Mulheres e Diksha
Swami Krishnapriyananda Saraswati
SADGURU MALAYALASWAMY LALITAMBIKA TAPOVANAM |
Assunto: mulheres e diksha
Mensagem: Estava conversando com um amigo indiano, e ele me disse que as mulheres dentro do hinduísmo são sempre atreladas ao pai ou ao marido como seus gurus. E que normalmente é só o homem que recebe o cordão bamanico. As mulheres nunca podem ter o voto de Sannyasa nem poderão realizar cerimônia de Diksha ou cerimônia do fogo. Ou seja, elas podem ter um guru desde que seja o mesmo do pai ou do marido, mas nunca buscar por si próprias um guru, ou sequer são aceitas na condição de shishya, mas que podem seguir o guru nunca se declarar shishya. Queria saber se isso é verdade e como eu como professora de yoga poderia então transmitir algo nessa condição, pois sou solteira e não desejo me unir a nenhum homem para realizar isso. Didi
Mensagem: Estava conversando com um amigo indiano, e ele me disse que as mulheres dentro do hinduísmo são sempre atreladas ao pai ou ao marido como seus gurus. E que normalmente é só o homem que recebe o cordão bamanico. As mulheres nunca podem ter o voto de Sannyasa nem poderão realizar cerimônia de Diksha ou cerimônia do fogo. Ou seja, elas podem ter um guru desde que seja o mesmo do pai ou do marido, mas nunca buscar por si próprias um guru, ou sequer são aceitas na condição de shishya, mas que podem seguir o guru nunca se declarar shishya. Queria saber se isso é verdade e como eu como professora de yoga poderia então transmitir algo nessa condição, pois sou solteira e não desejo me unir a nenhum homem para realizar isso. Didi
"Difícil de aceitar que alguém vindo de fora, com uma cultura díspar, bem como tendo ideais religiosos distintos, possa ser de alguma utilidade para o povo indiano. Antes de deixar motivar-se por propaganda de algum religioso da tradição judaico-cristã, ou outra qualquer fora do ethos indiano, pergunte-se primeiro a eles o que pensam daqueles que o Ocidente e seus poderosos bajulam como santos".
OM
Hari Hara OM
Hari Hara OM
Om Namo Bhagavate Vasudevaya
Cara Didi,
Pranams
Sobre as considerações referentes ao "hinduismo" – Sanatana Dharma - , se deve levar em conta determinadas ordens e tradições. É impossível falar em "hinduísmo" sem nos referirmos à Sampradaya (família e tradição desta). São conhecidas cerca de 30 mil "religiões" dentro do "hinduísmo", portanto, tudo o que dissermos sobre ELE sempre deverá levar em conta o tempo, lugar e circunstâncias. Entenda que seguimos Sadhu, Guru e Sastra, e cada família possui suas características e considerações.
Vejamos, então, as sua colocações:
"as mulheres dentro do hinduísmo são sempre atreladas ao pai ou ao marido como seus gurus".
Está perfeitamente correta esta afirmação; ela tem base no Manadharma Sastra. Uma mulher não deverá ter um Guru diferente do seu pai ou marido. Isso é devido à tradição e para evitar conflitos entre as interpretações de um Guru e outro Guru de uma outra linhagem. É preferível que a mulher siga o mesmo Guru do seu marido (uma vez que renuncia a família do seu pai ao se casar). Algumas tradições permitem Diksha para mulheres quando solteiras. Neste caso, são consideradas Kumaris, e se vestem como viúvas. Na Índia, há muitas tradições que acolhem as mulheres nestas condições. Mas se por ventura elas se casarem, então, deverão renunciar ao Guru e adotar o Guru do marido. Para evitar isso, não devem tomar Diksha sem ser com o Guru do marido. Via de regra, os Gurus adotados fora do casamento são apenas Guru Sikshas, e não Diksha, porque o Diksha é uma relação eterna.
No Sanatana Dharma, uma pessoa deverá seguir o Varna e Ashrama. Isso é o que nos orienta o Código de Manu. Ser Vaidika Dharmi significa seguir os Sastras, Sadhu e Guru. De outra forma não será Sanatana Dharma.
A idade da pessoa, no caso também da mulher, entra em consideração. A mulher tem o maravilhoso dom de gerar filhos, por isso, não deve renunciar antes de entrar na menopausa. O desejo de ter filhos é inerente a natureza humana, salvo a pessoa tenha o acumulo da bênção de muitas vidas, então deverá seguir o devido curso da natureza. No seu caso especifico o fato de ter nascido num lugar diferente de Bharata (Índia), e não pertencer a nenhuma família de Brahmanas, está claro que não tem o Karma necessário para renunciar antes de atingir a idade que não tenha mais como engravidar.
