Pesquisar este blog

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Perguntas sobre Sanātana Dharma “hinduísmo”

Perguntas sobre Sanātana Dharma
“hinduísmo”

Swami Kṛṣṇaprīyānanda Saraswatī

Vaiṣṇava Brasil
Gītā Āśrāma
2010


Kamadhuk ou Bhumi-devī, da qual tudo se origina no mundo ou Gāya.


dhenunam asmi kamadhuk

"... Entre as vacas Eu sou Kamadhuk, aquela que satisfaz a todos os desejos"

Śrī Kṛṣṇa - Śrīmad-Bhagavadgītā: 10.28



O que é Sanātana-dharma?


O étimo das palavras Sanātana-dharma tem o sentido amplo de “Ordem Eterna”, ou seja, o que é permanentemente válido, independente de tempo, lugar e circunstâncias. Por isso Sanātana-dharma não possui região específica, nem povo, nem cultura para o qual ele não se aplique. O escopo do Bhagavad-gītā, uma das mais célebres e conhecidas obras poéticas da Índia, é exatamente o Sanātana-dharma. A palavra sânscrita “sanātana” compõem-se de “sanā= antigo; ancestral; anterior, etc., ; + atana= passagem; o que passa. Literalmente, o que “sempre passa”, no sentido que sua teleologia é ficar passando eternamente (o Ser). Entre tantos termos, sanātana quer Dizer: “eterno; perpétuo; permanente; sempre existente; primevo; antigo, interminável, sem-fim”, e assim por diante. Dharma é outro termo que possui centenas de significados, entre eles: “ordem; lei, prática; costume; conduta prescrita; dever; direito; virtude; moralidade; ‘religião’ (por favor, não confundir com instituições religiosas); boa-ação; regra; justiça; natureza da coisa; conformidade com a retidão”, e assim por diante.

Crianças "hinduístas" festejam no Festival de Holi

O que significa “hindu”?

No Ocidente chama-se o conjunto de “religiões” da Índia de “hinduísmo”, contudo é um termo equívoco e pejorativo. A palavra “indu”, é uma espécie de apelido abreviado da expressão em Latim “indigenus” (e no inglês “indigenous”), que significa “sem alma”, uma vez que os invasores e conquistadores Ocidentais do território indiano defendiam que somente a religião deles era verdadeira, e que todos os que não pertencesse a ela – paganus -, devido a crença deles no “batismo”, sequer possuíam alma, daí a expressão encontrada (paganus indigenus) para referir-se aos povos do território de Bharata-Varsa, também equivocadamente denominada de “Índia”. No mesmo patamar de significado encontram-se palavras como, “índio”, “indígena” “indiano”, “indigente”, e assim por diante. Convém, contudo, salientar que nem todo o “Indiano” é “hindu”, assim como nem todo o brasileiro é tão somente católico, judeu, muçulmano, etc. Há centenas de expressões religiosas na Índia, e leitura delas a partir da compreensão Ocidental que se tem de “religião” no Ocidente, será apressada, senão equivocada. Sanātana Dharma também significa “vaidika-dharma”, ou dharma em conformidade com os Vedas, ou Escrituras Sagradas eternas.

Todos podem seguir o Sanātana-dharma?

A expressão Sanātana-dharma não possui exclusividade de credo, raça, cor, religião, dono, propriedade, nem quaisquer impedimentos de ordem política ou social. Isso quer dizer que é de todos e para todos. Sem dúvida, o Sanātana Dharma ou o Vaidika dharma é anterior a qualquer divisão religiosa. Suas origens são divinas e imemoriais. Se pode dizer que o Sanātana Dharma trata-se de uma Ética Universal Absoluta. Os princípios do Sanātana dharma são eternos, válidos independente de qualquer mudança temporária ou transitória, porque eles tratam da real natureza humana, muito além de religiões. Conhecer a profundidade do Sanātana Dharma somente é possível na prática da retidão em três bases do karma, e no principio da liberação, a saber: reta distribuição da riqueza ou Artha; reta distribuição do laser, Kama; reta distribuição da Justiça, Dharma, e reto sentimento de liberação, Moksa (perfeita renúncia). Portanto, qualquer um que atue de acordo com o principio da “reta conduta” ou em conformidade com o Dharma será um membro do Sanātana Dharma, independente de qualquer posição ou condição cultural, social, econômica, de credo, crença, etc., que tenha na vida.

