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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Do âmago do Gita


Krsnapriyananda Swami
prof. Olavo DeSimon




Aprendi a ver no Bhagavad-gita
Que por detrás das amarras do karma
Dorme o brilho d’alma, que nunca se agita.

Também vi expresso em Suas letras,
Que o amor puro pelo Supremo que somos desata o nó,
Que cobre o espelho da Verdade no pó.

Vida após vida, de idade em idade
Vêm-se mergulhando na falsa esperança
De um dia no mundo alcançar a felicidade.

O segredo por detrás de tudo
Está na ação abnegada
Feita de forma a não desejar qualquer
Resultado ou fruto,

Então, quem se habilita
Largar a tola crendice
Viver de verdade em plenitude
Da juventude à velhice?

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Nataraj, a dança de Siva

Subhamoy Das

Tradução e notas de

Swami Krsnapriyananda Saraswati
prof. Olavo DeSimon
Gita Ashrama
2011

Siva Nataraja




Nataraja ou Nataraj, a forma dançante do Senhor Siva, é uma síntese simbólica de um dos mais importantes aspectos do Hinduísmo, e resume o princípio central da religião védica. O termo “nataraj” significa, “rei da dança” (do sânscrito, nata= dança; raj= rei). Nas palavras de Ananda K, Coomaraswamy, Nataraj é a “clara imagem da atividade de Deus na qual qualquer arte ou religião pode sustentar; uma das mais fluidas e energéticas representações de uma figura movendo-se, como a figura de Siva dançando, dificilmente será encontrada em outro lugar” (A Dança de Siva).

A origem da forma Nataraj
Uma extraordinária representação iconográfica, de uma rica e diversa herança cultural da Índia, desenvolveu-se no sul do continente por volta de séc. IX e X, pelos artistas do período Chola (880-1279), numa série de belas esculturas de bronze. Por volta do séc. XII, esta iconografia alcançou a estatura canônica e logo Nataraj Chola tornou-se a expressão suprema da arte hindu.
   
A forma vital e o simbolismo
Numa maravilhosa dinâmica e especial composição, expressando o ritmo e a harmonia da vida, Nataraj mostra com quatro braços, os quais representam os pontos cardiais, a dança, tendo seu pé esquerdo elegantemente erguido, e no seu pé direito prostra-se uma figura – Apasmara Purusha – a personificação da ilusão e da ignorância, sob o qual Siva triunfa. A mão esquerda superior sustenta uma chama, a inferior aponta para o chão onde está o anão, que é mostrado segurando uma serpente. A mão superior direita segura um tambor em forma de ampulheta ou “dumroo”, o qual significa o principio vital masculino/feminino, e a mão inferior mostra o gesto que assinala “seja destemido”.
   
Cobras que simbolizam o egoísmo, são vistas enroladas em seus braços, pernas, e cabelos, os quais estão trançados e adornados com joias. O emaranhado mostra movimento e ele dança num arco de chamas, representando o infindável ciclo de nascimentos e mortes. Sob sua cabeça há um crânio, o qual simboliza a conquista por sobre a morte. Ganga, a deusa do rio com o mesmo nome (Ganges), a epítome do rio sagrado, também senta-se no cabelo de Siva. Seu terceiro olho simboliza a onisciência, percepção e iluminação. Todo o ídolo está por sobre um pedestal de lótus, o qual simboliza a força criativa da natureza.

O significado da dança de Siva
A dança cósmica de Siva é chamada de “anandatandava”, significando a “dança da bem-aventurança”, e simboliza o ciclo cósmico da criação e da destruição, bem como o ritmo diário do nascimento e da morte. A dança é uma alegoria pictórica dos cinco princípios manifestos da energia eterna – criação, destruição, preservação, salvação e ilusão. De acordo com Coomerswamy, a dança de Siva também representa suas cinco atividades, “shrishti” (criação, evolução); “Sthiti” (preservação e suporte); “samhara” (destruição e evolução); “Tirobhava” (ilusão), e “anugraja” (realização, liberação, graça)”.

O temperamento da imagem é paradoxal, reúne tranquilidade interior e, externamente, a atividade de Siva.

