Chhath Puja
Festival do deus
do Sol
Tradução, comentários
por
Swami
Krishnapriyananda Saraswati
(Dr. Olavo DeSimon)
Sociedade
Internacional Gita do Brasil
Gita Ashrama
2017
Sri Rama, realiza Chhath puja para Surya Deva, o deus do Sol |
Chhath Puja ou Dala Chhath, é uma oferenda realizada ao
Senhor Surya Deva o “deus do sol ou deus sol”. É um importante festival, especialmente celebrado
em Bihar, Uttar Pradesh, Índia, que ocorre no período da lua quarto crescente, entre outubro e novembro. Além de Bihar, é observado em algumas partes da Bengala
ocidental, Jharkhand, Orissa, Assam e Terai, no Nepal. Este festival é, também,
celebrado nas Índias Ocidentais - Trinidad e Tobago, bem como na Jamaica,
Guiana, Fii, Suriname, Ilhas Maurício (principalmente entre as comunidades de
fala Bhojpuri e Maithali. Na Índia, sem dúvida Bihar é o lugar com maior
celebração deste festival. Esta tradição é de tempos imemoriais, sendo
celebrado com fervorosa fé no deus do Sol, o qual é dito que cumpre todos os
desejos se “arghya”, é oferecido com dedicação e decoção. Junto ao deus do
Sol, Chhathi Maiya ou Usha (alvorecer), a consorte de Surya deva, é, também, adorada neste
dia auspicioso.
Usha devi, a deusa do alvorecer. |
É dito que os casais que não têm filhos, neste dia podem ser abençoados rapidamente com crianças, sendo a graça concedida por Usha devi.
Em textos clássicos e antigos como o Rig-veda, o mais antigo
dos Vedas, Surya possui a maior reverência:
लोहितं रथमारूढं सर्वलोकपितामहम् ।
महापापहरं देवं
तं सूर्यं प्रणमाम्यहम् ॥
“Saudações a Sri Suryadeva, cuja a cor é avermelhada, e está
por sobre uma carruagem. Sois avô de todas as pessoas, tendo Adideva, o
primeiro deus. Sois o deva que remove grandes pecados de nossas mentes, por Sua
iluminação. Nós o saudamos, Suryadeva!”
A lenda ou origem de Chhat Puja ou Dala Chhat, também
chamada de Surya Sashti (rapidez), está profundamente associada aos grandes
épicos, Ramayana e Mahabharata:
1. Está dito que Chhat Puja foi iniciado por Sri Rama, o
qual nasceu no clã de Suryavansh, em Tretayuga. O Senhor Rama e Mata Sita,
mantinham a tradição do Puja ao Senhor Sol, no mês de Kartik (outubro-novembro, na lua quarto crescente), em Shukla Paksh,
durante a coroação, depois de terem retornado do exílio após 14 anos;
2. O rei Karna (filho de Kunti), costumava realizar Chhat
Puja, oferecendo obediência ao se pai, Surya deva. Karna era o renomado
guerreiro, o único que poderia derrotar Arjuna, sendo aquele conhecido por sua
natureza caridosa. Karna se tornou um poderoso rei, popular e poderoso, pelo
simples fato de realizar o puja ao deus do Sol. Os hindus adoram Karna por suas
qualidades exemplares, bem como por sua fama, coragem, riqueza e prosperidade;
Draupadi é salva por Krsna, impedindo de ser despida. |
3. Draupadi (esposa dos Pandavas), costumava adorar o deus do
Sol com grande devoção, tendo recebido o dom de curar quaisquer doenças que
alguém possuísse. Conta o épico Mahabharata, que um dia, enquanto os Pandavas
estavam no exílio, visitaram oitenta e oito mil eremitas errantes. De acordo
com o costume hindu, “atithi devo bhavah”, os hóspedes são tratados com grande
calor e respeito. Como os Pandavas mal tinham o suficiente para eles, então,
eles não tinham condições de cumprir fielmente com as obrigações e oferecer refeições
suntuosas e adequadas para as almas piedosas. Então, Draupadi pediu ajuda ao
santo e sábio Dhaymya que, por sua vez, abençoou-a devido a sua sincera devoção
ao Senhor Surya. Posteriormente, Draupadi não só conseguiu resolver o problema
imediato, mas a sua sincera devoção ao deus do Sol, ajudou os Pandavas a
recuperarem o reino. Também, certa feita, Krsna, fora tratado por ela, uma vez que este ferira-se
seriamente na luta com um demônio poderoso, disfarçado de Vishnu. Draupadi
retirou um pedaço do seu sari e fez um curativo em Krsna, o qual sarou a
ferida. Nisso, Krsna ofereceu ajuda a Draupadi quando ela precisasse, bastando
chamar por ele. De fato, quando os Kurus queriam despir Draupadi dentro do
palácio, Krsna fez surgir sempre, mais e mais sari, de modo que ficou impossível
remover a roupa dela. Este episódio ficou conhecido como Raksha-bandham, e é
celebrado entre os irmãos na Índia;
4. A importância internacional do Chhath Puja. A tradição de
adorar ao deus do sol, o sustentador da vida na Terra, também foi seguida pelas
civilizações sumério-babilônica e egípcia.
