Aspectos da Mulher no
Sanatana Dharma
Sanatana Dharma
Swami
Krishnapriyananda Saraswati
prof. Olavo DeSimon
SOCIEDADE INTERNACIONAL GITA DO BRASIL
SOCIEDADE INTERNACIONAL GITA DO BRASIL
SANATANA DHARMA
BRASIL
GITA ASHRAMA
Porto Alegre,
RS - Brasil
1997-2012
"Estava conversando com um amigo
indiano, e ele me disse que as mulheres dentro do hinduísmo são sempre
atreladas ao pai ou ao marido como seus gurus. E que normalmente é só o homem
que recebe o cordão bramanico. As mulheres nunca podem ter o voto de Sannyasa
nem poderão realizar cerimônia de Diksha ou cerimônia do fogo. Ou seja, elas
podem ter um guru desde que seja o mesmo do pai ou do marido, mas nunca buscar
por si próprias um guru, ou sequer são aceitas na condição de shishya, mas que
podem seguir o guru nunca se declarar shishya. Queria saber se isso é verdade e
como eu como professora de yoga poderia então transmitir algo nessa condição,
pois sou solteira e não desejo me unir a nenhum homem para realizar isso". J.S.
Vejamos, então, as suas colocações:
"as mulheres dentro do hinduísmo são sempre atreladas ao pai ou ao
marido como seus gurus".
Está perfeitamente correta esta
afirmação; ela tem base no Manadharma Sastra, o qual afirma: Uma mulher não deverá ter um Guru
diferente do seu pai ou marido. Isso é devido à tradição, e para evitar conflitos
entre as interpretações de um Guru e outro Guru de uma outra linhagem. É
preferível que a mulher siga o mesmo Guru do seu marido (uma vez que renuncia a
família do seu pai ao se casar). Algumas tradições permitem Diksha para
mulheres quando solteiras. Neste caso, são consideradas Kumaris, e se vestem
como viúvas. Na Índia, há muitas tradições que acolhem as mulheres nestas
condições. Mas se por ventura elas se casarem, então, deverão renunciar ao Guru
e adotar o Guru do marido. Para evitar isso, não devem tomar Diksha sem ser com
o Guru do marido. Via de regra, os Gurus adotados fora do casamento são apenas
Guru Sikshas, e não Diksha, porque o Diksha é uma relação eterna.
No Sanatana Dharma, uma pessoa
deverá seguir o Varna e Ashrama. Isso é o que nos orienta o Código de Manu. Ser
Vaidika Dharmi significa seguir os Sastras, Sadhu e Guru. De outra forma não
será Sanatana Dharma.
A idade da pessoa, no caso também
da mulher, entra em consideração. A mulher tem o maravilhoso dom de gerar
filhos, por isso, não deve renunciar antes de entrar na menopausa. O desejo de
ter filhos é inerente a natureza humana, salvo a pessoa tenha o acumulo da
bênção de muitas vidas, então deverá seguir o devido curso da natureza. No seu
caso especifico o fato de ter nascido num lugar diferente de Bharata (Índia), e
não pertencer a nenhuma família de Brahmanas, está claro que não tem o Karma
necessário para renunciar antes de atingir a idade que não tenha mais como
engravidar.
"é só o homem que recebe o cordão brahmânico".
Apesar de algumas ordens
permitirem que a mulher receba a iniciação Brahmínica (o que é nada mais do que
a autorização para cantar as linhas do Gayatri do Guru), apesar da autorização
para as linhas do Guru Gayatri, e outras, o Brahma Gayatri não se autoriza às
mulheres, na maioria das linhagens fidedignas. Isso é o que nos orienta o
Código de Manu. Também, o Brahma-Gayatri trata-se de um Mantra para os homens
amaciarem seus corações (as mulheres, no mais das vezes, já são meigas por
nascimento. Aqui nos referimos à mulher Oriental, que é naturalmente feminina,
diferente da Ocidental, que é de comportamento masculino), mas em todo o caso,
elas não recebem o cordão Brahmínico, porque estão ligadas diretamente à
criação, e o cordão é uma referência à ligação da Mãe Divina.
