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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Castas e Karma

Castas e Karma
Por
Neria Harish Hebbar, MD
Tradução de
Swami Krsnapriyananda Saraswati

GITA ASRAMA
2009-2010

O Imperador Jalaluddin Mohammad Akbar


É reivindicado, com certo grau de certeza, que a divisão da sociedade “hindu”, iniciada nos períodos védico e épico, dentro de quatro castas (Varna),[1] com suas subsequentes e inumeráveis divisões posteriores, mais práticas de acordo com a profissão (Jati), deu estabilidade à sociedade indiana. Escritores muçulmanos, que ocuparam a Índia interiormente, por centenas de anos logo após o surgimento do Islã, nos dão uma janela dentro do mundo indiano existente no século VIII. Sindh ficou sob ocupação muçulmana no ano de 712 da era atual, através da incursão do general Muhammad bin Qasim - quem era parente do Califa de Baghdad na ocasião - iniciando a era islâmica na região de Sindh e Punjab (hoje Paquistão). Chach-nama (também conhecido como Tarikh-i Hind Wa Sindh (um escrito sobre a história do Sindh), e artigos de AL-Biruni (muçulmano Persa conhecido no mundo todo), apesar de terem sido escritos nos sécs. XI e XIII alegam suas origens em outros escritos contemporâneos. Eles afirmam que a “classificação sistemática” (das chamadas “castas”) não era assim tão rígida no séc. VIII, apesar de tudo. Reis Shudras bem como Brahmanas governavam, e nem toda a realeza pertencia a classe dos Kshatriyas. Além do mais, o sistema de castas não era proibitivo e repressivo. Ele apenas concedia direitos de participação no processo político e econômico, embora com a condição de certas obrigações sociais. Assembléias rurais bem como urbanas, como casta e conselhos corporativos, davam endosso a um líder em particular. A casta não era base para qualquer exclusão ou participação no processo político. A sociedade tornou-se admiravelmente estável, mesmo que excessivamente estratificada; isso não foi prejudicial para o progresso senão que auxiliou a aprimorá-la em sua sistematização. Afirmam que a sociedade era vibrante e a vida harmoniosa. Os reinos eram geralmente prósperos, e os sujeitos contentavam-se com a pouca discriminação ou conflitos. Os escritores muçulmanos não omitiram de notar a prosperidade do comércio e da segurança de viajar nas estadas, bem como da lei e da ordem na sociedade, não obstante a estratificação dentro do sistema de castas. Todavia, eles tiveram dificuldades em identificar corretamente as várias castas e os diversos Jatis, sugerindo que o sistema parecia nebuloso para um observador externo e definitivamente não firme nesse assunto.

 A passividade e a rigidez do sistema de castas se tornaram mais pronunciadas apenas após os muçulmanos terem feito o seu aparecimento nas costas da Índia, quando, então, a discriminação religiosa e taxação opressiva (Jizya – o imposto para não-muçulmanos obrigado pelos governadores muçulmanos), conspirou-se, tendo em vista afastar e remover determinados segmentos da população do avanço político e econômico. Os governantes muçulmanos tornaram-se ávidos em explorá-lo (o sistema de castas da forma opressiva). Alguns Brahmanas e monges budistas foram dispensados do imposto.[2] O sistema de castas, então, se tornou estático, perdeu suas influências no processo social e se tornou conhecido como sendo uma característica distinta do “hinduísmo” ortodoxo.

Foi então que a noção de Karma se tornou o pensamento predominante dentro do “hinduísmo, na maioria das vezes para as pessoas em desvantagem. O sistema de castas, que tinha sido desenvolvido cerca de milhares de anos antes, agora resultara na produção de classes privilegiadas e na opressão dos menos favorecidos. A teoria do Karma – segundo a qual o status de alguém é pré-determinado por sua conduta na vida passada, e devendo aprimorar as vidas subsequentes devido a sua conduta atual – tornou-se uma explicação racional para o sistema de castas, servindo com uma “consolação” para os muitos necessitados e que estavam em desvantagem devido ao Karma. O exercício dos direitos de castas se tornou obrigatório, mas sendo apenas efêmero na atual vida, com melhores perspectivas na vida seguinte, se as obrigações fossem feitas sem queixas. A espiritualidade e a fé auxiliaram no abrandar dos efeitos da vida dura. As crenças fundamentais dos “hindus” e budistas do Karma, Samsara e Punarjanma,[3] “salvaram” a população de uma existência miserável, oferecendo-lhes um “farol de esperanças” para uma próxima vida melhor. Mesmo diante das adversidades e sem esperanças, medidas mais drásticas não foram tomadas, uma vez que eram apenas “ocorrências nesta vida temporária”.

Por conseguinte, a religião “hindu” tornou-se mais ortodoxa, como um resultado direto da ameaça externa de uma religião estrangeira, com muito pouca tolerância para com os “infiéis”. Al-Biruni escreveu o quanto admirava o rei Brahmana de Sindh, no século VIII, chamado Chach (por isso o nome do rtexto histórico: Chach-nama), quem governava de forma admirável assim que, “ajustou-se o inferno quando ele morreu, uma vez que era um ‘infiel’”. Muito da liberdade até então desfrutada pelos cidadãos fora cortada por necessidade, e o Islã teve um profundo efeito negativo no desenvolvimento de um “hinduísmo” mais liberal. A rigidez islâmica foi levemente influenciada pela religião “hindu”, como se vê no Sufismo, o segmento do islamismo que incorporou o Vedanta e os Upanisads nas suas crenças.

