Giri-Govardhana
Por que Sri
Krishna é chamado de “Govinda”?
por
Swami Krishnapriyananda Saraswati
Olavo DeSimon
Sociedade Internacional Gita do Brasil
Gita Ashrama
primavera 2017
Narayna-Deva - Sri Krsna |
Narayana Deva recebeu
muitos títulos ou nomes ao longo de sua vida, devido as suas extraordinárias
atividades e feitos. O nome “Govinda”, do Prakrita, quer dizer, “bem-querido
das vacas”; “vaqueiro”; refere-se a atitude de Narayana Deva com relação a um importante
passatempo ou Lila que ocorreu, e o qual iremos descrever a seguir.
Na Índia havia uma antiga tradição, principalmente em todas as áreas rurais, de se fazer a adoração a Indra-Deva, o semideus dos
céus. A adoração aos semideuses sempre fez parte do culto na Índia. Isso porque
a tradição religiosa da Índia é agrária, estando ligada ao campo. Quer dizer
que as plantações, colheitas, armazenamentos, seguem um ciclo natural conforme
as estações. Indra é o controlador celeste das chuvas. E, desde cedo, as
pessoas que lidam no campo sabem que se não houver chuvas suficientes não haverá
abundância na plantação. Para que houvesse o suficiente provimento de chuvas,
então as pessoas faziam uma adoração anual para Indra. Veja-se a importância
desta tradição rural na Índia. No Bhagavad-gita, verso. 3.14, o Senhor Krishna
diz para Arjuna, “annad bhavanti bhutani parjanuyad anna-sambhavaj/ yajñad
bhavati parjanyyo yajñah karma-samudbhavah”; “As entidades vivas se mantêm
de alimentos, e estes provêm das chuvas. As chuvas são possíveis pela execução
de yajñ€s, e estes (sacrifícios) nascem da atividade (karma)”.
Veja-se neste verso a importância dos “sacrifícios” para ter a “recompensa” dos
semideuses. Isso está tão impregnado na tradição cultural do indiano, que parar
com um sacrifício daquele tipo poderia ser considerado uma grave desobediência
a ordem celeste.
Indra-deva, o senhor das águas celestes. |
Certa feita Sri Krishna
percebeu que toda a cidade estava ocupada nos preparativos de adoração a Indra
(geralmente festividade feita no outono, no hemisfério norte). Ele, então,
perguntou por que estavam fazendo aquilo, uma vez que é tradição na Índia
adorar-se os “deuses” locais em vez de semideuses. As pessoas disseram que
deveriam fazer a adoração a Indra, senão iriam ter problemas com as chuvas. Sri
Krishna disse que, quem dava para eles abrigo, grama, ervas e tudo o que
precisavam, era a Giri Govardhana (giri= montanha; govardhana=
montanha das vacas), e não Indra. Ele estava certo, porque Govardhana, na
época, era uma colina verdejante, e que trazia as chamadas chuvas orográficas.
Isso é natural de montanhas e morros. Então, dizia Krishna, eles deveriam
adorar Giri Govardhana, e não Indra, até mesmo porque teria sido Govardhana
colocada ali por Sri Hanuman, para os passatempos de Sri Ramachandra, quando
retornasse ao planeta. Os argumentos de Khana-deva foram suficientes para
mostrar que as pessoas estavam desobrigadas de adorar Indra, e então fizeram um
grande sacrifício para Giri Govardhana, a tal ponto que a Deidade manifestou-se
diante deles, e pessoalmente aceitou todas as oferendas. Todos ficaram muito
assustados pelo fato de Giri Govardhana vir pessoalmente e honrar a cerimônia. Na
ocasião, depois de terem escutados os argumentos de Khana, Nanda Maharaj (pai
adotivo de Krishna) e os vaqueiros, convocaram os Brahmanas e iniciaram a
adoração de Govardhana. Desta forma, eles cantaram os hinos védicos e
ofereceram os alimentos para a montanha. Todos se vestiram com as suas melhores
roupas, decoraram as vacas, e os carros de bois, e glorificaram Govardhana. Todos
puderam ver na Deidade manifesta de Govardhana a imagem de Krishna em Si mesmo.
Quando Indra Deva ficou
sabendo que os habitantes de Mathura haviam feito um sacrifício para Govardhana
e não para ele, ficou furioso, e então chamou um demônio para fazer chover
torrencialmente sobre os habitantes. Sri Krishna, com cerca de 7 anos de idade,
com o seu dedo mínimo da mão esquerda, ergueu a montanha e abrigou a todos,
durante sete dias e sete noites, salvando-os das chuvas.
