AÇÃO EM PERFEITA RENÚNCIA
Swami Krsnapriyananda Saraswati
Gita Asrama
Setembro 2010
Sri Krsna e Sua amante eterna, Radha. |
Prezado Swami Krsnapriyananda Saraswati, minhas sinceras reverências. ...
Gostaria de saber dentro da perspectiva Hinduísta, uma possível resposta ou esclarecimento acerca de qual caminho a se tomar quando não se tem claro o seu destino ou objetivo, e a maneira de não se perder a Fé e o foco nesse caminho.
Grato
Gostaria de saber dentro da perspectiva Hinduísta, uma possível resposta ou esclarecimento acerca de qual caminho a se tomar quando não se tem claro o seu destino ou objetivo, e a maneira de não se perder a Fé e o foco nesse caminho.
Grato
O objetivo da vida, as razões de ser da existência, bem como o destino do que realmente somos, é belamente falado no Bhagavad-gita. O leitor deverá aprofundar-se nestes assuntos na leitura dep Gita. Aqui cabe-nos ssalientar que na condição de Pessoa Divina Suprema, o Sr. Krsna nos deu todas as instruções superiores, exemplificado em Arjuna, sobre origem, meio e fim do nascimento de alguém no mundo, e como alguém pode finalmente liberar-se do ciclo de nascimentos e mortes. Na condição de almas condicionadas num corpo material, nosso único objetivo como alma espirituais é o agir de tal maneira que nossas ações possam ser direcionadas ao Universal, ou ao Absoluto, libertando-nos do ciclo de nascimentos e mortes. A grande lição é que toda a ação deve ser encarada como uma oferenda para o Absoluto, porque então não irá gerar qualquer tipo de reação karmica, seja boa ou não. Uma vez realizado o viveka, separando o que é permanente daquilo que é temporário, como nascimento e morte, e agindo de tal forma tendo em vista alcançar tão somente o Supre, realiza-se a reta ação ou dharmayajña. No Udhava Gita o Senhor Krsna reforma ai nstrução do Bhagavad-gita: “Tudo o que fizeres, pensares, comeres, etc., faça como um oferenda a Mim!”, assim nos instrui Krsna. Todos nós no mundo material temos quatro obrigações notáveis, conforme o Sanatana Dharma: a reta ação em Artha, a reta ação em Kama, a reta ação no Dharma, e a reta ação em Moksa. Entenda-se como reta ação a justa ação, a saber: atue de tal forma que tua ação seja uma oferenda ao Absoluto! É o princípio categórico do Bhagavad-gita. Toda a ação que é abnegada, não almeja resultados dos seus frutos, sendo, portanto, considerada uma ação justa, porque a felicidade que alguém pretende alcançar não está na efetividade do resultado das ações, mas em alcançar a plenitude do Brahman. Quando alguém fala em “felicidade” no mundo material está falando em gratificação dos sentidos grosseiros. Sabemos perfeitamente que a condição primária de qualquer ser vivo é buscar alimento, proteção e acasalamento. E se vermos bem de perto, a forma de viver da maioria dos que estão no modo condicionado de vida, eles irão agir tal qual qualquer entidade viva em busca de gratificar-se em torno de algo para desfrutar, proteger o que tem, e assim por diante. Mas o Sr. Krsna diz no B.gita que Ele fornece o que o devoto precisa e pessoalmente mantém o que ele possui. Portanto, é desnecessário sofisticar a vida material de desfrutes insaciáveis, porque o verdadeiro desfrute está com a Pessoa Suprema. No mundo material é bem conhecido o fator escassez, em que as necessidades são ilimitadas e os recursos limitados. Essa é uma regra simples de Artha ou economia ensinada no Bhagavad-gita; e querer alterar o que é pertinente ao rasa (natureza e recursos) do mundo terá consequências graves. Por exemplo, a humanidade deverá encontrar alguma forma de equilibrar-se tendo em vista alcançar o ideal entre a demanda e a produção de bens. Nós, por hora, somente temos um planeta onde podemos viver. Continuar a poluí-lo, como se está fazendo, será de fato um suicídio coletivo, cuja origem está na busca gananciosa de coisas materiais, inatingíveis objetivamente para todos. Por isso, deve-se ficar atento ao fato de existirem “religiões” que estão prometendo a felicidade material, onde a realização de alguém está no ter, em detrimento do Ser. O choro e lamento será inevitável ao descobrirem que a felicidade está em livrar-se do gozo dos sentidos grosseiros, desenvolvendo um gosto superior, e não no acúmulo de bens materiais.
