Pesquisar este blog

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Caitanya, Prakasananta, e Vaisnavas

Considerando os atuais tempos da farta informação, é de também se esperar que o pesquisador saiba como pesquisar, e também separar aquilo que é advindo da simples apreensão daquilo que é reflexivo, filosófico e objeto de estudo acadêmico. O jargão comum tendo a colocar tudo num mesmo patamar, quando há muito mais além do "eu acho", do típico pensamento da imediatidade irreflexiva. Mas as perguntas são muito bem vindas; aqui não se está desmerecendo, apenas mostrando que, como no trânsito, na dúvida não se deve ultrapassar. Assim é também com a filosofia e o pensamento. Particularmente pensamos que vem a favor do pensamento da simples apreensão o fato de cada um dizer o que bem entende, a partir de seus próprio solipsismo e idiossincrasia. É a favor da hegeminia judaico-cristã, e o pensamento plagiário dos gregos, os quais são considerados os máximos dentro da filosofia pelos ocidentais. Aqui se fala de filosofia, aspectos históricos de filósofos, pouco nos interessando sectarismos ou achismos de ordem sectária e religiosa. Nosso compromisso aqui segue o de divulgar a Filosofia. As bases são históricas e acadêmicas. Bem longe do fanatismo de seitas e grupos religiosos especulativos.

Caitanya, Prakasananta, e Vaisnavas

Krishnapriyananda Saraswati

Sri Krsna Caitanya Bharati Ekadanta é convidado por Prakasananda Caitanya Bharati Ekadanda
Parabéns pelo excelente site sobre Sanatana-Dharma.
Poderia me esclarecer algumas dúvidas por gentileza?
1)No Sanatana-Dharma Deus é Imanente e simultaneamente Transcendente?Ou é somente Imanente ou seja é a própria existência?
2) É´verdade que os dois eruditos filósofos Hindus Sarvabhauna Bhattacarya e Prakasananda Sarawasti  após um debate com Chaitanya se tornaram Vaisnavas?
3) Qual parte das Sagradas Escrituras Védicas é confirmada a Imanencia e Transcendência de Deus?
Um fraternal abraço; Luiz


 
OM
Hari OM

Abençoado Luiz,
Obrigado por suas perguntas e considerações

Sobre a questão da imanência e transcendência de Deus isso é uma característica notável do Sanatana-dharma. Todas as Escrituras védicas são unânimes em afirmar isso. Não há unicamente um texto isolado sobre isso, porque é um aspecto absolutamente notável em todos os textos, sem exceção. Por sua vez, uma leitura apurada o capítulo 9 do Bhagavad-gita, bem como do 10 e do 11 irá mostrar isso com clareza. Mas o verso que mais ilustra a imanência e transcendência simultânea de Deus é o verso 6.30 do Bhagavad-gita, onde Krishna diz: “Aquele que vê tudo em Mim e a Mim em tudo, este nunca de afasta de Mim e nem Eu me afasto dele”. Este verso deixa bem claro a unidade do Brahman nas Suas duas naturezas: 1) objetiva e 2) subjetiva. A primeira natureza é a natureza material, que está sob o controle das três qualidades ou Gunas: Rajas, Sattwa e Tamas, sendo chamada de Maya, por ser uma derivação externa do Senhor (mas não deixa de ser o Senhor em Si), e a segunda natureza, a qual Krishna apela para Arjuna adotar como a real e definitiva, diz respeito ao Sujeito transcendental ou Ser ou Brahman. A primeira natureza é, também, chamada de natureza imanente, e a segunda, de transcendente.

