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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Citta Vritti Nirodah!


Citta Vritti Nirodah!

Swami Krishnapriyananda Saraswati


Gita Ashrama
2010 
Parvati Devi realiza Sivalinga Puja

Olá, Swami (é assim que se escreve?) Obrigada por colaborar com nossa reportagem
 O tema é: Hábitos de Pensamentos, Diário da Região
São José do Rio Preto - São Paulo - Fabíola

O que são hábitos de pensamentos?
Segundo as Escrituras védicas, e os ensinamentos dos Gurus Acharyas (mestres na ordem de sucessão discipular de Sri Sankaracharya), do Sanatana-dharma (popularmente conhecido como “Hinduísmo” no Ocidente) a mente é alimento, ou resultado do alimento. Devido à natureza animal da mente, ela se apetece pelas coisas corporais, por conseguinte, a curiosidade da mente se retro-alimenta pelos pensamentos que são gerados em virtude da busca da sua gratificação. Quem “alimenta” a mente, contudo, são os sentidos, através dos órgãos dos sentidos. Este aspecto “material” da mente é interessante, e ao mesmo tempo intrigante.

Tudo aquilo pelo qual a pessoa sente atração é retro-alimentado pelos pensamentos, que giram em torno de como gratificar a mente. As ondas mentais são potentes, e os pensamentos, que estão o tempo todo em busca da gratificação dos sentidos, agitam a mente num ciclo infindável. Isso é comparado a um lago sereno, sem ondas, naqueles que controlam sentidos, e consequentemente os pensamentos, e um lago agitado pelo vento, com ondas, quando a mente está ansiosa pela gratificação através dos sentidos.

Também, define-se a mente como sendo o sexto sentido, então, é dito que a mente é alimento. Aquilo que uma pessoa consome irá afetar a mente. A opção de alguém se tornar vegetariano, para um melhor controle da mente, é um incentivo permanente no Sanatana-Dharma.

O pensamento é produto da mente. Uma mente livre de agitação, que está sempre firme, mantendo-se altruísta, como nos ensina Sri Krishna no Bhagavad-gita, se liberta facilmente do Samsara, ou roda de nascimentos e mortes. Os pensamentos são como “programas” que repetem as mesmas funções, porque têm em vista a gratificação dos sentidos. Mudar os hábitos de pensamento é cultivar novos gostos, isso é, purificar os sentidos grosseiros através de um constante Sadhana, compreendo e separando aquilo que é efêmero, passageiro e temporário daquilo que é permanente, constante e eterno.

Como surgem? Somos nós quem os criamos ou também há os involuntários?
Os pensamentos surgem da contemplação (ou rememoração), e da contemplação vem o desejo, e do desejo a vontade de desfrutar, e do desfrutar surge mais desejo, e assim por diante. Eles vêm como ondas, agitando o lago da mente, que por sua vez busca ser gratificada pela sua natural tendência às novidades. A mente é curiosa por novidades, e os pensamentos são curiosos por novos prazeres e desfrutes. Uma vez que a pessoa compreende a separação entre um prazer inferior e um superior, desenvolvendo um gosto superior, então ela não irá mais sentir atraída por coisas efêmeras e passageiras. A busca pelo desfrute incontrolável é a causa do surgimento dos pensamentos. Quando os desejos não são atendidos, naquelas pessoas que possuem a mente direcionada apenas para o gozo dos sentidos grosseiros, então surgem frustração, depressão, ira e luxúria sem controle. As Escrituras dizem que a culminância da busca desenfreada para a gratificação leva a loucura.

