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segunda-feira, 26 de março de 2012

Símbolos no Sanatana Dharma

 
Símbolos no Sanatana Dharma

Swami Krsnapriyananda Saraswati
(prof. Olavo DeSimon)

SOCIEDADE INTERNACIONAL GITA DO BRASIL
SANATANA DHARMA BRASIL
GITA ASHRAMA
Porto Alegre, RS - Brasil
 2006-2012


O Sanatana Dharma (hinduísmo) emprega a arte de símbolos com agradáveis efeitos. Nenhuma religião está repleta de símbolos como esta antiga forma de manifestação religiosa, ainda viva e ativa no continente indiano, e com os praticantes fidedignos do Sanatana Dharma.

A base dos símbolos do Sanatana Dharma se encontra nos Dharmashastras (escrituras sobre justiça e religião). Na aparência externa, os símbolos utilizados pelos hindus podem parecer absurdos, mas na medida em que se descobrem seus significados profundos, percebe-se a sua imensa riqueza.
Vejamos alguns destes símbolos mais usuais, e o que eles, no mais das vezes, significam:
OM
 
 O OM é o símbolo sagrados dos hindus, de um modo muito semelhante como uma cruz representa o cristianismo, o OM é o símbolo do Sanatana Dharma. Ele é comporto de três fonemas sânscritos, a saber, aa, au, e ma, os quais combinados dão o som de OM. Este símbolo, sendo o mais importante do Hinduísmo, ele aparece em todas as orações e invocavoes, na grande maioria das Deidades. O OM é o símbolo do Brahman Supremo, origem, meio e fim de todas as coisas. Todos os templos hindus possuem um OM bem como os locais de peregrinação, e nas casas das famílias hindus.

O OM é o símbolo da sílaba sagrada que representa o Brahman ou Absoluto, a origem de toda a existência. Brahman, em Si mesmo, é incompreensível para  mente mundana, então o seu símbolo se torna uma grande ajuda para que possamos realizar o “incognoscível”. A silaba “om” aparece em muitas palavras de origem latina, que dão sentido para a Sua totalidade, como em omnisciente, omnipotente, omnipresente. Por conseguinte, compreendemos que o símbolo do OM é utilizado como divindade e autoridade suprema.

De modo semelhante a letra latina “m” e também a letra grega “omega”, a palavra “amem”, utilizada por judeus e cristãos, concluem com o significado amplo de OM.

Swastika
o segundo símbolo em importância para o Sanatana Dharma é, sem dúvida, a Swastika. Este símbolo, infelizmente, ficou conhecido como o símbolo dos nazistas, mas ele é um símbolo de grande significado religioso para os hindus. Swastika não se trata de uma silaba ou lera, mas um caráter pictórico, desenhado na forma de uma cruz quadrada com braços em ângulos retos, em sentido cruzado. Este símbolo é a representação de Mitra ou Surya Deva, e em muitas celebrações religiosas o Swastika simboliza a natureza eterna do Brahman, e o fato de apontar para todas as direções ele assim representa a omnisciência do Absoluto.

A expressão “swastika” crê-se originar da fusão de duas palavras encontradas no sânscrito, “su” (bom”, e “asati” (existir), as quais combinadas significam “que o bem prevaleça”. Os historiadores dizem que o Swastika deve representar a real estrutura e que nos tempos antigos, os fortes eram construídos nesta forma tendo em vista razões defensivas. Devido ao seu poder de proteção, ele tornou-se santificado.

A Cor açafrão
Se há uma cor que representa todos os aspectos do Hinduísmo esta é a cor açafrão, a cor de Agni ou o fogo, a qual simboliza o Ser Supremo. A cor açafrão, também auspiciosa para os Sikhs, budistas e jainistas, é tida como uma cor de significado religioso muito antes daquelas religiões terem iniciado.

