Manu e a lenda do peixe
‘histórias do Mahabharata’
coletado do Matsya Purana
coletado do Matsya Purana
Krsnapriyananda Swami
Matsya reboca a arca de Manu Puskara dasa |
Conta a lenda, que há muito tempo atrás viveu um homem chamado Satyavrata, conhecido como Manu. Ele era um tipo de sábio, e vivia muito feliz dentro de uma floresta. Certo dia ele estava sentado na beira do rio, quando ouviu uma voz baixa de um pequeno peixe: “- óh! Manu, sou um peixinho necessitado, e estou sendo amedrontado por uma grande peixe que deseja me comer. Por favor, salve-me deste mar de terrores, e tome cuidado de mim. Um dia eu lhe recompensarei por sua bondade”.
Manu ficou tomado pela compaixão, então curvou-se e o peixe pulou em suas mãos; tomando-o cuidadosamente. As escamas do peixe brilhavam como a lua, e Manu colocou o peixinho dentro de um vaso de barro. Este peixe era, na realidade, uma encarnação de Vishnu, o conservador.
Um dia o peixinho disse: “-óh! Manu, não há mais espaço para mim dentro deste vaso. Por favor, coloque-me dentro de uma casa maior”. Então Manu colocou o peixe dentro de uma grande piscina, e ele viveu ali por muitos anos. Depois de um tempo, o peixe disse a Manu: “- óh pai! Por favor, coloque-me no rio Ganges; eu desejo viver lá”. Então Manu pegou o peixe e o carregou até o rio Ganges. O peixe então viveu no Ganges por um bom tempo, mas um dia vendo Manu nas margens do rio, aproximou-se dele e disse: “- óh Manu!, por favor coloque-me no Oceano. Eu cresci tanto que não posso mais viver dentro do Ganges!”. Então Manu ergueu o peixe, e apesar de ser tão grande, Manu pegou-o e carregou-o até o Oceano. Então o peixe, de forma afetuosa, disse para Manu: “óh! Amigo generoso!, você tem tomado conta de mim por todos estes anos; escuta agora como eu irei fazer o mesmo por você. Muito em breve o mundo será submerso devido a um grande Dilúvio, e tudo irá perecer. Você deverá construir por si mesmo uma arca bem forte, e levar uma grande corda para amarrar no barco (que com o tempo se transformará na grande serpente Vasuki). Você deverá levar nesta arca os sete sábios, que existem desde a origem dos tempos, bem como a semente de todas as coisas. Além de isso, um casal de cada animal vivente na Terra. Quando tudo estiver terminado, eu virei até a você com chifres em minha cabeça. Não esqueça de minhas palavras, porque de outra forma você não irá escapar do Dilúvio”.
Manu e os sete sábios |
Tendo escutado isso do peixe, Manu iniciou a construir a arca pessoalmente; pegou as sementes de todas as coisas, os sete sábios, e um casal de cada animal, embarcando-os, quando as águas vieram e levaram a embarcação. Assim ficaram por 40 dias de chuvas sem parar. Mas um dia avistaram o peixe com o grande corno, jogando a corda por sobre ele. Então o peixe começou a rebocar a arca entre as ondas agitadas. Todo o mundo estava coberto pelas águas, e nada mais era avistado a não ser a arca de Manu. Durante muitos anos o peixe rebocou a arca por sobre as águas, e por fim, alcançou as montanhas do Himalaia. Sob o comando do peixe cornudo, eles amarram a arca no topo de uma montanha, escutando o seguinte: “- óh! Homens de sabedoria! Eu sou o criador de tudo. Eu tomei a forma de um peixe e os salvei desta grande enchente. Com minhas bênçãos, Manu irá mais uma vez encher o mundo com vida”! Neste local foi realizada a primeira oferenda ou Aarati, constituindo-se de leite, fogo em manteiga ou ghee, incenso e água aromática, e através dos tempos ficou conhecido como 'monte do Aarati" (ararath em árabe)
Com estas palavras o peixe desapareceu, e Manu tornou-se o pai na nova raça de entidades vivas.