Houve alguns muçulmanos, através da história, que tentaram assimilar o “hinduísmo” dentro de suas próprias crenças religiosas, mas foram poucos e bem escassos entre eles. Aqueles que tentaram foram vítimas do ostracismo pelo rígido corpo do Ulema,[4] estes encarregados de interpretar a lei de acordo como Alcorão e o Hadith.[5] Akbar, de certa forma, teve algum sucesso, mas quando o mais tolerante Mughal,[6] Dara Shikoh, filho do Shah Jahan, traduziu os Upanisads para a linguagem Persa, isso foi considerado blasfêmia pelo Ulema. Aurangzeb[7] utilizou-se disso para atacar Delhi e matar o seu irmão, tendo em vista “salvar o seu pai”, o imperador Shah Jahan, “da influência demoníaca de Dara Shikoh”. Hoje, o fundamentalismo do Islã foi ofuscado em cada tentativa de moderação, sendo o Sufismo uma memória distante. Até mesmo a mais moderada seita islâmica, de Aga Khanis (Nizari Ismailis) capitulou, tendo sido forçada a seguir as leis Sharia,[8]  com a ameaça da excomunhão pairando por sobre suas cabeças.

O que se relatou é uma pequena curiosidade de como a comunidade “hindu” se tornou mais fundamentalista, numa tentativa de confrontar o Islã intolerante. Primeiramente, a pacífica religião dos Sikhs tornou-se beligerante (os mongóis foram responsáveis por isso; três dos dez gurus Sihks foram mortos pelos mongóis), e agora o “hinduísmo” tem esta tendência de militarizar-se e fundamentalizar-se.

Neria Harish Hebbar, MD
março de 2002



[1] O sistema de Varna, conhecido no Ocidente como “castas”, tem: Shudras, ou a “casta” de servos ou trabalhadores; Brahmanas, classe sacerdotal; Kshatriyas, administradores e guerreiros; Vaishyas, comerciantes, artesões, proprietários de terras.
[2] É sabido que os budistas eram experientes comerciantes, e dominaram a Índia por cerca de 1.200 anos, impondo uma “política” de passividade diante do Karma, porque queriam instalar uma teocracia monástica no território, porém sem sucesso.
[3] Karma= ação e reação; trabalho; ocupação; Samsara= nascimentos e mortes repetitivos; Punarjanma= purificação do nascimento; renovação; liberação.
[4] Ulema ou “mulá”, um erudito versado na lei Islâmica.
[5] A Hadith - الحديث, pl. Ahadith) é um corpo de leis, lendas e histórias sobre a vida de Muhammad, (estas histórias chamam-se em Árabe Sunnah e incluem a sua biografia ou sira) e os próprios dizeres nos quais ele justificou as suas escolhas ou ofereceu conselhos; muitas partes da Hadith lidam com os seus companheiros (Sahaba).
[6] O mesmo que “mongol”.
[7] Abu Muzaffar Muhiuddin Muhammad Aurangzeb Alamgir (3 de Novembro de 1618 — 3 de Março de 1707), também referenciado por Alamgir I, foi um imperador mongol cujo reinado durou de 1685 a 1705. Aurangzeb era considerado inteligente, eficiente e impiedoso, além de ser um devotado muçulmano. Começou o seu reinado prendendo o velho e doente pai, o xá Jahan, e matando os irmãos, seus rivais para o trono. Uma série de conquistas permitiu-lhe estender o Império Mongol cobrindo quase toda a Índia e Paquistão atuais, e parte do Afeganistão. No entanto nunca submeteu inteiramente os maratas do Decão, a parte peninsular da Índia e, já perto de sua morte, sua autoridade era amplamente desafiada. O fanatismo religioso de Aurangzeb levou-o a perseguir a população hindu, em vez de continuar uma política de conciliação, tal como fizera o seu avô Akbar. Foi talvez isso, mais do que qualquer outro motivo, que apressou a fragmentação do império logo após a sua morte, aos oitenta e oito anos. Conf. Wikipédia, http://pt.wikipedia.org/wiki/Aurangzeb
[8] Código de leis baseado no Alcorão; leis santas do islamismo que cobre aspectos do dia-a-dia

