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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Canção de Bhagavam – Krsna

Canção de Bhagavam – Krsna

Swami Krsnapriyananda Saraswati

Vaisnava Brasil


Sri Adi Sankara Acharya, segurando o Bhagavad-gita


“Por que Sankara? Porque Ele é o grande pai do pensamento religioso na India, e especialmente na interpretação do Bhagavad-gita. Todos os comentaristas posteriores entraram em diálogo com Sri Sankara, de alguma maneira. Salvo terem dEle uma má impressão recente em pequenos círculos (no mais das vezes naqueles círculos que jamais O leram). Contrariamente a uma recente versão, ele fora um Vaisnava, não um Sivaista ou “mayavadi” (Sankara raramente usava a palavra “maya”, e todas as Suas palavras claramente iniciavam com evocação a Vishnu), e a influência mais notável de Sankara na forma de Bhakti foi que mais motivou o movimento de Sri Caitanya através de Sridhara Swami, Visnu Puri, Madhavendra Puri, e Isvara Puri (todos “puris” são Sannyasis Sankarites, e não Madhava Sannyasis como é dito por alguns não conhecedores da verdade). Analise o objetivo deste ensaio. Eventualmente serão adicionados comentários de Sankara, Sridhara, Madhusudana Saraswati, Visvanatha e Baladeva”.


Neal Deomonico – Gaudiya Vaisnava Sampradya

Conhecendo


Podem nos surpreender as afirmações acima, feitas por um renomado acadêmico da Gaudiya Vaisnava Sampradaya? Claro que não, vemos que é um filósofo, e um autêntico Vaisnava, e, portanto, não poderia deixar de reverenciar o maior de todos os Vaisnavas que o mundo já conheceu.

O Bhagavad-gita é talvez o texto indiano mais lido fora da India, e o grande número de exemplares e versões publicadas é possível que seja um grande indicativo de que o pensamento da Índia motiva os Ocidentais de alguma maneira. Apesar de o Bhagavad-gita conter ensinamentos pontuais, destinados a alguém que já conhece o Seu conteúdo, Ele é também uma forma de permitir que a cultura Ocidental se aproxime do ethos (pensamento, cultura, hábitos, costumes, moral e ética) do antigo continente védico.

No século XX muitos novos Bhagavad-gita surgiram, e de algum modo surpreendente, devido ao Seu conteúdo filosófico e as Suas palavras conterem um grande número de expressões e citações filosóficas importantes (mal compreendidas por quem não estuda ou se dedica a filosofia de forma devida), Ele parece dar apoio ao pensamento individual de alguém. Mas é equivoco. Muitos grupos e seitas religiosas utilizam-se do Gita para dar sustentação às suas ideologias religiosas e sectárias, porém o Gita está além delas, e n’Ele mesmo encontramos a forma de nos livrarmos das más interpretações. No verso conclusivo do texto, o Senhor Krsna diz, “... abandone todas as obrigações religiosas, e simplesmente renda-se a Mim, Eu irei proteger-te de todas as reações, não temas” (Bgita, 18.66). Arjuna, o fiel seguidor de Krsna, os dois protagonistas deste diálogo ou Upanisad, era um fiel seguidor das regras e regulaçoes antigas, e como tal, temia reações por não cumprir o que elas determinavam, conforme a tradição do Manu Smriti (Lei de Manu), mas o Senhor Krishna o desobrigou delas, mostrando que os Vedas eram apenas textos que tratavam da natureza material e sua tríplice influência nas coisas, sem aniquilar o que há de bom e sustentável para uma nova era que se iniciava – a kali-yuga, a era da hipocrisia, ignorância e falta de conhecimento amplo, geral e irrestrito.

A forma como o Bhagavad-gita foi dividida não é aleatória, ela é fruto de uma pesquisa acadêmica milenar, e vai além do misticismo ingênuo e especulativo de seitas e grupos religiosos que mais ou menos utilizam o Gita como uma plataforma de entrada para introdução de suas ideologias. Ele está em 18 capitulos, e cada um destes capítulos traz um aspecto filosófico importante. Mas podemos dizer que o Gita é um tratado de filosofia védica que traz a tona as questões Noéticas, Éticas e Eidéticas. Ou seja, fala sobre o pensamento objetivo diferenciando-o do subjetivo; trata de questões éticas (além da moral), e da forma de pensar pelas causas. É por isso que o Gita é considerado um tratado de filosofia e práxis védica. Se diz "védico" porque Ele contém um conjunto de informações que demonstram a influência de um período de pensamento na humanidade, mas que diante de uma necessidade de mudanças evoca alguém autorizado (Krishna) para fazer as devidas e necessárias mudanças.

