Pesquisar este blog

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Ufos - do estranhismo moral ao estranhismo tecnológico.


Ufos
do estranhismo moral ao estranhismo tecnológico

Swami Krishnapriyananda Saraswati
(Olavo DeSimon)


Vimana - uma representação numa pintura indiana antiga


Escrevo isso por ter tido uma experiência muito pessoal com o que hoje chamam “ufo”. Portanto, estou plenamente a vontade de dizer o que escrevo a seguir, bem como para desafiar quem não teve a experiência que tive e dizer-me o que realmente foi. Observando a grande maioria dos ‘comentadores’ sobre ufos, disponíveis em revistas, blogs, etc., vejo tratar-se de pura especulação em moldes de idiossincrasias e solipsismos. De concreto, não há nada aproveitável e razoável em quase sua totalidade. É pouco provável que algum daqueles “comentaristas” teve alguma experiência pessoal com algo real naquela natureza. Quem realmente viveu uma experiência do tipo ‘ufo’ é provável que apenas relate o que viu ou o que sentiu (sendo tão particular como uma experiência particular permite), mas não ficará misturando com crenças, ideologias religiosas ou políticas sob a pena de estar falando apenas do que sabe e não do que não sabe, colorindo o matiz do desconhecido com suas tintas de crenças pessoais. Perlaborações posteriores naqueles fenômenos demonstram imaturidade intelectual, do que aconteceu na área “ufo”; são tão fantasiosas como os contos de fadas. É intrigante o fato de um “eu acho então”, riqueza peculiar do especulador “estranho tecnológico e moral”, ficar avolumando páginas e páginas de pura especulação solipsista, e nunca focar o cerne do que pretende longe do que crê. Quem viveu sabe: uma experiência ‘ufo’ é única e praticamente inefável. Simplesmente não sabemos do que se trata, e não saber é algo humano também. Do mesmo modo como um cientista observa, analisa e relata o que está empirizando, distanciando-se das suas convicções particulares - as quais, no mais das vezes, no leigo ou na mente não treinada para a investigação, nascem da simples apreensão e na conversão para aquilo ao qual conhecem e acreditam – a experiência e consequente análise posterior de um fenômeno ‘ufo’ particular deve ser devidamente ponderada. Parafraseando Heidegger, "do que não se pode falar é melhor calar"!

Na grande maioria das vezes, quando vemos opiniões não experenciadas sobre o fenômeno “ufo” (estas parecem ser tão variáveis quando entes observadores existam), vemos pura especulação; pura elucubração que tentam, de modo forçado, querer encaixar com o que não se explica em termos de tecnologia atual em nossa cultura, com suas crenças, ideologias, religiões, etc., que são conceitos mais ou menos estéticos morais pessoais. É algo como querer colocar uma peça de quebra-cabeças onde o espaço é redondo, forçando-se uma peça quadrada ou uma leitura utilizando-se os “óculos colorido” o qual temos como real. Me recordo de uma experiência de uma senhora que resolveu “conhecer a Índia”. Ao ver na rua um homem com uma mesa, tendo algumas moedas sobre ela, imediatamente retirou algumas de sua bolsa e colocou-as por sobre a mesa do homem. Vendo-o irritado, ela perguntou para alguém que já era mais experiente, por que o homem estava reagindo daquela maneira? Então soube que o mesmo estava doando as moedas para quem escutasse alguns versos das Escrituras Sagradas, e não estava pedindo esmolas. Assim, vê-se de tudo o que se quer ver com o óculos da nossa moral, mas é claro que um cientista racional sério não irá participar destes encontros marcados com ideologias pré-definidas. Mas um cérebro que não foi ensinado a pensar, e que está acostumando apenas seguir o rastro do que aprendeu como verdade, calcando-se num esteticismo moral particular, seguirá um caminho o qual lhe é confortável, mas não será necessariamente verdadeiro. Quando alguém no campo da ciência procura por algo, no mais das vezes, sequer sabe o que procura. Mas o acaso de algo encontrado sempre será para quem o procura, ainda que não saiba o que procura. Se um cientista buscasse apenas o que é esteticamente moral naquele momento, é provável que não saísse das suas crenças pessoais.