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Sādhana-catṣtaya

Sādhana-catṣtaya
Swami Kṛṣṇaprīyānanda Saraswatī

GĪTĀ AŚRĀMA

Porto Alegre, RS – Brasil
2007-2010


Introdução
Sri Sankaracarya instrui sobre o Vedanta
Śrī Pātañjali nos Yoga-Sūtras comenta quais são os obstáculos que alguém encontra no caminho na busca da liberação do Saṁsāra (ciclo de nascimentos e mortes). Sem dúvida, além de uma prática de controle do corpo (prática objetiva), realizada por meio dos Kriyas ou atos purificatórios, há necessidade de um Sādhana regular, sob orientação segura do Mestre Espiritual. Os interesses materialistas são os principias obstáculos que subjazem em todo o Sādhana. O Bhakta deverá ficar vigilante destes desejos, porque são obstáculos para o verdadeiro desenvolvimento espiritual. Os Kriyas básicos para um principiante no caminho do Vedānta[1] são: a) não se intoxicar com quaisquer tipos de drogas (álcool e fumo incluídos); b) não praticar jogos de azar; c) não praticar sexo promíscuo, d) e não comer carnes. Estes são aspectos primários, chamados "princípios", mas ao progredir no Sādhana, o devoto irá encontrar obstáculos ou Kleshas, que deverão ser eliminados para poder progredir. As virtudes morais do devoto são Kriyas do comportamento, por isso, os aspectos fornecidos no Yama e Niyama são colocados como bases para os primeiros passos do pretendente ao Yoga, na realidade, são os passos para qualquer pretendente a Bhakta dar início ao Sādhana, seja no Darshana que for. Klehas são obstáculos no caminho. Vejamos brevemente sobre eles, conforme Sri Patañjali nos diz. Sri Krishna no Bhagavad-gita adverte Arjuna que o serviço devocional ou Bhakti-yoga deve ser realizado por meio de um Sādhana constante, e que os impedimentos para o progresso espiritual deve-se aos Kleśas. A adoração do Brahman sem-forma é difícil para os principiantes, porque não estão devidamente equipados com os quatro meios. Vejamos o verso do Gita sobre estes aspectos:

aklesho ´adhikataras tesam
avyaktasakra-cetasam
abyakta hi gatir duhkham
dehavadbhir avapyate (12.3)

Devido aos Kleshas ou perturbações (da mente), o progresso daqueles que Me vêem na Forma Imanifesta (Brahman), certamente, é muito penoso para os que estão corporificados, e com muitas dificuldades Me alcançam”.

Como vemos, este verso inicia citando os “Kleśaḥ” (perturbações da mente) como sendo uma forma de obstáculo para a adoração sem forma ou imanifesta – Nirguṇa-Avyakta - do Supremo. Śrī Pātañjli enumera as principais aflições ou perturbações que formam Kleśa, a saber: avidya aśmitā rāgadveśa abhiniveśa kleśah (YS, 2.3):Avidyā, ignorância; Aśmitā, egoísmo; Rāga, apego; Dveśa, aversão, e Abhiniveśa, apego pela vida, são as aflições, ou Kleśas”. Portanto, há sérios obstáculos a serem vencidos antes de uma adoração Avyakta (não manifesta) ser possível de realizar pelo Yogī. O processo de purificar os Kleśas se dá através do conhecimento adequado, emprego dos quatro meios e seis virtudes, adquirido por meio das instruções de um mestre ou Guru realizado, que instrua com base no Pramāna védico (evidências fundamentais). Śrī Pātañjali diz, também, que: “A ignorância, Avidyā, é a base para todas as outras aflições, quer estejam adormecidas, tenuemente em ação, ou alternadamente adormecidas, e em ação, ou em plena atividade”. Portanto, o primeiro processo para a libertação dos Kleśas é o alcançar do conhecimento por meio do serviço devocional prestado na rendição incondicional ao preceptor espiritual

Sādhana_catśtaya
Especialmente considerados no Vedānta, há quatro meios na prática ou Sādhana-catśtaya, num dos quais estão as seis virtudes ou Śat-sampat, que devem ser cultivados no caminho da autorrealização. Estes aspectos oportunizam firmeza, clareza, nos três estágios da prática ou Sādhana, principalmente, com relação ao aspecto de Srāvana, ou “ouvir” os  ensinamentos dados pelo Mestre espiritual. Após ouvir as instruções do Guru, o Bhakta, então, deverá refletir sobre elas – Manāna –, buscando realizá-las, e, por fim, contemplá-las  de forma profunda, através da meditação ou Niddhidhyāna.

As instruções do Mestre Espiritual devem passar por profunda reflexão, e para isso é também necessário que o Bhakta tenha por hábito refletir nos Mahavākyas dos Upaniṣads, ou na síntese dos Upaniṣaḍs (veja depois do texto sobe os quatro meios, uma nota no final).

Contudo, o fato de alguém simplesmente entender de forma intelectual estes quatro meios e as seis qualidades, não serve como proteção aos Kleśas, é necessária a realização interiorizada dos mesmos.

A seguir, veremos cada um dos quatro meios e o  Śat-Sampat, as seis virtudes:
excertos dos Vedas

1) Viveka: o discernimento é o primeiro dos quatro meios (Avidya, ou ignorância, é responsável pela falta de Viveka); o Bhakta deverá gradualmente ampliar a distinção entre o que é eterno e sempre-existente daquilo que é impermanente e temporário. A identificação com o corpo físico é um dos principais motivos para falta de Viveka. Saber distinguir o que é real daquilo que é irreal - Sat-Asat – ou o que é do que não é – Ser; não-Ser –, ou Ātma e AnĀtma (o que é Ātma e o que não é Ātma), é um exercício constante. Estes princípios aparecem com toda a clareza nos Yoga-sutras de Patañjali em quase todos os capítulos: 2.26-29; 3.53-56, e 4;22-26. No verso 2.5, Śrī Pātañjali comenta as formas de Avidya ou ignorância.

