Ufos
do estranhismo moral ao estranhismo tecnológico
do estranhismo moral ao estranhismo tecnológico
Swami Krishnapriyananda Saraswati
(Olavo DeSimon)
Vimana - uma representação numa pintura indiana antiga |
Escrevo isso por ter tido uma experiência muito pessoal com
o que hoje chamam “ufo”. Portanto, estou plenamente a vontade de dizer o que
escrevo a seguir, bem como para desafiar quem não teve a experiência que tive e
dizer-me o que realmente foi. Observando a grande maioria dos ‘comentadores’
sobre ufos, disponíveis em revistas, blogs, etc., vejo tratar-se de pura
especulação em moldes de idiossincrasias e solipsismos. De concreto, não há
nada aproveitável e razoável em quase sua totalidade. É pouco provável que
algum daqueles “comentaristas” teve alguma experiência pessoal com algo real
naquela natureza. Quem realmente viveu uma experiência do tipo ‘ufo’ é provável
que apenas relate o que viu ou o que sentiu (sendo tão particular como uma
experiência particular permite), mas não ficará misturando com crenças, ideologias
religiosas ou políticas sob a pena de estar falando apenas do que sabe e não do
que não sabe, colorindo o matiz do desconhecido com suas tintas de crenças pessoais.
Perlaborações posteriores naqueles fenômenos demonstram imaturidade intelectual,
do que aconteceu na área “ufo”; são tão fantasiosas como os contos de fadas. É intrigante
o fato de um “eu acho então”, riqueza peculiar do especulador “estranho
tecnológico e moral”, ficar avolumando páginas e páginas de pura
especulação solipsista, e nunca focar o cerne do que pretende longe do que crê.
Quem viveu sabe: uma experiência ‘ufo’ é única e praticamente inefável. Simplesmente
não sabemos do que se trata, e não saber é algo humano também. Do mesmo modo
como um cientista observa, analisa e relata o que está empirizando, distanciando-se
das suas convicções particulares - as quais, no mais das vezes, no leigo ou na
mente não treinada para a investigação, nascem da simples apreensão e na
conversão para aquilo ao qual conhecem e acreditam – a experiência e
consequente análise posterior de um fenômeno ‘ufo’ particular deve ser devidamente
ponderada. Parafraseando Heidegger, "do que não se pode falar é melhor calar"!
Na grande maioria das vezes, quando vemos opiniões não
experenciadas sobre o fenômeno “ufo” (estas parecem ser tão variáveis quando
entes observadores existam), vemos pura especulação; pura elucubração que
tentam, de modo forçado, querer encaixar com o que não se explica em termos de
tecnologia atual em nossa cultura, com suas crenças, ideologias, religiões,
etc., que são conceitos mais ou menos estéticos morais pessoais. É algo como
querer colocar uma peça de quebra-cabeças onde o espaço é redondo, forçando-se uma
peça quadrada ou uma leitura utilizando-se os “óculos colorido” o qual temos
como real. Me recordo de uma experiência de uma senhora que resolveu “conhecer
a Índia”. Ao ver na rua um homem com uma mesa, tendo algumas moedas sobre ela,
imediatamente retirou algumas de sua bolsa e colocou-as por sobre a mesa do
homem. Vendo-o irritado, ela perguntou para alguém que já era mais experiente,
por que o homem estava reagindo daquela maneira? Então soube que o mesmo estava
doando as moedas para quem escutasse alguns versos das Escrituras Sagradas, e
não estava pedindo esmolas. Assim, vê-se de tudo o que se quer ver com o óculos
da nossa moral, mas é claro que um cientista racional sério não irá participar
destes encontros marcados com ideologias pré-definidas. Mas um cérebro que não
foi ensinado a pensar, e que está acostumando apenas seguir o rastro do que
aprendeu como verdade, calcando-se num esteticismo moral particular, seguirá um
caminho o qual lhe é confortável, mas não será necessariamente verdadeiro. Quando
alguém no campo da ciência procura por algo, no mais das vezes, sequer sabe o
que procura. Mas o acaso de algo encontrado sempre será para quem o procura,
ainda que não saiba o que procura. Se um cientista buscasse apenas o que é esteticamente
moral naquele momento, é provável que não saísse das suas crenças pessoais.