Os pensamentos altruístas surgem naquelas pessoas cujas mentes estão focadas em coisas superiores e igualmente altruístas. Isso ocorre porque os pensamentos são retro-alimentados pelos nossos desejos. O pensamento de um músico clássico-erudito será de músicas clássicas e eruditas quando focado na música. Se ele não for capaz de manter a concentração na erudição e na classe da música, então ele não poderá executar uma obra musical corretamente. Para que alguém possa amar as coisas elevadas, e superiores, deverá conhecer sobre elas. Os textos védicos dizem que ninguém poderá amar alguma coisa se não a conhecer a fundo. Portanto, o Supremo é também motivo de conhecimento, mas conhecimento Supremo, porque conhecendo as maravilhas do Supremo aprende-se a amar o Supremo.

Qual a importância dos hábitos de pensamentos em nossas vidas?
“Caitanya Atmah”! Esta é uma expressão da filosofia do Tantra-Yoga que diz que a consciência é o Atma ou a alma. Isso quer dizer que no cultivar dos pensamentos elevados e altruístas estaremos cada vez mais próximos da natureza pura e transcendental da alma que somos. Nosso corpo é feito de alimento, muco, água, os órgãos dos sentidos, e os subprodutos como fezes, urina e gordura. A alma habita este corpo e nele fica condicionada os sentidos. Os sentidos buscam satisfazer o agregado corporal através dos órgãos dos sentidos. Uma pessoa que fuma talvez não se moleste com a fumaça do cigarro que traga, e uma pessoa que come carnes pouco sente o cheiro cadavérico do animal morto que está comendo. Do mesmo modo, quando estamos no modo condicionado de vida, então não percebemos que estamos sendo escravos do gozo dos sentidos grosseiros. O fato de termos os órgãos dos sentidos, e a consciência que há um gosto superior disponível além da imediatidade da gratificação dos sentidos, nos torna muito superiores aos outros animais e aos outros seres vivos no universo. Desta maneira, cultivando pensamentos elevados como: amor ao próximo e à natureza; sentir-se como um instrumento nas mãos do divino; dividir o que se possui com os outros;  ler, ouvir, estudar coisas referentes ao espírito, eleva os pensamentos e coloca qualquer um na plataforma de servo de Deus.

Eles podem ser bons ou ruins, não é mesmo? Como fazemos então para controlá-los?
Bom e ruim é uma questão de ponto de vista. Há uma historieta na Índia em que um discípulo perguntou para o seu mestre, “Qual seria a melhor forma corporal para ele nascer na próxima vida”? O mestre disse que ele deveria ir e perguntar para cada animal que encontrasse, e assim então compreenderia sobre isso, pessoalmente. Quando perguntou para o porco, este disse: “A vida como porco é a melhor, temos fezes em abundância para comer, e o cheiro da porca é muito bom”. Então o discípulo foi até a uma estrebaria e perguntou para o cavalo, se a vida dele era boa: “Sim, a melhor vida que há, veja: levamos coices das éguas, ficamos o tempo todo pastando, e de vez em quando ainda vamos passear levando a carroça do nosso dono”. Perguntado para o cão, este respondeu: “A sim, ser cão é a melhor vida que há, comemos bastante coisas podres que encontramos nas ruas e latas de lixo, e ainda por cima andamos atrás de uma cadela cheirosa o dia todo”... Bem, ele chegou a conclusão que cada um deles estava muito satisfeito com o desfrute que levavam, e conclui que os únicos que poderiam viver sem a mobilização do corpo era a espécie humana. Do mesmo modo como podemos controlar a respiração voluntariamente, conforme queiramos, assim, também, deveremos aprender a controlar os pensamentos. 

O primeiro passo é realizar os Kriyas de purificação, como: ter uma alimentação no ahimsa (causando menos sofrimento), afastar-se da negligência sexual; não se intoxicar (nada de fumo, álcool, drogas e coisas afins), e se afastar de jogos de azar (que são algum tipo de droga também). Estas, são as quatro regrinhas básicas que formam o solo para o crescimento do pensamento altruísta. O pretendente que quiser desenvolver um forte controle dos pensamentos, e ainda sentir uma imensa alegria, deverá diariamente dedicar-se a prática do canto de um Mantra. Este Mantra, na atual era, é chamado de Maha Mantra, e consiste em duas estrofes de 8 palavras, a saber: Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare/ hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare. Este Mantra atua como um imã poderoso na atração de pensamentos altruístas e elevados, e todos irão se beneficiar imensamente com ele. Mesmo quando pensamentos negativos sujam na mente, a simples prática de cantar este Mantra irá removê-los com facilidade.