2) Vairagya: desapego é o segundo meio para o devoto alcançar a autorrealização. Vairagya surge como resultado de um processo natural do desenvolvimento do Viveka, porque leva o Bhakta para o desapego aos objetos mundanos. Os atrativos do mundo material deixam de exercer influência no Bhakta. Apesar de viver entre as pessoas, e realizar as suas tarefas ou obrigações diárias, o Bhakta não se identifica com elas, e tampouco deseja desfrutar do resultado fruitivo das ações. Tudo é feito de forma desapegada, apesar de responsável e equilibradamente. De fato, quem se dedica no Sādhana com Bhāva (determinação), e desenvolve Vairagya, torna-se muito mais efetivo nas suas ações no mundo material; ele não irá ter dificuldades com relação a visão da Verdade Suprema. Vairagya é o principal e mais importante aspecto no Yoga; um dos seus fundamentos básicos, sem o qual não é possível qualquer progresso dentro do Dharma. Este aspecto sobre Vairagya está devidamente explicado nos Yoga-sutras de Patanjali, 1.12-15;

3) Śat-Sampat: “seis-virtudes” ou “sêxtupla-virtudes”: são aspectos necessários para o desenvolvimento da consciência, principalmente porque aos poucos o Bhakta se desapega do mundo material e desenvolve amor puro por Deus ou Kṛṣṇa-Preṁa. São virtudes que devem ser cultivadas tendo em vista o treinamento mental, bem como das atitudes, que devem ser praticadas conjuntamente  com uma profunda prática de meditação, para que sejam realizados com sucesso.

As seis virtudes são:
3.a) Śama: tranquilidade, principalmente com relação aos resultados ou frutos das ações, ou Phala-karma. A tranquilidade é o degrau necessário para o escalar da escada da autorrealização, usando os sentidos no seu ponto positivo (para adorar ao Supremo num Pūja, por exemplo). Todos os outros aspectos do Sādhana estão embasados em Śama, sendo a primeira das virtudes que o devoto deverá dedicar-se para desenvolver.;

3.b) Dama: treinamento dos sentidos; os Indriyas ou sentidos grosseiros devem ser treinados para que o devoto progrida no Sādhana; a devida orientação deve ser dada para os sentidos, quer no sentido material como também do cultivo de pensamentos (da natureza (interior). O uso responsável e positivo dos sentidos, envolvendo-os às ações de forma elevada, trata-se de Dama. A adoração à Deidade no templo, oferecendo incenso (olfato); lamparina (visão); toque das palmas (tato), cântico devocional, Kirtan e Bhajam (audição), e distribuição de Praṣada (paladar), é uma forma devocional de Dama ou treinamento dos sentidos;

3.c) Uparati: literalmente significa “reverenciar aquilo que é superior”, no caso, “afastar-se da busca do  desfrute e das ações mundanas”. Uparati advém naturalmente das duas virtudes anteriores; o devoto recolhe os sentidos de forma natural, e a sua mente não mais fica girando em torno dos aspectos mundanos e comuns. A insaciedade da mente com relação aos sentidos é então controlada de forma adequada, sem repressão. Uparati é, portanto, uma saciedade natural dos sentidos na realização de sua integralidade, então o Bhakta não procura por experiências temporárias dos sentidos, percebendo da inutilidade da busca do gozo dos sentidos grosseiros para o verdadeiro desenvolvimento espiritual;

3.d) Titiksa: tolerância, auto-domínio com relação às situações externas, permitem que alguém livre-se do ataque do estímulo sensorial, e da pressão dos outros para que nos engajemos em ações, bem como fala, ou então pensamentos que não conduzem para uma direção aproveitável;

3.e) Shraddha: o termo pode ser traduzido como “fé”, mas aqui não se trata de um processo mecânico, sem conhecimento. Sraddha não é decorrente da falta de conhecimento ou Avidya, mas de Brahma-Vidya – conhecimento a cerca da Realidade Suprema ou Brahman. Uma fé sem conhecimento é apenas um tipo de fanatismo. Mas Sraddha é um intenso sentido de certeza sobre a direção que deve ser mantida, em conformidade com as instruções do Mestre Espiritual; persistindo, permanecendo, seguindo os ensinamentos do Mestre Espiritual, bem como praticando o que é proveitoso e que possa frutificar, e

3.f) Samadhana: focar a mente num só ponto; num só objetivo. O equilibro da mente é importante para o progresso espiritual. Focar a mente num só ponto, utilizando-se dos métodos fornecidos pelo Mestre Espiritual, junto com as virtudes anteriores, traz a liberdade para a auto-realização espiritual.

4) Mumukshutva: vontade de liberação ou auto-realização. Mumukshutva é a vontade intensa e desmotivada egoisticamente de alcançar a liberação do Saṁsāra ou ciclo de nascimentos e mortes, e o natural sofrimento que isso envolve. Este meio de liberação aumenta com o Sādhana, e aos poucos sobrepõem-se aos outros sentimos, e pequenos desejos que desaparecem. Esta vontade de liberação não se trata de uma simples decisão, mas de uma realização ao longo do processo de Bhakti.

