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segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Dez equívocos comuns sobre o Hinduísmo

Dez equívocos comuns sobre o Hinduísmo

Texto adaptado por

Krsnapriyananda Swami
Prof. Olavo DeSimon



Com cerca de 14% da população mundial (± um bilhão de pessoas), o chamado Hinduísmo, é a terceira maior religião do planeta. Além do mais, é dita como a religião mais antiga existente. Historiadores levantam a hipótese de que, o que chamamos “Hinduísmo” hoje, pode ter existido desde dez mil (10.000) anos atrás. Apesar disso, o Ocidente tem um conceito equivocado sobre as pessoas que seguem esta religião, bem como da própria religião em si.

1º. O termo “Hindu”
Os termos Hindu e Hinduísmo são anacrônicos, e não se referem aos textos antigos da religião. O termo refere-se às pessoas da região do rio Indo, na Índia. “Hindu”, e “Hinduísmo”, provavelmente originou-se do povo Persa, que invadiram o subcontinente indiano, e que podem ter referido ao termo, porque as pessoas do vale do rio usavam a palavra “Hindu”, que significa “rio”. Mas o nome real para Hinduísmo é Sanātana-dharma (ordem ou dever eterno), o qual é desconhecido pela maioria dos ocidentais. Os seguidores do Sanātana-dharma são chamados dharmis, o qual significa “seguidores do Dharma”. O uso das palavras “Hindu” e “Hinduísmo” foram empregados inicialmente pelos ocidentais, e apesar de muitos indianos da atualidade adotarem os termos. Outras tradições do “dharma” são o Jainismo, Budismo e Sikhismo.

2º. Todos os Hindus são vegetarianos
É verdade que muitos Hindus praticam o vegetarianismo, mas isso não é o caso para a grande maioria dos seguidores. Alguns Hindus creem que todos os animais são seres sensíveis, então eles não comem carnes. Mas para muitos outros, comem praticamente de tudo. Estima-se entre 30 e 35% dos Hindus como vegetarianos, devido ao princípio da não-agressão – ahimsa. A minoria dos Hindus vegetarianos – 300 milhões – ao redor do mundo, seguem aquele princípio como fundamental.
A grande maioria dos líderes espirituais do Hinduísmo são vegetarianos, enquanto a grande maioria dos seguidores não o é. Basicamente, o princípio do ahimsa (trazido originalmente do Jainismo), apregoa o chamado “karma negativo”, para quem abate animais e consome esses produtos. Mas nem todos os Hindus seguem essa regra, assim como nem todos os judeus seguem o kosher.

3º o Hinduísmo é uma religião organizada
As razões que tornam uma religião organizada são diversas, mas, na maioria das vezes, o conceito parece estar envolto no com o religioso e a política num determinado tempo e população. Sabemos que o Cristianismo se espalhou através dos romanos, principalmente dos bizantinos, assim como o Islamismo espalhou-se através de campanhas de muçulmanos na Ásia e Europa. Mas o Hinduísmo organizado não se espalhou pelo mundo de forma sistemática.
Na realidade, não há um líder Hindu religioso único ou particular na fé que seja superior a um outro. O sistema Hindu é diferente, e jamais alimentou qualquer tipo de “império”. Deste modo, os aspectos religiosos do Hinduísmo evoluíram para um rol de ensinamentos e princípios orientadores, sem a influência política vista nas outras religiões, chamadas por isso, organizadas, e de cunho majoritário. Não há proselitismo no Hinduísmo, como também não há um fundador nem tampouco uma data específica de sua origem. Sabe-se que uma síntese dos ensinamentos Hindus nos mostra que foram agrupados por volta dos anos 500-300 antes da nossa era, e ao longo dos anos, várias formas Hindus fundiram-se nas práticas mais ou menos comuns que vemos nos dias de hoje.
4º o Hinduísmo possui um sistema discriminatório de castas
Devido ao fato de o Hinduísmo estar relacionado a Índia, é comum o conceito equivocado de que a religião em si segue um sistema de castas. Por exemplo, os assim chamados “intocáveis”, na sociedade indiana, está fora do que é relatado na cultura védica, sendo contrário os princípios do Hinduísmo.
O sistema indiano assinala a pessoa pelo nascimento, mas não com a atividade ou personalidade encontrados no sistema original. Enquanto isso, o termo “varna”, ordem social, constitui-se num mosaico de deveres morais, relacionados às características pessoais de alguém, independente do seu nascimento, e vinculados as atividades.
Apesar de que, com tempo, os dois sistemas terem se tornado interligados ou misturados, o Hinduísmo não segue este princípio fora da Índia. Originalmente, o sistema varna está dividido nas atividades: dos Brahmanas, sacerdotes e professores; dos Kshatriyas, governantes e guerreiros; dos Vaishyas, fazendeiros e comerciantes, e, dos Shudras, trabalhadores diversos. De algum modo, o sistema védico é observado no Ocidente independente do Hinduísmo, mas sem a devida caracterização. No sistema cultural indiano, os Dalits são chamados sem castas ou intocáveis.