Metáfora científica
Fritjop Capra, num artigo chamado “Dança de Siva”, uma visão Hindu da matéria sob a luz da Física Moderna, e mais tarde no Tao da Física, relata belamente a dança Nataraj, relacionando-a com a Física. Ele diz que “cada partícula subatômica não apenas realiza uma dança enérgica, mas também é uma dança enérgica; um processo pulsante da criação e da destruição... sem sim... para os físicos modernos, então a dança de Siva é a dança da matéria subatômica. Como na mitologia Hindu, isso é uma dança contínua de criação e destruição, que envolve todo o cosmos; a base de toda a existência e todo o fenômeno natural”.

Om hari hara om tat Sat

terça-feira, 12 de julho de 2011

Gurupurnima

GURUPURNIMA

 por
 Swami Sivananda

 



© Tradução para o Português de
Swami Krsnapriyananda
prof. Olavo DeSimon

Gītā Āśrama
Porto Alegre, RS - Brasil
2004-2011

           
Sri Vyasadeva Maharishi (fonte da imagem)


O dia de lua cheia no mês de Aśad (Julho-Agosto) é extremamente auspicioso, trata-se do dia sagrado chamado Guru Purnima. Neste dia, sagrado para a memória do grande sábio, Bhagavan Śrī Vyāsa, Sannyasins arranjam-se em algum lugar para estudar e discursar o três vezes abençoado Brahma-sutras, composto por Mahaṛṣi Vyāsa, em engajam-se nos estudos do Vedānta e na investigação filosófica. 

Śrī Vyāsa fez um serviço inesquecível para a humanidade em todos os tempos, pela edição dos quatro Vedas; ter escrito os oito Purānas, o Mahābhārata, e o Śrīmad-Bhāgavatam. Nós apenas temos que reembolsar o profundo débito da nossa gratidão que lhes devemos, pelo constante estudo de Seus trabalhos e prática de Seus ensinamentos, transmitidos especialmente para a regeneração da humanidade, nesta era de ferro ou Kali-yuga. Honrando este personagem divino, todos os aspirantes espirituais e devotos, realizam o Vyāja Pūjā neste dia, e os discípulos adoram seus mestres espirituais. Santos, monges e homens de Deus são honrados e recepcionados com atos de caridade por todos os chefes-de-família, com profunda fé e sinceridade. O chamado período de Chaturmas (“os quatro meses”), inicia neste dia; Sannyasins ficam num só lugar (não peregrinam) durante os quatro meses seguintes de chuvas, engajando-se nos estudos do Brahma-sūtras, e na prática da meditação. Este dia é marcado de profundo significado. Ele evoca a chegada das esperadas chuvas. A água tensa e armazenada nas nuvens, e o tempo quente do verão, agora manifesta-se na abundante chuva que conduzem ao advento do frescor da vida em todo o lugar. Deste modo, todos se colocam seriamente dentro da prática atual e da teoria, e a filosofia que tem sido armazenada neles através do estudo paciente. Os aspirantes começam ou resolvem intensificar com toda a seriedade, corretamente o Sādhana ou prática espiritual, deste dia em diante, gerando novas ondas de espiritualidade. Tudo o que você tiver lido, escutado, visto e estudado transforma-se, através do Sādhana, dentro de uma contínua efusão de amor universal, incessante serviço devocional, e contínua oração e adoração do Senhor que está localizado em todos os seres.

O dia de adoração ao preceptor espiritual é um dia de pura alegria para o aspirante espiritual sincero. Estimulados pela expectativa de oferecer suas respeitosas reverências ao amado Guru, os aspirantes esperam por esta ocasião com ânsia e devoção. É somente o Guru que quebra as cordas que atam e liberam o aspirante das amarras da existência terrestre. Os śrutis dizem: “Para o elevado e sólido aspirante, cuja a devoção ao Senhor é grande, e cuja devoção para seu Guru é grande tal como para o Senhor, os segredos explicados ficam iluminados”. O Guru é Brahman, o Absoluto ou Deus em Si mesmo. Ele guia e inspira você do mais íntimo coração no seu ser. Ele está em todo o lugar. 