Kamadhenu, a Divina Mãe que tudo nos fornece. |
A perfeita ação
Qual é a ação que alguém deve realizar no mundo material? O karma de cada um está definido pela posição que se encontra neste exato momento. Ainda que jati ou nascimento não defina a totalidade karmica de uma pessoa, ele traz em si um conjunto de fatores que devem ser analisados. Alguém deverá seguir os passos necessários para graduar-se em alguma profissão. No mundo hoje é possível buscar o estudo em alguma área de atuação e então conseguir algum trabalho. Este é o caminho do karma-phala. Mas o caminho da perfeita renúncia é continuar atuando no mundo e renunciando aos frutos das ações. Contentar-se com o que tem é outro aspecto importante. Como o valor é algo que nós mesmos valoramos, deve-se pensar na importância das coisas ante agradar o Supremo. Para que serve ter isso ou aquilo se o objetivo é egoísta e pessoal? O devoto possui todas as coisas tão somente para agradar ao Supremo. Nele, tudo irá girar em todo da satisfação do Supremo, e não dele como pessoa. Sua única felicidade está em servir a Causa Suprema. O guru , Mestre Espiritual, e Sua missão são aspectos relevantes ao pretendente a vida em perfeita renúncia, em perfeita ação. Nos dias de hoje todos estão em busca de fama, prestígio e poder, e quando se aproximam de um guru e de Sua missão têm em vista a senso-gratificação, ainda que sofisticada. Pode ser que alguém pense em ter uma iniciação com um guru fidedigno, mas quando se aproxima dele já o faz de forma ofensiva, porque deseja colher algum fruto. As Escrituras dizem que não é possível a rendição sem o samiti ou entrega dos egoísmos de “eu” e “meu” ao mestre espiritual. Também, vemos isso entre grupos de seitas contemporâneas, que tão logo alguém tenha uma benção de receber uma iniciação de um guru, já sai aos quatro cantos difamando o guru e outras missões diferentes da sua. O seu egoísmo é notável diante de uma ação que deveria ser para divulgar o dharma, e não o adharma. “EU” e “MEU” são as pragas que atam alguém ao samsara. Livrar-se destes companheiros inseparáveis de maya é a meta do devoto verdadeiro.
A fé é o nosso suporte
A perfeita ação está calcada por sobre a determinação de que tudo deve ser feito tendo em vista agradar a ordem suprema ou o Sanatana Dharma. O Senhor Krsna nos garantiu que Ele toma conta pessoalmente de nós, basta que O tenhamos como princípio, meio e fim de todas as coisas. Ninguém pode negar que há um principio perfeito atuando em todas as coisas. Nossa capacidade de entender o Absoluto está limitada pela nossa condição relativa e condicionada no mundo material. O corpo e suas relações perturbam a mente do não devoto. A fé, ou perfeita determinação em seguir as orientações do guru ou mestre espiritual contém a chave da libertação do samsara. Swami Sivananda escreve que, “Os ensinamentos dados pelo Senhor Krsna para Uddhava, nas vésperas da Sua partida deste mundo, são maravilhosos. Ele deu instruções numa variedade de assuntos. Mas um toque notável é este: ‘Veja-Me em todas as coisas. Renda-se a Mim. Faça todas as suas ações tendo em vista a Mim. Corte todos os tipos de apegos. Tenha perfeita e inabalável devoção por Mim; cante Minhas glórias’. Mesmo Radha tinha momentos de identificação egoísta. Ela não conseguia entender, por exemplo, porque Krsna tinha perfeita afeição por Sua flauta. Ela perguntava, “Ó meu querido! Por que Você ama mais a flauta do que a mim? Que ações virtuosas ela fez para que pudesse permanecer próximo do contato com os Seus lábios? Bondosamente explique-me, meu Senhor, o segredo disto. Eu estou ansiosa para ouvir”. Então o Senhor Krsna respondeu, “Essa flauta é muito querida para Mim. Ela tem conseguido algumas maravilhosas virtudes. Ele tem esvaziado o egoísmo. O seu interior é totalmente oco, e Eu posso tocar qualquer tipo de canção, Rāga ou Raginī, para o Meu prazer e doce desejo. Se você se comportar da mesma maneira para Comigo, tal como esta flauta; se você remover completamente seu egoísmo, e render-se perfeitamente para Mim, então, Eu irei também amar você da mesma maneira que Eu amo esta flauta”.
O devoto verdadeiro deverá agir como se fosse uma flauta de Krsna, removendo totalmente as tolas ideias de “eu” e “meu”, os suportes do egoísmo e da falta de fé. O Senhor Krsna nos garante que aquele que se rende ao amor puro por Deus estará livre de todo o sofrimento. Tão logo alguém se esvazie de achar que é o causador de qualquer coisa, então Krsna toca doces melodias em seu coração, alcançando a plena felicidade.
Hari hara om tat Sat
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