Seva, o rei das tapasyas
Swami Krishnapriyananda Saraswati
Siva, o maior tapaswin |
Om namo bhagavate narayanaya!
Om namo bhagavete vasudevaya!
Om Namah Sivaya!
É necessário alguém ficar preso a vida toda em uma pessoa, como um guru ou mestre espiritual, prestando serviço devocional, para poder liberar-se? Bhakta
O serviço devocional é Karma-jñana-bhakti, ou seja, é ação consciente da devoção. Não há nenhuma necessidade de formalizar nada além da sua vontade de servir ao Dharma e ao Supremo. Krsna não nos deu ordens para seguir nenhuma instituição nem mesmo religião; Ele simplesmente nos deu o caminho da liberdade do amor pelo Supremo. É claro que uma ciência tão complexa como a da filosofia do Veda não se aprende de um dia para outro, muito menos se realiza tão em repente. O mestre espiritual é quem esclarece as dúvidas do iniciante, aponta o caminho para seguir adiante, mas jamais escraviza o discípulo. O Mestre Espiritual verdadeiro não é um simples negociante, que em troca de alguns trocados dá algum conhecimento, um mantra fajuto, ou coisas do gênero. Por outro lado, convém salientar, que nem todas as traduções dos textos disponíveis do Brasil ou no mundo são fidedignas, quer pela precariedade das interpretações dadas por seguimentos sectários e religiosos, quer pela má tradução e má formação no Sânscrito daquele que interpretou este ou aquele verso. Então, é aconselhado estudar a escrita original dos textos para saber o que realmente está sendo dito. Aprenda-se o Sânscrito, e fique-se livre das interpretações pessoais de pessoas sem cultura védica, sem formação acadêmica, etc. A edição que temos no Brasil de muitos textos como o Bhagavatam, por exemplo, foi mal traduzida, além de ter sido comentada por um autor sem formação em Sânscrito, sendo uma mera cópia apressada da edição da Gita press, além de ser tendenciosa ou conduzir tudo para visão da seita do autor. Há um exemplo muito hilário num blog brasileiro onde o postador coloca o Kalisantarana Upanisad como aconselhando Narada Muni a cantar o Mantra Hare Rama Hare Krsna, descrevendo-O ao contrário, ou seja, iniciando com Hare Krsna e depois Hare Rama. Mas ele colocou o texto em devanagari, a escrita original do Sânscrito, e o mesmo está na forma correta, Hare Rama Hare Krsna. Sendo um sinal bem evidente e claro que não sabe ler o sânscrito. Isso é muito engraçado, e ele coloca-se como se fosse um erudito. Que hilário!
Outro exemplo, o sloka 6.1.16, do Bhagavatam que é referido pelo Bhakta da pergunta, a qual deu início a esta missiva. É temerário o que diz ali, na escrita daquele autor. Por exemplo, a tradução do Bhagavatam do autor citado, diz:
“Meu querido rei, se uma pessoa pecaminosa engaja-se num serviço a um bona fide devoto do Senhor, e assim aprende como dedicar a sua vida aos pés de lótus de Krsna, ele pode purificar-se completamente. Alguém não pode se purificar meramente por submeter-se a austeridade, penitência, brahmacharya e outros métodos de expiação que eu descrevi anteriormente”. Será desnecessário colocar aqui a interpretação de palavra por palavra conforme o autor se refere, porque vemos claramente tratar-se de uma interpretação ou leitura através do viés doutrinário do mesmo, e não é nada fiel ao que está escrito no Sânscrito. Ideologia não nos interessa discutir aqui.
O verso que citado está no Bhagavata-purana, 6.1.16 (texto antigo dos ensinamentos de Bhagavam – ou o mestre ou Senhor) é bem claro e objetivo. Apesar de não ser adequado citar-se versos isolados de um texto, o qual refere-se a uma conversa entre dois personagens, e, portanto, o sentido pode ficar fragmentado ou descontextualizo se não for colocado em totum. Para a sabedoria da verdade, a tradução correta do mesmo é a seguinte, conforme o texto sânscrito (podendo ser conferido por qualquer um que leia Sânscrito corretamente, e que esteja livre de visão ideológica ou sectária):
na tatha hy aghavan rajan puyeta tapa-adibhih
yatha krsnarpita-pranas tat-purusa-nisevaya
na= não; tatha= assim; hy= (no sentido de “no passado”); certamente; aghavat= impuro; rajan= rei; puy= fede; pústula; eta= assim; tapah= austeridade; adhibhih= sendo primeiro; yatha= deste modo como segue; krsna= Krsna; arpita= firme; fixo; pranas= banha-se; tat= assim; purusa= a pessoa; ni= com; sevaya= prestando serviço; nisevaya= prestando seva.
Nem o rei número um das tapasias (austeridades) purifica o purusa como o banho firme de Krsna Seva.
