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terça-feira, 12 de abril de 2011

Hajar Aswad - o Linga de Mecca

Swami Krsnapriyananda Saraswati
(Olavo DeSimon)
IGS Brasil
2011

Hajar Aswad, vista de frente



Hajar Aswad
Uma das mais antigas tradições religiosas do mundo é, sem dúvida, a veneração ao Siva Linga. Presente na história da humanidade, de tempos imemoriais, no mais das vezes,  o ícone tem o formato de uma pedra cilíndrica, descansando por sobre uma bacia. Lingam tem o significado de ‘marca’, ‘sinal’, e associa-se a Siva, o poder transformador do Absoluto. Este símbolo é adorado em centenas, senão milhares, de templos em toda a Índia, e ao redor de todo o mundo. O Linga é também considerado o símbolo da energia masculina ou o Phalus. No mais das vezes, Siva Linga é representado junto com a Yoni, o símbolo da fertilidade, também chamada de Shakti ou energia criativa feminina. A união de Linga-Yoni representa a indivisibilidade masculina-feminina; o ativo e passivo espaço de tempo de onde a vida se origina. Também é atribuído ao Siva Linga a representação da natureza infinita de Siva, sem começo e sem fim. Siva não se trata de uma pessoa propriamente dita, sendo que está presente na mitologia religiosa de inumeráveis povos antes dos tempos conhecidos como históricos. Sumérios, babilônios, egípcios, hititas, hunas, etc. etc. não necessariamente nesta ordem, adoravam Siva (Sheeva), sendo inclusive um dos meses do calendário hebreu ou judaico dos dias atuais (Sivan, maio-junho). Ao culto ao Linga está presente entre os povos primitivos da América do Sul e do Norte, sendo encontrado ao redor de todo o mundo pré-histórico.

Praça São Pedro, vista aérea.
Nós podemos ver claramente a presença do Siva Linga na Praça São Pedro, no Vaticano, onde fica a cede central da Igreja Católica. O formato da praça na forma de Yoni, tendo no seu centro um Linga na forma de menir, é significativo. Não é necessária imaginação extra para perceber claramente a influência do primitivo culto.

No mundo Islâmico
Kaaba, e onde se encontra Hajar 
Não nos é de estranhar que este símbolo da tradição religiosa universal tão antigo seja objeto de adoração e veneração na Índia. Mas o que dizer deste mesmo símbolo ser adorado pelos Muçulmanos? Mas é o que de fato acontece dentro da Kaaba, local de peregrinação considerado obrigatório, pelo menos uma vez na vida do crente islâmico.

Num dos cantos do santuário, uma pedra preta, chamada al-Hajaru-I-Aswad em arábico, medindo cerca de 20 cm de algura, por 16 de largura, está uma relíquia muçulmana, e que, conforme a tradição islâmica, data dos tempos de Adão e Eva, os primeiros seres criados por Deus. Estudos arqueológicos apontam que a pedra considerada sagrada pelos muçulmanos assinala Kaaba como um local de adoração durante os tempos pré-islâmicos, também chamado de período ‘pagão’. No canto leste, no exterior da Kaaba, a antiga pedra é objeto de veneração pelos muçulmanos. A Kaaba está localizada no centro de uma enorme Mesquita em Mecca. Esta pedra preta é adornada por uma capa de prata, no formato de uma Yoni, sendo que hoje, o então megalito único, originalmente na forma de um cilindro, resulta em sete ou oito fragmentos que estão cimentados dentro da cobertura de prata.

Um visitante suíço, Johann Burckhardt, no ano de 1814, descreve a Harjad Aswad da seguinte maneira: “...é irregular e oval, tendo cerca de sete polegadas de diâmetro, com uma superfície ondulada, composta por cerca de uma dúzia de pedras pequenas, de diferentes tamanhos e formatos, bem unidas por uma pequena quantidade de cimento, e perfeitamente alisado; aparentemente o megalito fora quebrado em tantas peças por um golpe violento, estão agora unidos novamente. É muito difícil determinar acuradamente a qualidade destas pedras, as quais foram usadas pelos toques e beijos de milhões de pessoas. A mim parece ser como uma lava vulcânica, contendo muitas pequenas partículas estranhas substâncias esbranquiçadas e amareladas. Sua cor é agora um profundo marrom avermelhado, aproximando-se do preto. É rodeada por todos os lados por uma borda composta de uma substância a qual eu aproximo do cimento ou piche, e pedras semelhantes, mas não totalmente o mesmo, de tom acastanhado. Esta borda serve de suporte das peças em separado; possuindo de duas a três polegadas de largura, e eleva-se um pouco acima da superfície da pedra. Tanto a borda como a pedra em si mesma estão circuladas por uma banda de prata, mais ampla em baixo do que em cima, e ampla dos dois lados, com uma ampla expansão inferior, como se uma parte da pedra estivesse escondida nela. A parte inferior da borda é ornada com pregos de prata”. (in Thomas Patrick Hughes, A Dictionary of Islam, p. 154. W. H. Allen & Co, 1885.) 

