Pesquisar este blog

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Quatro Caminhos


KARMA, JÑANA, DHYANA, BHAKTI

Swami Krsnapriyananda Saraswati

 
GITA ASHRAMA
Porto Alegre, RS - Brasil
 2006-2010

Sri Brahma, quem ditou os quatro caminhos.


No mundo material, todas as nossas ações estão sujeitas a relação de causa e efeito.


 "Existe um tipo de 'Yoga' mais benéfico do que outro?"


Yoga tem em vista o Samadhi
Sobre sua pergunta, a respeito do Yoga, se "existe um tipo de yoga mais benéfico que outro", primeiro, deveremos esclarecer o que é Yoga, e depois ver qual o sistema que melhor se adequa a alguém.

Deve-se entender, bem claramente, que o que é chamado de “yoga” no Ocidente, no mais das vezes, trata-se de algum tipo de exercício físico, que provavelmente tenha se baseado nos chamados Asanas, que são posturas corporais, que ensinam a alguém a permanecer numa determinada posição por um determinado tempo, tendo em vista conseguir meditar sem ser incomodado pelo corpo. Asana é nada mais do que isso: facilitar alguém para meditar, e posicionar-se de forma mais adequada possível, tendo em vista mitigar os sofrimentos naturais causados pelo corpo. 

Alertamos, portanto, que pode ser que alguém chame de "yoga" algo que nada tenha a ver com esta ciência de realização em Deus, e que, então, apenas se trate de alguma invenção da mentalidade fértil de alguém, e que, por absoluta falta de criatividade, ou por apenas querer montar um negócio, utilizando-se de uma palavra estrangeira, chamou esta atividade de "yoga". Quem sabe, isso que chamam de "yoga", não é uma outra forma de amarrar as pessoas nos seus próprios Karmas? Tomara que um ou outro possa compreender isso a tempo.

Mas "Yoga" trata-se de uma ciência universal de realização em Deus. O étimo desta palavra, em sânscrito, significa: “yuj”= unir; juntar; justar (origem de “iustitia” ou justiça). Pesquisando, iremos encontrar mais de uma centena de significados para esta palavra, tal a sua imensa abrangência de significados. Por sua vez, a vogal “a” não é articulada, propriamente falando, conforme o sânscrito clássico. Mas no Ocidente é comum pronunciarmos a vogal “a”. O correto seria dizermos “yog”. Contudo, o significado genérico desta palavra é “colocar junto”, no sentido de unir a alma individual, ou Jiva, com a alma Suprema ou ParamAtma. 

Sri Patañjali Maharishi escreveu um conjunto de Sutras (sentenças curtas), sobre Yoga, que é chamado de Yoga Sutras, onde ele se refere ao Yoga como sendo “o controle do pensamento”, ou Chitta. Esta definição dada por ele, no início do seu estudo na forma de Sutras (porque este conhecimento está espalhado na forma de narrações e outros textos em prosa, em muitas outras escrituras, como os Puranas, e Upanishads), tem um importante conteúdo do Vedanta, uma vez que a filosofia do Vedanta afirma que o vaguear da mente é responsável pelo nosso estado de ignorância ou Avidya, e que Avidya é a única causa que nos ata ao mundo material. Por conseguinte, todo o estudo de Maharishi tem em vista o controlar da mente, e, assim, se possa atingir o estado supremo ou Samadhi; onde, “sam”= o mesmo que; tal qual, e “adi”= Uno; primeiro; “ser uno com o primeiro” ou uno com o Supremo. Esta é a verdadeira e única finalidade do télos do Yoga.