A adoração ao fogo tem origem nos tempos védicos. Um dos hinos mais importantes no Sanatana Dharma o Rg Veda, glorifica o fogo, como o verso a seguir: "Agnimile purohitam yagnasya devam rtvijam, hotaram ratna dhatamam." Quando os sábios se movem de um Ashrama para outro, é costumeiro carregaram fogo com eles. A inconveniência de carregar alguma substância acesa, em longas distâncias, está simbolizada na cor das vestes dos Swamis. Bandeiras triangulares na cor açafrão são vistas no topo de templos Hindus e Sikhs, e esta cor é, também, a cor da renúncia, sendo carregada por monges. Enquanto os Sikhs consideram uma cor militar, budistas, bem como santos Hindus, vestem-se com a cor açafrão como uma marca da renúncia da vida material.
Símbolos nos rituais

Agnideva
Os rituais védicos como Yajña e Puja (adoração em forma de sacrifício e oferendas), conforme disse Sri Aurobindo, “são tentativas de preenchar os propositos da criação e elevar o status das pessoas para Deus”. O Puja é essencialmente um ritual sugestivo com símbolos, onde se oferece a nós mesmos e nossas atividades para Deus.

Cada um dos objetos associados ao Puja ou adoração é simbolicamente significativo. A estátua ou imagem da Deidade, a qual é chamada genericamente de “Vigraha”, tem o significado de algo que é devido aos planetas ou “grahas”. As flores que se oferecem para a Deidade simbolizam o florescer de algo bom em nós. Os frutos oferecidos, simbolizam nosso desapego, o auto-sacrificio, e a rendição, e o incenso que queima, simboliza o desejo coletivo de ter coisas auspiciosas em comum. A lâmpada de luz, feita de Ghee (manteiga clarificada), representa a luz em nós, nossa alma, que oferecemos para Deus ou o Absoluto. O vermelho do pó significa nossas emoções.

As Escrituras dizem que devemos colocar nosso sentidos para adorar a Deidade, então cheirar, tocar, ver, dançar, etc., são símbolos muito significativos de adoração, e durante o Puja nossa mente está inteiramente ocupada em feitos meritórios e espiritual, se afastando das coisas mundanas e grosseiras. Participar de um Puja, realizado por um sacerdote autorizado, e feito da maneria correta, é uma forma de alcançar a liberação.

O Lótus
A flor santa para os Hindus é a maravilhosa flor de lótus, sendo o símbolo da verdadeira alma individual. A flor representa o ser, o qual vive em águas turvas, e apesar disso floresce de modo impuluto. Na mitologia, o lótus é o símbolo da criação, uma vez que o Senhor Brahma, o criador do universo, surgiu de um lótus que brota do umbigo do Senhor Vishnu (o controlador Supremo).
O lótus é também um símbolo oficial da Índia; há uma posição ou Asana, praticada no Yoga, que tem o nome de Lótus. Aquele que se mantém firme como uma flor de lótus, florescendo sem poluir-se e sem se molhar com a água, é considerado um verdadeiro Yogi.

O Purnakumbha
Um pote ou cântaro da barro, chamado Purnakumbha (também chamado de Kalash), com a imagem do Swastika, cheio com água, tendo folhas frescas de manga e um coco no topo, é geralmente um ponto importante, senão a principal forma de Deidade num Puja, ou então fica de um lado ou diante Dela, antes de iniciar um Puja. Purnakumbha literalmente significa, purna= pleno; kumbha= pote; “jarro cheio”. O pote simboliza a mae Terra; a água a doadora da vida; as folhas, a vida e o coco, a consciência divina. O Purnakumbha é usado durante a maioria dos ritos religiosos, sendo que a deusa Laksmi segura um Kumbha, com o significado de abundância e prosperidade.

Frutos e flores

A água no Purnakumbha e o coco têm sido objetos de adoração deste os tempos védicos. O coco, que em Sânscrito é “sriphala”, ou “fruto do Senhor”, é também usado com o símbolo para Deus. A adoração de qualquer Deidade é feita também com cocos, oferecido junto com flores, incensos e outros objetos significativos. Outros objetos naturais que simbolizam a divindade são a folha de Betal, folhas de Tulasi, folhas da figueira Banyam, ou então folhas da árvore Bilva (ou vilva).

Naivedya ou Prasad
É nossa ignorância que oferecemos num Puja para que a Deidade a remova. O alimento, simbolicamente, refere-se a nossa consciência ignorante, a qual é o local de iluminação diante de Deus. O alimentos tendo sido provado por Deus, pois é oferecido antes de ser comido, torna-se Prasada, a qual nos torna também divinos. Quando distribuímos Prasada para os outros, nós distribuímos conhecimento para todos os seres.

As Deidades védicas simbolizam as forças da natureza, bem como o lado interior dos seres humanos. Sri Aurobindo, referindo-se ao significado das Deidades védicas, como deuses, deusas, e demônios que são mencionados nos Vedas, diz que eles representam vários poderes cósmicos, de um lado as virtudes, e de outros os vícios de alguém.

