Swami Krishnapriyananda Saraswati
Gita Ashrama
2010
asas de fogo |
Anjos
A palavra “anjo” (no Latim, angelu, e no Grego, ággelo: mensageiro), tem a sua origem primitiva no Brahmi, indo ao Sânscrito: “angiras”, AiNGarSa( - pronuncia-se “ânguiras”; Seu étimo original aos sábios ou Rishis védicos, tais como Atharvan o Angira. Na forma singular se diz “angira”. No Sânscrito “angiras” possui a raiz verbal em “ang”, verbo “ir”, tendo o sentido de “mover-se tortuosamente”, assim como o fogo. “Angiras” era quem literalmente levava o fogo para as aldeias e povoados, e também a «mensagem divina» dos textos védicos (antigamente tinha-se luz apenas pelo fogo). Por isso, “anjo” está associado a “mensageiro”. Os antigos Swamis, ou aqueles que são pertencentes à classe ou Ashrama dos renunciados (Sannyasas), freqüentemente, são referidos como Angiras, também conhecidos como “aqueles quem trazem o fogo”. Eles costumavam levar o fogo às aldeias e povoados carregando-o em recipientes especiais, não raro sobre as costas, o que às vezes lhes dava uma aparência de “asas etéreas”, posteriormente representadas no imaginário como asas de pássaros, devido provavelmente a associação com Garuda, o pássaro transportador de Vishnu, uma forma de Deus ou Brahman qualificado; Deus na forma de conservador.
Angiras
A denominação “angirasas” aparece muitas vezes como sendo uma denominação genérica dos textos Purânicos, também se referindo às coisas luminosas. Cita-se como Angiras os Pitris ou seja, os ancestrais do homem, sendo estes, provavelmente, descendentes do Sábio Angiras. Angiras é considerado o Prajapati, ou seja, o progenitor de cujos filhos e filhas a humanidade é descendente. Também nas Escrituras védicas há menção de dois grupos de Angiras, os primeiros são incorpóreos, chamados de Agnishvattas, e os corporificados, chamados de Angirasas, ou seja, descendentes de Angiras. Na Teologia védica, os AngirasManasaputras, tendo sido oriundos dos Agnishvattas ou AngirasKumaras (os filhos primordiais do Senhor Brahma, que não quiseram gerar progênie diretamente). Angira, por conseguinte, é considerado o filho de Agni, o Senhor do fogo, apesar de este aparecer em outros textos mais antigos como sendo descendente de Angiras. Angira é, também, o nome dado a estrela celeste Ursa Maior. No mais das vezes, “angiras” se refere ao que é luminoso e celeste. Portanto, o que é luminoso e do céu; portador da luz e da sabedoria.
Vedas
No Rig Veda, o Veda primordial, Agni Deva (o Senhor do Fogo), é algumas vezes referido como Angiras ou descendente de Angiras (Rig-Veda 1.1). Vemos no Rig Veda, por exemplo, o passatempo do Senhor Indra – o Senhor da Águas e dos céus – tendo liberado certa feita as cavas que haviam sido aprisionadas por um demônio chamado Vala, junto com vários outros que estavam sob o comando daquele, chamados Panis, presenteando-as para ao Angirasas (ver RV. 3.31, 10.108 e, também, 8.14). Atribui-se o 6º Mandala do Rig-veda para a família dos Angirasas. Outro aspecto interessante, devido a sua peculiaridade, é o fato de alguns dizerem que o Senhor Gautama, chamado o Buddha, era descendente do sábio Angirasa, conforme aparece em muitos textos de origem budista, mas estudiosos como o Dr. Eitel, diz tratar-se do Rishi Gautama, o propositor do Nyaya ou da lógica védica, e não o Buddha budista, o que nos parece ser mais adequado. Contudo, tanto um como outro (Gautama) eram Kshatriyas, e que sabemos ser o Varna originado pelos Angirasas, e ambos não tendo gerado filhos. Na antiga tradição, os sacerdotes eram no mais das vezes guerreiros também, o que pode gerar as confusões nas interpretações nos textos atuais.
Atharvan
Devemos fazer algumas considerações especiais ao Rishi Atharvan. A ele, especialmente, é atribuído o fato te ter sido ditado o Veda conhecido como “Atharva-Veda”, por isso a Escritura leva o Seu nome. Mas Atharvan é, também, mencionado nos outros três Vedas como no Rig, Yajur e Sama Vedas, por conseguinte, Atharvan é respeitado como sendo Maha-Angira (o maior dos Angiras), e é referido como sendo um dos sete sábios ou Saptarishis do primeiro Manvantara (era de Manu, o progenitor da humanidade), junto com Marichi, Atri, Pulaha, Kratu, Pulastya e Vashishtha. A esposa de Atharvan é chamada de Surupa, que teve os filhos Utatya, Samvartana e Brihaspati. Atharvan é um Manasuputra, filho nascido do Senhor Brahma, o pai da humanidade. Há relatos que Atharvan tivesse outra esposa conhecida como Smrithy, a filha de Daksha. O leitor poderá encontrar a denominação em muitos textos, que falam de Angira, como Atharvan e vice e versa.
Do étimo ao substantivo
O fogo era "aprisionado" em gaiolas, |
Na maior parte dos textos religiosos antigos (mesmo os de tradição “Ocidental”, como do Judaísmo, Cristianismo e Islamismo), encontramos a palavra “anjo”, e com certeza se está referindo aos sábios ou a um representante pertencente a classe dos sábios (mensageiros de Deus), bem como aos que levavam o fogo (muitas vezes em lamparinas). Vemos como exemplo os monges Essênios[1] (Sir. asaya= médicos; therapeutés no grego), que seguindo a tradição de levar o fogo sagrado, no mais das vezes, vestiam-se de branco, tendo em vista deixar bem claro a posição que ocupavam (de pureza ou purificadores). Especialmente diferenciados dos demais “judeus” - os terapeutas - seguindo muito de perto a tradição védica, os Essênios aboliam a propriedade privada; eram vegetarianos; não contraiam casamento; tomavam banho antes das refeições, sendo que a comida seguia uma rígida regra de purificação, e eram totalmente contrários ao escravagismo. Estas características eram enumeradas como “santas”.
Ação prática
Como faziam todos os Angiras, eles se encarregavam de levar o fogo para as aldeias e povoados, uma vez que não havia uma maneira tão simples como hoje temos para conseguir o elemento ígneo. Itinerantes, os “anjos” levavam literalmente a luz para todos. No devido tempo, essa luz passou a tão somente a referir-se à luz do conhecimento divino; porta-vozes do Senhor Supremo. Unindo a missão de levar o fogo para aquecer e cozer com a de instruir e orientar pelas Escrituras (no mais das vezes guardada na tradição oral), os Sannyasis iam de aldeia em aldeia esmolando em troca de instruções.
om hari hara om tat sat
[1] Segundo Flávio Josefo, o historiador judeu oficial, os judeus dividiram-se em três grupos principais: Saduceus, Fariseus e Essênios, sendo que estes eram separatistas e ascetas, que viviam no deserto.
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