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sexta-feira, 10 de junho de 2011

Agni Deva


Agni Deva

Swami Kṛṣṇaprīyānanda Saraswātī

GITA ASHRAMA
Porto Alegre, RS - Brasil
2006-2011

Agnideva por sobre seu veículo



Agni Deva

O fogo purificador dos Deuses



Eu sou Agni, o purificador dos deuses

Ninguém sobe aos céus sem meu auxilio

Uma vez que sou eu quem queima as impurezas

As quais barram os caminhos.



Eu sou o guardião do sagrado

Eu estou sentado na soleira do sagrado

E julgo aqueles que deixam este mundo

Eu sou o fogo divino do êxtase no entusiasmo do devoto

E a chama fatal do inferno no coração do pecador.



No sacrifício, eu guio a fumaça aromática até

O assento dos deuses.

Deixando-as como pistas, que os devotos as sigam,

Voltando as origens

Eu queimo os pecados da carne ou das

Plantas sobre o altar

Que os devotos liguem-se a isso

E que assim se purifiquem.



Eu sou a luz que purifica, e a qual queima os pecados

O sou que a tardinha se reflete sobre as águas,

O qual os sábios vêem sobre as ondas

A fogueira da noite pelo dia, do sacrifício do corpo

O luar o qual inspira a oração

O candelabro que inspira a meditação

A luz violeta que queima e consome

Os cadáveres



Eu sou o guardião dos céus, e os decoro com

As luzes de raios coloridos

Eu crio os relâmpagos que luzem em meio as tempestades

O ingresso da Verdade em meio a beleza

Como os rios mudam pelo seu fluir e marés depois de mim

Eu ilumino todos eles, e deixo dentro deles

O ardente desejo pela Verdade.





Agni Deva

A palavra “agni”, de origem sânscrita, significa o substantivo “fogo”. Ela inspirou o latim “ignis”, e aparece em outras línguas também. Segundo a hierarquia dos semideuses, Agni Deva é o mensageiro de todos os outros semideuses, por isso é que os sacrifícios de fogo são feitos, porque o fogo leva os pedidos pessoalmente para todos. Agni deva é chamado Navayovana, ou seja, é sempre jovem, porque sempre se renova a cada dia. Ele é conhecido como Sapta Jihva por ter sete línguas, porque as línguas de fogo queimam todas as impurezas. Agni Deva é adorado em três formas a saber: o fogo em si mesmo, a luz, e o Sol. O culto a Agnideva é anterior ao Veda escrito, e a sua adoração permanece inalterada ao longo dos milênios. Os sacerdotes que realizam os sacrifícios de fogo são chamados de Agnihotris. O sacrifício de fogo é feito num Aara ou altar de sacrifício, normalmente se trata de um buraco no solo.



Sri Agni Deva é normalmente representado na coloração vermelha do fogo, e algumas vezes está coberto com Ghi (manteiga clarificada). Seus olhos e cabelos são negros. Agni deva carrega sete armas, e sua montaria é um carneiro; às vezes aparece sobre uma carruagem puxada por cabras, e também por papagaios. Sete raios de luz emanam de seu corpo.



Agni Deva é irmão gêmeo de Indra, o semideus das águas do céu, por isso, ele é filho de Prithivi (o elemento terra), e Dyaus Pita (pai celeste). Mas às vezes ele é citado como sendo filho de Kashyapa e Aditi, quem manteve em segredo a Sua gravidez enquanto gerava Agni. O semideus do fogo possui dez mães ou irmãs, também chamadas de servas; uma representação aos dez dedos das mãos. Ele possui dois pais, os quais representam as duas varinhas que quando friccionadas geram o fogo (semeeiros de fogo). Ele tem como consorte Svaha (Ganga), tendo gerado Kartikeya (portanto, Ele é Siva em Si mesmo). Agni Deva é o guardião das direções, representando a região Sudeste. Agni é colocado na frente sempre que há necessidade de confronto em situações de perigo.