Laksmi Devi no centro, Saraswati Devi à esquerda de quem olha, e Sri Ganesha à direita.

Quem é “hindu”?

O termo como mencionamos é um termo equívoco, mas para que se compreenda que falamos do grupo de manifestação de fé “hindu” significa a “religião dos hindus”, o que as vezes é confundido com “indiano”. Se pode dizer que “hindu” é quem busca viver no dharma. A maior parte dos “hindus” está na Índia, cerca de 1 bilhão de pessoas adeptas, e cerca de 500 milhões que estão fora do território indiano, havendo um grande grupo de adeptos nas chamadas Índias Ocidentais, ou Trinidad e Tobago. Dentre os adeptos do “Hinduísmo” há os chamados astikas e os naistikas. Os primeiros, a grande maioria, possui fé irresoluta nos Vedas, tendo-Os como autoridade máxima, já os segundos, não têm nos Vedas a concentração da mesma autoridade. Como exemplo de membros pertencentes a estes grupos naistikas temos, Jainistas, Budistas, e muitos outros subgrupos. Atualmente, até mesmo os Parsis (antiga religião da Pérsia), são tidos como “hindus”, uma vez que buscaram abrigo na Índia tão logo o continente deles fora conquistado pelos muçulmanos. É bem provável que com o tempo o lamaísmo, a religião budista dos tibetanos seja, também, considerada “hindu”. Entre os indianos considera-se “hindu” quem seja de acordo com o dharma. Há um fato notável que um certo bispo cristão católico, tendo uma missão na Índia, era reverenciado como mahatma, onde os indianos colocavam suas mãos em seus pés e diziam, “o Sr. é hindu, porque é bom e faz o bem”.

Templo "hindu" em Goa, Índia.

Há algum grupo, seita, que possua autoridade máxima no Sanātana Dharma?

A “religião” védica, isso inclui os naistikas e tantras, é uma “religião” de abundância que podemos notar na abundância em “deuses”, abundância em abordagens filosóficas, abundância em mitos, ou seja, uma ampla forma e modo de ver e aceitar o Absoluto. Este é também visto tanto como imanifesto, avyakta, como manifesto, vyakta. Apesar de tudo, todos se respeitam mutuamente, porque os adeptos de uma maneira de ver e buscar realizar o Absoluto, seja na forma manifesta ou imanifesta, têm uns que aprender com os outros; como se fala de Absoluto, é logicamente óbvio que Este não pode ser relativo, assim, cada um segue a forma religiosa mais propícia. O mundo é relativo, e o Absoluto é um contraste com esta relatividade. Portanto, ninguém entre as milhares de variações de dizer ou buscar o Ser é dono da verdade. Diferentemente das tradições do Médio Oriente (chamada tradição judaico-cristã), entre as quais há a ingênua crença que somente a religião que alguém de um determinado grupo ou seita que pratica é única e verdadeira, essa “verdade” é vista pelos adeptos do “Sanātana dharma” como sendo pessoal e relativa.

Em nenhuma outra “religião” do mundo há o respeito da liberdade de alguém expressar e realizar o seu sentimento religioso particular como na Índia. Numa mesma casa é possível encontrar os membros de uma mesma família praticando diferentes religiões. Portando, o ato de alguma seita ou religião dizer que possui autoridade suprema sobre o Sanātana Dharma será senão uma forma de fanatismo como a clara expressão da ignorância dos seus dirigentes. Algo muito diferenciador no Sanātana Dharma de uma religião qualquer: não há competição do tipo “meu Deus é maior que o seu”, etc. Deus não tem procuradores exclusivos no mundo, apenas admiradores e buscadores da verdade, em maior ou menor ignorância do Ser o Atma. De outra forma, não seria Deus, mas apenas um político com suas politicagens. O Sanātana dharma é para todos, mesmo para os que se digam não serem para Ele, porque se trata de um conhecimento ético universal, que tem validade universal além do tempo.

O que significa karma?