Tenha um novo ângulo de visão. Contemple todo o universo como a forma do Guru. Veja as mãos guiantes, a voz despertante, o toque iluminado do Guru em todos os objetos nesta criação. Todo o mundo irá agora surgirá transformado diante da sua mudança de visão. O mundo como o Guru irá desvelar todos os preciosos segredos da vida para você, e conceder sabedoria para você. O Guru supremo, como manifesto na natureza visível, ira ensinar a você a mais valiosa lição da vida. 

Śrī Vyāsadeva Mahāṛṣi  e o "Valmik-ramayan"
Adore diariamente este Guru dos Gurus, o Guru que ensinou o Avadhuta Dattatreya. Dattatreya, via Deus como o Guru dos Gurus; considerava a Natureza como Seu Guru, e aprendeu muitas lições das Suas vinte e quatro criaturas, e por conseguinte, Ele dizia que tinha vinte e quatro Gurus. O silêncio, todo-residente com sua elevada contenção; o comportamento da árvore frutivera com o seu auto-sacrifício; a forte árvore Banya, residindo com paciência dentro da pequena semente; a gota de chuva cuja persistência desgasta até mesmo as rochas; os planetas e as estações com suas metódicas pontualidades, e regularidade, eram os Gurus divinos para Dattatreya. Aqueles que desejarem ver, e escutar, aprenderão.

A Lua brilha pelo reflexo da luz ofuscante do Sol. Esta é a Lua cheia do dia do Purnima, que reflete o seu esplendor, a gloriosa luz do Sol. Isso glorifica o Sol. Purifique-se a si mesmo por intermédio do fogo do serviço abnegado e Sādhana, e como a Lua cheia, refletindo a gloriosa luz do Ser. Torne-se um refletor pleno do esplendor Brahminico, a luz das luzes. Trace a sua meta: “Eu irei ser uma testemunha viva da divindade, o brilhante sol dos sois!”. 

Apenas o Ser Supremo é real. Ele é a alma de todos. Ele tudo em todos. Ele é a essência deste universo. Ele é a unidade que jamais admite a dualidade sob toda as variedade e diversidades da natureza. Vós sois este imortal, todo penetrante, todo bem-aventurado Ser. Vós sois Isso! Realize isto e seja livre.

Lembre das seguintes quatro importantes linhas dos Brahma Sutras:

1. Athatho brahma jijnasaa: Agora, portanto, a investigação do Brahman;
2. Janmasya yathah: do qual tudo se origina;
3. Sastra yonitwat: as Escrituras são o meio do reto-conhecimento;
4. Tat tu samanvayat: para o qual são o principal suporte (do universo). 

Jaya Guru Shiva Guru Hari Guru Ram
Jagad Guru Param Guru Sat Guru Shyam

Cerimônia de gurupuja (padukya)  em Karshni Vanaspati
Para fortificar e afirmar a fé do homem vacilante, e para garantir a atitude que é necessária para a realização de toda a adoração, os antigos mestres definiram a personalidade do Guru. Adorar o Guru é adorar o Supremo. Neste mundo de mortalidade, o Guru é tal qual um embaixador de uma corte estrangeira. Assim como um embaixador represente uma nação inteira, a qual ele pertence, assim, também, o Guru é alguém que está representando o sublime e transcendental estado, o qual ele alcançou. Assim como honramos um embaixador honramos a sua nação, do mesmo modo adorar e oferecer adoração para o Guru visível é verdadeiramente dirigir a adoração e o culto à Realidade Suprema. Assim como uma árvore distante que não podemos ver torna-se conhecida através da flagrância de suas flores que florescem, espalhando-se para todos os lados, assim, também, o Guru é a flor Divina que dissemina o aroma do Atman ou divindade neste mundo, e assim proclama o Senhor imortal, que é invisível para os olhos físicos. Ele está sustentando o testemunho do Ser Supremo; é a contraparte do Senhor sobre a Terra, e através da adoração a Ele se alcança o Ser uno.

No dia do Guru Purnima levante-se as 4 horas da manhã, no Brahmamuurta. Medite nos pés de lótus do seu Guru. Mentalmente ore por Sua Graça, que somente através da qual se pode alcançar a auto-realização. Faça vigoroso Japa e medite, cedo, nas horas da manhã. Após o banho, adore os pés de lótus do seu Guru, ou a Sua imagem ou pintura com flores, frutos, incenso e cânfora. 