Caminhos
No Bhagavad-gita, Sri Krishna descreve os quatro caminhos básicos de auto-realização ou realização no Supremo: 1) o caminho do Karma Yoga, ou Yoga da ação; 2) o caminho do Jñana Yoga, ou do conhecimento da Realidade Suprema; 3) Dhyana Yoga, ou Raja Yoga, que é o caminho da meditação, e, 4) Bhakti-yoga, ou caminho da devoção. Estes 4 caminhos podem ser resumidos em Karma-jñana-bhakti, ou seja, ação consciente do Supremo. Devotos avançados, como HariHarji Swami, e Sri Ramananda Prasad, costumam referir-se a esta junção de um “quinto caminho”, uma vez que ele está expresso no final do Gita, verso 18.66, onde lemos “Mam ekan saranan vraja”, ou seja, faça tudo como Eu lhe disse; como sendo uma oferenda para Mim ou o Supremo. Então não haverá reação ou Karma decorrente da ação.

Karma
No mundo material, todas as nossas ações estão sujeitas a relação de causa e efeito. Isso é tão importante que é a base das ciências empírico-formais. Um cientista parte de um conjunto de pressupostos ou hipóteses e então formula uma teoria, tendo em vista explicar ou entender os fenômenos do mundo. Portanto, no mundo material todas as nossas ações terão uma conseqüência boa ou não, devido ao fato de que a natureza material é feita de pares de opostos. 

O objetivo do Yoga é neutralizar ou tornar indiferente as ações. Uma ação boa, irá ter conseqüências boas, mas estas, também, amarram uma pessoa no ciclo de nascimentos e mortes. Em outras palavras, aquilo que acumulamos como bom, terá que ser gasto numa outra oportunidade, podendo ser nesta vida ou em outra. É mais ou menos como dizer que se colhe aquilo que é semeado por nós. E como a lei do Karma é uma lei que da qual não se pode fugir, então surgem todos os questionamentos para se poder ter um livramento dela. Seria Deus tão egoísta, ao ponto de criar uma lei que tornasse todas as criaturas escravas da Sua vontade? Claro que isso contraria o princípio de Suprema Bondade ou Summum Bonum que Deus representa. Deus não é uma hipótese contrária ao fato, ou seja, Ele não pode limitar-Se por ser ilimitado. Portanto, a lei do Karma pode ser neutralizada pela ação livre do desejo do fruto do resultado. Tudo isso está bem claramente exposto no Gita, porque o propósito do Gita é ensinar a forma ou o Yoga que alguém pode sair deste ciclo de nascimentos e mortes.

Melhor caminho
Arjuna perguntou: “Quais destes é o melhor conhecimento do Yoga: daqueles que sempre devotam e que adoram o Seu aspecto pessoal, ou daqueles que adoram o Seu aspecto impessoal, o Absoluto sem forma?” (12.01) Este verso, que está referido no Gita, demonstra que Arjuna tinha uma preocupação em realizar Deus pelo Yoga. Como o Yoga permite tanto a adoração Saguna (com qualidades) como a Nirguna (sem qualidades), Arjuna confundiu-se.

Ramananda Prasad, comenta este verso, dizendo:

O Senhor Krishna explicou a superioridade do caminho do conhecimento espiritual (Jnana-yoga) no quarto capítulo 4.33 e 4.34. Ele explicou a importância de adorar o Supremo “sem-forma” (Bhakti-yoga Nirguna) (ou o Ser) nos versos 5.24-25; 6.24-28, e 8.11-13. Ele também enfatizou a adoração de Deus com forma (Bhakti-yoga Saguna), ou Krishna, em 7.16-18; 9.34, e 11.54-55. É de modo natural para Arjuna questionar qual caminho é o melhor para a maioria das pessoas em geral. 