Agni Deva é adorado no Rig Veda, onde encontramos citações do tipo: “ Ou louvo Agni Deva, o sacerdote da casa, o ministrante divino do sacrifício, o invocador, o melhor concededor dos tesouros”.



Agni Deva é considerado o senhor que direciona as cerimônias e obrigações religiosas, tendo o poder de interferir no destino de cada pessoa. Ele é também considerado o “fogo digestivo” que consome tudo no estômago. As estrelas são resultados das fagulhas de suas chamas.



Também, está dito nos Vedas que Agni Devi surgiu da água ou das águas, é por isso que se diz que Agni Deva é Apam Napat, ou o semideus da água fresca, e sendo responsável pelos rios e lagos. De fato, a expressão “apam napat”, de origem Pahli, quer dizer “filho das águas”. Muitos se referem a Agni como o Deva do petróleo, por isso temos as palavras napalm e nafta.



Ritual de fogo

Agnihotra
Há todo um complexo ritual e simbologia do Agnihotra. O processo tem o nome de Agni-mathana, ou sacrifício de fogo (mathana= esfregar; atritar, nome alusivo ao ato de esfregar uma varinha em outra até pegar fogo). Este sistema é milenar e se perde nas noites dos tempos. Antes do processo de obter fogo como hoje conhecemos, o ato de acender o fogo de sacrifício era feito com duas varinhas de Arani, ou figueira sagrada da Índia (ficus religiosa). Este processo fazia surgir o fogo. O sacrifício de fogo segue fazendo parte do Sanatana Dharma, estando presente nos rituais de purificação ou Samskaras, como em nascimentos, casamentos, iniciação, e outros ritos alusivos ao processo védico. É dito que Agni é a principal testemunha ou Sakshi do casamento, sendo por isso o seu guardião. O círculo de sete pessoas ou os Mandalas feitos com sete linhas dizem respeito aos sete raios de Agni Deva.



O mais importante é o transcendente

O Bhagavad-gita contém a essência dos ensinamentos do Sanatana Dharma, também conhecido como “védicos”; o que é conhecido como “mito” no Ocidente, está muito distante da relação entre os Rishis, sábios videntes da Verdade Suprema, e os Lilas ou passatempos do Senhor. Falar em “mito”, no mais das vezes, implica num certo desprezo pelo pensamento transcendental, geralmente alógico, e puro, consagrado pelos sábios ou Sadhus. Então, o mito é visto como uma mera fantasia, ou algo não racional. Mas a visão védica é diferente. A natureza material – Prakriti - é composta dos cinco elementos, incluindo o fogo, água, ar, éter, e terra, e é controlada pelas três qualidades intrínsecas da matéria, a saber, Rajas, ação; Tamas, inação, e Sattva, equilíbrio entre ação e inação. Os três modos interagem com os cinco elementos e formam os Doshas, princípios ativos das constituição dos seres vivos.



O fogo, assim como a água e os outros elementos, são purificadores naturais. Por isso, há Gathas de água, fogo, ar, éter e terra, ou os “banhos purificatórios”, conforme as injunções védicas. A compreensão de “limpeza”, segundo a tradição Vaidika, está um pouco mais além do conceito ingênuo predominante no Ocidente, porque envolve, principal e fundamentalmente, a “limpeza interior”. Do mesmo modo como as pessoas no Ocidente, tolamente se acham limpas usando “papel higiênico”, quando , na realidade apenas “espalham e esfregam” a sujeira, o conceito de “purificação” é confundido. O Senhor em Si é o único purificador possível; as oferendas e os sacrifícios de fogo visam remover os Samskaras ou impressões. Estes rituais de purificação devem ser conduzidos por Brahmanas autorizados e devidamente preparados para isso. Não se trata de um simples “teatro”, ou “achismo”, conforme alguns acham ser possível no Ocidente, então pretendem realizar “rituais” baseando-se em fotos ou desenhos, sem ter feito o devido preparo conforme as injunções védicas, e a orientação de Sadhu, Guru e Shastra. Alguém autorizado irá seguir as orientações de um Guru, legitimamente ligado a um Guru Parampara e Sampradaya, conforme orienta Krishna no Bhagavad-gita, 4.34. Também, todo e qualquer aprendizado das Escrituras deverá estar baseado nas instruções do Guru de forma irrestrita, de outro modo, nenhum purificação será possível. Mesmo que alguém se submeta aos rituais de purificação, numa cerimônia conduzida por um Brahmana, ele não terá nenhum resultado, e será muito prejudicado, se não prestar serviço ou Guru e a Deidade que Ele representa.



