Barbarik, o mais
poderoso guerreiro conhecido
Histórias do
Mahabharata
tradução e adaptação de
Swami Krsnapriyananda
Saraswati – Olavo DeSimon
Gita Ashrama – outono
de 2017
Barbarika doa sua cabeça para Krishna fonte: Wikipedia |
Exórdio
“Está escrito”.
Nenhuma sentença
é tão verdadeira como essa: “Está escrito!”. Na Filosofia da Linguagem, há uma
ocupação com o sentido de uma expressão, mas na visão étimo-filológica, há uma
ocupação com o sentido e origem de uma palavra, a qual nos revela o quanto uma
palavra é importante. Algo diferente do que conhecemos como “etimologia”. Alguém
pode achar que essa colocação é poética, mas o leitor saberá perfeitamente
compreender que uma palavra pode causar mais danos que um soco. Por que será?
Ora, se há uma perfeita definição de ser humano essa é, sem dúvida, a sua
capacidade de fala, e a capacidade de expor a consciência através dela. Fala é “exteligência”,
ou seja, ao contrário da “inteligência”, que significa “colocar para dentro”; a
fala é o ato “exteligente” de manifestar o pensamento e a consciência de
alguém. A escrita por fim, o seu corolário humano.
Seguindo com os
textos épicos indianos, o texto a seguir nos apresenta a verdadeira origem étimo-filológica
da palavra “bárbaro”, e suas palavras derivadas. Não causa espanto naquele
filólogo e linguista que estuda as raízes das línguas “hindu-europeias”, mas
nos deslumbra a importância da limitação ideológica, que no mais das vezes, tenta
levar as palavras para os conceitos limitados de uma visão comprometida com juízos
de valor egoicista. Felizmente, o estudo e despojamento ideológico de uma
investigação limpa, e despojada de segunda intenções, nos mostra que temos
muito, mas muito mesmo, para aprendermos com as antigas culturas que deram
início à nossa. Mitos, crenças, palavras, hábitos e costumes que possuímos e
temos, provavelmente, têm uma origem num passado distante que sequer sabemos de
onde vêm. Mas as palavras nos dão as pistas.
Ahilawati abençoa as armas recebidas de Shiva |
Barbarik
Barbarik era neto
de Bhima, e filho de Ghatotkacha. Tendo aprendido a arte da guerra com sua mãe,
Ahilawati ou Maurvi (lê-se mauruí) uma poderosa rakshasa. Desta forma, Barbarik
tornou-se um dos guerreiros mais corajosos de seu tempo. Contente com seus
talentos e austeridades, o Senhor Shiva concedeu-lhe três flechas especiais, e
um arco especial de Agni, o deus do fogo.
Diz-se que
Barbarik era tão poderoso que a guerra do Mahabharata poderia terminar
em 1 minuto, se só ele fosse lutar contra ela.
A história
é assim:
No início da
grande guerra (Mahabharata), o Senhor Krishna perguntou a todos quanto tempo
levaria para terminar a batalha, se eles lutassem sozinhos contra o inimigo.
Bhisma disse
que levaria 20 dias; Dronacharya disse 25 dias; Karna pediu 24 dias e Arjuna
afirmou que levaria 28 dias para terminar a batalha.
Ansioso por
assistir à guerra, Barbarik perguntou a sua mãe se ele poderia ir ao campo de
batalha. Sua mãe concordou, mas perguntou a ele de que lado ele escolheria, se
ele lutasse na batalha. Barbarik prometeu a sua mãe que ele iria se juntar ao
lado que era mais fraco. Dizendo isto, ele viajou para visitar o campo de
batalha.
Ouvindo o
interesse de Barbarik pela guerra, Krishna decidiu testar sua força, e apareceu
diante dele disfarçado de brâmane. Krishna lhe fez a mesma pergunta: se
Barbarik lutasse sozinho na batalha contra o inimigo, quantos dias levaria para
terminar a guerra.
A resposta de
Barbarik foi, de 1 minuto!
Shiva medita, enquanto Krsna o saúda. |
Surpreendido
com a resposta, especialmente quando Barbarik tinha apenas três flechas e um
arco na mão, Krishna questionou sua resposta. Barbaric explicou o poder de suas
armas:
· A
primeira seta indicaria todos os objetos que Barbarik queria destruir.
· A
segunda seta indicaria todos os objetos que Barbarik queria salvar.
· A
terceira seta irá destruir todos os objetos marcados pela primeira seta OU
destruir todos os objetos não marcados pela segunda seta.
E no final
disto, todas as setas retornariam a aljava. Krishna, ansioso para testar isso,
pediu a Barbarik que amarrasse todas as folhas da árvore em que estava. Quando
Barbarik começou a meditar para realizar a tarefa, Krishna tirou uma folha da
árvore e colocou-a debaixo do pé, sem o conhecimento de Barbarik. Quando
Barbarik soltou a primeira flecha, a flecha marcou todas as folhas da árvore, e
começou a girar em torno dos pés do Senhor Krishna.
Krishna perguntou
a Barbarik por que a flecha estava fazendo isso? E Barbarik respondeu-lhe que
deveria ter uma folha sob seus pés, e pediu que Krishna levantasse sua perna. Assim
que Krishna ergueu a perna, a flecha também marcou a folha restante.
Este incidente
preocupou o Senhor Krishna sobre o poder fenomenal de Barbarik com as flechas,
sendo verdadeiramente infalíveis. Krishna também percebeu que no campo de
batalha real, uma vez que queria isolar alguém (por exemplo, os 5 Pandavas) do
ataque de Barbarik, então percebeu que não seria capaz de fazê-lo, já que mesmo
sem o conhecimento de Barbarik, a seta iria adiante e destruiria o alvo, se
Barbarik assim o pretendesse.
Krishna
perguntou a Barbarik, de que lado ele estava planejando lutar na guerra? Barbarik
respondeu que, uma vez que o Exército Kaurava era maior do que o Exército dos Pandavas, e por causa desta condição, ele
havia concordado com sua mãe que lutaria por estes. Mas o senhor Krishna explicou
o paradoxo da condição, uma vez que tinha concordado com sua mãe, uma vez que ele
era o maior guerreiro no campo de batalha, assim, o lado que se juntaria faria
o outro lado mais fraco. Então, eventualmente, ele iria acabar oscilando entre
os dois lados e destruir todos, exceto ele mesmo.
Assim, Krishna
informou Barbarik a real consequência da palavra que ele tinha dado a sua mãe. Krishna
(ainda disfarçado como um brâmane) pediu a cabeça de Barbarik em caridade, para
evitar seu envolvimento na guerra. Depois disso, Krishna explicou que era
necessário sacrificar a cabeça do maior Kshatriya, para adorar o campo de
batalha, e que ele considerava Barbarik como o maior Kshatriya daquele tempo.
Antes de dar a
cabeça, Barbarik expressou seu desejo de ver a batalha de perto, a que Krishna
concordou, colocando a cabeça de Barbarik sobre a montanha que dominava o campo
de batalha. No final da guerra, os Pandavas discutiam entre si qual era a maior
contribuição para sua vitória. Krishna sugeriu que a cabeça de Barbarik deveria
ser autorizada a julgar isso, uma vez que assistira à guerra inteira.
A cabeça de
Barbarik disse-lhes de que somente Krishna era o responsável pela vitória na
guerra; foram os conselhos de Krishna, sua estratégia e sua presença, elementos cruciais na vitória dos Pandavas.
Fontes: Quora
Wikipedia: Barbarika
https://en.wikipedia.org/wiki/Barbarika