Baal
Zaeb
Swami
Kṛṣṇaprīyānanda Saraswatī
prof. Olavo DeSimon
prof. Olavo DeSimon
SOCIEDADE INTERNACIONAL GITA DO BRASIL
GITA
ASHRAMA
Porto
Alegre, RS - Brasil
1997-2012
Autorrelevo de Baal |
1.
Introdução
A Adoração ao "deus dos deuses" ou Ba´al já
existia muito anteriormente ao XIV século antes da nossa era, sendo realizada,
principalmente, por entre os chamados "semitas", considerados os
descendentes de Shem, o filho mais velho de Noé. Mas hoje sabemos que o culto a
Ba´al se alastrou por entre os egípcios, recebendo o nome de Bel ou Belos, e
entre os gregos ficou conhecido como Zeus. Nos dias de hoje, a expressão
"semita" refere-se mais a uma classificação lingüística do que uma
etnia propriamente dita. O povo da época adorava Ba´al de muitas formas. A
palavra "ba´al" pode ser traduzida como "mestre",
"dono" ou "proprietário". Mas nas antigas religiões,
"ba´al" diz respeito ao “deus sol”, “senhor”, e mesmo Deus. Ba´al era
o nome comum das deidades da Síria e da Pérsia. Ba´al é o principal deus
Canaãnita da fertilidade. O Grande Ba´al estava em Canaã. Ele era o filho
de EL, o Supremo em Canaã, contudo, às vezes aparece como sendo filho de Dagon
ou Dagnu. O culto a Ba´al era comemorado anualmente, bem como a sua morte e
ressurreição, como parte dos rituais de fertilidade Canaãnita, e grandes festas
eram feitas para Ele nas mudanças de estações, principalmente na lua cheia, que
quase sempre coincide com sete dias da entrada da nova estação.. Estas idéias
passaram para as culturas posteriores, e muitos dos aspectos da mitologia de
Ba´al estão até mesmo no Novo Testamento. Aquelas cerimônias anuais de Ba´al,
em algumas culturas, muitas vezes, incluíam sacrifícios humanos e a
prostituição nos templos. O que se sabe do culto a Ba´al está em alguns
fragmentos cuneiformes, bem como no Torah ou Bíblia. Estudos arqueológicos têm,
por bem da verdade, trazido o conteúdo mítico das crenças dos antigos povos que
viveram na região conhecida como Mesopotâmia, e aos poucos se vão clareando os
aspectos obscuros e confusos, e assim compreendemos melhor Ba´al e a sua
adoração.
2. Ba´al -
etimologia e relações
Baal com ramo de Líbano |
Ba`al Lebanon, Senhor do Cedro ou Madeira (o ramo que
está nas mãos da figura ao lado).
Ba`al Tsaphon, Senhor dos Distritos do Norte ou
Nordeste
Ba`al Adir, Senhor da Ajuda
Ba`al Kaneph, Senhor Alado
Ba`al Moganim, Senhor dos Escudos
Ba`al Marpah´a, Senhor da Cura
Ba`al Shamim, Senhor dos Céus
Ba´Ili, Senhor ou Emissário de EL
Estudos atuais dizem que "ba´al" era o deus
principal na Babilônia. A palavra "ba´al", trata-se de uma contração
de "Ba´Ili", onde "IL" ou "EL" era o nome de Deus
entre os Babilônios e Sumérios. A consorte de Ba´al nesta época tinha o nome de
Ba´ilat. Estes nomes deram origem ao nome Allah e Allat, tanto no norte como no
sul da Arábia, e mais tarde, no Islã.
Sabemos que na antiga cidade de Ekron, havia a figura
de Ba´al Zebûb, que aparece como um deus adorado pelos Philisteus (Palestina).
A ele se atribuía a fertilidade, e o fato de ter levado água e vida para as
regiões desérticas, por isso, vemos algumas de suas representações tendo um
galho ou ramo de árvore em sua mão, o que representa a fertilidade, bem como o
ato de arar e irrigar a terra, e o desvio de rios para regiões secas e desérticas,
aspectos muito comuns da necessidade de água para plantar na região da
Palestina, situação que não mudou muito nos dias de hoje.
