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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Moha - um obstáculo no caminho

MOHA
Um Obstáculo no Caminho

Swami Krishnapriyananda Saraswati Maharaj


भज गोविन्दं भज गोविन्दं

गोविन्दं भज मूढमते।
संप्राप्ते सन्निहिते काले
नहि नहि रक्षति डुक्।र्ञ् करणे॥ १॥

bhajagovindam bhajagovidam
govindam bhajamūdḥamate
samprapte sanihite kale
nahi nahi raksati dukrñkarane
“Adore Govinda! Adore Govinda! Adore Govinda! Oh, tolo! Certamente, regras de Gramática não irão salvar você na hora da sua morte!”
Sri Adi Sankaracarya



No verso inicial do Moha-mudgaraḥ, conhecido como Bhaja-Govinda, Sri Adi Sankaracarya chama a atenção daqueles que viviam especulando acerca das Escrituras, em busca de erros gramaticais. Enquanto procuravam os tais erros se esqueciam do essencial; é como alguém dedicar-se ao secundário ou somente a forma de algo se esquecendo do seu real conteúdo.



O Nome “Govinda” significa “benquerente das vacas” (sendo bicorrespondente: as vacas querem bem a Krsna, e Sri Krsna quer bem as vacas). Govinda é um dos epítetos do Senhor Sri Krsna. O Nome Govinda foi recebido diretamente de Bhūmi Devi, devido ao passatempo em Vrndanava, em Mathura, na montanha de Govardhana, onde o Senhor Īndra, sentindo-se ofendido por não receber oferendas, conforme havia orientado Krsna, fez chover uma semana sem parar, e Krsna ergueu a montanha abrigando todos os habitantes da cidade.



Sri Krsna Govinda foi também quem trouxe de volta à luz, num campo de batalhas, as Sagradas instruções da ética prática sobre a vida e a morte, bem como sobre a reencarnação da alma, e quais os motivos que a levam a retornar, e sua razão de ser. No Mahabharata, especificamente na parte conhecida como Bhagavad-gita, parcela de conteúdo do sexto canto daquela maravilhosa e inigualável epopeia, nos versos nectários sobre a Verdadeira Realidade do Ser é ensinada. Também, a palavra “govinda”, em sânscrito, quer dizer “amável vaqueiro”, ou “muito querido com as vacas”. O Senhor Krsna desenvolveu a atividade de vaqueirinho na Sua infância. Sri Krsna é a Suprema Personalidade de Deus, que veio pessoalmente ao mundo para realizar o restabelecimento da paz, da ordem, e do verdadeiro Sanatana-dharma - ordem eterna – então corrompido pela tirania de governos materialistas, ateus e demoníacos, exploradores do povo, como Kamsa, além da perda do foco da vida, que é alcançar a liberação do samsara.



As Escrituras são bem claras com referência ao Supremo e os Seus Santos Nomes. No mundo há muitas religiões, crenças e cultos variados, os quais buscam alcançar a bem-aventurança. Contudo, o devoto ou buscador verdadeiro é aquele quem se coloca como servo do Senhor Supremo, e não O tem como mero “prestador de favores”. O Senhor é o Supremo, portanto, Ele está para ser servido e não para servir. Isso é importante, e é uma forma muito primitiva e original de avançar no caminho do progresso espiritual: que seja feita a Sua vontade! Alguém poderá encontrar-se diante de uma situação material muito peculiar e difícil, então poderá pensar que o Senhor irá lhe salvar de tal situação. Assim empreende grandes esforços pessoais para ter a tal “bênção”, mas tão logo alcance o que espera ou se livre do apuro que está passando, se esquecerá da benevolência que lhe foi brindada. As Escrituras dizem que a rainha Kunti Devi, a tia de Krsna e mãe de três dos Pandavas, costumava ir ao templo do Sol e pedir para que as pessoas sofressem. Certa feita Sri Krsna perguntou porque Ela estava pedindo isso? Foi então que Ela disse: “- Ó Krsna! Somente quando as pessoas sofrem elas se lembram de Ti; tão logo tenham alguma felicidade, prontamente se esquecem!”. Vejam que maravilha de devoção!