O maior comentarista do Gita
Sem nenhuma dúvida, o maior dos filósofos indianos foi Sri Adi Sankara, o acharya que deu uma arrancada na libertação da Índia em seu modo original de pensar e agir. Até Seu aparecimento no mundo, que durou cerca de três décadas, a Índia estava dominada pelo pensamento niilista e ateísta propagado pelos budistas, e outros grupos religiosos diversos. Aqu eles por séculoshaviam colocado nas mentes das pessoas que o mundo é uma ilusão ou maya , e o tal Ser dos filósofos não passava de invencionice sem demonstração possível. O niilismo prático dos budistas influenciou a ação de governantes e reis na Índia, sendo talvez o mais conhecido o rei Asoka (ou Asocavardana: cerca de sec. III a.n.e), que sendo filho do imperador Mauria, Bindusara e Dharma, unificou a Índia utilizando-se da filosofia budista. Asoka tinha como avô Candragupta Mauria, um grande general que atuou no exército de Alexandre Magno (grego macedônio), e que se afastara conforme a tradição, tornando-se asceta Jainista, tendo deixado a sua espada, e esta fora tomada por Asoka, apesar da advertência de seu avô, tornando-se Asoka um guerreiro de natureza rude e impertinente. A história fala que Asoka era um caçador temível, tendo sido educado como um kshatriya (guerreiro), na tradição indiana. É bem conhecida a batalha de Kalinga, onde Asoka trucidou milhares de pessoas (cerca de 100 mil), tendo posteriormente convertido-se ao budismo.
O imperador budista Asoka
Sri Sankara surge no século VIII da nossa era, portanto, bem depois de Asoka, mas em pouco tempo retomou a força da filosofia indiana que se havia perdido, afastando definitivamente a influência dos budistas, tanto nos governos como no povo, de forma religiosa. Sankara foi o maior ontologista e epistemólogo que o território indiano já conheçera, e sem dúvida, talvez o mundo. Suas ideias ultrapassam a simplicidade de pensadores como Platão e Atistóteles, tendo um diálogo muito interessnte com a filosofia mayavada e niilista dos budistas, demonstrando que o pensamento deles não tem sustentação lógica, sendo apenas uma forma pessoal de entender as coisas sem as investigar a fundo.

O Gita de Sankara
O Bhagavad-gita comentado por Sankara não é um texto para os leigos. É uma versão de grande quantidade de termos e expressões filosóficas. No Gita de Sankara está bem evidente a Sua formação como Brahmana Tantra, de modo que é mais fácil entender o Gita apartir da compreensão do Tantra (infelizmente mal conhecido no Ocidente devido aos disparates que alguns tolos têm feito sobre o Tantra). Longe de ser uma especulação pansexual, a filosofia do Tantra contida no Gita é rica de averiguações filosóficas, por exemplo, vemos citações contidas no Siva Sutras de Vasugupta, bem como em outros renomados estudiosos da Ontologia védica, sendo perfeitamente coerente tanto no Tantra como no Vedanta. De fato,é muito recente o uso do Gita por seitas e grupos religiosos, que matizam os versos segundo a interpretação ingênua que fazem de termos como “maya”, “Atma”, “Brahman”, e assim por diante. Como é bem sabido de todos, quando alguém não sabe de algo e critica aquele algo, no mais das vezes, ele procura desmerecer o que não conhece dizendo que "não presta”. O egoísmo sectário deles fica bem evidente quando formam guetos e grupos que desprezam devotos de outras linhagens. É algo como a raposa e as uvas... quando supreendida no seu delito de furtar as uvas dissera: “as uvas estão verdes”. Sem ter o que dizer, então quem não conhece filosofia procura tecer termos pejorativos referindo-se aos filósofos e devotos de outras linhagens como “especuladores”, “mayavadas”, “cultuadores das sombras”, e assim por diante. Parvos!
O Bhagavad-gita em Devanagari (escrita dos Devas)

O gita de Sankara é uma luz no mundo da ingorância; Ele está além da mera simples apreensão. A forma como Sankara instila o amor ao Supremo nos Seus comentários contidos no Gita é muito significativa e profunda. Mesmo os mais renomados devotos Vaishnavas seguem o Seu grande Mestre Sankara, assim como Sri Krsna Caitanya Bharati, que além de iniciar-se e instruir-se pessoalmente com os seguidores legítimos de Sankara ingressou na ordem de Sannyasa através de também Sankarite Sri Kesava Bharati Maharaj, que na ocasião era o cabeça do math Bharati Sankarite. É por isso que o estudioso das Escrituras rejeita de forma contundente quaisquer acusações de que Sankara é “mayavada” e “niilista”, ou que Ele era “sivaista”, quando é senão o maior dos Vaisnavas filósofos que o mundo já conheceu.

Ler o gita de Sankara não é para qualquer um. O leitor deverá ter um orientador fidedigno, um Mestre Espiritual autêntico, que tenha sido devidamente iniciado na sagrada ordem ou Sampradaya de forma legitima. O Guru deverá conhecer a filosofia védica a fundo, e compreender que filosofia está longe de interpretações ideológicas. É surpreendente ver que os principais críticos de Sankara sequer seguem uma sampradaya legítima, e que jamais O estudaram ou leram-nO, de modo que seus comentários são tolos e sem valor acadêmico algum, além de claramente demonstrarem a falta de legitimidade perante as Sampradayas Vaisnavas legitimas, nas quais o seus dirigentes e membros vêm mantendo a tradição de guruparampara de forma leal e fidedigna. Pensamos que para alguém poder criticar a filosofia de outrem, deverá pelo menos, saber o que é Filosofia.

Que o Senhor Sankara, o mais elevado dos Vaisnavas, possa abençoar a todos com o discernimento da Verdade Suprema. Hari hara om tat Sat.

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