Os Hebreus costumavam chamar "Ba´al Zebûb"
com o significado de "Senhor de Zebûb", ou então como
"Bêt-zebûl", que significava: "casa elevada ou sublime",
referindo-se ao "quarto céu", uma região celeste. Mas a palavra
"zebûb", também, era o coletivo para "moscas", podendo ser
uma corrupção da palavra "zebul", então "ba´al zebul" tem o
significado de "Senhor do Elevado Lugar", ou das moscas. Mas devido a
proximidade de palavras, ele também era conhecido como "Beelzebul",
uma vez que ficou relacionado aos animais vacunos ou zebus e o seu esterco, ou
"zebel" em
aramáico. Por isso, ele era considerado o senhor da sujeira e
do estrume, apesar de não ter a conotação negativa que hoje estas palavras
possuem. O estrume de gado sempre foi considerado puro, porque promove a
fertilização do solo fraco, dando vitalidade às plantas.
Há passagens bíblicas que fazem referências a
Ba´al-zebûbe, o que pode ter sido a origem posterior de considerar Ba´al como
um "ser do mal". Na Antigüidade, os povos das primitivas tribos
nômades, possuíam o hábito de adorar os seus ancestrais ou "patriarcas",
que lhes passavam as posses dos bens e da terra. Então havia o "deus"
desta ou daquela localidade, e deste ou daquele patriarca. Apesar disso,
existia e necessidade de relacionar com uma força suprema que ficava em templos. Um acontecimento
bíblico, que envolve o rei Ahaziah (Acazias), mostra uma conotação negativa com
o nome de Ba´al, vejamos: "2 Ora, Acazias
caiu pela grade do seu quarto alto em Samária, e adoeceu; e enviou mensageiros,
dizendo-lhes: Ide, e perguntai a Baal-Zebube, deus de Ecrom, se sararei desta
doença. 3 O anjo do Senhor, porém, disse a Elias, o tisbita: Levanta-te, sobe
para te encontrares com os mensageiros do rei de Samária, e dize-lhes:
Porventura não há Deus em Israel, para irdes consultar a Baal-Zebube, deus de
Ecrom? 4 Agora, pois, assim diz o Senhor: Da cama a que subiste não descerás,
mas certamente morrerás. E Elias se foi. 5 Os mensageiros voltaram para
Acazias, que lhes perguntou: Que há, que voltastes? 6 Responderam-lhe eles: Um
homem subiu ao nosso encontro, e
nos disse: Ide, voltai para o rei que vos mandou, e dizei-lhe: Assim diz o
Senhor: Porventura não há Deus em Israel, para que mandes consultar a
Baal-Zebube, deus de Ecrom? Portanto, da cama a que subiste não descerás, mas
certamente morrerás" (II Reis,
1).
Como vimos na passagem bíblica acima, fica-nos, de
certa forma, claro o ethos da Antigüidade, que considerava o "deus"
de um lugar mais importante que o de outro, que se forma por razões econômicas,
sociais, culturais, etc. De fato, havia uma conotação de: povo, poder, e o seu
"deus". É por isso que vemos expressões como "deus de
Israel", "deus de Abraão", etc., porque não conseguiam ver Deus
como uma unidade, ou como sendo igual para todos. Era um deus de poder e força.
A percepção do sagrado, nos povos primitivos, tinha uma conotação panteísta,
onde quem vencia quem, possuía o "deus" mais poderoso. Eis que na
passagem bíblica que vimos anteriormente, o "profeta Elias", que se
vestia de forma muito rude, amaldiçoa o rei de Israel pelo fato de ele ter ido
buscar conforto em Ba´al, que a esta altura conflitava com a idéia de "povo
escolhido de deus".
3.
Influência Asiática
Na Índia, no idioma sânscrito – “língua” que
provavelmente influenciou todas as outras que conhecemos, mesmo o aramaico -
existe a palavra "baal", contendo uma grande quantidade de significados
como: "ferir", "respirar", "juntar grãos",
"acumular riquezas", "agonia", bem como o projetil de uma
arma "baala". Mas a palavra é usada, no mais das vezes, para
referir-se às crianças e seu estado de pureza. Esta palavra possui seu derivado
"bolo", que quer dizer "força", "vitalidade",
também se referindo a uma preparação alimentar naquele formato, servida como um
"concentrador de energias". Sem dúvida, o grande representante da
fertilidade, e da irrigação dos rios, na mitologia indiana é Baalaraama (uma
junção de "baal", "criança ou fertilidade", e "raama",
"prazer ou gozo", e ou o protagonista principal do Ramayana).
Balarama é considerado, também, o irmão de Krishna, sendo, por isso,
considerado séquito do oitavo Avatara de Vishnu. Muitas vezes, ele é representando
com um arado nas mãos ou "hala", uma das palavras em sânscrito que,
também, podem ter influenciado na palavra "ba´al", mesmo porque
"fertilidade", "terra", "rios",
"irrigação", ' os instrumentos de trabalho vinculados a atividade na
terra, são termos muito próximos da cultura agropastoril, como a dos antigos
povos do meio-oriente e do oriente. Todos sabemos que a civilização humana tem
um forte vínculo com a terra nas suas origens, e que aos poucos foi se
organizando em cidades, afastando-se, com isso, do significado dos mitos, e os
sentidos originais que eles possuíam.