Mas o verdadeiro devoto jamais pede algo para o Senhor, a não ser servi-Lo de forma abnegada por todo o sempre. Bhaja é uma expressão do sânscrito que diz exatamente isso “adore”, “preste reverências”, “seja prestativo”, etc. Nos versos de Sankara é uma ordem muito simples e direta: Adore Krsna! Como a vida passa muito ligeira nesta era de hipocrisias, chamada de kali-yuga, o sério pretendente ao caminho da realização espiritual deverá saber desapegar-se do que é efêmero, temporário, passageiro, e procurar realizar o que é Eterno, Permanente, e Imortal, o bem-aventurado Senhor Supremo. Entre um dos motivos que impede a pessoa no modo de vida condicionada, ou seja, que pensa ser o corpo e suas relações está Moha, que nada mais é do que os apegos objetivos (referentes à vida material).



Aspectos de Maya
Uma pessoa pode progredir até um determinado ponto no caminho do Yoga. Mas quando ela se depara com Moha, ela fica estagnada. Moha é um dos aspectos de maya ou “ilusão”, onde há identificação objetiva na pessoa. Ela pensa que é o corpo e suas relações (pai, mãe, irmãos, filhos, tios, amigos, etc.). Devido ao Moha alguém se mantém praticamente de modo indefinido no ciclo de nascimentos e mortes. As frases chaves de moha são “eu” e “meu”. Moha é muito forte e potente, porque há uma forte ligação entre a pessoa e seu corpo. Em muitos, há somente a noção objetiva que são seus corpos e nada mais. Contudo, o corpo é tão somente um veiculo da consciência, e o que chamamos de consciência é exatamente o que as pessoas chamam de “alma”. O primeiro passo que desvela o devoto sério é quando ele realiza que todos somos almas espirituais tendo experiências materiais. Este corpo não possui uma alma, mas é alma que somos nós quem está num corpo. Moha é um importante aspecto de impedimento para alguém alcançar a liberação do ciclo de nasci-mentos e mortes.



Swami Sivananda escreve que moha atrapalhou até mesmo Sri Sankara, “Moha é o ‘amor’ acentuado pelo próprio corpo, pela mulher, pelas crianças, pelo pai, pela mãe, pelos irmãos e pela propriedade. Moha, como a cobiça, assume várias formas sutis. A mente se atém a determinado nome ou forma ou outra coisa. Se for separada de um nome ou forma, tenazmente se apego a outro nome ou forma”. Uma pessoa pode ter apego ou valorizar em demasia qualquer coisa material. Até mesmo as crenças pessoais de alguém, assim como algum acúmulo de conhecimento especulativo material, é uma forma de Moha também. Moha é um princípio muito primitivo, e está presente até mesmo entre os animais irracionais. Sivananda diz, “Observe o Moha dos macacos. Se o filhote de macaco morrer, a macaca mãe carregará o esqueleto do macaquinho morto por dois ou três meses. Esse é o poder de Moha”. O Senhor Krsna diz no canto 12 do Bhagavad-gita, que a pessoa para alcançar a benquerença de Krsna, deverá agir de tal forma a desapegar-se das coisas. Ele diz que Seu devoto querido está “Livre da inveja, sendo generoso e amigo para com todas as entidades vivas, também, é livre dos apegos e do egoísmo; perdoando a todos, sendo o mesmo no sofrimento e na felicidade; o yogi que está sempre satisfeito, e que age com determinação, se esforçando, e mantendo ocupada a sua mente, e a sua inteligência em Mim; este é Meu devoto muito querido”.