Como fazer para enfraquecer os hábitos ruins e cultivar os bons?
Mantenha a mente em Mim (o Supremo ou o Atma), deixe seus pensamentos residirem em Mim, faça tudo como sendo uma oferenda para Mim, e abandone a busca desenfreada pelo gozo dos sentidos, ou atividade fruitiva (que tem em vista o gozo dos sentidos apenas)”, são as instruções do Sr. Sri Krishna no Bhagavad-gita. Tendo a mente sempre fixada em coisas superiores, então, não haverá qualquer problema na direção de pensamentos puros e elevados.

Como diferenciar os bons dos maus hábitos?
Diferenciamos os bons dos maus hábitos simplesmente observando que jamais um bom hábito irá causar males aos outros. Quem não agita ninguém, e não é agitado por ninguém, com certeza é uma pessoa controlada. Portanto, somos o termômetro das nossas relações, simplesmente observando o quanto elas causam de benefícios para os outros e a natureza. Deve-se diferenciar que uma atitude isolada, sem a promoção do crescimento espiritual do outro, não será um bom hábito.

Tudo aquilo que cause dependência, não importa em que nível, bem como que anule o discernimento de alguém, com certeza não será um bom hábito. Mesmo os hábitos religiosos devem ser medidos por esta regra, ou seja, a pessoa deverá ser livre para amar a Deus, do jeito e forma que gostar, bem como poder ser feliz sem causar danos aos outros. “Ahimsa Paramo Dharmah” (a não-agressão é a forma mais elevada de justiça ou religião), era a expressão utilizada por Mahatma Gandhi, e que culminou com a liberação da Índia do domínio inglês. Tendo se inspirado nos Vedas, Gandhi defendia que a não-agressão é a melhor das justiças, portanto, se o nosso pensamento gera algum tipo de violência, ele será himsa, ou seja, uma forma oposta da virtude, e então não será um bom hábito.

De que maneira os hábitos influenciam nossa vida? De que forma atuam em nosso cérebro?
É perfeitamente correto dizer que somos o resultado de nossos próprios pensamentos. De fato, nada há em nosso redor que não seja fruto de nosso pensamento. Bons hábitos irão gerar bons pensamentos. Qualquer tipo de intoxicação não permite que o altruísmo se manifeste. É tolice achar que com o uso de álcool, drogas, etc., se poderá alcançar a felicidade do Supremo. A ignorância ou Avidya é a principal causa do sofrimento no mundo. Nossos pensamentos atuam não somente em nós, mas também em nosso próximo (isso inclui a natureza). Se deve aprender a erguer boas cercas para se manter bons vizinhos, isso quer dizer que com o hábito de cultivo de pensamentos e atividades altruístas nós teremos boa proteção para aqueles pensamentos depressivos e inferiores. Os muros que contêm hábitos ruins são cimentados pela força de vontade. E ela é mantida pelo constante relembrar dos Santos Nomes do Senhor Hari. Assim dizem as Escrituras védicas. Então, os pensamentos não-altruístas irão desintegrar-se, porque não terão com o que se alimentar.