"As mulheres nunca podem ter o voto de Sannyasa nem poderão
realizar cerimônia de Diksha ou cerimônia do fogo"
Sanyasini |
De fato, as mulheres não podem
realizar cerimônias de fogo complexas, como a dos Samskaras, mas devem e são
responsáveis pelo Agni Hotra diário, duas vezes por dia, feito nas suas casas,
porque a mulher é a responsável pela manutenção do fogo (por isso, "lareira",
fogo do lar). As mulheres são mais adequadas ara o Agni Hotra diário, e isso é
o que nos oriente o Manadharma Sastra. Seguimos Sadhu, Guru e Sastra.
Muitas ordens permitem o ingresso
da mulher na ordem de vida renunciada, desde que, de fato, a mulher seja
renunciada (por isso deverá esperar a menopausa). Apesar de isso, não é
possível de a mulher realizar cerimônia de Samskaras. Também, a mulher tem a
regra menstrual, que é considerada inadequada para a condição de purificação.
Por estar se purificando, "lavando a Yoni com sangue para agradar Durga ou
Devi", a mulher fica em vantagens sobre o homem, então não tem como sacrificar
para Vishnu ou Siva. As mulheres são regidas pelas Nityas ou fases lunares.
Todos sabem que a mulher muda de humor conforme as fases da lua. Isso faz com
que fique difícil a convivência com os homens num Ashrama, devendo, portanto,
viverem nos seus próprios Ashramas (locais específicos para mulheres). Apenas a
condição fisiológica é fator de separação no caso. Estes fatores também mantêm
a mulher fora do Homa depois de pararem de menstruar. Tudo conforme Sadhu, Guru
e Sastra.
De qualquer maneira, há tradições
que a mulher levou adiante o Diksa de uma Sampradaya. Isso é possível caso a
corrente tenha sido interrompida na ausência de homens. Uma vez que a mulher é
o depositário embrionário de toda a criação, é ela quem exerce esta função,
caso não haja homens para fazer o processo seguir adiante, ou então porque encabeçou um math ou templo (conforme o exemplo de Bharati Devi, discípula de Sri Sankara). Contudo, sempre as cerimônias de fogo serão conduzidas por brahmanas masculinos, conforme a tradição dos Sastras.
De fato, os homens vivem e levam
a tradição tão somente devido a graça feminina. Isso é transcendental, e está
além do falso liberalismo feminino existente no Ocidente, onde tão somente as mulheres
se dizem liberadas por fazerem aquilo que os homens querem que elas façam, para
a satisfação deles (nunca foi tão pesado para a mulher ocidental ter que arcar
com tantas atividades, apesar de uma longa e milenar adaptação genética da sua
condição de educadora e protetora do lar).
Diksha
A mulher pode e deve receber
Diksha; deverá pedir isso para o Guru Deva da Sampradaya ao qual seu marido ou
pai estão ligados. Caso não exista marido ou pai, então deverá pedir a permissão
para sua mãe, e ligar-se ao Guru da sua mãe. Se não existe mãe, pai ou marido
deve pedir para o tio, e assim sucessivamente. Deve entender que a tradição é
manter o vínculo com a família, e evitar as diferentes interpretações de cada
linhagem. No seu caso em particular, por não pertencer à linhagem védica, e
estar, provavelmente, vinculada a tradição judaico-cristã, é evidente que seu
vínculo é familiar com a religião dos seus pais, ainda que intelectualmente
diga-se independente. É normal na tradição ocidental que a mulher e os filhos
sigam a tradição religiosa do marido e do pai. São notáveis os conflitos e
desencontros entre o casal quando há diferentes posições religiosas dentro de
uma mesma família (Sampradaya e Varna). No Ocidente, naturalmente, os filhos
tendem a ser contrários aos princípios dos pais, pelo menos em boa parte das
suas vidas. Depois, aos poucos, os princípios se introjetam e passam a fazer
parte da vida comum. Sinceramente, os grandes problemas que enfrentamos na
sociedade ocidental estão vinculados a tola idéia de "liberdade",
permitindo que cada um possa “fazer o que bem entenda”, não tendo nenhum
respeito à tradição religiosa familiar.
Para mudar de ethos, ou seja,
modo de pensar religioso e cultural, alguém deverá renunciar totalmente os
vínculos com seu passado familiar-religioso. Para que isso ocorra, é necessária
a misericórdia do Guru, com rendição incondicional às suas orientações. De
outro modo, é melhor retornar aos princípios religiosos familiares e segui-los
conforme a tradição familiar.