"é só o homem que recebe o cordão brahmânico".
Apesar de algumas ordens permitirem que a mulher receba a iniciação Brahmínica (o que é nada mais do que a autorização para cantar as linhas do Gayatri do Guru), apesar da autorização para as linhas do Guru Gayatri, e outras, o Brahma Gayatri não se autoriza às mulheres, na maioria das linhagens fidedignas. Isso é o que nos orienta o Código de Manu. Também, o Brahma-Gayatri trata-se de um Mantra para os homens amaciarem seus corações (as mulheres, no mais das vezes, já são meigas por nascimento. Aqui nos referimos à mulher Oriental, que é naturalmente feminina, diferente da Ocidental, que é de comportamento masculino), mas em todo o caso, elas não recebem o cordão Brahmínico, porque estão ligadas diretamente à criação, e o cordão é uma referência à ligação da Mãe Divina, e as mulheres são tais quais Devi.
"As mulheres nunca podem ter o voto de Sannyasa nem poderão realizar cerimônia de Diksha ou cerimônia do fogo"
De fato, as mulheres não podem realizar cerimônias de fogo complexas, como a dos Samskaras, mas devem e são responsáveis pelo Agni Hotra diário, duas vezes por dia, feito nas suas casas, porque a mulher é a responsável pela manutenção do fogo (por isso, "lareira", fogo do lar). As mulheres são mais adequadas ara o Agni Hotra diário, e isso é o que nos oriente o Manadharma Sastra., e é dito que poderá danificar seu útero devido ao calor e ao karma.
Muitas ordens permitem o ingresso da mulher na ordem de vida renunciada, desde que, de fato, a mulher seja renunciada (por isso deverá esperar a menopausa). Apesar de isso, não é possível de a mulher realizar cerimônia de Samskaras; a mulher tem a regra menstrual, que é considerada inadequada para a condição de realizar rituais, porque seu humor se altera. Por estar se purificando, "lavando a Yoni com sangue para agradar Durga ou Devi", a mulher fica em vantagens sobre o homem, então não tem como sacrificar para Vishnu ou Siva. As mulheres são regidas pelas Nityas ou fases lunares. Todos sabem que a mulher muda de humor conforme as fases da lua. Isso faz com que fique difícil a convivência com os homens num Ashrama, devendo, portanto, viverem nos seus próprios Ashramas (locais específicos para mulheres). Apenas a condição fisiológica é fator de separação no caso. Estes fatores também mantêm a mulher fora do Homa depois de pararem de menstruar. Tudo conforme Sadhu, Guru e Sastra.
De qualquer maneira, há tradições que a mulher levou adiante o Diksa de uma Sampradaya. Isso é possível caso a corrente tenha sido interrompida na ausência de homens. Uma vez que a mulher é o depositário embrionário de toda a criação, é ela quem exerce esta função, caso não haja homens para fazer o processo seguir adiante. De fato, os homens vivem e levam a tradição tão somente devido a graça feminina. Isso é transcendental, e está além do falso liberalismo feminino existente no Ocidente, onde tão somente as mulheres se dizem liberadas por fazerem aquilo que os homens querem que elas façam, para a satisfação deles (nunca foi tão pesado para a mulher ocidental ter que arcar com tantas atividades, apesar de uma longa e milenar adaptação genética da sua condição de educadora e protetora do lar).
Diksha:
A mulher pode e deve receber Diksha; deverá pedir isso para o Guru Deva da Sampradaya ao qual seu marido ou pai estão ligados. Caso não exista marido ou pai, então deverá pedir a permissão para sua mãe, e ligar-se ao Guru da sua mãe. Se não existe mãe, pai ou marido deve pedir para o tio, e assim sucessivamente. Deve entender que a tradição é manter o vínculo com a família, e evitar as diferentes interpretações de cada linhagem. No seu caso em particular, por não pertencer à linhagem védica, e estar, provavelmente, vinculada a tradição judaico-cristã, é evidente que seu vínculo é familiar com a religião dos seus pais, ainda que intelectualmente diga-se independente. É normal na tradição ocidental que a mulher e os filhos sigam a tradição religiosa do marido e do pai. São notáveis os conflitos e desencontros entre o casal quando há diferentes posições religiosas dentro de uma mesma família (Sampradaya e Varna). No Ocidente, naturalmente, os filhos tendem a ser contrários aos princípios dos pais, pelo menos em boa parte das suas vidas. Depois, aos poucos, os princípios se introjetam e passam a fazer parte da vida comum. Sinceramente, os grandes problemas que enfrentamos na sociedade ocidental estão vinculados a tola idéia de "liberdade", permitindo que cada um possa “fazer o que bem entenda”, não tendo nenhum respeito à tradição religiosa familiar.