4. Baal e
Vishnu
Existe, também, uma variação da palavra
"baal" em sânscrito para "baali". Esta palavra possui
muitos significados. Entre estes significados encontramos "tributo",
"oferenda", "presente", "oblação",
"taxa", "imposto", etc. As oblações e oferendas dizem
respeito aos seres semi-divinos, às divindades da casa, e até mesmo objetos sem
vida. Esta oferenda, chamada "baali" é feita diante da comida que
será comida, em arranjos na forma circular, ou então levadas para o lado de
fora da casa. Também, para os adoradores de Kali ou Durga, quando eram feitas
oferendas de animais, incluía-se a carne búfalo. A mitologia indiana fala de um
rei Daitya, do reino de Kishindha, chamado Baali. Ele era filho de Virocana,
que tinha orgulho do seu império que "se espalhava sobre os três
mundos". Este rei chamava-se Bali, que foi humilhado por Vishnu, que
apareceu diante do rei como um anão, Vamana, que era filho de Kashyapa e Aditi,
e irmão mais jovem de Indra. Vamana fez Bali prometer três porções de terra,
uma para cada passo que desse. Sem saber que o anão era o Senhor Vishnu, acabou
vendo seu orgulho diminuir, a cada passo que Vishnu dava. Vamana alcançou a distância
entre o céu e a Terra em dois passos, então Baali pediu para que Vamana
colocasse o pé sobre sua cabeça. Depois disso, Vishnu confiou a Bali o reino de
Patalla, uma região inferior, um chamado "inferno".*
Balarama com o arado |
Aanath |
5. Aspectos do Mito de Ba´al
No chamado "panteão Canaãnita",
"ba´al" era o nome genérico para o deus da fertilidade. Também,
Ba´al, no início, não tinha relação com as chuvas, mas nos tempos finais ele,
passou a ter esta função. Alguns sacerdotes que o adoravam o. Embora não haja
um equivalente Canaãnita para a estação seca do verão - como ocorre na
Mesopotâmia - havia uma relação entre a fertilidade, e fecundidade com Ba´al.
A mitologia de Ba´al diz que, após ele ter derrotado o
deus do mar, Yam, construído uma casa no Monte Saphon, e tendo tomado posse de
numerosas cidades, Ba´al anunciou que não mais haveria a autoridade de Mot -
deus da morte, da guerra e da infertilidade. Então, Ba´al privou Mot da sua
hospitalidade e amizade, dizendo a ele que fosse visitar os desertos por sobre
a Terra. Em resposta a este desafio, Mot convidou Ba´al para a sua morada, para
experimentar a sua comida, o lodo. Ficando terrificado, e incapaz de evitar a
terrível intimação para a terra da morte, Ba´al emparelhou-se com um bezerro,
tendo em vista reforçar-se para a experiência difícil, e então ficou como
morto. EL, e os outros deuses, vestiram-se com as roupas funerais, derramando
cinzas por sobre as suas cabeças, escarificando seus corpos, enquanto Anath,
com o auxílio da deusa do sol, Shapash, trouxe o cadáver para o funeral. EL,
colocou Athtar, o deus da irrigação, no trono que havia ficado vazio de Ba´al,
mas Anath ficou com muitas saudades do seu marido. Ela implorou para que Mot
devolvesse a vida a Ba´al, mas seu pedido não foi atendido. Anath tentou chamar
a atenção dos outros deuses para ajudá-la, mas eles, de forma cautelosa,
ficarem indiferentes ao pedido. Deste modo, Anath atacou Mot, cortando-o em
pedaços com uma afiada faca, queimando-o, triturando-o até virar pó num moinho,
e então espalhando seus pedaços sobre os campos com uma peneira, soprada ao
vento.
Neste meio tempo, EL (ELohim), o deus supremo, teve um sonho no qual a
fertilidade retornara, o que sugeria que Ba´al não estava morto. Depois disso,
ele instruiu Shapash para manter vigilância por ele, durante sua viajem diária.
No devido curso do tempo, Ba´al voltou ao seu estado normal, e Athtar saiu do
seu trono.
Mas Mot estava pronto para arranjar outro ataque, mas
nesta ocasião, todos os deuses apoiaram Ba´al, mas nenhum dos combatentes
venceu. Finalmente, EL interveio mandando Mot embora, deixando Ba´al na posse
do campo.
