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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A Mulher e o Yoga

 A Mulher e o Yoga

Swami Krishnapriyananda Saraswati
Gita Asrama 

2010


Sri Sri Radha e Krishna

“Caro Swami Krishnapriyananda
Já participei de alguns movimentos religiosos do 'yoga', e quase todos eles se mostraram de discriminação contra a mulher, bem como os afetos e a realização amorosa em geral. Também vi, por outro lado, um culto exagerado ao sexo e a exploração da mulher. Será isto uma característica do 'yoga' ou estou enganada? “
Maria


Krishna disse no Bhagavad-gita, 10.34

mrityuh sarva-harash caham
udbhavash ca bhavisyatam
kirtih shrir vak ca narinam
smritir medha dhritih ksama

“Eu Sou a morte a que tudo devora, bem como O gerador das futuras gerações. Das qualidades femininas, Eu Sou a fama, a bela fala, a fidelidade, a fortuna, a inteligência a memória e a paciência”. 

Quem souber ler o conteúdo profundo deste shloka do B.gita, com certeza, entenderá que Krishna, apesar de ser o masculino supremo, possui tanto as qualidades masculinas como as femininas, sendo que “inteligência”, “memória”, e “paciência”, são enumeradas, entre outras tantas qualidades, como sendo femininas. 

Na atual era em que estamos vivendo, kali-yuga, as pessoas perderam quase que por completo a memória; sendo que pessoas  realmente "inteligentes" são muito raras de encontramos. Quase por via de regra, elas apenas atiram-se na busca do gozo dos sentidos grosseiros; e as mulheres, nas sociedades modernas, são vistas tais quais objetos descartáveis, um produto de consumo, e que cada dia mais cedo é colocada no “mercado de consumo”.

Por sua vez, os livros sérios sobre Yoga jamais irão deturpar, denegrir, subestimar, ou mesmo explorar sexualmente a mulher. A exploração sexual da mulher não é outra coisa senão o resultado da atitude desenfreada da busca pelo gozo dos sentidos, disfarçada de espiritualidade, e outras coisas do gênero da decadência humana. 

No Shaktisangama-tantra, 2.52, livro escrito faz quase um milênio, encontramos uma exaltação à mulher, que deixa um tanto a desejar a nossa posição atual em defesa da feminilidade. Ali está escrito: “A mulher cria o universo, ela é o próprio corpo desse universo. A mulher é o suporte dos três mundos, ela é a essência de nosso corpo. Não há outra felicidade senão aquela proporcionada pela mulher. Não há outro caminho senão aquele que a mulher pode dispor para nós. Nunca houve e nunca haverá, nem ontem, nem agora, nem amanhã, outra ventura senão a mulher; nem reino, nem peregrinação, nem yoga, nem prece, nem fórmula mágica (mantra), nem ascese, nem plenitude além daquela prodigalizada pela mulher”. Contudo, se continuarmos despreparados, tendo em vista apenas a satisfação grosseira dos genitais, não conseguiremos entender os significados contidos naquele belo texto. 

Shri Krishna está sempre perdido de amor pelas Gopis, e especialmente por Radharani. Ele é conhecedor das sessenta e quatro artes védicas, e, entre elas, está a arte de amar, chamada de kama-sûtra, ou escritos sobre o amor. Ele, e não outro é o próprio autor deste texto sagrado. 

Lila de Sankara
Diz-se que, certa feita, Shri Shankara estava argumentando filosofia com Srimati Bharati (encarnação de Saraswati), esposa de Mandana Mishra, e derrotava-a em todos os argumentos de lógica, e de outras escrituras. Mas quando foi inquirido acerca do Kama-sutra ou Kama-Sastra, Shri Sankaracharya  disse não conhecer nada. Então foi desafiado por ela para um debate dias mais tarde, sobre a arte do amor. Ora, todos os sannyasis são renunciantes do sexo, e por isso, erroneamente se considera que devem se afastar da leitura de livros que falem sobre ele. Esta é a regra comum. Mas nunca, em momento algum, fugir de um problema será uma forma de resolvê-lo. Por isso, Shri Shankara empenhou-se em estudar profundamente sobre esta arte védica, mesmo sendo um naisthika-brahmachary, ou um brâhmana que nunca teve mulheres, nem mesmo tenha se casado alguma vez. De forma mística, ele tomou o corpo de um rei que estava prestes a ser cremado, e o ressuscitou; teve experiências com a rainha, e depois de alguns dias veio e deixou toda uma platéia profundamente comovida pelos passatempos amorosos do Senhor Krishna. Shankar contou os passatempos mais secretos da Suprema Personalidade de Deus, Shri Krishna e Radharani, e todos viram a maravilha que o amor divino faz. É evidente que não se trata de amor carnal comum, e que uma pessoa despreparada não saberá entender; e, sem nenhuma orientação, poderá atirar-se nas mais baixas atividades dizendo tratar-se de “amor”. 

Quando ouvimos os versos apaixonados do Gita Govinda, escritos por Jayadeva, nosso coração se estremece diante do profundo amor que o Senhor Krishna sente por Radharani, e Ela por Ele. Naquele poema, são descritos com tais minúcias os passatempos amorosos do Senhor, que descobrimos que alma é feminina por natureza, e somente Krishna é masculino. Isso é muito transcendental, e está sujeito a muitas más interpretações. Mas, de fato, Krishna é Maha-purusha, ou seja, o único macho. Este é o verdadeiro sentimento que as Gopis nos desvelam nos bosques de Vrindavana. O Sentimento de Radhika-bhava é o sentimento mais profundo de amor por Deus, que um devoto pode experimentar. No estado feminino de amor por Krishna, o coração do devoto fica tão repleto do êxtase de amor puro por Deus que nada mais lhe interessa. O Senhor Cheitanya veio ao mundo como um avatara do Senhor para nos ensinar este profundo sentimento de amor por Deus, tal qual Radharani experimenta por Krishna, independentemente de raça, credo, religião, sexo, gênero, espécie, etc., etc. 

Desafortunadamente, a personalidade humana da kali-yuga está muito aquém dos reais entendimentos dos passatempos amorosos - Lilas - de Shri Shri Radha-Krishna; de modo que grande parte dos mestres acharyas preferiu instruir sobre aqueles assuntos amorosos somente para seus discípulos mais chegados. 

E devido aos crescentes mal-entendimentos, nós não podemos falar destas coisas para qualquer pessoa, porque as mentes da grande maioria delas estão mergulhadas na busca desenfreada do gozo dos sentidos, e tudo interpretam, às suas maneiras, de modo malicioso e degenerado. Os Vedas dizem que “para o impuro tudo é impuro”, de modo que a mente impura da humanidade atual é incapaz de entender a verdadeira feminilidade.
Quem puder entender o real sentido e significado dos passatempos amorosos do Senhor pode ser considerado um iluminado, porque, de fato, atingiu a suprema compreensão que Krishna é a meta final de tudo, inclusive do próprio amor e do sexo.

Hari Hara Om Tat Sat

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