Krishna ergue a montanha de Govardhana |
Indra vendo que Khana-Deva
era a corporificarão de Krishna, então ficou muito reverente. Tendo perdido
todo o seu poder diante de Krishna, ele foi até Krishna pedir perdão pelo que havia
feito. Mas Krishna não quis perdoá-lo, devido ao fato de que Indra havia feito
mal para as vacas e os habitantes de Vrindavana. Krishna perdoa aqueles que
fazem ofensa contra Ele, mas não contra as vacas e Seus devotos. Então, Surabhi
Devi, a mãe Terra, veio pessoalmente pedir pela misericórdia de Krishna, para
que perdoasse Indra. Diante do pedido de Devi, a Mãe Divina, a quem Sri Krishna
sempre atende, concordou em perdoar o semideus, não sem antes dar uma lição de
moral para o arrogante Indra. Em virtude da Sua atitude de proteger as vacas de
Vrindava, e a todos, então Surabhi Devi deu o nome de Govinda (protetor das
vacas) para Krishna, e Indra pode retornar ao seu local no céu e cuidar das
chuvas. Além de ter recebido o nome Govinda, Krishna também concordou com Indra
o fato deste gerar mais tarde junto com Kunti (tia de Krishna), o arqueiro Arjuna,
que iria auxiliar os Pandavas na guerra do Mahabharata.
Antecedentes
de Govardhana
Alguns podem pensar que Sri
Krishna induziu as pessoas a adorarem uma pedra no lugar de uma pessoa,
desrespeitando uma tradição. ¦a realidade, Salagram Sila é uma forma muito
milenar de adorar a Deus na Índia, e recomendada nas Escrituras. Giri
Govardhana hoje é uma colina de pedras já bem diminuída, mas no passado era
grande e pesada. Quando a olhamos de cima, Ela tem o formato de um pavão, sendo
que os seus olhos são o Radha Kunda e Syama Kunda. O Dan Ghati é o seu longo
pescoço. Também se diz que o Mukharavinda é a sua boca, e o Pucha é suas costas
e o rabo de penas. Eis porque se diz que
Govardhana tem um formato de pavão.
Duas
histórias
A tradição védica diz que
na Satya Yuga, a era que antecedeu a Kali Yuga, era em que hoje vivemos – e onde
Krishna realizou seus passatempos – o sábio Pulastya Muni amaldiçoou Govardhana
e o reduziu ao tamanho de um grão de mostarda. Certa feita, Pulastya Muni aproximou-se
de Dronachala, o rei das montanhas, e pediu que lhe desse seu filho Govardhana
para que ele se instruísse nos ensinamentos superiores. Mas Dronachala estava
deprimido, e disse que não seria capaz de separar-se do seu filho. Contudo, não
impediu que Govardhana fosse com o sábio, mas com a promessa de que onde quer
que o sábio o colocasse, deveria ali permanecer.
Pulastya Muni foi em
direção ao seu Ashrama com Govardhana. Durante o percurso, Muni teve que
atender os “chamados da natureza”, e pediu que Govardhana aguardasse por ele. Quando
retornou, não pode mais mover Govardhana (que atendera o que o seu pai pedira).
Pulastya Muni ficou muito bravo, amaldiçoando Govardhana a ficar do tamanho de
um grão de mostarda. Nos antigos tempos das Escrituras, se diz que Govardhana
tinha 115 km
de comprimento, 72 km
de largura, e 29 km
de altura. Hoje é um monte com apenas 24 metros de altura.
Hanuman carrega a montanha de Govardhana |
Uma outra história de
Govardhana remonta a Dwapara Yuga, os tempos do Ramayana, onde ocorreu a saga
do Senhor Ramachandra. Neste Lila, se diz que Hanuman, o companheiro rei-macaco
de Sri Rama, encarregou-se da tarefa de buscar distintas pedras, tendo em vista
construir uma ponte para chegar a Lanka, onde Sita estava aprisionada no
castelo do rei demônio Ravana. Hanuman estava trazendo Govardhana do Himalaia,
tendo em vista atender a necessidade de salvar Lakshmana, o qual havia sido
crivado por flechas envenenadas, e somente uma erva naquela montanha poderia
curá-lo. Como Hahunam não conhecia a erva, trouxe logo toda a montanha. Diz-se
que quando Hanuman passava por sobre Vraja (Vrindavana), Nala e Nila, pessoas
encarregadas de construir uma ponte, disseram para Hanumam que a mesma já havia
sido completada, e que não seria mais necessário levar Govardhana até lá, bem
como trouxeram um conhecedor de ervas. Então Hanunam fora até Vraja Mandala e
colocou Govardhana na região. Até hoje, Govardhana é adorada tanto pelos
seguidores do Senhor Siva como do Senhor Rama (Vishnu). É dito que Rama, ao
saber de Govardhana em Vraja, tendo sido deixada, lá por Hanuman, disse que no
final de Dwapara Yuga Ele iria nascer como Sri Krishna, e então iria erguer
Govardhana para proteger os habitantes e o gado, por sete dias e sete noites,
como sabemos do Lila que comentamos acima.
Hari Om Tat
Sat