5º os Hindus adoram ídolos
A grande maioria das pessoas acredita que os Hindus adoram ídolos. Isso se deve ao fato de que os seguidores das grandes religiões do Ocidente, Islamismo, e Cristianismo, ambos proibidores da chamada “idolatria”, veem como um aspecto antirreligioso. No entanto, os Hindus não consideram isso uma “adoração de ídolos”, mas veem Deus em tudo e em todos.
Todos os objetos são uma “arca”, uma incorporação viva de Deus, de modo que a vida é vista como derramada dentro de cada imagem ou “ídolo”, que talvez algum Hindu reverencie. Os Hindus chamam esta prática de “murti-puja” (reverência à imagem), e refere-se à crença de que toda a criação é uma forma de Deus, e Sua forma está em tudo.
Os Hindus não vêm essa adoração como sendo uma forma de adoração de imagem, mas como uma representação de Deus em tudo. Isso conflita diretamente com a tradição abraāmica, de adoração a ídolos, conforme os Dez Mandamentos. Essa separação é dificultosa para os ocidentais, então acusam os Hindus de idólatras.

6º os seguidores Hindus adoram vacas
Os Hindus não adoram vacas. Esse equívoco comum deve-se a maneira como os Hindus tratam as vacas, um animal que “dá mais do que tira”, sendo simbólico para todos os outros animais, no que representa a vida e sua manutenção. Comendo apenas grão, grama e água, a vaca fornece leite, manteiga, iogurte, queijo, e fertilizantes, etc., desta forma, nos dá muito mais do que tira.
As vacas também são respeitadas por sua natureza gentil, sendo vista com características maternas. Devido ao modo como os Hindus veneram as vacas, e na sociedade indiana, isso parece aos estrangeiros como sendo adoração. Mas os Hindus não veem isso como adoração, mas como respeito aos animais em geral.

7º Mulheres com Bindi (símbolo na testa) são casadas.
Um bindi (u botão vermelho na testa), é usado por milhares de mulheres, casadas e solteiras, ao redor do mundo, especialmente na Índia. Bindis constituem-se em regra espiritual na cultura Hindu, apesar de estar diminuindo nos tempos atuais.
Tradicionalmente, uma mulher colocava um ponto vermelho na testa, feito com um pó especial, na região entre as duas sobrancelhas, significando casamento, como sinal de amor e prosperidade. O local refere-se ao chamado “terceiro olho”, o qual assinala a perda do egoísmo “ahamkara”. Nos tempos atuais, para a grande maioria, perdeu-se aquele significado, e assim as mulheres usam a cor do bindi que escolherem, sem ter relação com o casamento.
Na tradição, um bindi preto significava a perda do marido quando utilizado por uma viúva. Os homens usam um tipo de bindi chamado de “tilak”, o qual consiste numa série de linhas colocadas na testa, e, as vezes, um ponto. Várias cores denotas diferentes linhagens, escolas, mas a principal tradição da cultura do uso de tilak é conhecida apenas por estudiosos renomados da cultura indiana.

8º O Hinduísmo é tão antigo quanto o Judaísmo
Sabemos que muitas tradições e religiões culturais brotaram no subcontinente indiano durante milhares de anos, antes de finalmente unir-se para formas o Hinduísmo moderno, por volta do ano 1800 de nossa era atual. É um equívoco comum achar que o Hinduísmo tenha começado por volta da época do Judaísmo, a primeira religião abraāmica que deu início ao Cristianismo e Islamismo.
Enquanto o Judaísmo é uma antiga fé que tenha se originado por volta do ano 1500 antes da era atual, antigas formas de Hinduísmo surgiram no período pré-histórico, datando de milhares de anos antes. Mas devido ao fato de o Judaísmo ter começado entre práticas combinadas de várias tribos por volta de 4000 antes da nossa era, erroneamente crê-se que tenha sido a religião mais antiga.

9º a Bíblia Hindu é o Bhagavad-gita
O Bhagavad-gita é o texto Hindu mais conhecido no mundo Ocidental, mas não é a Bíblia Hindu. O Bhagavad-gita ensina muitos dos principais princípios do Hinduísmo, narrados através de um diálogo entre o príncipe Pandava, Arjuna e Krishna.
Os livros sagrados estão divididos em “Sruti”, o que foi ouvido ou escutado, e “Smriti”, o que foi lembrado ou recordado. Os textos Sruti são considerados como de inspiração divina, enquanto que os Smriti são derivados das interpretações dadas por grandes sábios.
O Bhagavad-gita é considerado por muitos como sendo uma alegoria para os princípios éticos e morais para uma pessoa, sendo então usado como um guia. Mohandas Gandhi cita o Gita como um “dicionário espiritual”, e usou os ensinamentos da escritura para ajuda-lo durante o movimento de independência da Índia.

10º o Hinduísmo é Politeísta com 330 milhões de deuses
Por definição, monoteísmo é a crença de que há apenas um Deus, enquanto que o politeísmo crê em muitos deuses. Aceita-se o Judaísmo como sendo a primeira religião monoteístas, comparando-a com o Panteão greco-romano, povos os quais eram politeístas, onde tinha um deus para o amor, outro para a guerra, etc.
O Hinduísmo é comumente ensinado como sendo politeísta, e como possuindo 330 milhões de deuses, mas isso não é uma descrição precisa da religião. O conceito de Deus no Hinduísmo é complexo, e pode ser diferente para cada pessoa, mas sempre gira ao redor de um Deus único ou Espírito Supremo.
As diferentes práticas Hindus seguem várias formas ou representações de Deus, mas cada representação – deva – é em si uma representação de Deus. Os Hindus creem que Deus sendo o Supremo, não pode ser plenamente entendido, assim, as representações terrenas, Shiva, Vishnu, etc., são meros aspectos simbólicos de Deus, porque Este não pode ser entendido.
Cada Hindu é capaz de decidir qual a representação de Deus eles preferem em qualquer tempo, e diferentes culturas, ao longo dos milênios têm produzido milhões de representações distintas. Isso porque Deus é Uno e está em tudo e em todos.