Jejue ou tome apenas leite e coma frutas o dia todo. No anoitecer, sente-se com os outros devotos do seu Guru e discuta com eles as glórias dos ensinamentos do seu Guru.

Alternativamente, você pode observar o voto de silêncio, e estudar os livros escritos pelo seu Guru, ou mentalmente refletir sobre os Seus ensinamentos.

Assuma novas decisões neste dia sagrado e trilhe o caminho espiritual de acordo com os preceitos do seu Guru.

À noite, reúna-se novamente com os outros devotos, e cante os Nomes do Senhor e as glórias do seu Guru

A melhor forma de adorar o Guru é seguir os Seus ensinamentos sagrados, para brilhar com a verdadeira incorporação dos Seus ensinamentos, e para propagar a Sua glória e a Sua mensagem.
Om Tat Sat

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Aspiração e Realização

Aspiração e Realização

Swami Sivananda

© Tradução para o Português de
Swami Krsnapriyananda Saraswati
prof. Olavo DeSimon


Pañca Mukha Ganapati
 Apenas boas intenções não realizam. Elas devem estar respaldadas com boas ações. Você deve entrar no caminho espiritual com a melhor intenção de alcançar Atma-jñana, mas a menos que você seja vigilante e diligente, a menos que você faça um intenso e rigoroso Sādhana, a menos que você guarde a você mesmo da luxúria, da ira, da inveja, do egoísmo, e do interesse pessoal, apenas as boas intenções não irão capacitá-lo para alcançar o sucesso.

A pureza moral e a aspiração espiritual são os primeiros passos na procura do caminho. Sem uma forte convicção em valores morais, não há realmente sucesso na vida espiritual no mesmo numa vida de bem.

Austera autodisciplina é absolutamente essencial. Autodisciplina não significa a supressão, mas amansar a brutalidade interior. Isso significa a humanização no animal e espiritualização do humano.

Você deverá quebrar o solo duro antes de plantar a semente. A semente quebra-se por si mesma antes de surgir como uma planta. A destruição precede a construção. Isso é uma lei imutável da natureza. Você deverá destruir a sua natureza bruta antes de desenvolver a natureza divina.

O caminho espiritual é áspero, espinhoso e íngreme. Os espinhos devem ser removidos com paciência e perseverança. Alguns espinhos são internos, e outros são externos. Luxúria, orgulho, fúria, ilusão, vaidade, etc., são espinhos internos. A companhia com pessoas de más inclinações são os piores espinhos externos. Portanto, evite as más companhias. Durante o período de Sādhana, não se misture muito; não fale muito; não caminhe muito; não coma muito; não durma muito. Observe cuidadosamente os cinco “não-faça”. Misturar-se causa perturbações na mente. Falar muito irá causar distração da mente. Caminhar muito irá causar exaustão e fraqueza. Comer muito induzirá em preguiça e sonolência.

Om Tat Sat

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Poeta, profeta

poeta profeta

Swami Krsnapriyananda Saraswati
prof. Olavo DeSimon



poeta, profeta
nas linhas que escreve
o futuro se inserta!

não disse Yudhisthira
que no futuro a hipocrisia
seria como verdade
e aos sábios mataria?
                   
poeta, profeta
nas linhas que escreve
o futuro que se incerta!

Mesmo Arjuna o guerreiro
forte, bravo e valente
ficou totalmente perdido
com as coisas da sua gente.

poeta, profeta
nas linhas que escreve
o futuro inserta

Disse Krsna, “levanta-te,
cumpras com teu dever e lutes”!
de que vale a vida se não for
vivida nas suas virtudes?

poeta, profeta
nas linhas que escreve
o futuro que se incerta e se inserta,
mas e o coração que se aperta?
nas horas incertas,
naquelas que só restam Ele é nós,
na intimidade,
desata os nós
dessa saudade
de amor,
sem nenhuma idade,
na eternidade,
no ananda ou suprema felicidade,
que exalta Krishna, o grande poeta!?


Gita Sastra Ki jay!