Daagon |
6. Paralelo
ao mito de Ba´al
Arqueologistas encontraram os fragmentos que narram o
que vimos acima. Eles se encontram nas tábuas de Ras Shamra. Também, nestas
tabuletas de argila, são feitos relatos das alterações das estações. Ba´al
aparece como o deus da chuva, do trovão, e da luminosidade. Diz um trecho:
"No toque de sua (Ba´al) mão direita, até as cores definham". Yam, o
proprietário da água salgada, cedeu espaço para Ba´al como o protetor da chuva
e da vegetação, uma mudança que tornou Mot como sendo o único antagonista
abaixo da magnitude de EL. O tórrido aquecimento, a esterilidade, o deserto
árido, a morte, etc, estes pertenciam ao reino de Mot, até Anath ter triturado,
peneirado, e ter colhido o milho, com suas lágrimas por Ba´al, trazendo
fertilidade a terra. Do mesmo modo como EL ressuscitou Ba´al, deu continuidade
ao ciclo anual das chuvas a partir das lágrima de Anath..
Um paralelo de ritos mágicos pode ser encontrado no
Livro dos Salmos na Bíblia onde está: "126. 5 Os que semeiam em lágrimas,
com cânticos de júbilo colherão. 6 Aquele que sai chorando, levando a semente
para semear, voltará com cânticos de júbilo, trazendo consigo os seus
molhos". Isso se trata de magia simpática, onde as lágrimas derramadas
induzem a chuva.
7. Ba´al na
cultura
Ba´al era filho de EL ou Dagon, uma deidade obscura
que liga Hebreus com Philistines (Filiseus), na cidade portuária de Ashod. Há
uma ligação de Dagon com o mar, como se vê numa moeda encontrada nas vizinhanças
retratando o deus tendo um peixe as costas. Embora Ba´al tenha sujeitado Yam
pessoalmente, é incerto se lutou ou não com Lotan, o Leviatham do Antigo
Testamento, mas é sabido deu Anath, "... esmagou a serpente retorcida, de
alguém com sete cabeças". Outro eco do pensamento do padrão mesopotâmico
abriga-se no fato de Ba´al ter a necessidade de uma "casa". Sua
oferenda de alimentos também agradaria um deus que "cavalga entre as
nuvens". Em locais distantes como Cartago e Palmyra, há templos dedicados
a Ba´al-Hammon, "o senhor do altar do incenso", o qual os gregos
identificaram como Chronos. Foi sob o Monte Carmelo onde o profeta Elijah
(Elias), duvidou das crenças do Rei Acazias no poder de Ba´al, quando a seu
pedido, o "fogo do Senhor destruiu e consumiu o sacrifício queimado",
e a madeira, as pedras, o pó, jogando a água da oferenda numa vala. Depois
deste incidente, Elias teve o povo que matou os profetas de Ba´al, assegurando
por meio disso a adoraão de Yahweh em Israel.
Estudos têm apontado que a adoração de Ba´al
extendia-se desde os Canaãnitas até os Fenícios, uma vez que eles eram povos
que praticamente viviam da agricultura. Tanto Ba´al como sua consorte
Ashtoreth, Anath ou Astarte, que possui a sua equivalência na mitologia grega
como Aphodite, eram símbolos da fertilidade por entre aqueles povos. Também,
Ba´al, como o deus do sol, era adorado de forma fervorosa para o bem da colheita
e dos animais. Os sacerdotes "israelenses", posteriormente, colocaram
para as pessoas que Ba´al era o responsável pela seca, pragas, e outras
calamidas, o exatamente contrário ao seu mito original. Os sacerdotes e
profetas tinham grande importância na influência do modo de ser das pessoas.
Mas nesta época, os mesmos sacerdotes que espalharam a idéia de que Ba´al era
responsável pelos malefícios da seca, realizavam sacrifícios humanos,
principalmente de crianças, para o deus Moloch.
Astarte |
As imagens de Ba´al, e de outros "deuses",
costumavam ser esculpidas de muitas formas, tipos e materiais. Dentro do culto
a Ba´al, na medida em que as cidades que configuravam como um local de morada
mais permanente, surgiram várias classes de sacerdotes, e muitos tipos de
devotos. Nas cerimônias, eles realizavam vários tipos de adoração, queimavam
incenso, e usavam roupas adequadas. Gordura de animais era queimada, e por
entre os "israelitas", fazia-se sacrifícios de seres humanos. Muitas
vezes, os sacerdotes dançavam ao redor do altar, cantando hinos religiosos, e
não raro se auto-flagelando, tendo em vista "inspirar a atenção e compaixão
de Deus".
om tat sat