Para mudar de ethos, ou seja, modo de pensar religioso e cultural, alguém deverá renunciar totalmente os vínculos com seu passado familiar-religioso. Para que isso ocorra, é necessária a misericórdia do Guru, com rendição incondicional às suas orientações. De outro modo, é melhor retornar aos princípios religiosos familiares e segui-los conforme a tradição familiar.
O fato de ser evitada a Diksha com um Guru de forma independente é devido à natural tendência das transferências afetivas, e inconvenientes entre os relacionamentos. Por isso, também, nunca uma mulher deverá ficar sozinha com um Brahmana que não seja o seu próprio marido, nem qualquer outro homem que não seja seu irmão ou pai. Mas, nem mesmo seu pai ou irmão deverão ficar numa mesma sala na intimidade. Por conseguinte, Sannyasis não devem ficar dentro de uma sala, sozinhos, com uma mulher, e tampouco num mesmo aposento íntimo.
Igualmente, as mulheres Sannyasins deverão tão somente ficar na presença de homens na devida distância física, e sempre com a presença de uma serva particular, para evitar os problemas naturais nestes casos, como por exemplo, contato físico e sexual. Um grande fator, sem dúvida, muito importante para que sejam mantidas determinadas distâncias entre os monges de sexo opostos devem-se tão somente pelo fato de as mulheres no período fértil engravidarem, e isso é considerado geração indesejada. Por isso, os casamentos são aconselhados e as pessoas devem realizar o que o casamento permite, e somente depois, então, deverão renunciar à vida de gozo dos sentidos, conforme a tradição do Varna-Ashrama; Uma vez que a mente se entretém facilmente com aquilo que lhe é mais prazeroso, deverá o devoto direcionar todas suas energias para o amor de Deus. Isso é Sadhu, Guru e Sastra.
Tyaga
O Sr. Krsna no Bhagavad-gita, 12.12, diz que “o conhecimento das Escrituras é melhor do que a mera prática ritualística; também diz que a meditação é superior ao conhecimento das Escrituras, e que Tyaga ou renúncia é superior à meditação”. Renúncia ou Tyaga é um processo, porque passa pela destruição definitiva das ideias de “eu” e “meu”, em todos os seus aspectos, tendo em vista alcançar o Yoga ou união com o Supremo, experimentado no Samadhi. Enquanto alguém se idêntica com sexo, raça, gênero, cor, religião, e diz o tempo todo: “eu”, “meu”, há, com toda a certeza, a identificação material com o corpo e Maya, portanto, há uma falsa ideia da verdade, ou sequer existe esta ideia.
Se a mulher possui o desejo de renunciar ao mundo material, e tiver a permissão do seu amado Gurudeva, então, com certeza, poderá unir-se a missão d´Ele e prestar serviço abnegado por toda a sua vida. Deverá, então, renunciar definitivamente a sua vida material, e passar tão somente a dedicar-se a servir ao Gurudeva e a sua missão, tendo-O como a encarnação do Supremo, e tão somente vivendo para servi-lO. perceba que a orientação do ethos Ocidental é diferente do Oriental; a cultura da Índia pode ser dita como "de outro mundo" para um Ocidental acostumado e incentiva ao liberalismo de "eu" e "meu".
Todo aquele que alcançou a plataforma de servo de um Maha-bhagavata, “grande devoto do Supremo”, está qualificado para ser um Sannyasi ou Sannyasin. Isso é Sadhu, Guru e Sastra. Para alguém ser um Sisya deverá renunciar por definitivo a ideia de “eu” e “meu”, nascida no Akamkara ou falsa noção de “eu”. Deverá tão somente dispor-se a ouvir e prestar Seva (serviço abnegado). Deverá, também, ser humilde, mais do que uma folha de palha na rua; deverá, também, controlar a língua e os genitais, bem como colocar-se como servo e nunca o fazedor. Deverá, também, renunciar aos frutos das ações, e compreender que tudo é misericórdia do Supremo. Isso é Sadhu, Guru e Sastra.
Glórias do Gita
Para que alguém possa entender a Suprema meta e realizar Moksa, deverá estudar, sob orientação do seu Guru, o Bhagavad-gita. Deverá, por conseguinte, iniciar a estudar no décimo segundo canto – Bhakti-yoga – e então meditar em cada uma das palavras que o Sr. Krsna diz para nós, no Seu maravilhoso diálogo com Arjuna.
Leiam, releiam, voltem a ler, voltem a reler. Outra vez leiam, meditem, voltem a ler; retornem a leitura, tornem a reler, etc. Assim deverá ser, até que se compreenda a Suprema forma do Senhor Krsna, e então se possa realizar a meta humana de amor puro por Deus. Isso é Sadhu, Guru e Sastra.
