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sábado, 20 de novembro de 2010

Yoga e o sucesso no caminho

Yoga e o sucesso no caminho

"Prabhakara"

SWAMI KṚṢṆAPRĪYĀNANDA SARASWATI

Sociedade Internacional Gītā do Brasil
Gīta Āśrama
2010


Devahuti pergunta ao Seu filho Kapila Muni como alcançar a liberação ou Mokṣa

Entendendo o tema YOGA
Acostumaram a interpretar e entender a palavra “yoga” como uma espécie ou conjunto de exercícios de ginástica corporal, que, para o bem da verdade, tratam-se simplesmente de Ásanas ou algum tipo de “posicionamento físico”. Mas Yoga é mais que isso, trata-se de um Darshana ou visão, ou ainda, uma forma de pensamento-ação relacionado à metafísica do Ser ou Ātma, conforme afirma o Veda (Escritura desvelada). Ātma é o que de fato somos, e por condicionamento e apego ao Karma – ação e reação – permanecemos na roda do Saṁsāra (nascer e morrer constantemente), num corpo material. Como chegamos a ter conhecimento do Ātma? Simplesmente pela meditação no Ser.

Śrīmati Devahūti
Vendo-Se enredada no mundo material, pretendendo liberar-se do saṁsāra (roda de nascimentos e mortes) Devahūti, a mãe de Kapila Munī – uma encarnação de Viṣṇu ou Kṛṣṇa – fez a seguinte colocação:

“Eu me abrigo aos Teus pés de lótus, porque Tu És a única pessoa na qual posso tomar refúgio. Tu És o machado que pode cortar a árvore da existência material. Eu ofereço minhas respeitosas reverências a Ti, que tem a maior visão do que a de todos os sábios; eu indago a Ti, como é a relação entre a natureza ou Prakṛti e o Supremo ou Puruṣa?” SB, 3.25.1

Tendo escutado o apelo de Sua mãe, imediatamente Śrī Kapila ensinou-lhE a ciência da meditação. No canto 6 do Gītā, Śrī Krsna ensina os passos da meditação nirguṇa ou sem qualidades, enquanto que Kapila ensina a meditação saguṇa ou com qualidades. Na meditação saguṇa, o Senhor tem forma, atributos, līlās, e assim por diante. Independentemente de a meditação ser saguṇa ou nirguṇa, o importante é que o neófito ao Yoga inicie-se na prática da meditação, a partir de uma forte concentração. A concentração é conseguida mantendo-se claramente um objetivo em mente e seguindo pacientemente na sua realização. Um minuto de meditação por dia, na meta em que se pretende alcançar, é mais do que um dia de trabalho árduo, sem saber o que se quer.

Compreendendo Ação e reação
Os Śrutis – Escrituras – ensinam que este mundo material é um mundo de ação e reação; está ligado, de forma irremediável ao trabalho, à ação, atividade – karma – e, por conseguinte, às suas reações. Karma não tem nada a ver com “punição”, sendo esta uma interpretação apressada dos Ocidentais sobre karma. Muitos se aproximam do Yoga tendo em vista alcançar algum tipo de benefício com aqueles exercícios mencionados anteriormente, pretendendo saúde, por exemplo. Isso é muito semelhante àquele que se dedica a alguma atividade tendo em vista alcançar os seus frutos. Não importa que tipo de ação exista, haverá reação. Quando alguém trabalha, tem em vista alcançar algum dinheiro, e com ele comprar alguma coisa. Assim é hoje no mundo, e tem sido ao longo dos séculos. É evidente que trabalhamos mais do que para a simples manutenção do corpo. Há um tipo de karma que é inevitável enquanto estamos no mundo material. Ele se chama Prarabdha, porque vem conosco quando nascemos, é somado com a ação de nossos antepassados. Esse conjunto de ações deu motivo ao nosso corpo. Ele é fruto do karma, ou seja, da ação, trabalho, atividade, do corpo de nossos pais, conjunto com nossas ações anteriores, quando em outro corpo. Diferente de “punição e recompensa”, conforme muitos Ocidentais colocam. Nosso corpo traz o prarabdha karma, (resultado de um conjunto de ações) e temos que fazer algumas atividades para mantê-lo, como por exemplo: comer, banhar, descansar, etc. Pelo menos 2/3 do nosso dia é levado em função na manutenção do corpo. Se alguém decidir não mais agir em função da manutenção do corpo, é claro que o corpo irá definhar e morrer. Isso é chamado ação e reação. Tudo o que é feito, de algum modo, possui algum tipo de resultado.

