Dez equívocos
comuns sobre o Hinduísmo
Texto adaptado por
Krsnapriyananda
Swami
Prof. Olavo DeSimon
Com cerca de 14% da população
mundial (± um bilhão de pessoas), o chamado Hinduísmo, é a terceira maior
religião do planeta. Além do mais, é dita como a religião mais antiga existente.
Historiadores levantam a hipótese de que, o que chamamos “Hinduísmo” hoje, pode
ter existido desde dez mil (10.000) anos atrás. Apesar disso, o Ocidente tem um
conceito equivocado sobre as pessoas que seguem esta religião, bem como da
própria religião em si.
1º. O termo “Hindu”
Os termos Hindu e Hinduísmo são
anacrônicos, e não se referem aos textos antigos da religião. O termo refere-se
às pessoas da região do rio Indo, na Índia. “Hindu”, e “Hinduísmo”,
provavelmente originou-se do povo Persa, que invadiram o subcontinente indiano,
e que podem ter referido ao termo, porque as pessoas do vale do rio usavam a
palavra “Hindu”, que significa “rio”. Mas o nome real para Hinduísmo é Sanātana-dharma
(ordem ou dever eterno), o qual é desconhecido pela maioria dos ocidentais. Os seguidores
do Sanātana-dharma são chamados dharmis, o qual significa “seguidores
do Dharma”. O uso das palavras “Hindu” e “Hinduísmo” foram
empregados inicialmente pelos ocidentais, e apesar de muitos indianos da
atualidade adotarem os termos. Outras tradições do “dharma” são o
Jainismo, Budismo e Sikhismo.
2º. Todos os Hindus são vegetarianos
É verdade que muitos Hindus
praticam o vegetarianismo, mas isso não é o caso para a grande maioria dos seguidores.
Alguns Hindus creem que todos os animais são seres sensíveis, então eles não
comem carnes. Mas para muitos outros, comem praticamente de tudo. Estima-se
entre 30 e 35% dos Hindus como vegetarianos, devido ao princípio da
não-agressão – ahimsa. A minoria dos Hindus vegetarianos – 300 milhões –
ao redor do mundo, seguem aquele princípio como fundamental.
A grande maioria dos líderes
espirituais do Hinduísmo são vegetarianos, enquanto a grande maioria dos
seguidores não o é. Basicamente, o princípio do ahimsa (trazido
originalmente do Jainismo), apregoa o chamado “karma negativo”, para quem
abate animais e consome esses produtos. Mas nem todos os Hindus seguem essa
regra, assim como nem todos os judeus seguem o kosher.
3º o Hinduísmo é uma religião organizada
As razões que tornam uma religião organizada
são diversas, mas, na maioria das vezes, o conceito parece estar envolto no com
o religioso e a política num determinado tempo e população. Sabemos que o Cristianismo
se espalhou através dos romanos, principalmente dos bizantinos, assim como o Islamismo
espalhou-se através de campanhas de muçulmanos na Ásia e Europa. Mas o Hinduísmo
organizado não se espalhou pelo mundo de forma sistemática.
Na realidade, não há um líder Hindu
religioso único ou particular na fé que seja superior a um outro. O sistema Hindu
é diferente, e jamais alimentou qualquer tipo de “império”. Deste modo, os
aspectos religiosos do Hinduísmo evoluíram para um rol de ensinamentos e
princípios orientadores, sem a influência política vista nas outras religiões,
chamadas por isso, organizadas, e de cunho majoritário. Não há proselitismo no
Hinduísmo, como também não há um fundador nem tampouco uma data específica de
sua origem. Sabe-se que uma síntese dos ensinamentos Hindus nos mostra que
foram agrupados por volta dos anos 500-300 antes da nossa era, e ao longo dos
anos, várias formas Hindus fundiram-se nas práticas mais ou menos comuns que
vemos nos dias de hoje.
4º o Hinduísmo possui um sistema discriminatório de
castas
Devido ao fato de o Hinduísmo
estar relacionado a Índia, é comum o conceito equivocado de que a religião em
si segue um sistema de castas. Por exemplo, os assim chamados “intocáveis”, na
sociedade indiana, está fora do que é relatado na cultura védica, sendo
contrário os princípios do Hinduísmo.
O sistema indiano assinala a
pessoa pelo nascimento, mas não com a atividade ou personalidade encontrados no
sistema original. Enquanto isso, o termo “varna”, ordem social,
constitui-se num mosaico de deveres morais, relacionados às características pessoais
de alguém, independente do seu nascimento, e vinculados as atividades.
Apesar de que, com tempo, os dois
sistemas terem se tornado interligados ou misturados, o Hinduísmo não segue
este princípio fora da Índia. Originalmente, o sistema varna está
dividido nas atividades: dos Brahmanas, sacerdotes e professores; dos Kshatriyas,
governantes e guerreiros; dos Vaishyas, fazendeiros e comerciantes, e, dos
Shudras, trabalhadores diversos. De algum modo, o sistema védico é
observado no Ocidente independente do Hinduísmo, mas sem a devida
caracterização. No sistema cultural indiano, os Dalits são chamados sem
castas ou intocáveis.
5º os Hindus adoram ídolos
A grande maioria das pessoas
acredita que os Hindus adoram ídolos. Isso se deve ao fato de que os seguidores
das grandes religiões do Ocidente, Islamismo, e Cristianismo, ambos proibidores
da chamada “idolatria”, veem como um aspecto antirreligioso. No entanto, os
Hindus não consideram isso uma “adoração de ídolos”, mas veem Deus em tudo e em
todos.