Os hábitos têm a ver com energia, crença, educação ou espiritualidade?
Nossos hábitos estão sujeitos à mudanças, de acordo com o tempo, lugar e circunstâncias. Quem há 20 anos pensaria que um dia seria difícil viver sem computador ou telefone celular? Quem imaginou que poderíamos viver tantos anos? Mudança nos hábitos de higiene, alimentação, e mesmo do pensamento, têm feito as pessoas viveram mais tempo. Todos nós somos um pouco a mistura do meio em que vivemos e de nossos próprios pensamentos. Na Antropologia filosófica dizemos que o ser humano é tanto um ser da cultura como na cultura. Por isso dizemos que o ser humano é um ser de cultura, e ao mesmo tempo ele é um ser da cultura, e sem ela talvez não fosse humano. A forma como um povo, num determinado local, num determinado tempo, se relaciona com o sagrado não é pior ou melhor do que em outras. Tudo está num contexto relacionado com nossas crenças e idéias, num tempo, lugar e circunstâncias. Somos resultados de uma série de pensamentos, uns mais elevados, outros menos. Ao longo da vida se vai fazendo opções. Bons hábitos conduzirão uma pessoa para uma vida de melhor longevidade e qualidade, e os maus hábitos conduzirão para uma vida de dificuldades; ninguém irá duvidar disso.

Dos maus hábitos o pior deles é a discriminação de qualquer espécie, seja religiosa, racial, filosófica ou crença pessoal. O mundo é feito de uma imensa diversidade, e por isso ele é lindo e maravilhoso. Goethe já dizia, “o que seria do verde se todos gostassem do cinza?”. Devemos nos esforçar para conviver harmoniosamente com as diferenças, porque somos iguais nelas. Em outras palavras, somos todos iguais em nossas diferenças.


Qual a diferença entre os hábitos de pensamento e os hábitos de ações do dia-a-dia. Um depende do outro?
Dizei-me com quem andas que te direi quem és! Este é um adágio védico muito antigo, e que passou para a tradição grega. Isso porque os semelhantes se atraem, assim como pensamentos médicos atraem médicos, e pássaros da mesma plumagem andam juntos. Cultivar hábitos de pensamentos elevados é atrair pensamentos elevados. De fato, todos devem compreender que somos atratores; tudo que está ao nosso redor é porque atraímos. Se alguém deseja sucesso profissional, então, deverá cultivar pensamentos elevados na profissão que deseja seguir. Uma pessoa terá pouco sucesso no seu trabalho se o faz apenas para ganhar um salário, porque o mais importante do trabalho é o pensamento altruísta que está nele. Um trabalho honesto, realizado com dedicação e reverência como algo do Supremo, com certeza irá conduzir a uma realização também suprema.

Se andamos sempre com pensamentos depressivos, pequenos, vingativos, pobres de espírito, etc., por conseguinte iremos viver isso. O Sr. Krishna diz que devemos atuar no nosso dia a dia como numa oferenda para Ele (Ele é o Supremo Personificado). Mas se alguém é incapaz de agir de tal forma que seus atos sejam uma oferenda para Ele, então deverá simplesmente deixar o pensamento fixar-se no fato de nós sermos um instrumento nas mãos de Deus. Isso nos permitirá sermos conduzidos pelos pensamentos altruístas e elevados. O principal motivo de alguém não prosperar, nem material ou espiritualmente, deve-se aos velhos vícios, hábitos nocivos que não permitem o deslumbramento do novo. Liberar-se dos antigos vícios é uma forma de mudar os pensamentos. Há pessoas que não conseguem viver sem isso ou aquilo. São como moribundos dependendo de um aparelho para viver. Mas quando descobrem que não necessitam de alguma coisa, logo se libertam. As relações afetivas têm muito disso. Há certa tendência de as pessoas acharem que são donas de outras. Isso é um vício infantil, e que deve ser abandonado imediatamente. Os pais devem amar os filhos, e para isso deverão os deixar seguir o caminho que pretendem, dando apoio e incentivo, e não reprimindo-os.

Bons hábitos são os construtores de uma qualidade boa de vida. Se o pensamento está diretamente ligado ao nosso trabalho, e este aos pensamentos, então, todos são inter-dependentes.

om hari hara om tat sat

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