O termo tem o sentido direto de “trabalho; ação; movimento, atividade”. Tudo que é realizado no mundo material é chamado karma, uma vez que não há como algo existir no mundo material sem alguma ação ou atividade. O termo karma, como muitos outros advindos do Sanātana Dharma ficou mal interpretado no Ocidente, mas isso não é novidade para nenhum termo ou ato cultural advindo do ethos da Índia, e interpretado pelos Ocidentais, devido à tendência apressada destes em julgar os termos védicos dando-lhes um caráter originando na moral judaico-cristã, ou moralidade Ocidental. Mas karma está mais para as Leis da Física do que para qualquer outra coisa de cunho metafísico. O mundo é karma, e é em nós que está a disposição para resolvê-lo. Todos sabemos que conforme a Economia no mundo prevalece a escassez, então a disposição para equilibrar as faltas é um ato racional. Encontrar o perfeito equilíbrio entre a demanda e a oferta do karma é o que se chama Karma-yoga. A moralidade inferida no karma é posterior ao seu conceito original, bem como eiva-se de vícios advindos de influências religiosas do Médio Oriente. Qualquer pessoa no mundo deverá realizar alguma ação. Ninguém poderá viver no mundo sem ter o mínimo de esforço. Mesmo se alguém simplesmente resolva não trabalhar deverá procurar algum alimento para poder continuar vivendo. Sem alimento não será possível vivermos no mundo material. Mesmo o ser mais primitivo precisa de alguma forma de alimento para poder realizar a suas tarefas mais essenciais. Quem diz que é possível viver sem alimento, e que somente bebe líquidos, se esquece de que alimento é 95% líquido em qualquer situação; é mera tolice dizer que alguém na complexidade celular de animal possa viver de luz. Os seres humanos não realizam fotossíntese. Alguém poderá viver muito tempo sem comer, porque cada célula de gordura é um reservatório de energia. Mas não há ação no mundo que não tenha começo, meio e fim. Esta é a natureza do karma. É dito que o mundo material é um mundo de karma, porque é um mundo de ação e consequente reação. Não há como um ser vivo existir no mundo sem explorar outro. É por isso que não temos como comermos o nosso próprio corpo, porque se assim fosse, todos sabem no que resultaria depois de algum tempo. Portanto, há que vivermos sob a exploração de outro ser vivo. A vida é chamada de orgânica, e sabemos que não há como vivermos do inorgânico. A matéria inerte como plástico, por exemplo, não tem condições no seu estado primitivo de alimentar alguém, salvo algumas bactérias em determinadas circunstâncias. O mesmo ocorre com elementos minerais etc.; é necessária a intervenção de um ser vivo para que os elementos minerais possam ser aproveitados no organismo. Isso se chama karma. E o karma é nada mais do que uma forma de manutenção do ser vivo, uma espécie de interação de atividades.

Existe “deus” no Sanātana dharma?

O termo “deus” é um termo advindo do grego “theos” que significa luz, tendo a mesma origem que a palavra “teoria”, por exemplo. No Sanātana Dharma “luz” é chamado “jyoti”, sendo apenas uma manifestação de Deus e não Deus. Brahman seria o termo mais adequado para definir “deus” dentro da visão do Absoluto. Deus não é meramente um demiurgo o qual modela todas as coisas (como Brahmaa, por exemplo, o guna-avatara da trimurti); o Brahman é Uno sem-segundo, e tampouco precisa de matéria pré-existente para fazer qualquer coisa. Sendo então Brahman, Deus o Absoluto, na visão do Dharma védico, Ele não tem começo, nem meio, nem fim; é onisciente, onipresente, e onipotente, estando em tudo e em todos. Por isso se diz que o Sanātana Dharma é Pananteísta ou Panteísta, onde tudo é Deus e Deus é tudo. Portanto, bem e mal; mundo e imundo são pertencentes ao mesmo e único Absoluto. O Absoluto ou Brahman é tanto com forma como sem forma, rupa/arupa; manifesto ou imanifesto, vyakta/avyakta; tanto possui qualidades como não possui, saguna/nirguna. E é também nirgunaguni, com e sem qualidades ao mesmo tempo. O Absoluto é tanto imanente como transcendente, e assim por diante. Sendo ilimitado Ele está presente em qualquer coisa. Portanto, adorar um ídolo com flores, alimentos, água, incenso, etc., é uma forma de ver Deus em tudo e em todos. No Sanātana Dharma Deus está em tudo e em todos e é tudo e todos. Nada há além de Deus. Isso é o que se chama de monoteísmo apesar da imensa variedade de formas e nomes. No Sanātana Dharma não há crenças em um Deus único e outros “deuses” como nas tradições do Médio Oriente. Portanto, no Sanātana Dharma não existe monolatria e henoteísmo, que é o que se encontra em religiões primitivas tendo um deus na cabeça de um panteão, e vários deuses menores. Pode ser que alguém veja isso em seitas modernas, que mais ou menos utilizam algum conhecimento advindo do Sanātana dharm misturados com monolatria e henoteísmo, mas será apenas uma espécie de sincretismo e não propriamente o Sanātana Dharma. O critério simples de distinção é ver como alguém crê num Deus superior a outro, logo há monolatria, também chamado de politeísmo (vários deuses).


