Olavo DeSimon (Krsnapriyanananda Swami)
Eventualmente, perguntam-me sobre a possível existência de
um “tarot védico”, quando, na realidade, não existe tal “dispositivo” adivinhatório
na cultura védica. É certo que as pessoas tendem a interpretar as coisas pelo
viés gravitacional da cultura que estão mergulhadas, mas para o bem da
sabedoria, “védico” diz respeito aos Vedas: um conjunto de textos sobre hinos
de louvor, sacrifício e cânticos rituais do antigo Irã (Arian), levados até a
Índia por volta de 1.500 antes da era atual. Ainda que possam ter existido civilizações anteriores no norte da Índia, a hipótese da influência ariana é
forte, principalmente quando lemos os textos de ambas as culturas e os
comparamos, com a devida exegese. No mais, Vedas são textos destinados aos
membros envolvidos na cultura do Sanatana Dharma, conforme o sistema de
varnashrama, posição de atividade social como os Brahmanas, Kshátryas, e
Vaishyas. Alguns aspectos são específicos aos Brahmanas, como rituais de
sacrifício, outros aos Kshatryas, como a guerra e administração, e, também, aos
Vaishyas, estes dedicados ao comércio. Fora disso, temos os chamados “escritos
seculares”, que são textos advindos do folclore cultural indiano que, como
sabemos, é um cadinho de múltiplas culturas e tradições diversas, como da Mongólia,
da Arábia, da Persa, bem como da cultura
Ocidental, e assim por diante.
Na Índia, o que mais se aproxima do que conhecemos como
“tarot”, uma prática divinatória surgida na Europa por volta dos séculos XV e
XVI, apesar de não se utilizar de cartas, mas de dados (como o pachisi) , tem distintos nomes como: Maha Lilah, Gyan Chapaud, Shaap Shree,
Mohska-Patamu, entre outros, conforme a região do continente, e que, na
verdade, são jogos de divertimento ou passatempos (lilah) que não seguem
rituais védicos. Em resumo, no mais das vezes, há um tabuleiro com oito níveis
de avanço no jogo, constituindo-se em média de 72 (setenta e duas) casas,
denominadas “lokas” (mundos); entre essas casas, em alguns dos jogos, há
escadas, também serpentes interferindo a caminhada do jogador; as casas dos
devas (deuses), como Brahma, Vishnu e Shiva, são ditas que se encontram em um
nível intermediário ao do guru. A
meta final é alcançar a casa do Guru, ou mestre, conhecida como “garana”.
Portanto, se há algum “tarot védico”, esse, sem dúvida, será uma adaptação do
jogo de cartas europeu do final da Idade Média, e sem origem nos Vedas.
Contudo, o aspecto peculiar dos jogos de tabuleiro
anteriormente mencionados, é a forma lúdica de ensinar os fundamentos da
cultura do Sanatana Dharma, como Dharma (dever), Karma (trabalho: ação e
reação), Kama (laser) e Moksha (liberação). Estes aspectos estão presentes e
elucidados nos Upanishads, que são comentários dos Vedas, desde que estes
textos estão numa linguagem mais simbólica do que real. Há muitas formas e
variantes daqueles jogos, mas o pano de fundo é a moral e a ética contida na
tradição indo-europeia.
Referências
biblográficas
ELIADE, Mircea. O
conhecimento sagrado de todas as eras. São Paulo, Mercuryo, 2004.
ELIADE, Mircea; COULIANO, Loan P. Dicionário das Religiões. São Paulo, Martins Fontes, 2003.
ZIMMER, Heirinch. Filosofias
da Índia. São Paulo, Palas Athena, 2000.
___ Mitos e Símbolos
na arte e civilização da Índia. 2ª reimp. São Paulo, Palas Athena, 1998