Temos o exemplo bem claro de Kepler, que percebendo o modelo das orbitas elípticas dos planetas, formulado por Copérnico, aquele dizia tratar-se de apenas um artifício deste, tendo em vista a formulação de uma hipótese. Kepler, assim como Aristóteles e Ptolomeu, estava tão convencido da sua ideia preconcebida da órbita circular dos planetas, que não conseguia ver de modo diferente. Mas Kepler via que o modelo geocêntrico, assim como Copérnico, era deficitário. Mas Kepler via a ideia de Copérnico como uma “estranheza moral”, simplesmente porque, para antigos pensadores, a elipse era “um círculo imperfeito”, e isso era esteticamente incorreto. Sim, de modo ingênuo, o belo e o bem andam atrelados em pensadores poéticos, e deformam o conhecimento da realidade.

Por sua vez, uma ciência puramente utilitária, que vê motivo e ‘utilidade’ em tudo, é certo tratar-se de um outro modelo de pensamento ideológico, e não necessariamente tratar-se de ciência. Por outro lado, em contrapartida ao modelo estético, os paradigmas utilitários, que se mostraram tão ineficientes quanto suas propostas de validade, também se apresentam vazios diante de explicar o que não conhecemos. Tentar forçar o que conhecemos para definir o que não conhecemos é uma tolice que não irá encaixar cubos em triângulos. É claro que as chamadas “leis da Física” se aplicam também ao que ainda não conhecemos, considerando-se o devido “campo de gravitação” da experiência acumulada. Mas também pode ser que em circunstâncias extraordinárias tenhamos coisas extraordinárias. Alguém, então, poderá pensar num “que fazer” diante daquilo que estamos mudos e sem explicações distanciadas de ideologias. A resposta é bem simples e bem objetiva: coletar o máximo de dados possíveis, procurando um afastamento ideológico; organizar e observar novamente. Como diz Mario Bunge, o que diferencia ideologia de ciência é o “juízo de valor” que se calca em algo como critério de validade. Será pouco provável que alcancemos uma compreensão do que não conhecemos se o ponto de partida for um juízo de valor, o motor fundamental das ideologias, tentando encaixar peças distintas em espaços diferentes. Contudo, os fenômenos “ufo” também podem carregar outro componente, além da tecnologia empregada. Trata-se dos “estranhos morais” que a articulou, engenhou e empreendeu. Vemos a fragilidade em nossas vidas de entender os diferentes nuances do comportamento moral de outras culturas, aqui mesmo na Terra. Pode ser que as “cabanas de amor” das adolescentes Kreung, do Camboja, as quais os pais das jovens constroem para que possam “descobrir o amor”, tendo experiências com jovens adolescentes, cause algum dano na moralidade objetiva da maior parte do mundo. Mas nosso “julgamento” desta moralidade apenas demonstra nossa moral aos “estranhos morais”. Do mesmo modo, os “estranhos tecnológicos” estão sujeitos aos nossos “estranhismos ideológicos”.

Concluindo, não se nega que haja fenômenos aos quais ainda não conhecemos. Por exemplo, será que o mais intrigante deles, a vida, não é também merecedora de análise? Será que a visão ingênua religiosa, ou seja, um impedimento moral ao estranho moral do que não conhecemos deve silenciar-se diante da realidade do que é a vida objetivamente falando? Será que não podemos ter um jardim com flores sem que alguém venha colocar duendes nele? Posso meramente contemplar a beleza de um arco-íris sem a necessidade poética de um ‘pote de ouro’ no seu ‘final’? De fato, atualmente, uma observação despojada do esteticismo moral parece estar distante de um fenômeno tão intrigante quando o ‘ufo’, mas o que deve ser ponderado é o quanto estamos inferindo de nossas convicções no que não conhecemos e o quanto disso colocamos como verdade. Sinceramente, admitir que não sabemos alguma coisa é também algo muito humano, bem como a busca para resolver o problema do desconhecido é muito, mas muito humano.  


Conhecendo um pouco mais:
Uma nova História do Tempo . Shephen Hawking, 2005
A Magia da Realidade - Richard Dawkins, 2009.
Epistemologia . Mario Bunge