Parte de múltiplas formas do Absoluto ou Brahman numa fachada em um templo no Sul da Índia.

Li numa revista que na India existem 33 milhões de deuses

Na verdade deveriam ter escrito 1 bilhão e 200 milhões de deuses, a população aproximada de indianos, porque cada um é visto como Deus na Índia. A compreensão védica de que Brahman é uno na infinita variedade é um aspecto muito profundo e filosófico, onde poucos conseguem perceber. Mas se compararmos com nossas fisionomias veremos que todos somos diferentes; cada um possui um nariz, um tipo de olhos, orelhas, cor de cabelo, feições, etc., ao que dizemos que somos iguais exatamente devido as nossas diferenças. Então já faz bastante tempo que a Antropologia vem dizendo que as diferenças entre os grupos de pessoas são fenotípicas e culturais, de tal modo que o termo “raça” utilizado para seres humanos não se aplica. Há cores de pele distintas, mas só há uma “raça” a raça humana. Do mesmo modo como somente há uma religião, a de amor por Deus, e consequentemente como Deus é tudo e está em todos, a única religião que existe é a religião de amor por tudo e todos. Cada um representa Deus conforme seu sentimento pessoal. Como Deus é universal e Absoluto, Ele está em todos os nomes e formas, nada ficando fora dEle.

Mahadevī, do Seu ventre tudo se manifesta e retorna (no centro aparece a trimūrtī).
O que significa a Trimūrti?

O étimo ou sentido literal da palavra “trimūrti” quer dizer “três formas sólidas materiais”; a palavra “tri” tem o sentido de triplo; três, e mūrti quer dizer, “manifestação; partícula sólida; uma forma, uma figura, imagem, ídolo, estatueta, etc.”. A tradição da India é rural ou agrária. Os três gunas avatāras ou avātaras qualificados regem a trimurti. Comparações apressadas tentam dar sustentação da trimurti indiana junto da trindade cristã. Porem isso é equivoco. Brahmaa é o Senhor da criação, a ele está ligada a fase da semeadura, plantio e fetilização da terra. Há muito que na cultura védica se afirma que somos o sal da terra ou saṁsāra; nosso corpo é a Terra em si, e é ela quem nos alimenta e também nos devora. Bhumi é o nome genérico da Terra, e ela é comparada a uma vaca. Então o Senhor Brahmā é o Senhor da criação, mas para que ocorra a oportunidade do plantiu deve existir o terreno adequado. O Senhor Śiva é o Senhor da transformação; o guṇāvatāra Śiva significa o tempo de queimada; o arar a terra; de preparo para o solo poder ser cultivado. A terra é arada (se lhe coloca ar), tem suas entranhas reviradas. No final, depois da semeadura, surge a planta e traz seus frutos. Vem então o guṇāvatāra Viṣṇu, o Senhor da colheita, da conservação, da manutenção. A Trimurti está além da simples analogia com a trindade cristã, porque diz respeito à relação com Bhumī-devī ou a mãe do mundo; também chamada de Mãe Divina e o ciclo permanente de criação e destruição do mundo material.

Os Guṇāvatāras são todos advindos de Bhūmi devī; são senhores do karma ou da ação no mundo material. São aspectos do Uno ou Brahman. Compreender isso é de suma importância, e logicamente está além do sentido religioso simplista que é dado e confundido pelos Ocidentais. O Brahman ou Absoluto tem inúmeras formas e nomes, e a trimurti é uma maneira de O representar em karma, ação tríplice de paixão, bondade e ignorância (Brahmā, Viṣṇu e Śiva, respectivamente). O Senhor Brahmā é o plantador, o Senhor Viṣṇu o conservador, e o Senhor Śiva o transformador. Nossas vidas são assim também o tempo todo. Por exemplo, quando alguém vai reformar algo na sua casa primeiro precisa desfazer algo para então colocar algo novo e finalmente conservar o que foi feito. Do mesmo modo, um campo sem nada cultivado é mera terra ao vento. A ação de abrir a terra com o arado (Śiva, as vezes Balārāma), plantar a semente (Brahmā), e depois colher (Viṣṇu), é uma sequência permanente de uma unidade em três fases, tendo um Guṇāvatāra em cada tempo de karma ou ação. A constante renovação das coisas nos dá a sensação de permanência, mas no mundo tudo está constantemente mudando, se transformando, modificando. Nossas ações visão manter uma homogeneidade das coisas, mas ao vermos que o tempo passa percebemos que nunca uma ação é igual a outra, e o que chamamos de “renovação” é simplesmente uma nova adequação à constante mudança daquilo que não é permanente. Somente é permanente a mudança.