Todo e qualquer estudo deverá seguir tão somente as orientações do Guru, conforme a Sua sensibilidade. Guru é Brahma, Visnhu e Siva, portanto, Ele é Brahman personificado. A rendição ao Guru é necessária para alcançar qualquer realização espiritual. Servir, Servir, Servir, é o primeiro passo para poder meditar, amar e realizar o Supremo. Sem Seva não há realização, não há realização, não há realização. Ser servir ao Guru e a Deidade não é possível qualquer progresso espiritual no Sanatana Dharma. Dasa Danudasa (servo do servo) é o sentimento que deverá brotar no Sadhaka que pretende avançar no caminho espiritual, de outro modo será um tipo de desfrute refinado que conduzirá o neófito ao fracasso inevitável do Samsara.



Swami Sivananda nos adverte sobre o Bhagavad-gita, com as seguintes palavras: “O Bhagavad-Gita é a nata dos Vedas. Ele é a essência dos Upanishads. Ele é a Escritura universal para todas as pessoas de todos os temperamentos e para todos os tempos. Ele é uma Escrituras maravilhosa com sublimes pensamentos e práticas instruções sobre Yoga, devoçã (Bhakti)o, Vedanta e atividades em geral. Ele é um livro sensacional, profundo em pensamentos e sublime numa elevada visão. Ele dá paz e consolo para quem está aflito pelos três fogos (Taapas), deste mundo mortal (Samsara), a saber: Adhyatmika (aflições causadas pelo próprio corpo), Adhibhautila (aflições causadas por outros seres ao nosso redor, e Adhidaivika (aflições ocasionadas pela natureza).



Agnideva

 O “fogo” que ilude alguém no mundo material somente poderá ser conduzido corretamente pela compreensão seguinte, conforme Sri Krishna declara no Bhagavad-gita, 9.16



aham kratur aham yajñah

svadhaham aham ausadham

mantro ´ham aham evajyam

aham agnir aham hutam 9.16



"Eu sou o ritual e os sacrifícios; Eu sou a oblação; Eu sou a erva curativa; Eu sou a vibração dos sons dos mantras; Eu sou, certamente, a manteiga derretida (ghi) dos sacrifícios; Eu sou o fogo e a oferenda".



Quem compreende que o Senhor Krishna, Cria, Conserva e Destrói continuamente, compreende o que diz o verso seguinte:



rudranam sankaras casmi

vitteso yaksa raksasam

vasunam pavakas casmi

meruh sikharinam aham 10.23



"Dos Rudras Eu Sou o Senhor Siva; dos Yakshas, Eu Sou o Senhor dos tesouros celestes ou Kuvera; também, dos Vasus, Eu Sou o fogo; e de todas as montanhas, Eu Sou o monte Meru".



purudhasam ca mukhyam mam

viddhi partha brihaspatim

sananinam aham skandah

sarasan asmi sagarah 10.24



"Dos sacerdotes Eu Sou o Principal Brihaspati; compreenda, ó Partha, dos comandantes Eu Sou Skanda - Kartikaya - e dos reservatórios Eu Sou o Oceano"



Portanto, quem compreende que o Uno, Brahman é a origem, meio e fim de tudo, compreende que há somente Deus e Deus somente, e que tudo o mais é mera fantasia da mente, curiosa pela diversidade.



Que possamos ver Deus em tudo e em todos.



Hari Om Tat Sat