Então Sri Krishna respondeu: O Senhor Krishna disse: “Eu considero o melhor dos Yogis aquele que é sempre constante e devotado, que Me adora com suprema fé, por fixar a sua mente em Mim como seu Deus Pessoal”. (Veja, também, 6.47) (12.02)

Comenta Ramananda: A devoção é definida como o mais elevado amor por Deus (SBS 02). A verdadeira devoção é desmotivada, e de intenso amor por Deus para alcançá-lO (NBS 020). A real devoção é o ato de observar a graça de Deus e servir com amor para o Seu prazer. Assim, devoção é cada um fazer as suas obrigações como sendo uma oferenda ao Senhor, com amor por Deus no coração. Diz-se, também, que devoção é concedida pela graça de Deus. Uma relação amorosa com Deus é facilmente desenvolvida através de um Deus personificado fiéis seguidores do caminho da devoção, para Deus personalizado, numa forma humana, considerados os melhores, são como: Rama, Krishna, Moisés, Buddha, Cristo e Maomé. A Bíblia diz: “Eu Sou o caminho; ninguém vai ao Pai a não ser por Mim (João, 14.06). Alguns santos consideram a devoção como o autoconhecimento o mais superior (SBS 05). Toda a prática espiritual é imprestável na ausência de devoção, ou profundo amor por Deus. A pérola do autoconhecimento nasce somente do núcleo da fé e da devoção. O Santo Ramanuja disse que aqueles que adoram O manifesto alcançam a sua meta em pouco tempo e sem dificuldades. Amar a Deus e a todas as Suas criaturas é a essência de todas as religiões. Jesus, também, disse: “Amarás a teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, e com toda a tua mente...; e amais a todos como a ti mesmo (Mateus, 22.37-39)

Se poderia falar muito mais sobre qual o Yoga é o mais adequado para uma pessoa. No capítulo 17, do Gita, Sri Krishna dedica-Se a comentar sobre a fé das pessoas, e a sua natureza. De modo resumido, Sri Krishna diz que cada um tem a sua fé de acordo com a natureza de Rajas, paixão. Sattva, bondade, e Tamas, ignorância. Contudo, Sri Krishna diz, bem claramante, que: “Mas para aqueles que Me adoram com inabalável devoção como Seu Deus Personificado, em quem os pensamentos estão postos na Minha forma pessoal, e que oferecem todas as ações para Mim, os objetivos para Mim com o Supremo, e meditam em Mim – Eu ligeiro Me torno redentor deles, do mundo que é um oceano de mortes e reencarnações, Ó Arjuna. (12.06-07

Ramananda comenta este verso, dizendo o seguinte: “Cruza-se facilmente o oceano da reencarnação através da ajuda do barco inabalável do amor e da devoção por um Deus pessoal com forma (TR 7.122.00). Os seguintes versos explicam quatro diferentes métodos para adorar a Deus, com ou sem a ajuda de uma forma de Deus ou deidade. Há quatro caminhos para Deus. As pessoas nascem diferentes. Qualquer um que prescreve um só método para todos está, certamente, iludindo, porque não há uma panacéia. Um só método ou sistema não pode adequar-se as necessidades espirituais de todos. O Hinduísmo, com seus muitos ramos e sub-ramos, oferece uma amplitude de escolhas de práticas espirituais para adaptar as pessoas em qualquer estágio de desenvolvimento pessoal. Todos os caminhos conduzem a salvação, porque eles todos culminam em devoção: intenso amor por Deus”. 

Os quatro caminhos que Sri Ramananda menciona, estão descritos nos versos seguintes, e onde Sri Ramananda nos esclarece o significado: 

“ Portanto, focalize a sua mente em Mim e deixe a sua inteligência residir apenas em Mim, através da meditação e da contemplação. Desde então, você certamente Me alcançará”. (12.08)
5. Meditando
O caminho para a meditação está no capítulo 6 do Bhagavad-gita, e serve para aqueles que possuem a mente contemplativa. Pensar sobre uma forma escolhida de Deus, o tempo todo é diferente de adorar a forma, mas ambas as práticas possuem as mesmas qualidades e efeitos. Em outras palavras, contemplação é também uma forma de adoração.