Todos os objetos são uma “arca”,
uma incorporação viva de Deus, de modo que a vida é vista como derramada dentro
de cada imagem ou “ídolo”, que talvez algum Hindu reverencie. Os Hindus chamam
esta prática de “murti-puja” (reverência à imagem), e refere-se à crença
de que toda a criação é uma forma de Deus, e Sua forma está em tudo.
Os Hindus não vêm essa adoração
como sendo uma forma de adoração de imagem, mas como uma representação de Deus
em tudo. Isso conflita diretamente com a tradição abraāmica, de adoração a
ídolos, conforme os Dez Mandamentos. Essa separação é dificultosa para os
ocidentais, então acusam os Hindus de idólatras.
6º os seguidores Hindus adoram vacas
Os Hindus não adoram vacas. Esse equívoco
comum deve-se a maneira como os Hindus tratam as vacas, um animal que “dá mais
do que tira”, sendo simbólico para todos os outros animais, no que representa a
vida e sua manutenção. Comendo apenas grão, grama e água, a vaca fornece leite,
manteiga, iogurte, queijo, e fertilizantes, etc., desta forma, nos dá muito
mais do que tira.
As vacas também são respeitadas
por sua natureza gentil, sendo vista com características maternas. Devido ao
modo como os Hindus veneram as vacas, e na sociedade indiana, isso parece aos
estrangeiros como sendo adoração. Mas os Hindus não veem isso como adoração,
mas como respeito aos animais em geral.
7º Mulheres com Bindi (símbolo na testa) são casadas.
Um bindi (u botão vermelho
na testa), é usado por milhares de mulheres, casadas e solteiras, ao redor do
mundo, especialmente na Índia. Bindis constituem-se em regra espiritual
na cultura Hindu, apesar de estar diminuindo nos tempos atuais.
Tradicionalmente, uma mulher colocava
um ponto vermelho na testa, feito com um pó especial, na região entre as duas
sobrancelhas, significando casamento, como sinal de amor e prosperidade. O local
refere-se ao chamado “terceiro olho”, o qual assinala a perda do egoísmo “ahamkara”.
Nos tempos atuais, para a grande maioria, perdeu-se aquele significado, e assim
as mulheres usam a cor do bindi que escolherem, sem ter relação com o
casamento.
Na tradição, um bindi preto
significava a perda do marido quando utilizado por uma viúva. Os homens usam um
tipo de bindi chamado de “tilak”, o qual consiste numa série de linhas
colocadas na testa, e, as vezes, um ponto. Várias cores denotas diferentes
linhagens, escolas, mas a principal tradição da cultura do uso de tilak
é conhecida apenas por estudiosos renomados da cultura indiana.
8º O Hinduísmo é tão antigo quanto o Judaísmo
Sabemos que muitas tradições e religiões
culturais brotaram no subcontinente indiano durante milhares de anos, antes de
finalmente unir-se para formas o Hinduísmo moderno, por volta do ano 1800 de
nossa era atual. É um equívoco comum achar que o Hinduísmo tenha começado por
volta da época do Judaísmo, a primeira religião abraāmica que deu início ao Cristianismo
e Islamismo.
Enquanto o Judaísmo é uma antiga
fé que tenha se originado por volta do ano 1500 antes da era atual, antigas
formas de Hinduísmo surgiram no período pré-histórico, datando de milhares de
anos antes. Mas devido ao fato de o Judaísmo ter começado entre práticas
combinadas de várias tribos por volta de 4000 antes da nossa era, erroneamente crê-se
que tenha sido a religião mais antiga.
9º a Bíblia Hindu é o Bhagavad-gita
O Bhagavad-gita é o texto
Hindu mais conhecido no mundo Ocidental, mas não é a Bíblia Hindu. O Bhagavad-gita
ensina muitos dos principais princípios do Hinduísmo, narrados através de um
diálogo entre o príncipe Pandava, Arjuna e Krishna.
Os livros sagrados estão divididos
em “Sruti”, o que foi ouvido ou escutado, e “Smriti”, o que foi
lembrado ou recordado. Os textos Sruti são considerados como de
inspiração divina, enquanto que os Smriti são derivados das interpretações
dadas por grandes sábios.
O Bhagavad-gita é
considerado por muitos como sendo uma alegoria para os princípios éticos e morais
para uma pessoa, sendo então usado como um guia. Mohandas Gandhi cita o Gita
como um “dicionário espiritual”, e usou os ensinamentos da escritura para ajuda-lo
durante o movimento de independência da Índia.
10º o Hinduísmo é Politeísta com 330 milhões de deuses
Por definição, monoteísmo é a
crença de que há apenas um Deus, enquanto que o politeísmo crê em muitos
deuses. Aceita-se o Judaísmo como sendo a primeira religião monoteístas, comparando-a
com o Panteão greco-romano, povos os quais eram politeístas, onde tinha um deus
para o amor, outro para a guerra, etc.
O Hinduísmo é comumente ensinado
como sendo politeísta, e como possuindo 330 milhões de deuses, mas isso não é
uma descrição precisa da religião. O conceito de Deus no Hinduísmo é complexo,
e pode ser diferente para cada pessoa, mas sempre gira ao redor de um Deus
único ou Espírito Supremo.
As diferentes práticas Hindus
seguem várias formas ou representações de Deus, mas cada representação – deva –
é em si uma representação de Deus. Os Hindus creem que Deus sendo o Supremo,
não pode ser plenamente entendido, assim, as representações terrenas, Shiva,
Vishnu, etc., são meros aspectos simbólicos de Deus, porque Este não pode ser
entendido.
Cada Hindu é capaz de decidir qual
a representação de Deus eles preferem em qualquer tempo, e diferentes culturas,
ao longo dos milênios têm produzido milhões de representações distintas. Isso porque
Deus é Uno e está em tudo e em todos.