Arghya no rio Ganges |
Data do festival
Nas festividades indianas as datas seguem o calendário
lunar, então mudam de ano para ano. Em geral, o festival inicia numa
sexta-feira, durante o período quarto crescente da lua, entre os meses de outubro e novembro, sendo seguindo por quatro dias:
a) primeiro dia: na sexta-feira, os
devotos tomam banho no Ganges, no início da manhã, levando água para suas
casas, para preparar as oferendas. A casa e aos arredores, devem ser limpos
neste dia. É observada uma única refeição neste dia, conhecida como “kaddu-bhat”,
sendo cozida em utensílios de bronze, por sobre fogo de madeira de manga, e
feito no solo;
b) segundo dia: no sábado, é feito jejum, encerrando no
pôr-do-sol. O jejum é encerrado, sendo feitas oferendas de rasiao-kheer, puris,
e frutas. Depois de reazerem a refeição, eles fazem jejum de água por um dia e
meio;
Rasiao-kheer, oferendas ao deus Sol |
c) terceiro dia: no domingo, dia do Sol, é o dia do Chhath, onde são feitas oferendas Sanjhiya Arghya, no
ghat que fica na margem do Ganges ou do rio sagrado da região. Depois do
Arghyam as mulheres usam um sari de cor açafrão, os homens também vestem esta
cor. Na noite de Chhath, é celebrado um momento de luzes, chamado Kosi, onde
são acesas várias lâmpadas (dipas) de óleo, feitas com barro, as quais ficam
por sobre cinco palitos de cana-de-açúcar. Estes cinco pedaços de cana-de-açúcar,
indicam o Panchatattva (terra, água, fogo, ar e espaço), que o corpo humano
possui, e
d) quarto dia: na segunda-feira, os devotos se reúnem com a
sua família e amigos, oferecendo Bihaniya Aragh, no ghat na margem do rio
Ganges. Nesta ocasião, o jejum é quebrado definitivamente com a Prashada do
Chhath (o que foi oferecido a Surya deva).
Na manhã deste último dia de festival, a jornada em direção
ao Ganges começa antes do nascer do Sol, o qual é saldado com mãos em prece. Entre
as ofertas para o Sol incluei-se, sândalo, açafrão, arroz, frutas, e muitas
outras. É oferecido arghya (banho ritual), e são cantados mantras do Rig-Veda.
Dipa para Suryadeva. |
Aspectos conclusivos
Chhtah Puja é o festival da verdade, da não-agressão, do perdão
e da compaixão. Chhtah Puja é um festival de reverência à deidade solar. Diferente
do festival de Holi, ou do Diwali, Chhtah Puja é um festival de oração e
apaziguamento, observado com introspecção, de realização interna. Por isso,
esse festival possui uma elevada estima e respeito pelos sábios.
Chhatah é considerado um momento único em que o sol está em
oposição ao seu nascimento (encontra-se no equinócio), por isso é celebrado a
sua glória, já que o ciclo de nascimento se inicia com a morte. Após o pôr do
Sol, os devotos retornam para casa, onde a celebração é continuada com cantar
de hinos, por fim, quebrando o jejum destes dias. Com a quebra do jejum, é distribuído
Prashada, e de acordo com a crença, o que tiver sido implorado para Surya, os
desejos auspiciosos, se tornam realidade.
Hari om tat sat
Glossário
Arghyam: oferenda de água
Bihaniya Aragh: oferenda matinal.
Ghat: local de banho cerimonial.
Prashada: lit. misericórdia; alimento oferecido à deidade.
Puris: massa frita.
Rasiao-kheer: prato com oferendas para o deus Sol.