Antiga forma de escrita dos Upanisads (em suturas = sutras).
Sumário dos principais Mahavakyas (grandes dizeres)
Quatro destes são tradicionais no Vedānta (veja a origem do Mahavakya depois do Mantra):
1. Brahma Satyam Jagan Mithya (Brahman é real; o mundo é irreal;
2. Ekam evadvitiyam Brahma: Brahman é Uno, sem um segundo/
3. Prajnanam brahman (Aitareya Upanishad, 3.3, do Rig Veda ): Brahman é o conhecimento supremo;
4. Tat tvam asi (Chandogya Upanishad, 6.8.7, do Sama Veda, Kaivalya Upanishad ): isso é o que és;
5. Ayam Ātma Brahman (Mandukya Upanishad, 1.2, of Atharva Veda ): Ātma e Brahman são mesmos;
6. Aham brahmasmi (Brihadaranyaka Upanishad, 1.4.10, do Yajur Veda, Mahanarayana Upanishad ): eu sou Brahman. E
7. Sarvam khalvidam brahma: tudo isso é Brahman.

om hari hara om tat sat

[1]Isso não exclui o Sadhaka de qualquer outro Darshana como do Yoga, por exemplo.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Gurudom, um câncer fatal


Gurudom, um câncer fatal

Śrī Swāmi Śivānanda

 

© Tradução para o Português de
Swāmi Kṛṣṇaprīyānanda Saraswātī


SOCIEDADE INTERNACIONAL GĪTĀ DO BRASIL
GĪTĀ ĀŚRĀMA
Porto Alegre, RS - Brasil
2004-2010


Exortação aos iniciantes
Swami Sivananda não precisa dizer-se Guru para ninguém, porque uma alma alto-realizada jamais diz qualquer coisa em Seu próprio nome. Um Guru autêntico é um eterno renunciado das coisas mundanas. Jamais uma alma autorrealizada irá pedir dinheiro, ou que alguém lhe dê alguma contribuição em troca de um ou outro Mantra ou de alguma instrução. O serviço do guru é abnegado, tal qual o serviço que o discípulo presta ao guru. Tudo o mais é chamado por Sivananda por “gurudom”.

"Gurudom" é a expressão que Swami Sivananda encontrou para denominar os “malabaristas e salafrários”, “falsos yogis” da época atual. Ele escreveu o texto que iremos ver a seguir, estando Ele transtornado pela patifaria que se instalava na Índia nos idos tempos da década dos anos 50-60, no século XX. A sua preocupação era com os Pashandis (falsos) do território sagrado de Bharata-Varsa, Índia. Hoje há alguns que se autodenominam “gurus” na Índia, que apenas decoram alguns Slokas (versos), vestem-se suntuosamente com seda e Doti laranjas, mas cobram 10 dólares para tirar uma foto. Nos dias atuais, há uma dupla muito famosa na Índia que aparece em muitos cartazes e calendários. Todos já conhecem a "erudição" deles, que é apenas falar a palavra “dólar”. E eles, pasmem, possuem seguidores! Não se baseiam nas Escrituras, desprezam Bhajans e Kirtanas, zombam do nome de Deus, e se dizem “gurus”. Dão nomes inventados segundo suas próprias mentes férteis, para os que lhes pagam, e assim vão levando milhares de pessoas de bem para o fundo do inferno da ignorância. E por aqui, neste pobre Ocidente consumista, o que vemos? Uma crescente patifaria intitulada “yoga”. E já aparecem os “especialistas” em Vedanta, quando se tem é que realizá-lO. Que lástima!

Apesar de compreender perfeitamente o estado miserável que muitos vivem na Índia, também devemos compreender que a propensão para enganar e ser enganado é da natureza humana e açambarca o mundo todo. Maior é ainda nos dias atuais, em plena Kali-yuga, a era das hipocrisias e de trevas em que estamos mergulhados. Enganar e ser enganado, continuar a enganar e a ser enganado, é uma das artes do Ahamkara, elemento que se costuma chamar de ego neste mundo. Este ego é o responsável pelo sofrimento do Samsara. Almas iludidas por falsos Gurus, que conseguem fazer algum tipo de malabarismo, se deixam enganar por um embuste circense, e por prestigitadores baratos. Que lástima! 

O Ocidente também está agora repleto destes falsos Gurus. E o mais surpreendente é que sequer precisam saber alguns Shlokas em sânscrito, porque nada sabem da importância das Escrituras. Então é ainda mais fácil enganar as pessoas. Quem sabe falar de "naves espaciais", e outras dimensões seja mais atrativo aos Ocidentais, muito consumistas de filmes e histórias de ficção e fantasia? Então fica fácil enganar, porque a ignorância da Verdade Suprema é ainda maior. Que lástima!