O fato de ser evitada a Diksha
com um Guru de forma independente é devido à natural tendência das
transferências afetivas, e inconvenientes entre os relacionamentos. Por isso,
também, nunca uma mulher deverá ficar sozinha com um Brahmana que não seja o
seu próprio marido, nem qualquer outro homem que não seja seu irmão ou pai.
Mas, nem mesmo seu pai ou irmão deverão ficar numa mesma sala na intimidade.
Por conseguinte, Sannyasis não devem ficar dentro de uma sala, sozinhos, com
uma mulher, e tampouco num mesmo aposento íntimo.
Igualmente, as mulheres
Sannyasinis deverão tão somente ficar na presença de homens na devida distância
física, e sempre com a presença de uma serva particular, para evitar os
problemas naturais nestes casos, como por exemplo, contato físico e sexual. Um
grande fator, sem dúvida, muito importante para que sejam mantidas determinadas
distâncias entre os monges de sexo opostos devem-se tão somente pelo fato de as
mulheres no período fértil engravidarem, e isso é considerado geração
indesejada. Por isso, os casamentos são aconselhados e as pessoas devem
realizar o que o casamento permite, e e somente depois, então, deverão renunciar
à vida de gozo dos sentidos, conforme a tradição do Varna-Ashrama Uma vez que a
mente se entretém facilmente com aquilo que lhe é mais prazeroso, deverá o
devoto direcionar todas suas energias para o amor de Deus. Isso é Sadhu, Guru e
Sastra.
Tyaga
O Sr. Krsna no Bhagavad-gita diz
que “o conhecimento das Escrituras é melhor do que a mera prática ritualística;
também diz que a meditação é superior ao conhecimento das Escrituras, e que
Tyaga ou renúncia é superior à meditação”. Renúncia ou Tyaga é um processo,
porque passa pela destruição definitiva das idéias de “eu” e “meu”, em todos os
seus aspectos, tendo em vista alcançar o Yoga ou união com o Supremo,
experimentado no Samadhi. Enquanto alguém se idêntica com sexo, raça, gênero,
cor, religião, e diz o tempo todo: “eu”, “meu”, há, com toda a certeza, a identificação
material com o corpo e Maya, portanto, há uma falsa idéia da verdade, ou sequer
existe esta idéia.
Se a mulher possui o desejo de
renunciar ao mundo material, e tiver a permissão do seu amado Gurudeva, então,
com certeza, poderá unir-se a missão d´Ele e prestar serviço abnegado por toda
a sua vida. Deverá, então, renunciar definitivamente a sua vida material, e
passar tão somente a dedicar-se a servir ao Gurudeva e a sua missão, tendo-O
como a encarnação do Supremo, e tão somente vivendo para servi-lO.
Todo aquele que alcançou a
plataforma de servo de um Maha-bhagavata, “grande devoto do Supremo”, está
qualificado para ser um Sannyasi ou Sannyasin. Isso é Sadhu, Guru e Sastra.
Para alguém ser um Sisya deverá renunciar por definitivo a idéia de “eu” e
“meu”, nascida no Akamkara ou falsa noção de “eu”. Deverá tão somente dispor-se
a ouvir e prestar Seva (serviço abnegado). Deverá, também, ser humilde, mais do
que uma folha de palha na rua; deverá, também, controlar a língua e os
genitais, bem como colocar-se como servo e nunca o fazedor. Deverá, também, renunciar
aos frutos das ações, e compreender que tudo é misericórdia do Supremo. Isso é
Sadhu, Guru e Sastra.
Glórias do Gita
Para que alguém possa entender a
Suprema meta e realizar Moksa, deverá estudar, sob orientação do seu Guru, o
Bhagavad-gita. Deverá, por conseguinte, iniciar a estudar no décimo segundo
canto – Bhakti-yoga – e então meditar em cada uma das palavras que o Sr. Krsna
diz para nós, no Seu maravilhoso diálogo com Arjuna.
Leiam, releiam, voltem a ler,
voltem a reler. Outra vez leiam, meditem, voltem a ler; retornem a leitura,
tornem a reler, etc. Assim deverá ser, até que se compreenda a Suprema forma do
Senhor Krsna, e então se possa realizar a meta humana de amor puro por Deus.