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Manu e termos derivados
Krsnapriyananda Swami
Igs brasil
2011
Manu acolhe o peixinho Premavilasa dasa |
Entre alguns dos resultados de sentidos e aplicação para a palavra ‘manu’, encontramos: “pensamento”, “sabedoria”, “inteligência”, “a criatura pensante”, “homem”, “irmão” (mano, na gíria brasileira), “humanidade”, “oposição a espíritos do mal”, “filhos do homem”, “o Homem por excelência”, “o pai ou progenitor moral da raça humana”, ou Prajapati (Manu foi o primeiro a ter instituído cerimônias religiosas e sacrificiais, estando associado aos sábios Rishis Kanva e Atri). Também Manu aparece como sendo uma espécie de “criador secundário”, tendo iniciado seus trabalhos de reconstrução da humanidade produzindo 10 Prajapatis ou Maharishis, dos quais o primeiro foi Marici ou a “luz”; a este Manu relaciona-se o Códice ou Código de Manu, o “ManusaMhitA”, e também os antigos trabalhos em sUtra sobre Kalpa e GrIhya, atos sacrificiais e domésticos. Manu é também chamado de Hiranyagarbha, e Pracetas, como filho de Pracetas. Os próximos cinco manus são chamados de Svarochisha, Auttami, Talmasa, Raivata, Calkushusha. O sétimo Manu é chamado Vaivasva, nascido do Sol, ou da sua piedade – satya vrata – sendo considerado o progenitor da raça atual. Como Noé no Antigo Testamento, foi avisado por Vishnu na forma de um peixe, que haveria um grande dilúvio, e que deveria construir uma grande nave, colocando nela um casal de cada espécie, preservando os sete sábios e as Escrituras ou Vedas. Manu é descrito de varias formas e maneiras como sendo um dos 12 Adityas, o autor do Rig Veda – o mais antigo dos Vedas -, irmão de Yama – senhor da morte -, filho do Sol, sendo então chamado e Vaisvata; o primeiro fundador do reino Ayodhya; pai de Ila quem desposara Budha; filho da Lua; iniciador das duas grandes raças, solar e lunar). Manu também significa pensamento – manas -; a palavra manu também se refere a um escrito sobre conduta humana; oração, encantamento, fala ou mantra; poderes mentais. Manu é considerado o antigo ancestral do povo germânico, portanto, o pai dos Hunas ou Hunos. Foi para Manu quem Vishnu apareceu como uma encarnação de peixe – Matsyavatara – convidando-o a construir uma gigantesca arca, e nela colocar um casal de animal segundo sua espécie, bem como proteger as escrituras e os setes sábios. O trama todo envolve um imenso Dilúvio que durou 40 dias e alagou toda a Terra.
Vejamos algumas palavras em sânscrito (algumas estão dentro da língua Portuguesa) e a palavra ‘manu’:
Manu= “pensamento”, “sabedoria”, “inteligência”, “a criatura pensante”, “homem”, “irmão” (mano, na gíria brasileira), “humanidade”, “oposição a espíritos do mal”, “filhos do homem”, “o Homem por excelência”, “o pai ou progenitor moral da raça humana”, ou Prajapati.
Man = homem (como no inglês)
Manus = civilizados; humanos
Manubhu = um homem.
Manuja= nascido de Manu; uma pessoa; uma pessoa ilustre qualquer,
manujAta= descendente dos homens ou de Manu; um homem.
Manurita= amigável aos homens; bom para os homens.
MAnuSya = que é bom e favorável aos homens; pertencente a humanidade; humano; ser humano; a raça de homens; remédios para humanos; humanidade;
MAnuSatva = o estado ou condição da natureza humana; irmandade, humanidade, coragem;
amAnuSa= não humano, qualquer outro ser menos uma pessoa; um demônio.
O leitor poderá encontrar mais de uma centena de palavras contendo o radical ‘manu’, pesquisando diretamente no léxicon da Universidade de Cologne.
Fonte
Sanskrit Lexon –Cologne