Ninguém mais quer ler alguma Escritura séria, sob a orientação de alguém que realmente realizou-A. As pessoas no Ocidente estão tão “sábias de si”, que se deixam enganar por alguém que fale coisas difíceis de entender, como se um palavrório decorado de dicionário conferisse erudição para alguém. Se assim fosse, como seriam sábios os computadores! Então, por todo o lado, estão sendo criados falsos deuses, e eles têm algo em comum, que é a fisionomia do farsante que os inventa. Eles chegam a criar “anjos” e “santos”, loiros de “olhos azuis”, como se isso fosse algum indicativo de santidade. Alguns deixam crescer a barba e os cabelos, e ficam de tal forma parecidos com algumas fotos de antigos mestres, que se dizem encarnação de um daqueles mestres. Contudo, eles são assim tão enganadores porque quem é enganado está querendo ser enganado. Um mestre autoliberado está livre do nascimento e da morte. Ele jamais volta a encarnar neste mundo. Não há nenhuma voz do tipo “celeste” que de fato advenha de um mundo de supostos espíritos, onde uma alma liberada está. Uma alma realizada não se transforma em fantasma, tampouco terá alguma relação de parentesco com alguém. Guru está além da plataforma material. Um Guru jamais irá alimentar a sua luxúria, porque um Guru é livre de luxúria. Um Guru verdadeiro jamais irá locupletar-se em nome de viúvas e mulheres aflitas, tampouco irá seduzir crianças. Ó amados! Acordem para a realidade. Até quando as pessoas irão ficar iludidas por malabarismos e façanhas de tais patifes? Eles são tão nefastos que afastam as pessoas realmente sérias, e pretendentes legítimos, do caminho da Verdade. Como somos abençoados quando somos postos no caminho de uma alma que somente quer Deus e a Deus somente, e que jamais se intitula autor de nada, e que somente defende as Escrituras e Sua superioridade; um verdadeiro Guru

Ninguém pergunta de onde vêm tantas ideias e auto-ilustrações de um Pashandi. Eles são tão patifes que não tem nenhuma preocupação com o seu próprio destino. Alguém que não realizou o Ser jamais poderá ser um Guru. Veja-se que se criam altares segundo as imaginações próprias; os decoram com todo o tipo de misturas, e fundam-se uma nova seita “secreta” que nada mais espalha senão a ignorância. Dela advêm a luxúria, e daí o ódio entre os outros, e afasta do verdadeiro caminho o sério pretendente. Logo a discórdia advém. Os então seguidores de tais farsantes ficam disputando uns com os outros, tais quais cães e gatos, de quem será o melhor, e quem será o mais querido do farsante. Estes Pashandhis Kalicelas estão numa plataforma muito demoníaca. Alguns dizem que tem contato com extraterrestres, mas nem com os terrestres eles contatam!, porque se assim fizessem saberiam que todos somos extraterrestres!, porque somos divinos. Eles descaracterizam as Escrituras, e dizem que um Guru não é necessário, e que todos são Gurus, somente para terem as pessoas em suas mãos. Eles nada sabem que somos almas espirituais, advindas do Mundo Espiritual, muito além de nomes e fórmulas mágicas advindas da sua fértil imaginação demoníaca.

O texto que Swami Sivananda escreve a seguir é muito simples o objetivo. Uma pessoa deverá compreender o que é Parampara e Sampradaya, sucessão discipular e família da ordem devocional, respectivamente, iniciada desde o início dos tempos, primeiramente, para saber se está no caminho certo. Deverá ficar atenta para os sinais que separam um farsante de um mestre autêntico. O caminho do Yoga e do Amor por Deus é uma via segura para a libertação, porém, quando alguém ingressa numa via que tem apenas uma placa falsa e indicativa da palavra “Yoga”, mas que de fato não segue nenhum dos Seus princípios, e nem mesmo renuncia aos desejos mundanos do seu pobre e mortal corpo, então o destino fatalmente será o abismo do eterno retorno, de sofrimento, doença, velhice e morte do Samsara. Quem poderá nos tirar do caminho errado? Que a luz do Guru caia por sobre todos os sinceros buscadores da Verdade!

Hari Hara Om Tat Sat

Swami Krishnapriyananda


Jatilo Mundi Lunchita-Kesah
    Kashayambara-Bahukrita-Veshah;
Pasyannapi Cha Na Pasyati Mudho
    Udara-Nimittam Bahukrita-Veshah

“Pela garantia da barriga, um meio de vida, que espécie de costume um homem adota? Alguns deixam o cabelo crescer (Jata), outros levam a sua cabeça raspada, outros se colocam em roupas alaranjadas. Ignorantes, de qualquer forma nada vêem”
(Sri Sankaracharya).

A Índia é uma terra sagrada da filosofia Advaita; a terra na qual originou personalidades como Sri Sankara, Dattatreya, Vamadeva, e Jada Bharata, que pregaram a unidade da vida e da consciência, e está cheia de sectarismos nos dias de hoje. Que haja misericórdia! Que lamentável estado nós vemos hoje! Se pode até mesmo contar os grãos de areia na beira de uma praia, mas será extremamente difícil contar o número de seitas que existem hoje na Índia. Cada dia, algum tipo de “ismo” está surgindo, como cogumelos, que se incham sobre a discórdia que está presente ali. Discórdia sem esperança, e a desarmonia, reinam soberanamente aqui e ali. Disputas entre diferentes seitas. Divergências e divisões, disputas na justiça, brigas, discussões, e escândalos entre os monges prevalecem em todos os lugares. Não há paz e harmonia. Os discípulos de um Guru brigam com os discípulos de um outro Guru nas ruas e mercados.