Aspectos geológicos
A natureza do pedra preta de Mecca é bastante debatida. Há sido descrita como uma variedade de basalto, uma peça natural de barro, e mais popularmente como uma pedra meteorito. Esta crença é atribuída a Paul Partsch, o curador da coleção imperial Austro-húngara, onde publicou em 1857 sobre a origem espacial da pedra. Há outras considerações a respeito da natureza geológica da pedra, como o fato de ela ser considerada um tipo de ágata, ou que uma peça de barro tenha sido atingida por um impacto de um meteoro, resultando no que está em Kaaba, etc.

Veneração
Atribui-se ao profeta Maomé a instalação da Hajar no muro de Kaaba. Durante o ritual de Hajj, peregrinação anual a Mecca feita pelos muçulmanos, a Kaaba é circuambulada sete vezes pelo peregrino, conforme o Tawag (tradição), no sentido anti-horário. Muitos dos peregrinos tentam beijar o símbolo onde originalmente estava a pedra deixada pelo profeta fundador do islamismo, simulando o beijo da tradição, onde Maomé beijou a pedra em sinal de veneração. Nos dias atuais, não é mais possível para todos poderem beijar a pedra, sendo que a circuambulação considerada suficiente para o peregrino render seus votos.

Sivalinga visto de cima
Apesar de a fé islâmica não permitir adoração a ídolos, este símbolo sagrado do islamismo é considerado ‘sem-forma’. A crença islâmica proíbe de modo estrito qualquer tipo de idolatria, por isso os muçulmanos creem que Hajar é simplesmente representativo e de natureza simbólica, não estando relacionado à crença na pedra em si mesma, como tendo ela algum poder especial, etc. Certa feita o Califa Umar-al-khattab (580-644), veio beijar a pedra, tendo dito diante de todos: Sem dúvida, eu sei que é uma pedra, e não pode nem prejudicar nem beneficiar ninguém; eu não vi o Mensageiro de Alá (Maomé) beijá-la; eu também não deveria beijá-la?”. O exemplo de Umar é seguido pelos muçulmamos, no sentido de que eles prestam respeito à pedra preta num espírito de fidelidade a Maomé, não acreditando em poderes de uma pedra. Por sua vez, isso não quer dizer que a pedra seja desrespeitada, mas eles creem que prejuízos e benefícios são advindos de Deus (Alá), e não de outra coisa mais. Comentando sobre o fato da existência de um culto pré-islâmico à pedra, Muhammad Labib al-Batanuni, escreveu em 1911, que , “... a prática de venerar pedras (incluindo a pedra preta), surge não devido ao fato de que as pedras são sagradas em sua própria constituição, mas porque se relacionam com alguma coisa sagrada e respeitada”. (Lazarus-Yafeh, Hava, 1981. Some religious aspects of Islam: a collection of articles. Leiden: Brill. pp. 120–124)

Conclusão
Conforme a filosofia Siva Siddhanta, talvez a mais antiga tradição da filosofia sivaista no mundo, o linga é substrato ideal no qual o adorador deve instalar e adorar Sadasiva das cinco faces e dez braços, a forma da divindade Siva, que está além do tempo e do espaço.

Nas enumeráveis manifestações religiosas hoje existentes no mundo se pode ver muito do que há em comum nelas. O critério é o senso crítico comum. Sem nenhuma dúvida, o Siva linga é um culto milenar e se perde nas noites dos tempos. Apesar de todas as tentativas de ocultar um ou outro aspecto do Sanatana Dharma, este estará presente em quase todas as totalidades de manifestação religiosas do mundo.

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- Imagens de Hajar Aswad - Pesquisa do Google
- Imagem aérea da Praça São Pedro, no Vaticano Imagem no site


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