Sampradaya ou tradição
Todas as manifestações religiosas, de conhecidas religiões, possuem a sua tradição. É notável que não haja espaço para “liberalismos”, e idiossincrasias em nenhuma delas. As razões repousam na evidência da orientação disciplinar. Erroneamente, o Ocidente vê discriminação entre homens e mulheres na tradição védica, porque estão apegados aos seus corpos e à vida material. Há princípios profundamente meditados e realizados em cada um dos aspectos do Sanatana Dharma.
Yoga
O que é chamado de “yoga” no Ocidente longe está de ser considerado como tal no Sanatana Dharma. Chamam “yoga” a um conjunto de exercícios ou posições físicas, que mais ou menos lembram Asanas, e o que é apenas uma parte de uma tradição ou visão – Darshana – dentro do Sanatana Dharma. O Oriente não conhece o que chamam de “yoga” no Ocidente. “Professor de Yoga”, é uma expressão do Ocidente, e ela não tem reconhecimento dentro do Sanatana Dharma, como autoridade. Somente o Guru é “professor”. Isso é definitivo.
O Gita de Bhagavam é uma notável demonstração do que é o Verdadeiro Yoga. Cada um dos Seus capítulos trata de uma forma de união com o Supremo ou Atma ou ainda Brahman. Yoga significa junção, ligação, vinculação, etc. A palavra “yoga” tem origem no Pahli, depois passa para o Brahmin, e finalmente é colocado na escrita chamada de Sânscrito. Ela origina-se de “yus”, que quer dizer “justo”, “acertado”, e que foi para o Latim como “Jus”, ou “justiça”. Ajustar, juntar, acertar, etc., é o objetivo fundamental do Yoga. Uma pessoa que se aproxima deste caminho deverá sabiamente renunciar as ideias de “eu” e “meu”, e desenvolver amor pelo Supremo por meio de Viveka. Não há, definitivamente, nenhum liberalismo dentro do Yoga. Há um processo de formalização e respeito ao Guru que deve ser respeitado. O Oriente védico ri-se do que chamam de “yoga” no Ocidente, e são céticos com relação à conduta moral dos praticantes ocidentais. Isso é Sadhu, Guru e Sastra.
Não é possível ser um Yogi sem deixar de praticar sexo ilícito (fora do casamento e da autorização do Guru); sem que o indivíduo deixe de se intoxicar com carnes, peixes e ovos; sem que a pessoa deixe de usar qualquer tipo de álcool, fumo ou drogas (mesmo remédios deverá perguntar para seu Guru), e, por fim, não é possível ser um Yogi com qualquer tipo de jogo de azar. TODOS os VÍCIOS devem ser eliminados, um a um, sem exceçãoo, inclusive as manias particulares de cada um. Isso é Sadhu, Guru e Sastra.
Por fim, não é possível alguém ser iniciado se não renunciar aos vícios e a sua vida promiscua. Servir, amar e meditar, tendo em vista realizar o Supremo, através do Seva ao Guru e a Sua missão, é indispensável para o iniciante. Isso é Sadhu, Guru e Sastra.
Como não há espaços para “liberalismos” dentro do Sanatana Dharma, e em nenhum dos Seus Darshanas ou visões, todo o pretendente a ingressar n´Ele, deverá, portanto, renunciar as ideias de “eu” e “meu”. definitivamente O Ahamkara não tem vez no Sanatana Dharma. Quem pensa diferente, então que ingresse numa religião que se afeiçoe. O Sr. Krishna nos aconselha a abandonar todas as religiões, e simplesmente seguir a Ele e Suas instruções (B.gita, 18.66). Ler, reler, voltar a ler, reler, depois ler novamente, reler e reler, então uma dúvida sincera irá despertar. Uma vez que surja um questionar sincero, então o pretendente ao ingresso no Sanatana Dharma, a ciência transcendental do Yoga, deverá ser feita mediante o Seva, o inquirir sincero, e a rendição incondicional ao Guru, conforme está dito no B.gita 4.34. Não há outra maneira, se houver, então não será no Sanatana Dharma, mas então será uma coisa falsa, como as milhares que se espalham no Ocidente, e que falsamente usam o nome de “yoga”. São apenas “meios de vida”, não “modos de viver”, conforme o Dharma.
É impossível alguém pretender ingressar num sistema filosófico religioso sem aceitar os seus princípios. Porque não há espaços para hipocrisia no Dharma. Ou seguimos os exemplos dos Acharyas ou mudamos para coisas distintas. Do mesmo modo como o simples uso de um uniforme de piloto não transforma ninguém em piloto, da mesma maneira, usar nomes, e títulos pomposos não transforma ninguém em um Yogi. Isso é Sadhu, Guru e Sastra.
om hari hara om tat sat
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