Yogis Charlatões e de Poses de Gurus
Um jovem com um pouquinho de treino num harmônio (tipo de gaita), e um pouco de poder de fala, sobe numa plataforma, posa como se fosse um Acharya ou um Guru, num par de anos; publica uns poucos panfletos de lixo com algumas canções, e estabelecem uma seita própria. A índia tem abundante tipo de estupidez, e qualquer pessoa pode ter seus próprios seguidores num curto espaço de tempo.

Coletor de esmolas indiano.
Outro jovem com algum treinamento em Asanas, Bandhas, e Pranayama, fecha-se numa caixa dentro de um buraco no chão, e levando alguns vegetais de forma escondida, fica lá dentro por quarenta dias. Então ele come algumas raízes, tirando a fome e a sede por alguns dias. Apenas Deus sabe o que ocorre nestas celas! Então ele dorme dentro da cela, e depois sai num pretenso Samadhi. Isto é uma pequena prática de Titiksha apenas. Seus Samskaras e Vasanas não totalmente destruídos. Ele continua sendo o mesmo homem mundano. Ele bate aqui e ali para coletar algum dinheiro e fazer alguns discípulos. Ele faz a pose de um Guru Yogi. De forma ignorante, as pessoas comuns são enganadas facilmente. A parte triste da história é que as pessoas perdem a fé no verdadeiro Yogi que entra no Samadhi real, por causa das tolas ações de tais autopresumidos Yogis jovens, que não possuem nenhuma responsabilidade. Estes falsos Yogis não fazem ideia e nem entendem a seriedade do Yoga e da vida espiritual. O Samadhi, certamente, não é um meio de demonstrações públicas nas ruas. O Samadhi trata-se de uma ação secreta. Samadhi não se trata de uma magia barata ou Indraja. Esta prática tem sido contagiosa. Muitos jovens têm mostrado esta façanha ou show.

Tome cuidado com estes Yogis Charlatões, que na luz do dia têm pose de Guru; ovelhas negras que são parasitas infectantes, e que infestam a sociedade; que são ameaças para o país, tais aves de rapina buscam seus recursos entre os incautos e ignorantes!

Alguns fazem discípulos para serem servidos quando envelhecerem. Eles jamais cuidam do avanço de seus discípulos.

Uma cautela para as moças
As moças são muito facilmente enganadas por estes assim chamados “Gurus Acharyas”. As moças são ingênuas e simples. Elas caem vítimas fáceis de um som melodioso. Estes falsos Gurus tentam vendar os olhos destas pessoas ingênuas. Eles facilmente ludibriam as jovens numa armadilha sem qualquer dificuldade. Eles as fazem de seus instrumentos ou ferramentas. Eles as exploram, enchem seus estômagos, e andam com roupas de seda, sapatos de couro. Aqueles que estão na função de Grihastas ou dono-de-casa não têm a menor consideração com as escrituras para fazerem discípulas. Aqueles que fazem discípulas por segurança de um meio de vida são tais quais vermes que se mexem na imundície. Não há Prayashitta (expiação) para aqueles hipócritas. Eles serão jogados dentro dos infernos Raurava e Maha Raurava.

Ó Devis! Acordem! Abram seus olhos. Agora vocês são todas educadas. Usem suas razões. Não se deixem levar por mera leitura e música. Tenham cuidado com estes que têm postura de Guru. Jamais tenham um homem casado (não renunciado)  como sendo seu Guru. Jamais recebam Diksha dele. Vocês irão chorar no final, e colherão uma colheita ruim se fizerem isso. Que o homem que vocês escolherem como seu Guru seja um exemplo e de caráter imaculado. Ele deverá ser absolutamente renunciado, bem como ser livre da luxúria e do orgulho. Ele deverá ser livre de todos os tipos de máculas mundanas. Ele deverá ter o conhecimento dos Vedas e das Escrituras. Ele deverá ter força espiritual interna e autorrealização para elevá-las e conduzi-las ao mundo espiritual.

Os maridos não deverão permitir que suas esposas recebam alguém como seus Gurus sem o devido exame completo, e inteiro entendimento da pessoa da qual elas querem pegar como Guru. Se de fato elas querem pegar alguém como Guru, se deverá selecionar um após cuidadoso estudo e investigação, e após conviver com ele por longo tempo. O marido e a esposa não devem ter Gurus diferentes. Haverá disputas. Eles deverão ter um mesmo Guru em comum.

A ameaça de Seitas e Cultos
O Senhor Chaitanya, Guru Nanak, Swami Daiananda, foram todos católicos,[1] almas exaltadas. Todos os seus ensinamentos são sublimes e universais. Eles jamais pretenderam estabelecer seus próprios cultos e seitas. Se eles vivessem hoje, Eles iriam chorar pelas ações dos Seus “seguidores”. É que Seus seguidores comentem erros e asneiras. Os seguidores falsos não desenvolveram um grande coração. Eles não dão a mínima atenção ao que fazem. Eles criam competições, espírito de grupo, e todo o tipo de confusões.