Temos o exemplo bem claro de Kepler, que percebendo o modelo
das orbitas elípticas dos planetas, formulado por Copérnico, aquele dizia
tratar-se de apenas um artifício deste, tendo em vista a formulação de uma
hipótese. Kepler, assim como Aristóteles e Ptolomeu, estava tão convencido da
sua ideia preconcebida da órbita circular dos planetas, que não conseguia ver
de modo diferente. Mas Kepler via que o modelo geocêntrico, assim como
Copérnico, era deficitário. Mas Kepler via a ideia de Copérnico como uma “estranheza
moral”, simplesmente porque, para antigos pensadores, a elipse era “um círculo
imperfeito”, e isso era esteticamente incorreto. Sim, de modo ingênuo, o belo e
o bem andam atrelados em pensadores poéticos, e deformam o conhecimento da
realidade.
Por sua vez, uma ciência puramente utilitária, que vê motivo
e ‘utilidade’ em tudo, é certo tratar-se de um outro modelo de pensamento
ideológico, e não necessariamente tratar-se de ciência. Por outro lado, em
contrapartida ao modelo estético, os paradigmas utilitários, que se mostraram
tão ineficientes quanto suas propostas de validade, também se apresentam vazios
diante de explicar o que não conhecemos. Tentar forçar o que conhecemos para
definir o que não conhecemos é uma tolice que não irá encaixar cubos em
triângulos. É claro que as chamadas “leis da Física” se aplicam também ao que
ainda não conhecemos, considerando-se o devido “campo de gravitação” da
experiência acumulada. Mas também pode ser que em circunstâncias
extraordinárias tenhamos coisas extraordinárias. Alguém, então, poderá pensar
num “que fazer” diante daquilo que estamos mudos e sem explicações distanciadas
de ideologias. A resposta é bem simples e bem objetiva: coletar o máximo de
dados possíveis, procurando um afastamento ideológico; organizar e observar
novamente. Como diz Mario Bunge, o que diferencia ideologia de ciência é o “juízo
de valor” que se calca em algo como critério de validade. Será pouco provável
que alcancemos uma compreensão do que não conhecemos se o ponto de partida for um
juízo de valor, o motor fundamental das ideologias, tentando encaixar peças distintas
em espaços diferentes. Contudo, os fenômenos “ufo” também podem carregar outro
componente, além da tecnologia empregada. Trata-se dos “estranhos morais” que a
articulou, engenhou e empreendeu. Vemos a fragilidade em nossas vidas de
entender os diferentes nuances do comportamento moral de outras culturas, aqui
mesmo na Terra. Pode ser que as “cabanas de amor” das adolescentes Kreung, do
Camboja, as quais os pais das jovens constroem para que possam “descobrir o
amor”, tendo experiências com jovens adolescentes, cause algum dano na
moralidade objetiva da maior parte do mundo. Mas nosso “julgamento” desta
moralidade apenas demonstra nossa moral aos “estranhos morais”. Do mesmo modo,
os “estranhos tecnológicos” estão sujeitos aos nossos “estranhismos ideológicos”.
Concluindo, não se nega que haja fenômenos aos quais ainda
não conhecemos. Por exemplo, será que o mais intrigante deles, a vida, não é
também merecedora de análise? Será que a visão ingênua religiosa, ou seja, um
impedimento moral ao estranho moral do que não conhecemos deve silenciar-se
diante da realidade do que é a vida objetivamente falando? Será que não podemos
ter um jardim com flores sem que alguém venha colocar duendes nele? Posso
meramente contemplar a beleza de um arco-íris sem a necessidade poética de um ‘pote
de ouro’ no seu ‘final’? De fato, atualmente, uma observação despojada do
esteticismo moral parece estar distante de um fenômeno tão intrigante quando o ‘ufo’,
mas o que deve ser ponderado é o quanto estamos inferindo de nossas convicções no
que não conhecemos e o quanto disso colocamos como verdade. Sinceramente, admitir
que não sabemos alguma coisa é também algo muito humano, bem como a busca para
resolver o problema do desconhecido é muito, mas muito humano.
Conhecendo um pouco mais:
Uma nova História do Tempo . Shephen Hawking, 2005
A Magia da Realidade - Richard Dawkins, 2009.
Epistemologia . Mario Bunge