Isso é Sadhu, Guru e Sastra.
Sampradaya ou tradição
Todas as manifestações religiosas,
de conhecidas religiões, possuem a sua tradição. É notável que não haja espaço
para “liberalismos”, e idiossincrasias em nenhuma delas. As razões repousam na
evidência da orientação disciplinar. Erroneamente, o Ocidente vê discriminação
entre homens e mulheres na tradição védica, porque estão apegados aos seus
corpos e à vida material. Há princípios profundamente meditados e realizados em
cada um dos aspectos do Sanatana Dharma.
Yoga
O que é chamado de “yoga” no
Ocidente longe está de ser considerado como tal no Sanatana Dharma. Chamam
“yoga” a um conjunto de exercícios ou posições físicas, que mais ou menos lembram
Asanas, e o que é apenas uma parte de uma tradição ou visão – Darshana – dentro
do Sanatana Dharma. O Oriente não conhece o que chamam de “yoga” no Ocidente.
“Professor de Yoga”, é uma expressão do Ocidente, e ela não tem reconhecimento
dentro do Sanatana Dharma, como autoridade. Somente o Guru é “professor”. Isso
é definitivo.
O Gita de Bhagavam é uma notável
demonstração do que é o Verdadeiro Yoga. Cada um dos Seus capítulos trata de
uma forma de união com o Supremo. Yoga significa junção, ligação, vinculação,
etc. A palavra “yoga” tem origem no Pahli, depois passa para o Brahmin, e
finalmente é colocado na escrita chamada de Sânscrito. Ela origina-se de “yus”,
que quer dizer “justo”, “acertado”, e que foi para o Latim como “Jus”, ou
“justiça”. Ajustar, juntar, acertar, etc., é o objetivo fundamental do Yoga.
Uma pessoa que se aproxima deste caminho deverá sabiamente renunciar as idéias
de “eu” e “meu”, e desenvolver amor pelo Supremo por meio de Viveka. Não há,
definitivamente, nenhum liberalismo dentro do Yoga. Há um processo de formalização
e respeito ao Guru que deve ser respeitado. O Oriente védico ri-se do que
chamam de “yoga” no Ocidente, e são céticos com relação à conduta moral dos
praticantes ocidentais. Isso é Sadhu, Guru e Sastra.
Não é possível alguém
ser iniciado se não renunciar aos vícios e a sua vida promiscua. Servir, amar e
meditar, tendo em vista realizar o Supremo, através do Seva ao Guru e a Sua
missão, é indispensável para o iniciante. Isso é Sadhu, Guru e Sastra.
Como não há espaços para
“liberalismos” dentro do Sanatana Dharma, e em nenhum dos Seus Darshanas ou
visões, todo o pretendente a ingressar n´Ele, deverá, portanto, renunciar as
idéias de “eu” e “meu”. O Ahamkara não tem vez no Sanatana Dharma. Quem pensa
diferente, então que ingresse numa religião que se afeiçoe. O Sr. Krishna nos
aconselha a abandonar todas as religiões, e simplesmente seguir a Ele e Suas
instruções (B.gita, 18.66). Ler, reler, voltar a ler, reler, depois ler novamente,
reler e reler, então uma dúvida sincera irá despertar. Uma vez que surja um
questionar sincero, então o pretendente ao ingresso no Sanatana Dharma, a
ciência transcendental do Yoga, deverá ser feita mediante o Seva, o inquirir
sincero, e a rendição incondicional ao Guru, conforme está dito no B.gita 4.34.
Não há outra maneira, se houver, então não será no Sanatana Dharma, mas então
será uma coisa falsa, como as milhares que se espalham no Ocidente, e que
falsamente usam o nome de “yoga”. São apenas “meios de vida”, não “modos de
viver”, conforme o Dharma.
É impossível alguém pretender
ingressar num sistema filosófico religioso sem aceitar os seus princípios.
Porque não há espaços para hipocrisia no Dharma. Ou seguimos os exemplos dos
Acharyas ou mudamos para coisas distintas. Do mesmo modo como o simples uso de
um uniforme de piloto não transforma ninguém em piloto, da mesma maneira, usar
nomes, e títulos pomposos não transforma ninguém em um Yogi. Isso é Sadhu, Guru
e Sastra.
Om Hari hara OM