Características de um verdadeiro Guru
Aqui estão as características de um verdadeiro Guru. Se você encontrar estas características em qualquer homem, aceite-o como seu Guru. Um verdadeiro Guru é um Brahma-nishtha e um Brahma-Srotri. Ele tem pleno conhecimento do Ser e dos Vedas. Ele pode dissipar as dúvidas sinceras dos aspirantes. Ele possui visão equânime e mente equilibrada. Ele está livre de Raga-Dvesha, harsha, Soka, egoísmo, ira, luxuria, orgulho, apego ou Moha, e avareza, etc. Ele é um oceano de misericórdia. A sua mera presença inspira Santi ou paz e elevação da mente. Na sua mera presença, todas as dúvidas dos aspirantes sinceros são clareadas. Eles não possuem quaisquer expectativas de qualquer coisas de ninguém. Ele tem um caráter exemplar. Ele está cheio de alegria e bem-aventurança. Ele está a procura dos verdadeiros aspirantes.

“Saudações aos pés de lótus do Guru! Eu creio plenamente num Guru verdadeiro. Eu tenho grande adoração por um Guru. Meu coração deseja servir os Seus pés de lótus para sempre. Eu creio que não há purificador mais poderoso do que o serviço ao Guru, que remove as impurezas da mente. Eu creio plenamente que apenas um bote seguro pode levar-nos para a outra margem da imortalidade, da companhia de um Guru!”. Este é o sentimento que alguém deve ter por um Guru verdadeiro.

Comércio Gurudom
Eu desgosto inteiramente do Gurudom comercial. Eu me desgosto inteiramente das ações hipócritas da pose de Guru e de “acharyas”, que se movimentos aqui e ali fazendo discípulos para coletar dinheiro. Todos vocês irão concordar comigo neste ponto. Não há duas opiniões que sejam contrárias neste ponto. Estes falsos Gurus são uma peste na sociedade. O Gurudom é um mero negócio. Ele deve ser totalmente erradicado do solo da Índia. Isso está criando uma impressão negativa nas mentes das pessoas ocidentais, e pessoas de diferentes paises. A Índia está perdendo a sua glória espiritual devido a estes negócios Gurudom. Drásticos passos devem ser dados na direção desta séria doença para destruí-la na raiz. Nenhuma pedra deverá ser deixada sem mexer-se tendo em vista a erradicação deste mal. Muitos têm feito deste Gurudom um negócio como um meio fácil de vida. Pobres e ignorantes senhoras e senhores são explorados por estes pseudo-Gurus, em grande escala. Que vergonha!

Muitos Gurus se mexem daqui para ali. Eles concedem palestras e discursos. Eles conhecem os Brahma-sutras e o Gita de cor, mas eles não possuem conhecimento e meditação. Eles se irritam facilmente. Seu Abhimana é muito rígido. Neles faltam os atributos divinos e Sadhutva. Eles não possuem espírito de serviço. Eles falam mal do serviço abnegado, do Kirtana, etc. Eles pegam as pessoas à força. Eles somente as “abençoam” colocando as suas mãos em suas costas, mas não são capazes de conduzir alguém a cruzar o oceano da ignorância e os levar para a salvação final ou bem-aventurança.

O grande público irá considerar alguém um grande Guru apenas por ele ter exibido alguns Siddhis (poder místico). Isso é um sério engano. Eles não merecem credibilidade. As pessoas são facilmente ludibriadas por estes charlatões. As pessoas, contudo, devem usar seus poderes de discernimento e razão; devem estudar os meios, os hábitos, natureza, conduta, Vritti, Svabhava, etc., de um que se diz Guru, e testar o seu conhecimento das Escrituras, antes de chegarem a alguma conclusão.

É preferível ter Sri Krishna, o Senhor Rama, o Senhor Siva, o residente interior do coração como seu Guru, e repetir o Seus nomes, do que se aproximar destas “ovelhas negras”, que enganam e roubam as pessoas neste país.

Que a gloriosa Índia seja abundante em Gurus verdadeiros como Sri Sankara ou Sri Dattatreya! Que ela seja absolutamente livre dos pseudos-Gurus e Gurudom, os quais são uma maldição fatal! Que os princípios universais do Sanatana-dharma floresça no mundo! Que os líderes espirituais unam-se nas suas várias seitas e cultos! Que não se deixe estabelecer novos cultos. Que as lutas sectárias e querelas terminem para sempre! Que nesta terra seja sempre mantida a reputação, e o prestígio, de um país espiritual, com santos, buscadores, Yogis, Bhaktas, e Sannyasis com Tyaga, tendo renúncia, e autorrealização como metas!

Que a unidade, a paz e a harmonia prevaleçam sobre todos! Que as bênçãos dos verdadeiros Gurus caiam por sobre todos! Que eles nos guiem o caminho da espiritualidade!

Om Tat Sat


[1] Católico significa “para todos”, nada tem a ver com religião.