O apego às coisas do mundo são os obstáculos primitivos do desenvolvimento espiritual. Siva-nanda escreve que, “O mundo inteiro decorre através de Moha. É através de Moha que somos atados à roda do Samsara. Sofremos através de Moha. Moha cria apegos. Moha é um tipo de álcool poderoso que intoxica num piscar de olhos”. As relações objetivas de identificação com família, propriedade, raça, credo, religião, cor, etc., são obstáculos para o transcendentalista sincero. Não há como servir ao mundo e a Deus ao mesmo tempo, sem desenvolver uma cons-ciência Suprema. Ou servimos a Maya ou a Govinda.



O flagelo de “eu” e “meu”
Alguém se esforça toda uma vida em busca de alguma riqueza material. Então empenha-se pro-fundamente na busca de algo que lhe dê a falsa sensação de segurança e estabilidade. Agindo na busca do gozo irrestrito dos sentidos, a entidade viva tolamente crê ser a controladora de alguma coisa. Mas no final, não importando o tamanho do esforço de alguém, tudo será encerrado com a morte inevitável do corpo material. E mesmo que algo seja bastante resistente não poderá durar para sempre. O tempo é o senhor que a tudo devora. Moha dá a falsa sensação de que alguém está fazendo algo e controlando este algo. Moha dá a falsa ideia que alguém pode realizar o transcendente apenas pelo seu falso ego. Como diz Swami Sivananda, “Moha cria a ideia de ‘posse’. É por isso que você diz: ‘Minha mulher, meu filho, meu cavalo, meu lar’. Isso é uma ligação. Isso é a morte. Moha cria o apaixonar-se acentuado pelos objetos materiais. Moha produz o delírio e perverte o intelecto. Através da força de Moha você se engana, toma o corpo sujo irreal como verdadeiro. E puro Atma. Você aceita o mundo irreal como se ele fosse uma sólida realidade. Essas são as funções de Moha. Moha é uma forte arma de Maya”.



Como livrar-se de Moha
As Escrituras afirmam que a origem do sofrimento no mundo material é devida a ignorância do Ser ou Atma. A ignorância do Ser ou avidya é resultado do modo de vida condicionado da entidade viva. Iludida que é o corpo e suas relações, as falsas noções de “eu” e “meu”, a entidade enreda-se em repetidos nascimentos e mortes. Uma pessoa inteligente não deverá ocupar-se em recordações do tipo sentimental, que na verdade se trata de Moha, para com seus antepassados, por exemplo. Ma-temáticos têm demonstrado que desde o ano zero até o presente momento, para que o nosso corpo atual tenha existência, foram necessárias 260 combinações entre um homem e uma mulher. Isso quer dizer que todas as pessoas hoje existentes no mundo não são suficientes para alcançar o imenso número de ancestrais que este presente corpo já teve. Na verdade, atrás de nossa efêmera existência material há um mar de pessoas mortas, que a mente não consegue calcular. Portanto, nos é impossível reverenciar a todos os nossos “ancestrais” deste corpo, nem por muitos milhares de anos, porque haverá tantas novas pessoas que vieram e se foram que este número irá crescer de forma exponencial.



O Senhor Krsna diz no gita, 2.52: “yada te moha-kalilam buddhir vyatitarisyati tada gantasi nirvedam śrotav yasya śrutasya ca”, “Quando, com a inteligência, cruzares os apegos da capa escura (da ignorância), tu verás, e superarás, com indiferença, tudo o que até agora foi ouvido, e o que também ouvirás”. Isso quer dizer que o primeiro obstáculo, que o sério pretendente ao caminho do Yoga deverá superior, é Moha. E uma vez que a identificação objetiva seja superada o caminho rumo à liberação está clareado, do mesmo modo como alguém, para penetrar numa floresta escura e serrada, abre caminho com a força de vontade.



O Senhor Krsna diz no Gita, verso 9.34, “Mantenha a mente em Mim com determinação; fixa em Mim tua devoção, adora-Me, reverencies a Mim. Assim, completa e devotadamente unido a Mim com teu Ser, virás até a Mim”.



Que possamos todos servir sempre e sempre a Sri Govinda!

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