“Se você for incapaz de focalizar firmemente a sua mente em Mim poderá alcançar-Me por longa prática de qualquer outra disciplina espiritual, assim como um ritual, ou adoração de deidade que você escolher.” (12.09)

Este é o caminho do ritual, oração, e adoração devocional, recomendado para pessoas que são emocionais, e possuem muita fé, mas pouca tendência para o raciocínio (Veja, também, 9.32). Constantemente contemple e concentre a sua mente em Deus, usando símbolos ou gravuras mentais de uma forma pessoal de Deus como uma ajuda no desenvolvimento da devoção.

“Mesmo se você for inapto para qualquer disciplina espiritual, então dedique todo o teu trabalho para Mim, ou faça todas as obrigações para Mim. Você alcançará a perfeição por fazer as suas obrigações prescritas para Mim – sem qualquer motivo egoísta – da mesma forma que um instrumento, para servir e agradar-Me”. (12.10)

Este é o caminho para o conhecimento transcendental ou renunciação, adquirido através da contemplação, e dos estudos das Escrituras, por pessoas que realizaram a verdade, de que nós somos somente instrumentos divinos (Veja, também, 9.27, 18.46). O Senhor, em Si mesmo, guia cada esforço da pessoa que trabalha para o bem da humanidade, e o sucesso chega para a pessoa que dedica sua vida para servir a Deus.

“Se você for incapaz de dedicar o seu trabalho para Mim, então simplesmente renda-se a Minha vontade, e renuncie aos apegos, e a inquietação, para os frutos de todo o trabalho, através do aprendizado em aceitar todos os resultados, com equanimidade, como uma graça de Deus”. (12.11)

Este é o caminho do Karmayoga, o serviço desapegado para a humanidade, discutido no capítulo 3, para o chefe de família que não pode renunciar as atividades do mundo, e trabalha o tempo todo para Deus, assim como é discutido no verso 12.10, acima. A principal verdade dos versos 12.08-11 é que se deve estabelecer algum relacionamento com o Senhor – assim como um criador, pai, mãe, amado, criança, salvador, Guru, mestre, ajudante, convidado, amigo e mesmo um inimigo. Karmayoga, ou renúncia ao apego egoísta aos frutos do trabalho, não é um método de última instância – como possivelmente aparece no verso 12.11. Ele é explicado no verso seguinte: 

No verso seguinte, Sri Krishna faz um resumo destes caminhos, onde diz: “O conhecimento transcendental das Escrituras é melhor do que a mera prática ritualística; a meditação é melhor do que o conhecimento das Escrituras; a renúncia ao apego egoísta aos frutos do trabalho (Karmayoga), é melhor que meditação; porque a paz advém imediatamente pela renúncia das causas egoístas”. (12.12)

Sri Krishna nos deixa muito esclarecidos dos processos de Yoga, sem descaracterizar que este ou aquele é melhor. Ele será melhor se melhor se adequar a natureza de cada um. Mas como o propósito do Yoga é colocar alguém além dos modos da natureza material, e com isso liberar-nos do ciclo do nascimentos e mortes. Diz Sri Krishna: “Quando os videntes percebem não serem eles os fazedores de outra coisa, a não ser dos três modos da natureza material (Gunas), e conhecem o Supremo, o qual está acima e além destes modos, então, eles alcançam o Nirvana ou a salvação”. (14.19)

Cada um deverá escolher aquele caminho que melhor se adapte a sua própria natureza, para assim libertar-se até mesmo desta natureza inferior, e que ata alguém ao ciclo do Samsara.

É por isso que as Escrituras recomendam que devemos nos aproximar do mestre espiritual tendo em vista servi-lO em causa. O professor sabe ver as dificuldades do aluno, bem como as suas qualidades, e, por isso, tende a conhecer melhor o caminho que alguém deve adotar, pelo menos no princípio. Ao longo do desenvolvimento, a pessoa deverá, então, ser capaz de realizar o Supremo totalmente por si mesma.

Hari Hara OM Tat Sat!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.