O Brahmacharya é considerado o mais elevado tapasya. No Rig Veda, Tapasya é apontado como filho de Manyu (posteriormente chamado Rudra, e depois Siva), e Tapo-Raja (rei por sobre as austeridades), é um nome da Lua. A Lua, na cultura védica, é masculino e não feminino, sendo o rei da mente, e o Brahmacharya, controle dos sentidos, o mais elevado tapasya. Portanto este verso rememora que grandes seres, capazes de austeridades elevadas, conforme a mitologia indiana, se rendem ao Seva, que é o serviço abnegado ao Supremo. Também, antigamente o Yogi era chamado de “tapaswin”, significando “miserável; “mendigo”, “pobre”, no sentido de asceta, ou quem praticava alguma austeridade. A atividade de tapasya tem em vista o foco em algum esforço ou manter-se num empreendimento levando algum tipo de austeridade corporal tendo em vista alcançar algum tipo de iluminação ou benesse do tipo espiritual. No sentido amplo, os Niyamas descritos nos textos védicos, e posteriormente colocados por Patañjali nos Yoga Sutras, são autocontroles, nos quais tapasya implica na autodisciplina que tanto significa um aspecto físico como a busca de um elevado propósito na vida. Os tapaswin defende que através de Tapas se pode “queimar” ou então prevenir acúmulo de karma ou energias negativas acumuladas, limpando o caminho que leva na direção da “evolução” da consciência espiritual.
No mais das vezes, as traduções que temos no Ocidente dos textos védicos estão impregnadas do “ethos” ou forma de pensar Ocidental. Por exemplo, inexiste a noção ou significado de “pecado” no Sanatana dharma, e quando aparece esta palavra nos textos védicos ela é totalmente equivocada. A palavra “papa”, quase sempre é traduzida como “pecado”, mas o sentido correto é “impureza”; “inconsistência”. Uma pessoa é “impura” pelo nascimento; devendo submeter-se aos Samskaras ou rituais purificatórios conforme orientação de Manu. Mas este “impuro” não é de cunho moral, mas objetivo, ou seja, ligado ao corpo e à matéria. Na verdade, quem não se submete aos ritos de Manu nem mesmo é considerado “pessoa” para Manu. Um dos processos de alcançar a liberação ou Moksa é a realização de austeridades, as quais o sr. cita algumas: não fumar, não beber, não comer carnes, etc. Mas isso não é suficiente. Se olharmos bem de perto, os animais não fumam, não bebem, muitos jamais comerão carnes, vivem em condições muito difíceis na natureza, são totalmente castos, e, mesmo assim, não alcançam a liberação e jamais a devoção pelo Supremo. Portanto, nossa condição de meros animais no mundo não nos garante a qualidade de “humanos”. Uma pessoa nasce no mundo como um animal qualquer; ela deverá seguir os passos de purificação indicados pelo Manusmriti. A condição de “devoção ou Bhakti” somente é alcançada na plataforma de “humano”. Esta palavra é interessante, ela quer dizer “seguir os princípios de Manu; hu= sacrifícios como indicado; manu= por Manu= humanu!;. seguidor das purificações do Manu). O primeiro passo é seguir os tais princípios, porém alguém pode ser um grande devoto e não seguir principio algum. A plataforma de consciência do Supremo é a mais elevada das plataformas. Regra e regulações, nascidas da própria experiência particular e idiossincráticas, típicas de seitas e coisas do gênero, são tão danosas quanto regra alguma. É por isso que o candidato a Sadhaka deverá realizar os rituais purificatórios.
O processo de namakarana diksa ou “iniciação” é um processo interno e pessoal. Diksa significa seguir o Dharma, ser respeitoso ao mestre espiritual, e seguir as orientações que Ele lhe dá, sendo a superior das instruções aquele que liberta o discípulo até mesmo do guru. Amar ao mestre espiritual e tê-lO como um amigo é mais importante do que mera formalidade. A cerimônia de fogo, que segue os rituais védicos, é mera formalidade. O conteúdo é mais importante do que a forma. O Sr. Krsna nos instruiu: Sarva Dharma Mam ekam (Gita. 18.66), ou seja, “seja devotado a Mim e tenha a Mim como o Uno”, o resto é mera “perfumaria”. Isso é o mais importante. Abandone as religiões e obrigações mecanicistas para com o Supremo, e atue como um devoto em tudo. Então estará bem. Livre-se de seitas, religiões e dogmas sem sentido.
Procure seguir o canto dos Santos Nomes, iniciando por Hare Rama e depois Hare Krsna, isso irá purificar e servir de abrigo nesta era de trevas, Kali-yuga. Louve Narayana e Vasudeva. Om namo bhagavate narayanaya! Om namo bhagavete vasudevaya! Om Namah Sivaya! Cante o Mantra do Senhor Krishna, “Sri Krsna govinda hey murari| henata narayana vasudeva”; este é o mais poderoso mantra para alcançar amor de Krsna.
Procure ser bom e fazer o bem, sem abrir mãos da Justiça. Ser pacífico é diferente de ser passivo. Então se estará seguindo o Dharma. Leia e releia o canto 12 do gita todos os domingos, então Krsna irá se encarregar de lhe mostrar a Verdade.
om hari hara om tat sat
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