Expectativa do resultado
Todas as ações irão gerar algum tipo de resultado. Se jogarmos uma pedra para cima, ela irá, depois de certo tempo, cair. No mundo material sempre haverá ação e reação. Algumas ações não geram nenhuma reação? Sim, e elas são ações especiais, estando ligadas à consciência do Ātma ou Ser. Elas são ensinadas no Bhagavad-Gita, principalmente no capítulo dois, reforçadas no capítulo doze. Ali está dito que, se as ações têm em vista algum resultado pessoal, como riqueza material, ou o alcançar algum tipo de desfrute material, além daquilo que é necessário para manter alguém vivo, elas têm em vista algum resultado com finalidades egoísticas. Sempre que há alguma atividade tendo em vista um resultado diferente do prarabdha karma esta ação terá algum tipo de reação. Ainda assim, mesmo que alguém deseje alcançar um resultado, ele é bastante relativo, e apenas uma possibilidade. Apesar de alguém desejar alcançar a riqueza com seu trabalho, por exemplo, aquele objetivo é muito relativo. Não basta apenas alguém querer ficar rico, deverá empreender muita ação e dedicação a um determinado tema ou atividade tendo em vista realizar o que almeja, e um conjunto de “leis kārmicas” irão interceder no resultado. Mesmo assim, não há nenhuma garantia de que o resultado será o que se espera. O Senhor Kṛṣṇa diz no Bhagavad-gītā, “2.47. Ocupe-se apenas com a ação, nunca com os resultados. Não deixe o fruto de a ação ser motivo seu, nem se permita em apegos pela inação”. Manter-se sereno no resultado é chamado Samatvam; esta serenidade é um ato de liberação. Por isso está dito que devemos ser os mesmos na vitória e na derrota, no sucesso e no fracasso. A compreensão disso é muito significativa, porque nos mostra o verdadeiro objetivo do Yoga, ou seja, tyaga, a perfeita renúncia aos frutos da ação.

Persistência, o segredo de alcançar a meta.
Manter-se firme num objetivo, persistindo nele é a única forma de realizá-lo. Ficar pulado para lá e para cá não irá beneficiar, sendo uma contradição para um objetivo. Procure verificar se o objetivo que está buscando não é incoerente com uma ação meritória. Ações meritórias estão livres de “eu” e “meu”, a causa da dualidade, da dor e sofrimento. Livre-se da dualidade “eu” e “meu”. Para isso tenha concentração no objetivo.  Concentração é a base do segredo da persistência. Uma tarefa irá prosperar e render se for mantida a concentração. Quando a mente fica pulando como um macaco de “galho em galho” de pensamentos, então não ela possui concentração. As frustrações de nossas ações estão ligadas a falta de concentração e claro objetivo. Ter um objetivo em mente e ir na busca da sua realização é o segredo da persistência. A vida é um dom muito breve; nosso tempo no mundo é muito curto, comparado a imensidão do cosmos e dos seus eventos. É tolo quem pensa pode interferir nas leis de ação e reação da natureza material. A identificação com o corpo material e suas relações são impedimentos muito sérios para alcançar os objetivos. O Yogī perfeito é aquele quem sabe que está num corpo, usando-o como um local de “descanso”, neste mundo de pares de opostos. O Bhagavad-gītā diz que o sábio, o verdadeiro Yogī, “vive feliz na cidade de nove portões” (gītā. 5.13), o corpo físico. Porque ele vive desapegado dos frutos das ações; não tem ansiedade por objetivo, e despojou-se em sua mente de achar que é o fazedor de qualquer ação. Ele vê perfeitamente a ação na inação e a inação na ação, e sabe que ação e reação nada mais são do que o resultado da energia material e Māya atuando.

Não desanime
Não fique frustrado. Observe atentamente o que está motivando a falta de sucesso na caminhada. Já pensou em analisar com critério o objetivo que tem em mente? Uma criança sempre vê no brinquedo da outra algo melhor do que o seu. Por que isso? Porque ainda não tem bem claro o que quer. A imaturidade de um objetivo, claro e direto, é a causa da falta de sucesso na caminhada. Mas não tenha receios. Erga-se como Arjuna no campo de batalhas. Seja persistente nos seus atos, e veja as falhas como instruções do Senhor para o progresso espiritual. Materialmente precisamos o mínimo para manter o corpo e terminar o prarābhda karma. Quando realizar que o Senhor é o único “desfrutador” desta “cidade de nove portões”, então compreenderá que se é um mero instrumento da Sua vontade. Entregue seu coração, vida e meta para o Senhor Supremo. Ele sempre irá mostrar a melhor direção. A paciência e a perseverança andam juntas no alcance do sucesso. Nem mesmo uma aparente “estagnação” deve servir de motivo de desistência. Diz o ditado popular que “Antes da bonança vem a tempestade”. Antes da criação vem a destruição, depois a manutenção, e assim por diante. A vida nos mostra isso com clareza. Tudo está sempre mudando, mas na teimosia de se achar “agente” alguém pensa que as mudanças são tragédias. Veja um aparente fracasso como uma mudança para melhor, que ainda não se tinha visto. Procure o lado bom em tudo. Veja tudo como motivo de impulso positivo no objetivo. Não desista no primeiro percalço. Certa feita, numa fila de emprego, havia muitos pretendentes ao cargo. Vendo tamanha fila, a pessoa encarregada de selecionar os interessados, foi diante deles e disse: “- Já encontramos quem precisamos, podem ir para casa”. Então, muitos foram logo deixando a fila, sobrando pouco mais de meia dúzia. Tão logo a maioria se foi, os que ficaram na fila foram chamados para a entrevista. Por isso, não desista no primeiro chamado falso. Seja persistente. Vá atrás dos seus objetivos. Veja se eles podem ser compartilhados com todos. Veja o quanto eles são egoístas. Não tenha pressa. O Senhor age de forma paciente, porque Ele é o controlador de tudo. Não se desespere, siga em frente. O sucesso vem para o persistente!
Que o Sr. Krsna nos abençoe a todos com Sua misericórdia desmotivada.

Hari Hara om tat Sat

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