Sri Sankaracharya
Sobre a questão de Swami Prakashanand Saraswati, e Sarvabhom, devemos esclarecer o seguinte: Sarvabhom era o monge, Brahmana tradicional (da ordem Battacharya de Orissa) designado para cuidar das Deidades do templo de Jaganantha Puri, portanto, ele era um grande Vaishnava. Por sua vez, Prakashananda Swami era irmão espiritual de Sri Krishna Cheitanya Bharati; ambos foram iniciados na ordem de Sringeri Math, de Sri Sankaracharya, sendo que Sankar ingressou na ordem de Sannyasa pela Diksa de Swami Keshava Bharati, da tradição feminina do Math, originalmente fundado por Bharati Devi (Saraswati).Por característica da misericórdia de Sankara, Seus discípulos podem seguir o Ishta Devata ou a Deidade pela qual se sentem atraídos e familiarizados. Pessoalmente, Sri Sankara, o grande e fundamental Acharya, adorava Venkateswara, uma forma de Vishnu. Portanto, entre os seguidores de Sankar há tanto Vaishnavas, como Sarvabhom e Prakasananda, como Deviistas, Sivaistas, entre outros, tal a universalidade do Adi Acharya. Mas o que faltava nos devotos do Senhor Vishnu era a realização em Bhakti, Sri Sankara já tinha advertido aos gramáticos que tolas regras de gramática não iria salvá-los na hora da morte, e que deveriam adorar Govinda para que não se esquecessem da meta no final da vidas. No Seu famoso texto-poema, de 14 versos, Moha Muktaram (Liberando-se dos Apegos, ou Liberação dos Apegos e Ilusões), que depois foi ampliado em um verso, de cada um dos Sannyasis que estavam junto com Ele na ocasião, conhecido como “Bhaja-govinda”, Sankar, de modo peculiar e bem humorado, apela parta a consciência prática dos que ficavam horas e horas tentando encontrar erros gramaticais nas Escrituras, tendo em vista superar o paradigma ditado pelo Senhor Buddha, que dissera: “As Escrituras têm falhas, porque foram escritas por pessoas”. Mas as “falhas” a que Buddha se referia eram devido às interpretações tendenciosas, e não gramaticais. O que havia de errado era uma interpretação equivocada, onde agora os monges passaram a dar maior valor à forma do que ao conteúdo. Shankar zombava disso com grande autoridade, porque era um profundo conhecedor das Escrituras. 

Sri Krishna Chaitanya tinha um comportamento entusiasta com o canto dos Santos nomes. Depois de ter ficado quase duas semanas escutando Sarvabhom ler alguns versos das Escrituras, porque este tinha ficado com pena d´Ele pelo fato de agir de forma muito estranha, Cheitanya mostrou as falhas e os erros de interpretação, dizendo todos os versos décor. Isso impressionou Sharvabhom, que tinha todo um conhecimento mais ainda não tinha a realização. O mesmo acontecia com o Vaishnava Prakashananda, que tinha um imenso conhecimento mas não tinha praticamente nenhuma realização de Bhakti. Sobre como Prakashananda Saraswati aproximou-se de Chaitanaya há a seguinte passagem:

Sri Krsna Caitanya
“A fama de Chaitanya alcançou gigantescas proporções pelos devotos. Tanto entre os intelectuais como entre as pessoas comuns, o Seu nome era respeitado e amado. Numa certa ocasião, um asceta chamado Prakashananda Saraswati que vivia em Kashi, se encontrou com Chaitanya. Ele era bem conhecido por sua sabedoria e conhecimento perspicaz. Quando ele ficou sabendo da elevada personalidade do jovem asceta em Navadwipa, e o fato de um veterano como Sarvabhom ter se rendido aos Seus pés, ele então ficou curioso e quis encontrar-se com Chaitanya. Ele era um homem simples e de bom coração. Então, ele fez um teste com Chaitanya, escrevendo um verso num pedaço de papel, e enviou para Ele".

Este verso falava da importância do Kashi, e o foco principal era a conhecimento e o alcance da salvação. O verso, também, falava sobre a salvação como a única meta que os seres humanos deveriam seguir. O verso dizia, “As pessoas tolas caminham por sobre a face da Terra em vários lugares, deixando Kashi, a qual é uma cidade sagrada que concede a salvação. As pessoas sem objetivo algum abandonam suas vidas tais quais animais, indo embora de Kashi, a qual é a maior maravilha do mundo”.

Chaitanya ficou exaltado em receber a carta de um grande acadêmico como Prakashananda. Após ler a carta dele, Chaitanya entendeu as entrelinhas do significado dele. Ele respondeu a carta com um verso, que um discípulo havia escrito, e enviou para Prakashananda.

O verso exaltava a importância de adorar a Deus. Ele dizia que a salvação era muito pequena e insignificante diante da adoração do Senhor Krishna.

Qualquer mantimento que viesse do templo, Chaitanya rapidamente o devorava. Os devotos amavam muito Chaitanya, e traziam para Ele, diariamente, muitos tipos de doces e alimentos. Amavelmente, Chaitanya costumava comê-los sem dizer nenhuma palavra.

