-se diante deles, e pessoalmente aceitou todas as oferendas. Todos ficaram muito assustados pelo fato de Giri Govardhana vir pessoalmente e honrar a cerimônia. Na ocasião, depois de terem escutados os argumentos de Khana, Nanda Maharaj (pai adotivo de Krishna) e os vaqueiros, convocaram os Brahmanas e iniciaram a adoração de Govardhana. Desta forma, eles cantaram os hinos védicos e ofereceram os alimentos para a montanha. Todos se vestiram com as suas melhores roupas, decoraram as vacas, e os carros de bois, e glorificaram Govardhana. Todos puderam ver na Deidade manifesta de Govardhana a imagem de Krishna em Si mesmo.

Quando Indra Deva ficou sabendo que os habitantes de Mathura haviam feito um sacrifício para Govardhana e não para ele, ficou furioso, e então chamou um demônio para fazer chover torrencialmente sobre os habitantes. Sri Krishna, com cerca de 7 anos de idade, com o seu dedo mínimo da mão esquerda, ergueu a montanha e abrigou a todos, durante sete dias e sete noites, salvando-os das chuvas.

Krishna ergue a montanha de Govardhana
Indra vendo que Khana-Deva era a corporificarão de Krishna, então ficou muito reverente. Tendo perdido todo o seu poder diante de Krishna, ele foi até Krishna pedir perdão pelo que havia feito. Mas Krishna não quis perdoá-lo, devido ao fato de que Indra havia feito mal para as vacas e os habitantes de Vrindavana. Krishna perdoa aqueles que fazem ofensa contra Ele, mas não contra as vacas e Seus devotos. Então, Surabhi Devi, a mãe Terra, veio pessoalmente pedir pela misericórdia de Krishna, para que perdoasse Indra. Diante do pedido de Devi, a Mãe Divina, a quem Sri Krishna sempre atende, concordou em perdoar o semideus, não sem antes dar uma lição de moral para o arrogante Indra. Em virtude da Sua atitude de proteger as vacas de Vrindava, e a todos, então Surabhi Devi deu o nome de Govinda (protetor das vacas) para Krishna, e Indra pode retornar ao seu local no céu e cuidar das chuvas. Além de ter recebido o nome Govinda, Krishna também concordou com Indra o fato deste gerar mais tarde junto com Kunti (tia de Krishna), o arqueiro Arjuna, que iria auxiliar os Pandavas na guerra do Mahabharata.

Antecedentes de Govardhana
Alguns podem pensar que Sri Krishna induziu as pessoas a adorarem uma pedra no lugar de uma pessoa, desrespeitando uma tradição. ¦a realidade, Salagram Sila é uma forma muito milenar de adorar a Deus na Índia, e recomendada nas Escrituras. Giri Govardhana hoje é uma colina de pedras já bem diminuída, mas no passado era grande e pesada. Quando a olhamos de cima, Ela tem o formato de um pavão, sendo que os seus olhos são o Radha Kunda e Syama Kunda. O Dan Ghati é o seu longo pescoço. Também se diz que o Mukharavinda é a sua boca, e o Pucha é suas costas e o rabo de penas. Eis porque se diz que  Govardhana tem um formato de pavão.

Duas histórias
A tradição védica diz que na Satya Yuga, a era que antecedeu a Kali Yuga, era em que hoje vivemos – e onde Krishna realizou seus passatempos – o sábio Pulastya Muni amaldiçoou Govardhana e o reduziu ao tamanho de um grão de mostarda. Certa feita, Pulastya Muni aproximou-se de Dronachala, o rei das montanhas, e pediu que lhe desse seu filho Govardhana para que ele se instruísse nos ensinamentos superiores. Mas Dronachala estava deprimido, e disse que não seria capaz de separar-se do seu filho. Contudo, não impediu que Govardhana fosse com o sábio, mas com a promessa de que onde quer que o sábio o colocasse, deveria ali permanecer.

Pulastya Muni foi em direção ao seu Ashrama com Govardhana. Durante o percurso, Muni teve que atender os “chamados da natureza”, e pediu que Govardhana aguardasse por ele. Quando retornou, não pode mais mover Govardhana (que atendera o que o seu pai pedira). Pulastya Muni ficou muito bravo, amaldiçoando Govardhana a ficar do tamanho de um grão de mostarda. Nos antigos tempos das Escrituras, se diz que Govardhana tinha 115 km de comprimento, 72 km de largura, e 29 km de altura. Hoje é um monte com apenas 24 metros de altura.

Hanuman carrega a montanha de Govardhana
Uma outra história de Govardhana remonta a Dwapara Yuga, os tempos do Ramayana, onde ocorreu a saga do Senhor Ramachandra. Neste Lila, se diz que Hanuman, o companheiro rei-macaco de Sri Rama, encarregou-se da tarefa de buscar distintas pedras, tendo em vista construir uma ponte para chegar a Lanka, onde Sita estava aprisionada no castelo do rei demônio Ravana. Hanuman estava trazendo Govardhana do Himalaia, tendo em vista atender a necessidade de salvar Lakshmana, o qual havia sido crivado por flechas envenenadas, e somente uma erva naquela montanha poderia curá-lo. Como Hahunam não conhecia a erva, trouxe logo toda a montanha. Diz-se que quando Hanuman passava por sobre Vraja (Vrindavana), Nala e Nila, pessoas encarregadas de construir uma ponte, disseram para Hanumam que a mesma já havia sido completada, e que não seria mais necessário levar Govardhana até lá, bem como trouxeram um conhecedor de ervas. Então Hanunam fora até Vraja Mandala e colocou Govardhana na região. Até hoje, Govardhana é adorada tanto pelos seguidores do Senhor Siva como do Senhor Rama (Vishnu). É dito que Rama, ao saber de Govardhana em Vraja, tendo sido deixada, lá por Hanuman, disse que no final de Dwapara Yuga Ele iria nascer como Sri Krishna, e então iria erguer Govardhana para proteger os habitantes e o gado, por sete dias e sete noites, como sabemos do Lila que comentamos acima.


Hari Om Tat Sat