Por que adorar um ídolo?
A adoração ao ídolo e os rituais de Puja ou oferendas são o cerne do Sanatana Dharma, e possuem grande e simbólico significado. Todas as Deidades Hindus são em Si mesmas símbolos do Absoluto abstrato, e um ponto particular de aspectos do Brahman. A Trimurti Hindu é representada por Brahma, o criador; Vishnu, o protetor ou conservador, e Siva, o destruidor ou renovador.

Por que adorar diferentes Deidades?
Diferentes dos seguidores de qualquer outra religião, os Hindus sentem-se livres para adorar a sua deidade pessoal, escolher um ícone e oferecer orações para o Brahman incognoscível. Cada Deidade dentro do Sanatana Dharma controla uma energia particular. Estas energias presentes numa pessoa como uma forma selvagem, devem ser controladas e canalizadas de modo adequado, tendo em vista infundir uma consciência divina nele. Por isso, uma pessoa deve contar com a boa vontade de diferentes deuses, que lhe instigue a sua consciência, tendo em vista ajudar-lhe de acordo com sua pessoa. No caminho pessoal do progresso espiritual, precisam-se desenvolver vários atributos, os quais são exemplos nas Deidades, e desta forma se alcança o perfeição espiritual.

Simbolismo de Deuses e Deusas
Cada Deus ou Deusa Hindu possui muitas características como, vestimenta, veículos, armas, etc., que são em si mesmos símbolos do poder da Deidade (que na realidade são diferentes aspectos do Uno ou Brahman). Por exemplo, o Senhor Brahma tem os Vedas em Suas mãos, o qual tem o significado de que Ele é o comandante supremo sobre o conhecimento religioso e criativo; Vishnu carrega uma concha, a qual tem o significado dos cinco elementos e da eternidade; um disco ou Chakra, que simboliza a mente; uma maça, que simboliza o poder, e uma flor de lótus que simboliza o cosmos. O tridente ou Trishula do Senhor Siva representa as três Gunas (qualidades materiais), e a flauta do Senhor Krishna (Murali), significa a música celeste, e o exemplo de devoção servil.

Muitas Deidades podem ser reconhecidas pelos símbolos que estão associados com Ele. Siva, por exemplo, é simbolizado por um Linga, ou então por três linhas horizontais na testa, tendo um ponto vermelho entre elas. De modo semelhante, Sri Krishna é representado por um pavão, e Ele veste uma pena desta ave na sua cabeça, bem como pelo desenho que trás na testa.

Veículos dos Deuses
Cada uma das Deidades possui um veiculo, no qual viaja. Este veiculo é representado por um animal, os quais representam as várias forças que Ela comanda. A deusa Saraswati tem como veiculo o gracioso e lindo pavão, o que tem o significado de que ele é a controladora da busca e realização das artes. Vishnu senta-se sobre Garuda, o qual luta com a serpente primal, o que representa o desejo da consciência na humanidade. Siva monta o búfalo Nandi, o poder cego, bem como representa a energia sexual desenfreada numa pessoa, e as qualidades materiais ou Gunas apenas Siva pode nos ajudar a controlar. Sua consorte, Parvati, Dura ou Kali, monta um leão ou tigre, o que simboliza a falta de misericórdia, ira e orgulho; o controle sobre os vícios são bênçãos de Devi. O veículo de Sri Ganesha é um ratinho, que representa a timidez e o nervosismo que aparece diante de uma nova aventura; os sentimentos e obstáculos podem ser vencidos com as bênçãos de Ganesha.

Conclusão
Há uma imensa variedade de símbolos, bem como significados variáveis quanto a forma de adoração divina, segundo o Sanatana Dharma. De fato, uma vida irá ser pouco para podermos conhecer todos os significados e a imensa variedade de nomes e formas de Deus, segundo a expressao religiosa mais antiga do mundo, o Sanatana Dharma. Apesar desta imensa variedade de deuses e deusas o Hindu vê tão somente um único e mesmo Deus, que tem o nome genérico de Brahman. Não há “deuses”, mas tão somente um único e mesmo Absoluto, origem, meio e fim de tudo, que se manifesta em tudo e em todos. Para um Hindu, tudo é Deus, e Deus é tudo.

Hari Om Tat Sat