Mulher indiana cuida de uma fazenda de tortas de esterco de vaca a céu aberto, que irão servir de combustível (próximo a Nova Delhi).

Por que a vaca é sagrada no Sanātana Dharma?

O termo “sagrado” é mal interpretado. As Escrituras dizem que as vacas (e os bois também), são seres divinos, como todos nós também. O gado é considerado divino devido ao passado ligado diretamente as necessidades do povo. Não é engano dizermos que a vaca é uma usina viva na India. A imensa quantidade de animais que existem livremente nas ruas das cidades indianas fornecem o combustível para que mais de 90% da população tenha como cozinhar. A disponibilidade de gás de cozinha na India é minina, bem como quem pode pagar por ele é menos ainda. Se pensarmos na imensa quantidade de pessoas que precisam comer, e precisam então cozinhar e aquecer água para viverem, veremos que não haveria lenha suficiente no mundo para manter o mínimo do razoável necessário. É comum vermos grandes campos de secagem ao céu aberto de bolinhos de esterco de gado, que são depois usados como “lenha” para cozinhar, aquecer água, espantar insetos, etc. Isso é somente um dos subprodutos que o gado produz. É também por isso que o esterco do gado é considerado puro, e que tem o poder de descontaminar as coisas. Além do esterco, dado de forma natural pelo gado, há o leite, e os seus subprodutos como nata, manteiga, e o soro. O soro é consumido como refrigerante, além de servir de amalgama para as construções. O soro de leite é um cimento tão forte e natural que pode manter uma casa por centenas de anos, sendo feita de tijolos de barro com ele na formulação.
Dona de casa indiana cozinhado com esterco de vacas.

Se levarmos em conta o custo benefício do gado logo se vê que ele nos dá mais vivo do que morto, além de que criar gado tão somente para a matança irá desequilibrar de tal modo o planeta que não teremos como viver de modo adequado. O gado criado em pastos é tão ou mais pernicioso como automóveis em grandes cidades, devido a liberação de gás metano que é produzido naturalmente. Além de que se tem que desmatar para fazer pasto, o que aumenta o aquecimento global. Aliado a isso, há o fato de que somente de pasto não se pode manter o gado, sendo necessário adicionar ração, a qual é feita de grãos e cereais que são adequados para os seres humanos. Hoje se diz que 1/3 da produção mundial de grãos tem servido para alimentar o gado que irá apenas ser comido por menos de 2% da população. Logo vemos que há uma ampla desvantagem na escassez, um problema de Economia de grande impacto ambiental na criação extensiva de gado para matança.


Quem segue o Sanātana-dharma é vegetariano?

Isso não é uma condição absolutamente necessária. Há centenas de pessoas, na realidade milhoes delas, que vivem da pesca, bem como de agricultura de subsistência. Na India a carne de vaca não é comida se for o caso de o animal ser morto para isso. Mas há os que comem carne de vaca se ela veio a morrer de morte natural, ou por acidente. Isso não está proibido. O que é defendido é ahimsa ou não agressão. No mundo material todos vivemos devido à exploração de um sobre os outros. Não há como alguém viver sem explorar um outro ser vivo. A matança para satisfação da lingua não é autorizada, mas comer carnes não torna ninguém superior ou inferior aos que não comem. Peixe, aves, e alguns outros animais são autorizados pelas Escrituras, mesmo o Śrīmad-bhāgavatam enumera os tipos de animais que podem ser abatidos para a manutenção da vida das pessoas. Tudo irá depender do lugar e das circunstâncias; não há como impedir um esquimó, por exemplo, de seguir o Sanātana-dharma, e impedir que ele coma carne e gordura será como condená-lo a morte. Em nenhum lugar das Escrituras está dito que não se deve comer carnes, apenas recomenda-se que siga uma dieta que seja o menos agressiva aos outros, tantos seres vivos como com a própria natureza em si.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.