Normalmente, isso era considerado contra a ética de um asceta, uma vez que um asceta deveria comer apenas uma vez por dia, e também deveria ser muito simples e não ter muito sabor. Eles não achavam ser necessário comer vários tipos de alimentos com diferentes sabores. Mas Chaitanya tinha um grande gosto pelos alimentos. Ele era um humilde ser humano, e um asceta. Ele esquecera todas as regras por amor aos Seus devotos que queriam agradá-Lo. Ele jamais deu importância para regras e regulações, e levava uma vida simples e elogiável.

Assim que recebeu a carta de Chaitanya, Prakashananda escreveu uma carta com regras e regulações, tendo em vista apontar os erros de Chaitanya. O verso enviado falava literalmente que, “Mesmo grandes santos como Vishvamitra, Parashar, etc., caíram por atração por uma mulher, apesar do fato de eles terem renunciado a necessidade de água e ar. Eles apenas comiam folhas secas, apenas para manterem o controle sobre eles. Então, uma pessoa que come alimentos deliciosos, de diferentes variedades, jamais ficará apta para manter o controle sobre os órgãos dos sentidos”.

Chaitanya ficou imóvel lendo tais versos. Ele entendeu que todas as citações vinham de encontro a Ele. Com um sentimento de desapego, Chaitanya leu a carta. No tempo adequado, um discípulo de Chaitanya, chamado Swarupa Damodar, chegou, e lendo a carta disse irritado, “Deixe-me dar uma resposta a altura para esta carta”.

Chaitanya deu uma resposta muito simples, “Uma pedra não deverá ser respondida com uma pedra. Um homem versado não deverá usar de linguagem abusiva mesmo quando é humilhado; ele deve permanecer em silêncio, apenas porque ele sabe que tal reação será inapropriada. O silêncio é ouro”. Ele disse, “Por agora, não há necessidade de responder a carta”. Por causa do pedido de Chaitanya, todos os discípulos ficaram quietos. De forma clandestina, todos escreveram um verso e entregaram para Prakashananda. O verso dizia, “Mesmo um leão, o qual é considerado forte, e come carne durante a sua vida, é indulgente com a atividade sexual apenas uma vez ao ano. Contrariamente a isso, um pombo, que come apenas grãos limpos, dedica-se a atividade sexual diariamente. Qual é a razão disso?”
O efeito destas palavras em Prakashananda foi desconhecido, mas depois disso ele parou de escrever. Sarvabhom pediu para Chaitanya deixar ele ir para Kashi, uma vez que deveria convencer Prakashananda sobre a grandeza do conhecimento da superioridade da adoração. Chaitanya jamais gostou do conceito mundano de vitória e derrota, em matéria de conhecimento e sabedoria espiritual. Ele cria que os devotos eram descendentes do Supremo pessoalmente.

Mas Sarvabhom, apesar de ser um discípulo, tinha orgulho do seu conhecimento. Mesmo depois de Chaitanya ter recusado a permissão de ir até Prakashananda, ele continuou incomodado sobre o fato. Então, por fim, Chaitanya permitiu que fosse até Kashi.

Sarvabhom não foi capaz de vencer Prakashananda em conhecimento, nem tampouco torná-lo seu discípulo. Por causa disso, ele envergonhou-se e evitou ir até Chaitanya. Chaitanya sabia da gravidade da situação, e então foi até Sarvabhom e o consolou. Chaitanya disse, “Uma pessoa ter a oportunidade de inculcar o sentimento de adoração numa pessoa que é ateísta é, de forma definitiva, mais afortunada do que qualquer outra criatura por sobre a face da Terra”. As palavras tranquilizadoras de Chaitanya acalmaram Sarvabhom, e o seu amor por Ele aumentou ainda mais.

Aos poucos, pelo exemplo e amor por Deus, Chaitanya aproximou todos Seus irmãos espirituais da adoração de Deus. Este fato é notável até mesmo nos nossos dias, onde há muitas pessoas que ingressam no caminho de Bhakti mas não tem nem mesmo atração pelo Senhor. Mas o que deve ficar bem claro é que até mesmo entre Vaishnavas há falta de fé, e a fé e sua realização deve ser a meta última. Eis porque Chaitanya pregava para todos os devotos, Vaishnava, Sivaistas, Deviistas, etc., uma vez que Ele tinha como meta realizar a Deus sobre todas as coisas.

om hari hara om tat sat 

Citações: referem-se ao Texto "Sri Krsna Caitanya Bharati; pelos biógrafos autorizados". Swami Krsnapriyananda Saraswati

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.